A sexta edição do festival Radioca, que aconteceu nos dias 12 e 13 de Novembro, foi uma verdadeira celebração ao Nordeste.
Além de contar com 10 artistas nordestinos entre as 12 atrações que integraram o line-up, a região foi diversas vezes citada e homenageada por aqueles que passaram pelos dois palcos montados na Fábrica Cultural, no bairro da Ribeira, em Salvador, para sediar o evento que foi criado a partir de um programa de rádio de mesmo nome.
O TMDQA! esteve no festival, que reuniu um público interessado em ver o show de lançamento do novo disco de Russo Passapusso e Antonio Carlos & Jocafi e também as performances de veteranos, como o bloco afro-baiano Ilê Aiyê e o pernambucano Otto, além das primeiras apresentações em solos soteropolitanos de bandas e artistas da nova geração como Luísa e os Alquimistas, A Trupe Poligodélica, Bixarte e outras.
Esta edição do Radioca, que marcou seu retorno após uma pausa de dois anos devido à pandemia, contou com intérpretes de Libras em todos os shows e, mais uma vez, ofereceu experiências que vão além da música ao vivo, incluindo feira de vinil, lojas de empreendedores locais e diferentes opções de gastronomia.
Confira logo abaixo mais detalhes dos dois dias do festival!
Primeiro Dia
O show de abertura do Radioca ficou por conta de Ana Barroso, cantora baiana de Vitória da Conquista. Usando um vestido branco com o mapa do Nordeste estampado em verde em suas costas, ela deu as boas-vindas ao público que começava a chegar no local.
Acompanhada por raios de sol que marcaram um belíssimo fim de tarde na Ribeira, Ana apresentou canções do seu álbum de estreia Cisco no Olho (2021), que inclui ritmos regionais e um delicioso samba, e também fez questão de homenagear a lendária e saudosa Gal Costa, que faleceu há pouco e foi lembrada por muitos ao longo do festival. A artista cantou uma linda versão de “Minha voz, minha vida”.
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Em seguida, quem atraiu a atenção da plateia foi A Trupe Poligodélica, que tem raízes no Vale do São Francisco, entre Bahia e Pernambuco. Com um forte sotaque e um vocal potente, o cantor Fatel entoou músicas que passeiam por várias vertentes da MPB com elementos psicodélicos apoiado por uma banda incrível, com destaque para a multi-instrumentista Victória Duarte que foi da percussão ao violino durante o show.
A próxima banda a se apresentar no primeiro dia do Radioca foi Luísa e Os Alquimistas, que, assim como outras atrações do evento, estava realizando seu primeiro show na capital baiana.
O grupo de Natal agitou o início da noite daquele sábado com o envolvente tecnobrega de hits como “I Love You Lulu” e “Garota Ligeira”, que fizeram o público soltar a voz e o corpo durante as performances. O repertório também contou com faixas do disco mais recente da banda, Elixir, como “Pedacinho do Céu” e “Na Minha Rede”, todos na ponta da língua dos fãs.
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O Nordeste continuou sendo exaltado pela cantora, compositora e percussionista Alessandra Leão, que foi a quinta atração do festival. A artista pernambucana fez uma performance potente com a sonoridade de sintetizadores influenciados por sopros das cirandas e do maracatu de baque solto.
Em um momento tocante de seu show, em que apresentou seu último disco Acesa (2021), Leão disse ter imaginado o espírito de Gal Costa encantado ao ver o mar de Salvador e, em seguida, cantou sua música “Pé de baobá”, que foi acompanhada pelo refrão do clássico “Divino maravilhoso”, de Caetano Veloso e Gilberto Gil, eternizado na voz da falecida cantora.
Na sequência, a Fábrica Cultural foi tomada pelos encantos do Ilê Aiyê, bloco afro mais antigo da Bahia. Com seus figurinos de cores fortes e seus tambores e percussões marcantes, o icônico grupo iniciou sua performance com o aclamado samba-reggae “O mais belo dos belos”, medley que reúne “A verdade do Ilê” e “O charme da liberdade”. Recorçando o orgulho negro, o Ilê também incluiu nas músicas do repertório o clássico “Que bloco é esse?” e uma faixa inédita que promete embalar o Carnaval de 2023.
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Para encerrar a programação do primeiro dia do festival Radioca, quem subiu ao palco foi o pernambucano Otto. Reforçando diversas vezes sua felicidade em tocar na Bahia, o músico destacou ao longo da noite a importância do Nordeste e principalmente dos baianos para a vitória de Lula nas eleições presidenciais.
No show, Otto apresentou canções do seu disco mais recente Canicule Sauvage, lançado este ano com composições criadas durante a pandemia, e também presenteou o público com verdadeiros clássicos de sua carreira incluindo “Ciranda de Maluco”, “Carinhosa”, “6 minutos”, “Crua” e muito mais. O músico ainda convocou sua atual companheira, a atriz e cantora Lavínia Alves, para acompanhá-lo em canções como “Canicule sauvage”, “Anna” e “Saudade”.
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Ao final do show, o músico relembrou faixas como “Cuba”, que foi gravada em parceria com o saudoso Chorão, e também “Da lama ao caos” e “A Praieira” ao mencionar Chico Science e a Nação Zumbi, banda da qual fez parte da formação original como percussionista.
Segundo Dia
O segundo dia da sexta edição do Radioca começou com a banda instrumental Bagum em parceria com o rapper Vandal. Diferentemente do dia anterior, o grupo encontrou uma plateia cheia, que chegou cedo para prestigiar os artistas baianos, que ao longo do ano já fizeram outras performances juntos.
Além do belíssimo som da Bagum que mistura elementos do rock, funk e jazz, o público conferiu, graças à entrada de Vandal, uma fusão do bass music com estilos regionais através das letras fortes do rapper que enalteceu o falecido maestro Letieres Leite e apontou Gal Costa como uma de suas maiores referências. Ao final do show, enquanto cantava seu hit “BALAH IH FOGOH”, Vandal incentivou um mosh e desceu para o meio da galera para participar da roda.
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A rapper paraibana Bixarte veio na sequência e deu continuidade ao discurso afirmativo iniciado por Vandal. Se tornando a primeira travesti a subir ao palco do Radioca, a artista fez um show de peso ao lado de sua banda e da backing vocal A Fúria Negra, trazendo em seus versos discussões relacionadas às minorias ao mesmo tempo que abusava da sensualidade em suas performances, sempre relembrando das conquistas das pessoas trans.
Com músicas que vão do rap ao funk e que passam pelo pagodão baiano, o show chamou a atenção dos espectadores e também os incentivou a dançar. Bixarte incluiu em seu repertório alguns singles inéditos que vão integrar seu novo álbum Traviarcado, ainda sem data de lançamento mas que contará com uma música em parceria com Urias.
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A terceira atração da noite foi a carioca Ana Frango Elétrico, que também fez seu show de estreia em Salvador durante o festival. Após começar com uma performance um pouco mais intimista, Ana foi conquistando o público à medida que os ritmos de suas músicas iam acelerando com faixas como “No Bico do Mamilo” e “Tem Certeza?”, que também comprovaram o potencial da banda que acompanhou a artista.
Em seguida, a multidão foi atraída pelo belíssimo show de Zé Manoel. O cantor, compositor e pianista pernambucano apresentou de maneira delicada — mas sem perder a força — músicas que dão voz a questões raciais e sociais, como “História antiga” e “Notre historie”. Além disso, Zé incluiu no show baladas românticas como “Não Negue Ternura”, sua parceria com Luedji Luna, “Canção e Silêncio” e mais.
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A penúltima apresentação da noite foi da talentosíssima Mariana Aydar, que transformou o festival em uma verdadeira festa de São João. A cantora paulistana fez um show baseado em seu disco mais recente, Veia nordestina (2019), e fez bom uso do som marcante da sanfona para adicionar ao seu repertório clássicos como “Olha pro céu”, de Luiz Gonzaga, “Frevo Mulher”, de Zé Ramalho, “Morango do nordeste”, de Walter de Afogados e Fernando Alves e muitos outros.
Acompanhada pela voz do público na maior parte de seu show, Mariana também foi celebrada ao cantar o xote “Te faço um cafuné”, lançado por Dominguinhos e regravado por ela em 2016. Isso também aconteceu ao interpretar o hit sertanejo “Medo Bobo”, de Maiara e Maraisa, e o hino “Espumas ao vento”, de Accioly Neto, que integra seu último álbum e entrou para a trilha sonora da novela Travessia, da Rede Globo.
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O encerramento do festival Radioca foi protagonizado pelo show mais aguardado do evento: Russo Passapusso ao lado da dupla veterana Antonio Carlos & Jocafi.
Depois dos artistas baianos compartilharem ao longo da semana diversas imagens dos ensaios, o público estava ansioso para a primeira apresentação ao vivo do novo disco Alto da Maravilha, lançado pelo trio no último dia 7 de Novembro e que conta com um supergrupo formado por Curumim, Maestro Ubiratan Marques, Saulo Duarte, Icaro Sá e Lucas Martins.
O encontro do vocalista do BaianaSytem, um dos nomes de maior destaque atualmente da música brasileira, com a dupla que tem mais de 50 anos de estrada começou com bastante energia ao interpretarem a faixa de abertura do disco, “Aperta o Pé”. O show foi seguido por outras músicas do álbum como “Pitanga”, “Vapor de Cachoeira” e “Forrobodó”. e também contou com um momento mais intimista quando o grupo tocou “Mirê Mirê”, parceria com Gilberto Gil, e a delicada “Catendê”, interpretada por Curumim.
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A apresentação ainda foi marcada por um forte coro do público durante a performance de “Você Abusou”, maior sucesso de Antonio Carlos & Jocafi lançado em 1971, e enquanto Russo cantou “Paraquedas” e “Flor de Plástico”, do seu primeiro disco solo Paraíso da Miragem, de 2014. Os fãs ainda soltaram a voz durante “Glorioso Santo Antônio”, hit da dupla que foi escolhido para finalizar o impressionante show.
Reunindo artistas consolidados e nomes que estão em ascensão, o Radioca conseguiu entregar mais uma vez um festival diverso que atrai a atenção do seu público do início ao fim. Já estamos prontos para sua sétima edição!