Com hits inesquecíveis como “Don’t You (Forget About Me)” e “Alive and Kicking”, o Simple Minds é uma daquelas bandas que poderiam passar a vida vivendo de catálogo. No entanto, é o desafio que os move.
Recentemente, a banda lançou Direction of the Heart, seu 18º disco de estúdio e que faz um aceno para o passado com um olhar para o futuro.
Com clima de arena e trilha sonora de filme, o disco é um registro de uma banda madura, ainda disposta a entregar muito.
Com isso em mente, o TMDQA! conversou com o vocalista Jim Kerr sobre a carreira da banda, a paixão por música ajudando a lidar com péssimos empregos e como o público ainda os descobre nos dias atuais.
Confira a seguir!
Continua após o player
TMDQA!: Vocês têm uma carreira incrível e é especialmente incrível que ainda estejam seguindo em frente depois de todo esse tempo. Realmente parece que faixas como “Vision Thing” são uma mistura perfeita entre o som do passado e uma abordagem mais moderna desse tipo de música. Como é a sua percepção disso? Você está sempre se atualizando nesse sentido?
Jim Kerr: Bem, concordo com você, que articulou muito bem. Acho que tem um lugar para a nossa música nessa ponte. Digo, você não pode de fato voltar ao passado porque isso já foi. Foi algo que funcionou naquela época, mas isso é agora e nós mudamos, a tecnologia mudou, o mundo mudou, tudo mudou.
Mas, de alguma forma, com a música certa e na abordagem certa, você pode evocar o passado e há um ponto chave que eu nem sei explicar bem que traz esse som clássico do Simple Minds, mas feito pro agora. Com a sensibilidade de saber o que não fazer, de ser mais velho. Fora que estamos tentando liricamente alguns temas novos que dialogam com o mundo atual. Eu concordo que temos esse som ressurgindo nessa faixa que você citou, mas tenho muita confiança no agora.
TMDQA!: Com mais de 40 anos de carreira, é difícil não cair no modo automático. Como você acha que foi possível para vocês permanecerem apaixonados pelo que fazem e, por sua vez, evitar cair nesses clichês?
Jim: Chega um momento em que sinto que deixou de ser carreira, ou processo criativo. Virou a vida. E a vida é cheia de desafios, desilusões, sonhos que não se concretizam e o objetivo é não perder o desejo de continuar. Acima do processo de arte de você pintar, criar, escrever um poema, é um trabalho. E um trabalho diário.
Quando você tem 18 anos e está começando, você não tem nada a perder, nada com que se preocupar, só com a música. Quando você fica mais velho, você começa a repensar as coisas. No caso do Simple Minds, a nossa música é o sentido para continuarmos.
TMDQA!: E parte desse disco foi feito na Itália, certo?
Jim: Isso, na Sicília. Eu moro aqui agora. Eu vim aqui bem novo, numa viagem de escola e quando você volta pra Escócia depois é um choque! [risos] O mundo tem cores e eu não sabia! [risos]. E tínhamos em mente que quando ficássemos mais velhos iríamos morar lá. Bem, estamos velhos e estamos aqui! [risos]
TMDQA!: Sua primeira visita ao Brasil foi no icônico festival Hollywood Rock, que trouxe tantos grandes artistas ao país e tem algumas histórias lendárias compartilhadas por muitos músicos. Como foi fazer parte disso e você tem alguma lembrança favorita do país, seja nessa visita ou nas outras?
Jim: Foi incrível só por estar no Brasil. Crescer em Glasgow e imaginar o Brasil era como uma terra de sonhos, algo imaginário. Só de saber que pessoas por aí ouviam nossa música já era algo que nos surpreendia.
TMDQA!: Obviamente, “Don’t You (Forget About Me)” é um sucesso tão grande e eu preciso fazer apenas uma pergunta sobre isso: quão incrível é para vocês que essa música fará 40 anos em breve (bem, não tão em breve assim, mas você entendeu!) e ainda é tão relevante, ouvida e amada por tantas pessoas em todo o mundo?
Jim: É algo inacreditável! Eu ainda ouço muito no rádio e sempre me surpreende como ela não ficou datada. Acho que é o sentimento de alegria que a música traz. Tem o lado também que todos conseguem cantar o “hey, hey, hey” e o “lalala” e isso supera fronteiras de línguas.
TMDQA!: Stranger Things também definitivamente fez parte de um certo renascimento dos anos 80 que vivemos agora. Você já assistiu? Você gosta disso? É um modo do público da banda estar sempre renovado?
Jim: Eu gosto! Sinto que podemos falar que somos uma das bandas de nossas gerações e quando as pessoas falam “bandas dos anos 80” sempre acabam buscando coisas nossas e isso me enche de orgulho.
Na verdade, sinto que essa onda de nostalgia está em tudo; de vez em quando passa pela moda, pela arquitetura, pelas artes. A memória ajuda a trazer sempre novos olhos, novos ouvidos. Se você me falasse, quarenta anos atrás, que a Kate Bush seria #1, eu não iria acreditar.
TMDQA!: O nome do nosso site é Tenho Mais Discos Que Amigos. Então, sempre gostamos de perguntar: você tem mais discos do que amigos? Qual registro foi ou é seu melhor amigo? Qual você diria que é sua música favorita de todos os tempos?
Jim: Sim, definitivamente. Tem sempre os primeiros discos que eu comprei. Eu sempre volto na memória pra eles pois eu tive um trabalho horroroso na adolescência, dividindo tempo ainda com a escola. Era para limpar os fundos de um matadouro. E tinha tudo de terrível, sangue, vísceras, merda… Mas eu só pensava, “eu vou conseguir comprar um disco no fim dessa semana”.
Esses primeiros eram do Lou Reed, David Bowie, Roxy Music, Genesis e sempre que ouço eu imediatamente sou transportado para os fundos daquela loja pensando “isso é horrível, mas sábado vou comprar o novo do David Bowie”.