Exibido no Festival do Rio, "Transe", de Carolina Jabor, mostra triângulo amoroso sob os bastidores das eleições em 2018

"Transe" foi exibido no Festival do Rio e conta a história de três jovens cariocas durante o período das eleições presidenciais no Brasil em 2018.

Transe
Crédito: divulgação

Os bastidores das eleições 2018 são o fio condutor para a narrativa de Transe, novo filme de Carolina Jabor.

Dirigido e roteirizado em parceria com Anne Pinheiro Guimarães, o filme foi exibido no Festival do Rio, encerrado neste domingo (16), e mistura documentário e ficção para contar a história de três jovens da classe média alta no Rio de Janeiro durante o período das eleições presidenciais no Brasil em 2018.

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Os eventos percorrem o primeiro e segundo turno, começando na famosa manifestação “Ele Não”, promovida, na época, por mulheres que repudiavam o comportamento do então candidato Jair Bolsonaro. As cenas foram gravadas na Cinelândia, no Centro da cidade, e mostram Luisa (Luisa Arraes) na passeata em defesa da democracia e dos direitos femininos.

Ao se posicionar contra o retrocesso que, em sua visão, é representado pela ideologia que Bolsonaro prega para seus eleitores, Luisa busca abrir os olhos de parte da população que tinha a intenção de votar no atual Presidente da República.

A revolta da protagonista é muito bem ilustrada na cena dentro do ônibus em que a jovem levanta a voz antes de descer do coletivo e pede para os outros passageiros reagirem ao perigo que se aproximava. No entanto, o silêncio de todos parece indicar a tragédia que viria pela frente.

Luisa tem o apoio de seu namorado, Ravel (Ravel Andrade), e do amigo Johnny (Johnny Massaro), um cara que ela conhece em uma festa e leva para casa. Não demora para os três iniciarem um triângulo amoroso que vai sendo costurado em meio a discussões políticas e confrontos proporcionados por visões opostas.

O trio claramente representa na tela a “esquerda cirandeira”, que quer combater a direita com ideias e persuadir aqueles que pensam o contrário com ideais do movimento hippie. Isso fica evidente na cena dentro do bar, onde Luisa e seus dois companheiros são questionados por outros amigos que defendem conceitos mais anarquistas como solução para mudar o contexto desfavorável que se apresentava.

Para adotar um tom menos tendencioso, as diretoras também exploram a visão de quem está do outro lado, mesmo que superficialmente, como no caso do melhor amigo de Luisa, vivido pelo ator Matheus Macena. Ali, a personagem percebe que precisava furar a própria bolha e até entra em atrito com Ravel, que não aceita a aproximação de alguém que ele acredita defender a intolerância.

Ao traçar paralelos para encontrar as motivações de pessoas que pensam diferente, Transe estimula o debate e mostra a incoerência que afeta todos os grupos. Cada take tem um propósito, mas, no plano geral, nem tudo sai como o esperado.

Talvez tenha faltado mais profundidade no conflito entre os extremos ou, justamente para furar bolhas, não parecer um filme mais alinhado à esquerda. Para muitos que defendem o diálogo, o desenvolvimento do roteiro poderia ter dado um espaço maior para uma discussão mais ampla que poderia explicar como os caminhos nos levaram até aqui.

Mesmo assim, Transe vale para refletir sobre a triste realidade da política brasileira e os erros de cada um de nós dentro desse contexto caótico. Ainda mais tão próximos de outro segundo turno.

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