Guitarras, Whiskey e Lendas do Rock: veja como foi o festival Louder Than Life 2022

Red Hot Chili Peppers, KISS, Nine Inch Nails, My Chemical Romance, Mastodon e mais: TMDQA! esteve nos EUA e mostra resenha e fotos do Louder Than Life.

Festival Louder Than Life 2022
Foto por Rafael Beck

Texto por Gui Beck (Estúdio Gaveta)

Fotos por Rafael Beck

Minha ideia inicial era escrever um texto longo e reflexivo sobre a experiência do nosso time de duas pessoas, (eu mesmo e meu irmão, o fotógrafo Rafael) na cobertura do Louder Than Life, o autoproclamado maior Festival de Rock da América, que acontece anualmente (desde 2014) em Louisville, Kentucky, terra do Bourbon e da rede KFC de fast food.

Mas aí lembrei que vez por outra eu mesmo procuro informações objetivas sobre esse ou aquele festival e decidi fazer um bem pra todo mundo e colocar minhas aspirações literárias em um outro local, deixando para esse momento algumas informações que podem ser úteis de verdade.

Aqui vamos nós!

Line-Up de 2022

Line-up do festival Louder Than Life

Essa foi uma das razões que me fez querer muito cobrir esse evento.

Entre as quase 100 atrações, um time forte de headliners, formado por Nine Inch Nails, Slipknot, Kiss e Red Hot Chili Peppers. E isso com Kiss no meio do que pode ser realmente sua turnê de despedida e o RHCP contando com a volta da guitarra de John Frusciante. Nas letrinhas menores do cartaz do Festival, também uma leva impressionante de nomes encabeçada por Alice Cooper, Rob Zombie, Alice in Chains, My Chemical Romance, Evanescence, Bad Religion, Body Count, Gwar e Tenacious D, só pra citar alguns.

Palcos e Estrutura

Mastodon no Louder Than Life 2022
Foto por Rafael Beck (Estúdio Gaveta)

 

Bem objetivamente, comparando com dois Festivais que cobrimos recentemente, o Riot Fest (em Chicago) e o Rock in Rio (no Rio de Janeiro), o Louder Than Life foi quem ganhou mais a minha simpatia. Me pareceu bem mais robusto e profissional que o Riot e ao mesmo tempo mais sobre a música e os shows do que o Rock in Rio.

A estrutura toda em torno dos palcos é pensada para potencializar a experiência do fã raiz mesmo. Nada de área VIP na cara das atrações e nada de estruturas grandes em lugares estrategicamente inconvenientes a ponto de atrapalhar a visibilidade do povo, como as gruas das câmeras gravando os shows do Rock in Rio, por exemplo.

Me chamou em especial a atenção o aparato muito bem organizado para garantir aos surfistas de multidão, ou “crowdsurfers”, uma experiência inesquecível, ainda que inerentemente arriscada, com todo um time de seguranças aguardando na frente do palco para receber os surfistas, que logo voltavam para a multidão por meio de corredores que se afastavam diagonalmente para longe dos palcos.

Comida e Bebida

Bar no festival Louder Than Life
Foto por Rafael Beck

Eu me decepcionei um pouco com a comida porque pelas minhas pesquisas pré-festival achei que encontraria mais pratos típicos da região e em preços acessíveis, mas acho que a comida mais popular por lá era a pizza em fatia mesmo e os preços não eram muito camaradas, mesmo sem levar em conta a conversão perversa dos meus suados reais para o dólar.

Experimentamos algumas coisas diferentes mas nada foi muito gourmet.

Sobre a bebida, havia uma quantidade considerável de tendas representando algumas das diversas destilarias locais de Bourbon e isso com certeza dá uma outra pegada para a festa, mas claro que principalmente o fator preço não nos permitiu degustar muito. Nossa
dieta líquida ficou mesmo na base do Jack Daniel’s com Coca-Cola que tínhamos como cortesia na área de imprensa.

Público

Festival Louder Than Life 2022
Foto por Rafael Beck

Minhas suspeitas se confirmaram e vi pouca diversidade no público de Louisville, formado majoritariamente por gente branca. Acredito que além da composição étnica local e do fator econômico (porque afinal de contas, entre o pessoal que estava trabalhando lá a diversidade era bem maior), também há uma parcela de “culpa” nisso que deve ficar para a identidade musical do festival.

Ainda que o Rock seja filho do Blues, é notório que tenha se tornado ao longo dos anos um gênero fundamentalmente branco. Alguns subgêneros mais que outros, claro. De qualquer forma, tivemos uma experiência bem positiva, de forma geral, nos misturando à multidão, compartilhando mesas na área de alimentação ou ajudando a empurrar alguns crowdsurfers nos shows maiores. Ainda que em alguns shows a quantidade de gente passando por sobre nossas cabeças fosse numerosa ao ponto de não ser possível ficar tranquilo curtindo o show, a experiência catártica coletiva naqueles momentos foi algo excepcional.

Acesso à área do show

Garota servindo whiskey no festival Louder Than Life
Foto por Rafael Beck

Outro ponto negativo, ao menos para quem, como a gente, optou por não ficar em um dos muitos hotéis ao redor da área onde se situa o Kentucky Exposition Center, onde acontece o evento.

A disponibilidade de transporte público a partir de onde nos hospedamos, coisa de uns 10km dali, numa área mais próxima do centro da cidade, para ir (mas principalmente para voltar de lá tarde da noite), não era das melhores e acabamos por depender de motoristas de aplicativo. Muito demorado para conseguir um carro e engarrafamento certo no que parecia ser a única avenida disponível para sair de lá.

Para quem pensa em ir ao Louder Than Life em 2023, aconselho avaliar bem as possibilidades de se hospedar em um dos hotéis nos arredores da festa ou na bem organizada área de camping pois dá pra voltar tranquilamente a pé em qualquer desses casos e não ficar refém de uma situação desagradável de espera no fim do dia quando seus pés já estão querendo desistir, vale muito.

Melhores Momentos

Festival Louder Than Life 2022
Foto por Rafael Beck

Foi bem legal estar presente no primeiro show nos Estados Unidos da única banda brasileira se apresentando nesta edição. Ainda que tenha sido no início da tarde, a Ego Kill Talent tocou em um dos dois palcos principais e fez alguns fãs fiéis gastarem a garganta, além de deixar boquiaberta toda uma galera nova que começava a chegar por ali e pareceu curtir bastante o som.

Também foi o show de estreia da vocalista nova da banda, Emmily Barreto, que segurou o rojão com grande firmeza e simpatia invejável. Maravilha também ter visto os irmãos Myles e Layne Ulrich, o duo Taipei Houston, em um palco grande, fazendo barulho como se tivesse uma banda completa ali. A gente tinha conversado com eles (que são filhos do baterista do Metallica, Lars Ulrich, por sinal) em outro Festival, o South by Southwest, em março, e foi muito bom ver que seguem firmes e fazendo crescer o trabalho consistente que a gente já tinha testemunhado.

Tenacious D foi um sonho realizado. Não sou dos que já acompanhavam a banda antes do Jack Black ficar famoso como ator mas adoro o filme Tenacious D and the Pick of Destiny, de 2006, e ver o cara, Kyle Gass e companhia interpretando alguns dos já clássicos do filme, foi demais. O show é bem teatral e muito divertido. Jack Black é genial mesmo, musicalmente, como comediante e no controle do show e do público. Um dos
pontos altos do Festival pra mim, especialmente porque eles tocaram e um dos palcos menores e pudemos assistir bem de perto.

O mosh pit no show ao entardecer da Bad Religion, uma das minhas favoritas pessoais, foi nada menos que magnífico. Pra quem leu meu relato sobre o Riot Fest, pode parecer déjà vu, porque falei quase a mesma coisa sobre o show deles lá em Chicago. Mas em Louisville a coisa foi além e quando eles tocaram “Come Join Us”, resolvi interpretar aquilo como um chamado direto e caí pra dentro da roda (mais sobre o episódio naquele outro texto). Demais!

Fã de Metal com moicano no ombro do pai
Foto por Rafael Beck

Também vimos de novo e mais de perto o Gwar, decapitando, decepando mãos e fazendo sangue jorrar no povo, mas ao contrário do Riot Fest onde a teatralidade do grupo era uma exceção, em Louisville o grupo tocou na mesma noite que Alice Cooper e Kiss e aí estamos falando de todo um outro nível de teatralidade. No show de Alice Cooper o decapitado é ele mesmo. Fica difícil de competir com isso. Esse foi um outro sonho realizado pra mim, não só pela ilustre cabeça rolando mas pela enxurrada de clássicos que abriu com “Feed my Frankenstein” e terminou com “School’s Out”.

Da mesma forma, o Kiss também afogou completamente o público em clássicos, um atrás do outro. Como de praxe, muita pirotecnia, luzes, vídeo, Gene Simmons babando sangue e Paul Stanley voando por cima da galera de tirolesa. Pra mim, que só tinha visto há mais de 20 anos atrás nos tempos do Psycho Circus, vê-los agora, e bem mais perto, foi muito marcante. Uma pequena ressalva negativa para o tanto de paradas que o Paul Stanley faz para conversar e provocar o público a cantar o mais alto possível. Eu sei que é estratégia para eles darem uma respirada entre músicas, então perdôo, afinal, carregar aquela parafernália toda que eles carregam já seria pesado para alguém mais jovem, então imagina para o Gene Simmons que já tá com 73 anos.

O ponto mais alto do festival, no entanto, tinha que ser o encerramento com Red Hot Chili Peppers. Essa é outra das bandas da minha adolescência que está em um momento ótimo, em turnê com John Frusciante no grupo de novo. Execução impecável e presença de palco de sobra. Uma legião cantando junto a cada clássico. Mas o que me impressionou demais foi a experiência coletiva no meio do público. Como que em uma crescente constante durante o festival, os crowdsurfers chegaram ao seu ápice durante o show do quarteto californiano. Houve um momento em que contei, nos arredores de inde eu estava, ao menos uns dez corpos felizes sendo carregados pela massa em direção ao palco simultaneamente.

Menções Honrosas

Garota na plateia do festival Louder Than Life 2022
Foto por Rafael Beck

Clutch, banda de hard rock / stoner rock (por falta de rótulos melhores) com mais de 30 anos de carreira, uma base de fãs fiel mas relativamente desconhecida intencionalmente. Vale muito ao vivo.

Airbourne, banda australiana com uma pegada muito AC/DC. Apesar de ter assistido só à metade final do show, fiquei com uma ótima impressão deles ao vivo.

Bloodywood, banda indiana de metal que, seja pela mistura do peso e dos elementos típicos do metal com instrumentos e sonoridades folclóricas indianas ou pelo enfático discurso sobre diversidade (na música e em geral), conquistou a simpatia do público em Louisville.

Mastodon, que era uma banda sobre a qual eu tinha curiosidade desde que ouvi Geezer Butler (baixista e letrista do Black Sabbath) apontar como uma das suas favoritas do metal atual. O trabalho deles é consistente, com certeza. Pessoalmente fiquei imaginando como seria o som deles com um vocal mais intimidante. Acho que o nome da banda e a “cara de mau” dos integrantes criaram em mim uma certa expectativa e o vocal um pouco mais melódico, por assim dizer, me causou uma certa estranheza. Mas a galera que é fã da banda estava nas nuvens.

Foi legal ver também Alice in Chains no último dia, pouco antes do Red Hot Chili Peppers. Total grunge vibes. Para quem é fã mesmo, o festival já tinha trazido no sábado, dia anterior, Jerry Cantrell, membro fundador da banda, como artista solo.

Outra com mais de 30 anos nas costas que foi legal de riscar da lista, foi Body Count. Sem preço ver Ice T, também conhecido como o Detetive Tutuola na série Law & Order SVU, soltando a voz e a fúria metaleira através dessa sua outra personalidade.

E foi assim nosso primeiro Louder Than Life in Louisville, Kentucky. Que venham os próximos!