Entrevistas

"Manifesto pró-diversão": ao TMDQA!, Suricato detalha nova formação e o ousado disco "Marshmallow Flor de Sal"

Em entrevista exclusiva ao TMDQA!, Rodrigo Suricato falou sobre a nova formação da banda e o ousado disco "Marshmallow Flor de Sal". Confira!

Com apoio de vocais femininos, Suricato inicia nova fase com o disco Marshmallow Flor de Sal
Foto por Priscilla Haefeli

A banda Suricato está de volta com seu quinto álbum de estúdio, Marshmallow Flor de Sal, e com uma nova formação que marca uma mudança significativa no projeto.

Depois de encarar o formato “one man band”, o multi-instrumentista Rodrigo Suricato, que está sempre interessado em novas experiências, agora conta com o apoio de Carol Mathias (Teclado, Baixo e Voz), Martha V (Teclado e Voz) e Diogo Gameiro (Bateria).

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Além da atmosfera New Wave, onde os sintetizadores substituíram o violão folk de Rodrigo, o lançamento do grupo destaca também os vocais femininos nas faixas, com pitadas de humor, que buscam apresentar ao público os hiperestímulos visuais, sonoros e informacionais vividos na sociedade atual.

Novo disco de Suricato

Junto com Marshmallow Flor de Sal, que transita entre a euforia e a reflexão, a banda Suricato disponibilizou o clipe do single “Cada Vez Mais Louco”.

Um dos importantes personagens que aparecem no vídeo é o Elvis, novo mascote da banda, representado por uma pessoa vestida de boneco de pelúcia roxo, de expressão mal-humorada e que não teve sua identidade revelada.

Confira o clipe a seguir e ouça o disco completo ao final da matéria, logo após mergulhar no universo desse novo trabalho em uma entrevista exclusiva de Suricato ao TMDQA!

Continua após o vídeo

TMDQA! Entrevista Rodrigo Suricato

TMDQA!: Oi, Rodrigo! Obrigado por tirar esse tempinho pra falar conosco. Queria começar dizendo que, em segundos, já dá pra perceber o quanto esse novo álbum é tão diferente de tudo que você já fez. Queria entender de onde veio esse resgate do som oitentista, especialmente de um gênero como a New Wave.

Rodrigo Suricato: Prazer falar com vocês! Eu amo essa sonoridade e tenho saudade desse pop de intenções claras, que prefere “ser” a “parecer”. A minha memória afetiva não se restringe ao rock e folk, apenas.

MFS é uma verdadeira libertação para mim; estética, sonora, conceitual e pessoal. É um manifesto pró-diversão, com colorido vibrante semelhante ao que ocorreu na década de 80 e depois nos anos 2000. É curioso perceber esse movimento no mundo todo. Os ouvidos mais atentos percebem as doses cavalares de A-ha e Duran Duran quando ouvem Dua Lipa, Harry Styles e The Weeknd, por exemplo.

O disco é uma imensa viagem de dopamina. Marshmallow e sua alegria sintética; e flor de sal, representando uma emoção pura, sem aditivos. Essa imagem foi a grande fonte de inspiração para o disco.

TMDQA!: Como é a sua conexão com esse tipo de música e como foi a transição disso ser uma influência pra algo que você efetivamente toca? Achei muito doido (de um jeito legal) isso de ter uma mudança tão drástica que abraça esses novos elementos!

Rodrigo: Cansei de ser o menino folk de chapéu. Encontrei uma banda nova que soma além da música e as cores do disco são como vejo nossa amizade. Me privei por anos de um processo mais coletivo por traumas relacionados à formação do Superstar. Me sinto novamente pronto para estar confortavelmente vulnerável num núcleo criativo.

Quero ter o orgulho de chegar ao final da vida e observar que tive uma discografia confusa. Me recuso a ser uma coisa só.

A excelência do Kassin e a mixagem da lenda Michael Brauer, que já trabalhou com Coldplay e John Mayer, foram fundamentais pra esse disco soar como se soa um disco internacional.

TMDQA!: Ao mesmo tempo que soa nada a ver, é bem perceptível o quanto o trabalho com o Barão Vermelho pode ter influenciado esse disco. Mas queria ouvir de você, teve alguma influência, talvez no resgate dessa sonoridade mais antiga? E, por curiosidade, os caras do Barão chegaram a ouvir e opinar sobre esse disco?

Rodrigo: Não tenho muita certeza se eles gostam do meu trabalho [risos]. Mas sei que torcem por mim. Estar com eles é como conviver com meus irmãos mais velhos, então algo afetivo pode estar presente na mistura.

O Barão me impulsiona a ser um melhor cantor e estou na minha melhor forma. Já a Suricato é a antítese do Barão em essência, sonoridade e cores; viver, literalmente, essa dicotomia é o que me deixa mais estimulado. Amo confundir a cabeça de roqueiro conservador, fora e dentro de mim.

TMDQA!: Na hora que coloquei “Cada Vez Mais Louco” pra tocar senti uma familiaridade no baixo e adorei saber que você trouxe o Liminha, esse grande ícone, pra essa faixa! Aproveitando isso, queria saber como foi trabalhar com uma lenda da música brasileira e, ao mesmo tempo, com um produtor contemporâneo tão incrível como é o Kassin?

Rodrigo: Liminha é meu amigo e já trabalhamos muito juntos. O Rio de Janeiro tem essa coisa informal e ele já estava de passagem pelo bairro quando o chamamos pra gravar. Foi perfeito pois essa canção tem algo irresistível de Marina [Lima]. “Fullgás”, para mim, é a canção síntese do pop 80’s e tem a linha de baixo icônica do Liminha. Talvez esse alcance um absurdo sucesso em 1984 do metaverso. [risos]

Preciso registrar que o Kassin se tornou um amigo muito querido e me permitiu viver o melhor processo artístico que já participei na vida. Tudo era permitido e experimentamos muito. Jamais julgou um input criativo sequer e nem parecia que estávamos gravando um disco. Nossa parceria deu muita liga, quero repetir.

TMDQA!: Essa nova formação da banda parece realmente ter tudo a ver com a nova fase. Queria saber um pouco mais do processo de montagem e recrutamento, além do surgimento de um mascote e essa proposta dele ser uma espécie de alter ego seu?

Rodrigo: Eu prefiro trabalhar com artistas dentro da banda e todos têm trabalhos solo.
Carol, Diogo e Matha são pessoas que admiro e confio muito, gosto muito da nossa amizade. Diogo é o melhor baterista que conheço. E as meninas tiveram um papel fundamental nos vocais do disco e na impressão dessa presença feminina que torna o trabalho novo tão especial.

Já o mascote Elvis é a manifestação física do conceito do disco. Idéia da Paula, minha companheira e responsável pela direção criativa do projeto. É um duelo da pelúcia e a vida prática. Ácido e sem filtro, é bom que seja imprevisível. Temos um acordo de não revelar sua identidade.

Aqui onde moro tem um sujeito que se veste de Papai Noel todos os dias e anda pelos bares pra ganhar a vida. É fumante e sempre o vejo com semblante sisudo conversando com os garçons e seguranças nos intervalos. Um típico trabalhador brasileiro, como o Elvis. Todos nós temos muito dele, afinal.

TMDQA!: Por fim, não poderia faltar uma pergunta sobre o Barão, né? São 40 anos de banda, e eu sinto que você deu uma nova vida pra essa banda tão lendária. Queria saber como você se sente fazendo parte disso e como tem sido a recepção dos fãs, na sua percepção?

Rodrigo: Muito obrigado. Eu cheguei no Barão não somente para dar voz à banda mas também torcer por ela. Quero que o Barão volte a ser percebido do tamanho que merece. O projeto de 40 anos tem sido uma imensa celebração e temos um dos maiores shows de rock no Brasil, atualmente.

Sinto após 5 anos o respeito da maioria esmagadora dos fãs e da crítica. Todo show eu tenho que correr e provar mais coisas que todo mundo. Se eu penso sobre isso não faço meu trabalho. Esse desconforto me tornou um artista muito melhor.

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