Texto por Gabriel von Borell e entrevista por Felipe Ernani
Um dos maiores nomes da nova geração da música de concerto no Brasil, o maestro Eder Paolozzi é regente titular da Nova Orquestra e da Funk Orquestra, que mistura o erudito ao Samba, Funk, Forró, Rock e mais.
Eder participou de turnês pelo Brasil e das edições do Rock in Rio Lisboa e nacional em 2019 e 2022 com ambos os conjuntos. Neste ano, ainda neste mês de Outubro, ele sairá em turnê com a Nova Orquestra por quatro estados com o concerto inédito “Dias de Lutas, Dias de Glória – Um tributo à Charlie Brown Jr, que passa pelo Rio de Janeiro (20/10), Brasília (21/10), Corumbá/MS (23/10) e São Luís (25/10).
Já em Novembro, o maestro vai apresentar uma homenagem ao Los Hermanos no Rock The Mountain, festival de música que acontece anualmente em Petrópolis.
A turnê de Eder ainda inclui apresentações com o Prudential Concerts nos meses de Outubro e Novembro em diversas cidades do Brasil. Confira a agenda do maestro ao final da matéria e a nossa entrevista com ele!
Maestro Eder Paolozzi
Estudante de música clássica desde os seis anos de idade, Eder enxerga que a música está atrelada à cultura de um povo e, após estudar violino em Londres e regência em Milão, na Itália, em um dos conservatórios mais antigos e prestigiados do mundo, o maestro voltou ao país para mergulhar na cultura brasileira.
Com referências que vão desde Jordi Savall a Yo-Yo Ma, passando por Gustavo Dudamel e Daniel Barenboim, o músico clássico admira o trabalho de artistas populares como Criolo, Liniker, Carlinhos Brown e Mateus Aleluia.
Em 2019, Éder tocou pela primeira vez no palco Sunset do Rock in Rio, regendo a Funk Orquestra para um público de 100 mil pessoas.
TMDQA! Entrevista Eder Paolozzi
TMDQA!: Oi, Eder! Muito obrigado por tirar um tempo pra falar conosco. Você já tem uma série de projetos pra tocar nesses próximos meses, e um mais interessante que o outro. Queria começar falando sobre o do Charlie Brown Jr, já que você vai vários estados com ele. Conta um pouco mais pra gente sobre como surgiu essa ideia e como tem sido o processo de arranjar as músicas nesse formato diferente? O que é mais fácil e o que é mais difícil na hora de traduzir uma música “popular” pro formato de orquestra?
Eder Paolozzi: Após a homenagem que fizemos ao Cazuza ano passado, pensamos em celebrar os 30 anos do início da banda Charlie Brown Jr, que marcou época no Rock nacional, sendo considerada por muitos a maior banda do gênero no país. Sem dúvida foi um fenômeno, que atualizou o Rock e o reaproximou da juventude com suas críticas sociais e letras que dialogavam diretamente com a contemporaneidade. Eles arrastavam multidões de jovens pelo Brasil e pelo mundo e deixaram um legado musical incrível.
A gente tenta manter as características estéticas do som da banda, acrescentando as cores de uma orquestra para trazer algo novo e surpreendente. A gente quer fazer Rock mesmo, sem descaracterizar muito as músicas, e por isso temos uma banda no palco, mas sem o vocal, porque seria impossível, já que o Chorão é insubstituível. Enquanto tocamos é como se a voz dele soasse nas nossas mentes, e esperamos que o público relembre de alguma forma aqueles shows tão marcantes e impactantes e cante com a gente todas as músicas nessa homenagem.
TMDQA!: Outro projeto que chama bastante atenção é a homenagem ao Forfun, que é uma banda que moldou muitas juventudes. Queria que você contasse um pouco mais sobre essa ideia, e eu já vi que o pessoal da banda ficou bastante empolgado com esse tributo.
Eder Paolozzi: Tocar Forfun realmente mexe muito com os milhares de fãs da banda, que apesar de estarem um pouco mais velhos continuam ligados a banda emocionalmente por ela ter sido tão importante nas suas vidas. A ideia é trazer essa memória de uma fase que todo mundo lembra com um carinho imenso. Esse ano vamos fazer esse show no Circo Voador, dez anos depois da gravação do primeiro DVD que eles fizeram lá no Circo mesmo.
Acho emocionante que as pessoas se interessem em ver uma orquestra tocando outros gêneros e nos recebam com tanto entusiasmo, quebrando um pouco essas barreiras imaginárias. Assim aproximamos universos e as pessoas podem de repente se interessar mais por orquestras e outros gêneros também.
TMDQA!: Uma coisa que é impossível não reparar é a sua mistura única de influências, que traz nomes que modernizam a música clássica e ao mesmo tempo nomes da música mais “popular” como Criolo, Liniker e tudo mais. A impressão que a gente de fora tem é de que o meio da música clássica ainda é muito conservador com esses artistas, então queria saber como você se manteve ligado nessa cena mais radiofônica enquanto está tão inserido no mundo mais clássico?
Eder Paolozzi: Muitos dos julgamentos são parte de um certo elitismo ou preconceito mesmo. Existe música bem executada ou mal executada. O próprio termo “erudito” já é bem complicado e antiquado. Existe música para todos os momentos da vida, e seria limitante ouvir apenas músicas de um estilo, ou do passado. Minha formação musical é bem tradicional, ouço sempre Bach, Mozart, Debussy, Stravinsky e adoro esse repertório que nos leva para lugares únicos de contemplação estética.
Mas, para além disso, me sinto inserido na contemporaneidade e busco estar sempre antenado ao que está acontecendo na cena musical. A música brasileira é riquíssima e motivo de orgulho internacional, que podemos ter sem medo. Temos artistas incríveis e uma musicalidade e combinação de ritmos que são frutos de uma mistura de tantos elementos, principalmente afro-brasileiros, que formam essa combinação única, híbrida.
TMDQA!: Você fala também sobre usar a música pra quebrar barreiras, e acho isso sensacional. Como você cita também, muita gente das orquestras vem de projetos sociais e pra muitas dessas pessoas o Funk, por exemplo, é uma música que faz parte do cotidiano. Como tem sido abraçar esse gênero no formato de orquestra, tanto pra você quanto pelo que você percebe nas pessoas que vêm dessas realidades onde não há a “elitização” da cultura?
Eder Paolozzi: Quando fui convidado pelo Fábio Tabach para formarmos uma orquestra dedicada ao Funk, não tive dúvida da importância simbólica disso. Ainda existia e existe muito preconceito em relação ao gênero, que ia muito além de questões musicais. Quisemos mostrar que é possível uma orquestra tocar funk, com os instrumentos clássicos e que essa mistura é linda. Os músicos de projetos sociais que aprendem esses instrumentos encontraram um lugar em que pudessem celebrar também a cultura periférica e não somente a europeia, com chancela social.
Não acredito nessas hierarquias musicais, e valorizarmos aquilo que se produz espontaneamente e tão brilhantemente nas periferias. Isso empodera e traz inclusão social. Temos que celebrar a diversidade e riqueza cultural que temos. Agora em Outubro vamos realizar um concerto de Funk no Theatro Municipal do Rio, pela primeira vez, e queremos lotar o espaço com pessoas que talvez nunca tenham pisado ali, e que possam sentir que aquele teatro é delas também. Hoje quando ouço Funk penso como fica lindo com orquestra, em como essa mistura da certo. Inclusive o Funk é um dos gêneros que mais usa referências também do clássico, como na música “BumBumTamTam” e muitas outras.
TMDQA!: Por fim, como tem sido a recepção das pessoas pra esse trabalho, tanto por parte do público que vai aos concertos como também por parte das pessoas que estão mais inseridas nesse meio da música clássica?
Eder Paolozzi: Acho que a mentalidade vem mudando e as pessoas estão mais abertas. Claro que existe sempre uma grande resistência que buscamos superar. Não estamos em guerra contra a música “clássica”, acredito que as coisas não existem umas em detrimento das outras, mas sim uma coexistência que faz parte da multiplicidade e complexidade da experiência humana.
É importante sair das “bolhas”, admirar e respeitar estilos diferentes e criar diálogo. Quanto mais diversidade musical, mais rica a nossa existência coletiva. O importante é trabalharmos para que seja cada vez mais ampliado o acesso à cultura no Brasil, para que as pessoas possam usufruir plenamente da sua cidadania.
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Turnê do Maestro Eder Paolozzi:
14/10 – Estreia do Documentário Encontros Orquestrados, no Canal Bis
Prudential Concerts:
26/10 Teatro Positivo – Curitiba
28/10 Teatro Prudential – RJ
16/11 Teatro Minascentro – BH
23/11 Teatro Vibra Hall – SP
Turnê Nova Orquestra – “Dias de Luta Dias de Glória – Um tributo à Charlie Brown Jr”.
20/10 – Rio de Janeiro (RJ)
21/10 – Brasília (DF)
23/10 – Corumbá (MS)
25/10 – São Luís (MA)
05 e 06, 12 e 13/11 – Rock The Mountain (Nova Orquestra)
08/12 – Nova Orquestra toca ForFun – Circo Voador