TMDQA! Entrevista: ÀVUÀ fala sobre a missão de trazer o afeto como guia em seu álbum de estreia

Em conversa exclusiva com o TMDQA!, duo ÀVUÀ fala sobre o universo que permeia o seu primeiro disco cheio, "Percorrer em Nós". Confira a nossa entrevista!

ÀVUÀ
Foto por Raquel Brust

Amor é a palavra perfeita para sintetizar Percorrer em Nós, o álbum de estreia do duo ÀVUÀ. No registro, a dupla composta por Bruna Black e Jota.pê transborda toda sua sensibilidade, transformando o afeto em ferramenta de revolução.

Para aprofundar no universo desse disco que passeia pelas mais diversas formas de amor e afetividade negra, o TMDQA! realizou uma entrevista exclusive com o ÀVUÀ. Você encontra nossa conversa mais abaixo, mas antes vamos te contar um pouco mais sobre o lançamento.

O primeiro disco do ÀVUÀ

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Ao longo de suas 8 faixas, Percorrer em Nós conduz uma sonoridade orgânica com traços eletrônicos, unido às rítmicas africanas — gravadas pelo percussionista e baterista Kabé Pinheiro. Nas letras, Bruna e Jota.pê mergulham nos diversos fragmentos que permeiam as relações para além do amor romântico.

A dupla aponta como inspirações para as composições as potentes referências da música popular brasileira e enxerga no ÀVUÀ o resultado do encontro do passado com o presente. Relembrando o processo de criação do trabalho, Jota.pê explica a escolha do título do disco — frase que encerra o single “Famoso Amor“:

Chegamos à conclusão de que o nome ‘Percorrer em Nós’ sintetizava tudo o que tentamos dizer em nossas letras: a busca pelo autoconhecimento e a disposição para construir sensações e reflexões.

O registro chegou aos aplicativos de streaming no último dia 16 de Setembro. Na ocasião, o duo apresentou também o videoclipe do single “Bentivi“, dirigido por Gabi Jacob. A faixa, que ocupa a primeira posição na tracklist, foi composta por Jordan Vilas e Morgana, e versa “sobre relacionamento de um jeito muito cotidiano“, avalia Jota.pê.

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O voo do ÀVUÀ

Outros dois singles já haviam sido divulgados para dar ao público um gostinho do que estaria presente no álbum, que tem produção assinada por Lucas Mayer e Rodrigo Lemos. São eles “Dois Sóis” e “Famoso Amor”, que vieram ao mundo no primeiro semestre de 2022.

No entanto, mais faixas familiares aparecem em Percorrer em Nós, caso de “Abrigo” e “Te Encontrar“, lançadas em 2021, e “Comum“, apresentada e registrada no incrível canal internacional de YouTube COLORS. Sobre a participação do ÀVUÀ no projeto, Bruna conta ao TMDQA!:

O mais legal foram as mensagens das pessoas dizendo que não entendiam a língua, mas que eram tocadas. Me deu outro norte e noção de mundo, me fez entender que a arte é sobre essência, é universal.

O ÀVUÀ foi formado em 2019, juntando dois talentos que partem de experiências pessoais e profissionais diferentes, mas que, como duo, fazem transbordar as suas intersecções e distinções em uma música brasileira contemporânea. Em pouco tempo de estrada, eles já colecionam feitos importantes; o próximo deles acontece no dia 31 de Outubro, quando a dupla se apresenta no Primavera na Cidade, o esquenta para a primeira edição do Primavera Sound São Paulo.

A seguir, você confere nossa entrevista completa com Bruna Black e Jota.pê. Aproveite para dar o play em Percorrer em Nós no executor abaixo, trilha sonora perfeita para essa conversa!

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TMDQA! Entrevista ÀVUÀ

TMDQA!: Olá, Bruna e Jota.pê, é uma honra bater esse papo com vocês. O álbum de estreia do ÀVUÀ está no mundo e está absolutamente lindo! Depois de 3 anos de trajetória, sendo 2 deles numa fase tão conturbada como a pandemia, o que esse voo representa para vocês? E como vocês têm sentido a recepção do trabalho?

Jota.pê: Acho que é justo dizer que esse projeto ganhou vida própria e abraçou a gente. Na pandemia, a insegurança sobre como manter nossas carreiras ativas, as dúvidas, medos… Todas as pessoas se sentiram inseguras, desprotegidas, e o ÀVUÀ, que tinha acabado de nascer foi convidado pra gravar o álbum ONZE logo no terceiro mês de pandemia. O álbum depois foi indicado ao Latin Grammy, e as coisas seguiram assim com esse projeto, foram simplesmente acontecendo e mostrando pra gente que as coisas podiam ficar bem, de alguma forma. Ver hoje em dia tudo seguindo é muito especial

Bruna: TEM SIDO MASSA DEMAIS! Agrega pra nós dois de diferentes formas, e me sinto contemplada com a forma que a gente trabalha, com a forma que a gente se entende e faz as coisas acontecerem. A velocidade dos acontecimentos foi uma questão pra mim, por as vezes não conseguir assimilar tantas conquistas, mas, cada realização tem se acumulado e, como um trampolim, lançado a gente pra novos horizontes. E pela repercussão, o povo está gostando e a intenção é chegar a cada vez mais pessoas que tenham acesso a nossa arte.

TMDQA!: O disco traz uma ótima investigação na musicalidade brasileira, uma mistura muito bem feita sobre o que já foi feito e o que vem movimentando o cenário nacional; bebendo da fonte da MPB, da bossa, do xote, da percussão afro-baiana… propondo um encontro com elementos eletrônicos. Como foi a construção desse universo sonoro que celebra — e colabora pra — nossa riqueza musical?

Jota.pê: Construir essa sonoridade foi fácil até, todas essas sonoridades são comuns pra gente, é o que mais escutamos no nosso dia a dia, é o que nos inspira a compor, e temos uma equipe de produtores muito incrível que sabe organizar tudo, e imprimir esses sabores no nosso som.

TMDQA!: Tem alguma influência totalmente inusitada no meio desse balaio?

Jota.pê: Acho que inusitado não, o que talvez seja especial é o fato das nossas referências e influências também serem alguns artistas independentes que são nossos amigos e que inclusive estão nas composições de algumas faixas do disco, como Theodoro e Nina Oliveira.

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TMDQA!: Percorrer em Nós é um disco sobre afeto, sobre amor, cuidado, desejo… sentimentos tão vitais! E nós sabemos o que a população preta enfrenta no Brasil e em todo o mundo, e parece que as pessoas não esperam que o amor seja cantado por artistas pretos. Em tempos tão difíceis como os que andamos passando, qual a importância de colocar esse sentimento em cheque nas músicas de vocês e propor o afeto como ferramenta de revolução?

Jota.pê: Acho necessário nós nos humanizarmos mais, lembrarmos de que nossas lutas também são pra que quem amamos viva num mundo melhor, que demonstrar afeto também é força, também é revolucionário.

TMDQA!: E com tantas cargas emocionais cantadas, músicas inspiradas pelas vivências de vocês, eu gostaria de saber: qual a faixa favorita de cada um dos dois nesse disco?

Jota.pê: A minha, com certeza, é “Teu Lar“, uma composição da Bruna.

Bruna: Acho que não tenho uma preferida. Cada textura e cada canção me tocam num lugar, me fazem sentir de uma forma diferente, sobre amores e seus fragmentos. Esse disco é sutil e soa como um carinho em várias nuances.

ÀVUÀ no COLORS

TMDQA!: As primeiras amostra de Percorrer em Nós vieram ainda em 2021, e uma delas foi logo no A COLORS SHOW, um dos projetos musicais mais incríveis que surgiu nos últimos anos, onde vocês apresentaram a faixa “Comum”. Como rolou a oportunidade de se juntar ao seleto grupo de artistas brasileiros que já figuraram no A COLORS SHOW? Vocês puderam sentir um reflexo disso na trajetória de vocês?

Bruna: No dia que eu recebi a notícia nem acreditei, até hoje quando vejo me sinto num ‘surto coletivo’ (só que bom [risos]), foi algo tão especial e que ajudou muito na nossa audiência, e o mais legal foram as mensagens das pessoas dizendo que não entendiam a língua, mas que eram tocadas. Me deu outro norte e noção de mundo, me fez entender que a arte é sobre essência, é universal. Amei estar no Colors, pois senti isso primeiro como espectadora e depois como artista ali. Surreal.

Jota.pê: O Colors aconteceu de uma forma muito bonita. Apareceu uma publicação na página do Colors dizendo que eles viriam para o Brasil, e que estavam aceitando inscrições de artistas. Eu falei com a Bruna e inscrevi a gente, alguns meses depois fomos chamados e foi MUITO especial. O que mais notamos de diferente foi a quantidade de seguidores de outros países que começaram a seguir a gente nas redes sociais.

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TMDQA!: Uma pequena curiosidade pessoal: foram vocês que escolheram a cor que marcaria a participação na série?

Jota.pê: Não foi a gente [risos]… tem uma produtora que ouve a música, e escolhe a cor baseada no que ela sentiu, depois manda o código da cor pra gente e uns exemplos, pra gente se programar com roupas e tal.

TMDQA!: Falando em escolha de cor… antes da chegada do álbum, vocês divulgaram alguns vídeos acústicos, visualizers, e agora um videoclipe maravilhoso para “Bentivi”. Tanto nessas produções, como nas fotos, na organização do feed no Instagram… sempre foi notável como a estética é um ponto importantíssimo na construção do ÀVUÀ. Eu fico apaixonado com a divulgação de vocês! De quem e/ou de onde vem esse cuidado?

Bruna: Eu sou apaixonada por conceito, moda e estética. Pretendo fazer cursos sobre isso futuramente. Entendo que hoje em dia a arte é consumida de várias formas, e apresentar uma boa imagem não é só parte de um bom marketing, mas também uma porta para que as pessoas se familiarizarem com a gente, pra que elas tenham referências de um outro ideal de beleza, e melhor, elevar a autoestima tanto nossa quanto de quem se enxerga na gente. É sobre qualificar a arte em todos os aspectos e mostrar nossa qualidade em toda sua potência.

Jota.pê: Sempre tivemos um cuidado mesmo com o visual e, pra além de nós dois, temos pessoas que nos ajudam com tudo, foto, roupas e redes sociais. A [stylist] Taís Valença nos ajuda com as escolhas de roupa e fotos, e a agência Camomila nos ajuda com o visual das redes sociais.

Trajetória

TMDQA!: O ÀVUÀ surgiu em 2019, e pouco tempo depois já teve que encarar uma pandemia. Eu sei que foi um período bastante frustrante pra vocês, de ter que congelar alguns planos tão quentes de um projeto recém criado… Mas aos poucos as coisas foram entrando no eixo e a internet se mostrou uma excelente parceira no voo do ÀVUÀ, que vem alcançando excelentes repercussões com seus lançamentos.

Com a volta das apresentações presenciais e dos grandes festivais — inclusive há pouco tempo vocês se apresentaram no CoMA, em Brasília —, como tem sido subir aos palcos e encontrar com o público cantando músicas que foram lançadas durante a pandemia, sem essa possibilidade do olho no olho, e que pros shows ainda são tão novas?

Jota.pê: É um presente, é saber que nossa entrega está sendo recebida e que a relação está sendo recíproca. Quando as pessoas consomem nossa arte, mandam mensagens, comparecem nos shows, engajam na internet, é uma forma de corresponder todo trabalho que a gente se esforça pra colocar no mundo. Receber o carinho do público, seja pela via que for, nos faz querer continuar voando, é como se fosse uma espécie de combustível pro nosso voo ir mais longe.

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TMDQA!: Além do duo, vocês têm também carreiras solos, com diferentes trajetórias, influências e formações musicais. Como é administrar esses dois campos em paralelo? E como isso influencia na construção do ÀVUÀ?

Jota.pê: Tem momentos que chocam, questões de agenda, ter que se virar nos trinta pra realizar e aproveitar tanta coisa boa que surge para cada um. Mas como temos uma boa equipe e pessoas que nos aconselham, a gente se reúne, vê o que é melhor pra todo mundo e escolhemos juntos qual o melhor caminho a se tomar. Se é bom pra um dos dois mesmo que solo, é bom pro ÀVUÀ, se é bom pro projeto ÀVUÀ, é bom pros dois solos.

TMDQA!: E quanto ao processo de composição, há alguma diferenciação em relação a hora de compor para o ÀVUÀ ou para a carreira solo de cada um? Ou as músicas nascem e depois ganham um destino?

Jota.pê: Tem uma certa diferença, normalmente as músicas nascem primeiro e depois ganham um destino, acho que é mais um senso de saber o que cada criação pode somar ou não pra cada projeto. Às vezes é melhor interpretá-la solo, às vezes em feat com outro artista que não seja do duo, às vezes é sobre um processo individual ou pra algum projeto específico, e às vezes nasce para ser executado pelo duo mesmo. A gente sente, conversa sobre, e ressignifica se for preciso, mas sempre respeitando a origem e o porquê daquela arte ter nascido.

TMDQA!: Falando sobre shows e composições… vocês têm preferências entre estar no estúdio ou no palco?

Jota.pê: São lindos todos os processos de gravação, mas acredito que a gente gosta mesmo é de trocar com o público, sentir o calor humano. Não tem preço ver e ouvir as pessoas cheias de adrenalina que a música traz.

TMDQA!: Pra fechar, uma pergunta comum aqui no site: vocês têm mais discos que amigos? E quais discos vocês diriam que são grandes amigos?

Jota.pê: Não, temos muito mais amigos do que discos! Porém o Djavan Ao Vivo, Coisa de Acender, ambos do Djavan; Indigo Borboleta Anil, da Liniker; e Mansa Fúria, da Josyara, são discos bem companheiros no nosso dia a dia.

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