"A gente adora ir ao Brasil": Metronomy fala ao TMDQA! sobre retorno ao país e o álbum "Small World"

Em entrevista exclusiva ao TMDQA!, Joseph Mount fala sobre o retorno do Metronomy ao Brasil em 2022 com o novo disco "Small World". Confira!

Metronomy
Foto por Hazel Gaskin

Por Nathália Pandeló Corrêa

O Metronomy é uma banda com uma trajetória muito singular dentro do cenário do indie que ganhou força na primeira década dos anos 2000.

Sempre trilhando um caminho entre o alternativo e o electropop, o experimental e a eletrônica, o projeto segue desde o início, há mais de 20 anos, centrado na persona do seu fundador, compositor, cantor e guitarrista Joseph Mount.

Dos primeiros sons surgidos em um PC antigo até o mais recente trabalho – o elogiado álbum Small World -, a banda criou hits para pistas indie, fez clipes icônicos e agora se volta para um lado mais introspectivo.

Small World pode parecer, mas não é um disco sobre a pandemia. Embora tenha sido composto no contexto do isolamento, é um álbum sobre a vida, suas questões existenciais e sobre a passagem do tempo.

Tudo reflexo de uma maturidade que Mount abraça, a uma vida doméstica e familiar que sempre permeou seu trabalho. Em Small World, o lado dançante do Metronomy fica em segundo plano para dar lugar a canções mais reflexivas.

Isso não significa que não se possa dançar num show da banda, o que ficará comprovado em 03/12, quando o Metronomy retorna a São Paulo.

Entre hits como “The Look” e “The Bay”, estarão canções como as otimistas “Things Will Be Fine” e “It’s Good To Be Back”, dessa nova safra. Capitalizando nesse ótimo repertório, uma edição especial do disco acaba de chegar às plataformas, com artistas convidados recriando as faixas. 

Celebrando esse momento, Joseph Mount falou ao Tenho Mais Discos Que Amigos! sobre a animação para voltar ao Brasil, as influências para o novo disco e a maturidade presente em suas composições. Confira abaixo!

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TMDQA! Entrevista Joseph Mount (Metronomy)

TMDQA!: Oi Joe! Muito empolgante que vocês estão retornando ao Brasil com esse disco incrível. Eu me dei conta que nos falamos quando Summer 08 e Metronomy Forever saíram e de novo agora. É interessante notar que cada um desses foi uma era diferente em termos de texturas sonoras. Como vocês definem qual caminho seguir, criativamente falando?

Joe Mount: Pra mim, toda vez que você lança um disco, você não quer desperdiçar uma oportunidade. Porque você pode pensar de duas formas: “É só música, não importa, é só lançar”; ou pode pensar “Talvez cada disco seja o último”. Fazer o mesmo ou fazer algo previsível seria um desperdício de oportunidade.

Então acho que pra mim sempre foi um bom ponto de partida ter alguma ideia nova de como quero que o disco soe, e nem sempre acaba como a ideia inicial, mas ajuda a ter um lugar para colocar as ideias, uma caixa para colocá-las. São vários motivos do porque mudamos, mas acho que é basicamente uma vontade de mostrar lados diferentes meus, como compositor.

TMDQA!: Acho que você consegue, e vamos torcer pra que não seja o último disco!

Joe: Espero que não! (risos)

TMDQA!: Você deve ter ouvido bastante que esse disco soa menos polido, digamos assim. Dá pra ouvir ecos de Wilco, Lou Reed, Nick Cave, se eu não estiver enganada! Você compôs enquanto estávamos todos em casa, então fiquei curiosa de saber que tipo de coisa estava ouvindo enquanto trabalhava nesse disco.

Joe: Eu estava ouvindo algumas coisas meio inspiradoras. Estava ouvindo muito Big Thief e eles foram uma grande inspiração, mas o lance deles é que me lembram de tantos grupos e artistas que eu ouvia, tipo Cat Power, Wilco, essas bandas do gênero americana, mais sérias.

Eu passei muito tempo, quando era mais jovem, ouvindo esse tipo de música. E não tinha parado pra pensar no quanto isso faz parte do som do Metronomy. Durante a pandemia, em casa, estávamos todos mais voltados para dentro de si, mais introspectivos, então parecia um bom momento para explorar esse lado do que eu gosto.

TMDQA!: É que quando as pessoas pensam no Metronomy, de início vêm à mente as suas canções mais “coloridas”. E agora dá pra notar que vocês estão usando as teclas de um jeito diferente, que você larga a guitarra e pega o violão. Ando assistindo muito às performances ao vivo – principalmente aquela que fizeram no museu de história natural, acho que em Paris.

Joe: Ah sim!

TMDQA!: E dá pra ver que as músicas antigas se integram às novas bem naturalmente. Como vocês costuram isso ao vivo?

Joe: A essa altura, parte da diversão de tocar ao vivo de novo é pensar em como vai se encaixar. Quando eu trabalho na música, não penso em como vai se juntar às outras músicas ou como tocar no show, você só sabe que de alguma forma vai funcionar e vai ser divertido.

As pessoas gostam do Metronomy porque é divertido e não viraríamos as costas para esse lado nosso. Agora temos sete discos, tocamos por uma hora e meia quando estamos fazendo nossos próprios shows, então temos esse tempo pra criar um movimento dentro do repertório. É mais divertido do que algo que planejamos.

TMDQA!: E sempre dá tudo certo.

Joe: Exato!

TMDQA!: Mas pensando pelo aspecto mais existencial dessas novas músicas, dá pra sentir temas que voltam sempre nas canções, como a passagem do tempo. Envelhecer, de certa forma, está em algumas letras. Como vocês lidam com esses temas que se conectam ao longo do tempo? Com a passagem dos anos, vocês revisitam os assuntos com outra perspectiva?

Joe: É interessante… Me lembro de pensar sobre o rap recentemente. O primeiro disco que rappers fazem é sempre urgente e real porque, em muitos casos, vem de jovens que tentam sair de um modo de vida para outro. E depois, quando se tem dinheiro e sucesso, muitos rappers fazem álbuns chatos porque escrevem sobre sua riqueza.

TMDQA!: Sobre serem ricos e famosos.

Joe: É. De um modo similar, você vê acontecendo com bandas, com músicos indie. No início há uma fome, uma visão, ou então é só uma questão de idade, por ser mais jovem, e aí você faz um tipo de disco. E depois você se torna algo mais confortável, ter uma família – como é meu caso -, está mais velho… Você pode fingir, por exemplo, ser um rapper que ainda vive na mesma situação de 10 anos atrás. Ou ser um músico indie fingindo que não cresceu.

Mas as pessoas respondem à honestidade e abertura, então tento fazer música que é basicamente sobre a vida que tenho e coisas sobre as quais penso. Não tento transformar em algo que não é. Tento escrever sobre algo que pareça relevante e real.

TMDQA!: E seu público envelhece com você. Acho que não se importam.

Joe: E tem vários mais jovens também. Não quero parecer que me importo com amadurecer e envelhecer. Acho que lido melhor com isso que a maioria, porque já fiz tanto nos 40 anos que tive até agora, não tenho problema com isso. Mas as pessoas crescem e ficam mais velhas, e isso é meio fascinante. As pessoas passam a se importar mais com o que sentem, com sua aparência, é algo interessante.

TMDQA!: E fácil de se identificar.

Joe: Exatamente.

TMDQA!: Tenho só uma última pergunta, sobre sua vinda ao Brasil! Pegando emprestado um dos versos do disco, é uma sensação boa estar de volta ao Brasil? E você tem alguma memória especial do tempo que passaram aqui?

Joe: Vai ser maravilhoso voltar ao Brasil! Toda vez que vamos para a América do Sul é em dezembro, e o aniversário da Anna [Prior, baterista] é em dezembro. Quando estamos na turnê da América do Sul, o aniversário dela sempre coincide de estarmos no Rio ou em São Paulo.

Temos ótimas memórias de jantares de aniversário maravilhosos, de reencontrar amigos antigos aí. Acho até que a Anna saltou de paraglider uma vez, no aniversário dela. E claro, dessa vez, é a Copa do Mundo. Vai ser uma época bem legal para estar aí. A gente adora ir ao Brasil.

TMDQA!: Que ótimo! Vamos adorar recebê-los. E da próxima vez venham ao Rio também.

Joe: Com certeza! Obrigado!