Textos por Tony Aiex e Felipe Ernani
Nos últimos anos todos a gente falou sobre como a música foi um grande amparo em tempos tão difíceis.
Em 2022, porém, a produção cultural nas mais diferentes frentes parece ter sentido o baque de anos de pandemia, onde as pessoas recorreram a clássicos “confortáveis” e ao que é a Internet em 2022, com uma disputa intensa por atenção em mil apps diferentes, deixando a música muitas vezes em terceiro ou quarto plano.
Parte por conta de um momento de transição, onde artistas parecem estar se entendendo novamente, parte por conta da audiência que não prestou atenção em muita coisa, não dá para falar que vivemos um ano excepcional ou diferenciado quando o assunto são os grandes álbuns, aqueles que vão entrar para a história e serão lembrados por anos a fio como verdadeiras obras primas.
Tivemos, sim, discos incríveis, principalmente de artistas que celebram a música alternativa e de nomes do mainstream que beberam diretamente nessas fontes, como foram os casos de Beyoncé e Rosalía, por exemplo.
Outros que também nos presentearam com ótimos álbuns foram nomes da música alternativa que fizeram bonito demais e bateram de frente com figurões da indústria, com bandas como Alvvays, Wet Leg, Soul Glo e a nossa primeira posição da lista, que como em um sinal dos tempos, aparentemente ninguém ouviu com atenção.
Em 2022, você provavelmente irá ver listas muito diferentes entre si nas mais diversas publicações mundo afora, já que os consensos e as unanimidades foram poucas.
O lado bom disso tudo é que dá pra pescar um montão de referências diferentes e descobrir bandas e artistas muito talentosos que, definitivamente, irão produzir materiais incríveis por aí.
Pois então pegue o papel e a caneta, e anote aí os nomes que mais te interessarem: esses são os 50 Melhores Discos Internacionais de 2022 segundo o Tenho Mais Discos Que Amigos!
50 – Stand Atlantic – f.e.a.r.
Bom nome do Pop Punk vindo da Austrália, o Stand Atlantic vem ganhando cada vez mais força nos últimos anos com sucessos de trabalhos anteriores.
O novo álbum da banda, f.e.a.r., expande os elementos de destaque de seus anteriores e é um daqueles sons que te transportam para um lugar específico. Nesse caso, estamos falando de uma porta aberta para se sentir jovem, inconsequente e pronto para cantar esses hinos a plenos pulmões.
49 – YUNGBLUD – YUNGBLUD
Já passou da hora de conhecer YUNGBLUD se você se interessa minimamente pela nova cena de Rock mundial. Com um catálogo cada vez mais recheado, o jovem músico acertou em cheio com seu novo álbum autointitulado.
Com músicas como “Cruel Kids” e os singles “The Funeral” e “Memories”, o artista se conecta com a nova geração e vai abrindo portas para um verdadeiro revival do Rock.
48 – Slipknot – The End, So Far
Quando anunciou seu mais recente disco de estúdio, o Slipknot prometeu coisas grandes. Foram diversas falas diferentes de vários integrantes dando pistas sobre o que viria a ser The End, So Far, e essa confusão que chegou à mídia também acabou entrando no álbum.
Em seu momento mais experimental desde a estreia, a banda encontra em faixas como “Adderall” e “Yen” uma estranheza sensacional, que surpreende positivamente. O mesmo vale para os singles “The Dying Song (Time to Sing)” e “The Chapeltown Rag”, que resgatam uma sonoridade dos primórdios do grupo e, em meio às outras faixas, ajudam a organizar a bagunça de ideias que, apesar de alguns momentos esquecíveis, acerta em cheio na maioria do tempo.
47 – The Weather Station – How Is It That I Should Look at the Stars
Com arranjos belíssimos e sensíveis, How Is It That I Should Look at the Stars é um dos discos mais legais do ano para quem buscar músicas suaves, confessionais e que esbanjam sinceridade.
Aliás, isso já virou marca registrada do The Weather Station, projeto sensacional da canadense Tamara Lindeman, que dessa vez aparece mais intimista do que nunca com um disco virtualmente inteiro de voz e piano substituindo os arranjos mais complexos de trabalhos anteriores. Vitória da simplicidade!
46 – Red Hot Chili Peppers – Unlimited Love
Primeiro dos dois discos lançados pelo Red Hot Chili Peppers em 2022, Unlimited Love parece um sucessor natural de The Getaway (2016). É claro que o retorno de John Frusciante teve um impacto enorme, como fica claro em faixas como “Whatchu Thinkin’” e principalmente “The Heavy Wing”, que já virou um clássico.
Ainda assim, a direção de algumas das principais músicas da obra — como os singles “Black Summer” e “These Are the Ways” — soam bastante como o RHCP de poucos anos atrás. Apesar disso, a banda faz brilhar sua sinergia em outras ótimas faixas como “Aquatic Mouth Dance”, outra que já virou clássica.
45 – Rammstein – Zeit
Depois de um aguardadíssimo retorno com seu disco autointitulado, aclamado mundialmente como possivelmente o melhor de sua carreira, o Rammstein presentou os fãs com Zeit em 2022, resultado de anos pandêmicos que exercitaram a criatividade da banda.
Definitivamente bem diferente de seu antecessor, o álbum tem um tom mais sombrio e reflexivo, com riffs fortes marcando presença (como em “Angst”) mas também cedendo espaço para canções mais lentas que seguem por outra direção.
44 – The Smile – A Light for Attracting Attention
Inicialmente parecendo alguma aventura temporária, o The Smile agora tem cara de que veio para ficar. Com o Radiohead parecendo cada vez mais deixado de lado, o novo projeto de Thom Yorke e Jonny Greenwood estreou em 2022 com o disco A Light for Attracting Attention.
Apesar de, trocadilhos à parte, ter ganhado menos atenção do que talvez se esperasse por se tratar de um projeto de nomes tão grandes, o álbum traz uma sonoridade que, ao mesmo tempo que remete ao Radiohead por motivos óbvios, encontra uma perspectiva única que passa por novas experimentações dos instrumentistas, seguindo por direções diferentes do que Thom Yorke está acostumado e praticamente forçando o vocalista a também se reinventar.
43 – Taylor Swift – Midnights
A vantagem de ser uma artista que está sempre ditando o que é moda é, obviamente, não precisar se prender às estéticas do momento. Taylor Swift já havia deixado isso claro com seus últimos trabalhos folklore e evermore, que viram a cantora se enveredar por uma linha sonora bem distante do resto de sua carreira.
Em Midnights, ela retoma a direção Pop que a consagrou e parece resgatar um som que já não está mais tão em alta. Naturalmente, ao fazer isso, recoloca esse estilo na moda e agrada seus fãs em um disco que esbanja sinceridade em meio à excelente produção do genial Jack Antonoff.
42 – JID – The Forever Story
Além de ter gravado um dos melhores Tiny Desks do ano, JID também lançou um belíssimo disco em 2022. Com seu já tradicional flow acelerado, o cara chega em The Forever Story com muito a dizer e até parece tentar dar uma “segurada” em sua forma de fazer Rap para ter certeza de que será ouvido.
Instrumentalmente, o álbum viaja por batidas diferentes mesmo dentro de cada música; em “Raydar”, por exemplo, o ritmo acelerado logo se vê dando espaço para um som mais experimental e lento, enquanto em “Surround Sound” temos uma conversa complexa entre a batida moderna e o sample, que dá o tom de alguns trechos da canção.
É nesses espaços que JID brilha, também cedendo alguns bons versos para convidados que abrilhantam ainda mais esse discasso.
41 – Mitski – Laurel Hell
Nem parece, mas Mitski já pode ser considerada uma artista bastante experiente. Seu novo disco, Laurel Hell, é o sexto de uma carreira marcada por uma sinceridade característica que é usada para fazer brilhar, cada vez mais, uma sonoridade Indie Pop que se renova ano após ano.
Aqui, a artista volta a entrar em contato com o som que a consagrou e adiciona alguns elementos que fazem o disco ter uma pegada quase radiofônica, comercial — irônico, considerando que a cantora vem se afastando cada vez mais da indústria da música e, justamente nesse álbum, fala de forma bastante franca sobre as dificuldades que enfrentou e ainda enfrenta em sua carreira.
40 – Pusha-T – It’s Almost Dry
É difícil falar de Kanye West em 2022 sem destacar todos os erros do rapper, mas também não é justo deixar o grande disco de Pusha-T de lado por conta do envolvimento de Kanye — ainda mais depois que o próprio T se disse “bastante desapontado” com Ye.
O fato é que It’s Almost Dry pode ter significado o fim de uma das grandes parcerias da história do Rap, que se mostra ainda mais interessante porque aqui as canções produzidas por Ye se encontram em meio a outras que têm a assinatura de Pharrell Williams, oferecendo praticamente dois lados de um grande artista, representados por faixas como “Diet Coke” e “Dreamin of the Past” que vão entrar na lista de clássicos de Pusha.
39 – Stormzy – This Is What I Mean
Muito provavelmente o principal representante do Rap britânico, o incrível Stormzy tinha um caminho desenhado: trazer novas letras e flows por cima de batidas semelhantes ao que já ouvimos e ganhar os aplausos de seu fiel público.
Ao invés disso, resolveu lançar This Is What I Mean, uma verdadeira surpresa do começo ao fim.
Com forte influência do Rap dos anos 90 no sentido de usar harmonias mais complexas e trazendo elementos da era de ouro de Kanye West, como em “My Presidents Are Black”, o disco aposta em uma sonoridade muito menos agitada, que coloca em completa evidência o flow de Stormzy e mostra ainda mais o grandíssimo talento desse ícone britânico, algo comprovado também pelo sucesso comercial do álbum.
38 – Fontaines D.C. – Skinty Fia
Quando estreou com Dogrel em 2019, o Fontaines D.C. ficou conhecido mundialmente como uma daquelas bandas que “merecem entrar no seu radar”. Por si só, o álbum já foi sensacional e exibia um potencial para algo ainda maior, que pareceu não se concretizar tanto com A Hero’s Death em 2020.
Agora, Skinty Fia é aquilo que se esperava de todo o potencial dos músicos irlandeses, atingindo até o primeiro lugar das paradas britânicas com a sua perspectiva única de Post-Punk que, desta vez, aparece sob uma roupagem mais sincera, com letras mais pessoais e um instrumental que acompanha essa abertura navegando por momentos pesados e belos.
37 – Bloc Party – Alpha Games
Muitas vezes, a resposta simples é a mais interessante e correta. É o caso do Bloc Party que, depois de anos se enveredando por sonoridades mais experimentais, resolveu se reconectar com suas origens para o novo disco Alpha Games.
Resgatando elementos de seu famosíssimo primeiro disco Silent Alarm, o grupo liderado por Kele Okereke acerta em cheio com músicas como “Traps”, onde um riff marcante e agradavelmente repetitivo conversa em alto e bom som com a melodia vocal quebrada e ousada do cantor.
36 – Jack White – Entering Heaven Alive
Quando lançou Fear of the Dawn, seu primeiro disco de 2022, Jack White entregou aos fãs o que eles esperam: guitarras frenéticas que experimentam com novos sons por todos os lados, sempre se aproximando do Rock.
No entanto, o grande destaque do ano para o dono da Third Man Records ficou com Entering Heaven Alive. Aqui, os fãs foram presenteados com um lado mais intimista do músico ex-The White Stripes, onde ele foge de fazer “mais do mesmo” ao trocar o peso das guitarras pela simplicidade dos violões e pianos, banhados por melodias belíssimas que emocionam e mostram a pluralidade de Jack enquanto artista.
35 – Tears for Fears – The Tipping Point
Quando uma banda lendária tira um hiato muito grande e resolve retornar, as expectativas sempre se dividem com relação ao novo trabalho. Mas é bem possível que o Tears for Fears tenha estabelecido um novo “padrão ouro” para lidar com isso.
A icônica dupla trouxe The Tipping Point com todos os elementos que marcam um disco do Tears for Fears. Ao mesmo tempo, já na faixa de abertura percebemos uma vertente sonora totalmente diferente, apostando no acústico e aparentemente deixando de lado aquele som que os consagrou.
Logo na música seguinte, entretanto, o duo mostra que ainda sabe a receita de um sucesso e, melhor ainda, consegue sempre adicionar um novo ingrediente para não perder a graça. E assim o disco segue, alternando direções e se guiando sempre pelas ótimas músicas independentemente da direção.
34 – Nova Twins – Supernova
Desde que surgiram, as Nova Twins têm se tornado referência para mulher do mundo todo com sua sonoridade que une Rock e Punk em algo único e pesadíssimo. Aliás, mais pesado do que nunca em Supernova, que traz faixas como a impactante “Antagonist”.
Infelizmente ainda sem o devido espaço, a dupla segue abrindo caminhos e tem cara e cheiro de que vai entrar na história pela sua influência em uma geração futura, dando sequência a movimentos como o Riot Grrrl de um jeito moderno e sensacional.
33 – Coheed and Cambria – Vaxis, Act II: A Window of the Waking Mind
Sempre transitando em uma linha muito tênue da breguice, o Coheed and Cambria flerta com o perigo o tempo todo nesse sentido. Ainda assim, acerta como poucas vezes antes em seu novo trabalho de estúdio.
Conceitual como sempre, Vaxis – Act II resgata tudo que há de melhor na sonoridade dessa banda, principalmente o dom de flutuar entre gêneros musicais como se o som se recusasse a entrar dentro de uma caixa.
Músicas como “Beautiful Losers” e “A Disappearing Act” parecem prontas para tocar em qualquer rádio de Rock do mundo, enquanto outros momentos do disco exibem mais a veia experimental e/ou progressiva, adicionando essa pluralidade à banda.
32 – Charli XCX – Crash
Charli XCX é uma artista com uma posição curiosa na indústria musical. Ainda que nunca tenha se tornado uma “diva Pop” no sentido comercial da coisa, sua carreira já deixou o underground há tempos e CRASH parece ser o disco onde ela mesma entendeu tudo isso.
Sem vergonha de seguir uma direção mais comercial em faixas como “Good Ones” e “Beg for You”, Charli encontra em músicas como essas uma forma de conversar com o grande público sem abrir mão de sua essência, que está definitivamente mais ligada à cultura underground.
O resultado é um disco que transita bem entre esses dois aspectos e, sem dúvidas, é um dos melhores do Pop de 2022.
31 – Architects – the classic symptoms of a broken spirit
Nome marcante da cena core há alguns anos, o Architects deu um passo gigantesco em 2021 ao mostrar que poderia trazer algo de novo ao Rock com o lançamento de For Those That Wish to Exist, disco que renovou a sonoridade da banda e serviu como porta de entrada para muitos novos fãs.
Agora, cerca de um ano e meio depois, the classic symptoms of a broken spirit soa como uma tentativa de surfar nessa onda. Ainda assim, mesmo claramente se esforçando para ser mais radiofônica, a banda é capaz de inovar em faixas como “a new moral low ground”, trazer peso de um jeito palatável como em “be very afraid” e, principalmente, criar poderosos refrães como vemos em “doomscrolling” e “spit the bone”.
30 – Dry Cleaning – Stumpwork
Quando surgiu com o disco New Long Leg no ano passado, o Dry Cleaning logo se tornou queridinho dos indies. Agora, com Stumpwork, parece curiosamente determinado a se livrar desse rótulo, no sentido de ter aberto mais a sua sonoridade e soar mais “leve”.
Explicamos: a ideia de leveza aqui não está ligada ao peso das músicas, mas sim à carga de pressão na concepção do álbum. É quase como se o grupo estivesse tão preocupado com a opinião do público em sua estreia que se moldou através disso e, agora, já tendo conquistado uma plateia fiel, deixou as músicas fluírem de um jeito novo e mais natural.
O resultado é um álbum que vai, sim, agradar os fãs do antecessor, mas também abre espaço para conquistar mais público.
29 – Ghost – IMPERA
Já faz algum tempo que o Ghost é uma das bandas mais interessantes do Rock, mas o novo disco IMPERA elevou o nível dos caras de uma forma quase mística. Sem abrir mão da estética provocativa, o trabalho encontra seu sucesso ao apostar mais do que nunca em uma sonoridade radiofônica que lembra os maiores clássicos do gênero.
Além disso, traz momentos super únicos como a ótima “Twenties”, que tem influência de ritmos brasileiros e soa quase como um baião. Aliás, vale ressaltar que o ano de 2022 ficou ainda melhor para a banda depois que “Mary on a Cross”, faixa mais antiga, viralizou no TikTok. Que momento!
28 – The Weeknd – Dawn FM
The Weeknd sempre foi um artista diferente dos demais da cena Pop, e Dawn FM é um disco construído completamente a partir disso — aliás, é um trabalho possível apenas graças à inventividade e ousadia do músico com relação às suas formas de lançamento, já que abraçou a ideia de um álbum conceitual e chegou com apenas um single, “Take My Breath”.
Ao navegar pela rádio imaginada pelo canadense, o ouvinte encontra sonoridades nostálgicas que voltaram à moda, como os fortes sintetizadores que já haviam impulsionado o grande sucesso “Blinding Lights”, mas também dá de cara com um trabalho especialíssimo de produção, que aposta em fortes toques de EDM, e amarração conceitual que transformam Dawn FM em um dos discos mais legais de se ouvir do começo ao fim deste ano.
27 – Carly Rae Jepsen – The Loneliest Time
Já faz algum tempo que Carly Rae Jepsen tem entregado alguns dos discos mais interessantes do Pop mundial. Isso porque ela apresenta uma pegada única, que é ao mesmo tempo grudenta e alternativa, incorporando elementos que normalmente não aparecem em canções pop.
The Loneliest Time pode não ser o auge da carreira da cantora, mas reforça essa posição. Desde o início, com a popíssima “Surrender My Heart”, até as invenções que aparecem em “The Loneliest Time” ou mesmo a presença de guitarras interessantes em “Joshua Tree” e “Talking to Yourself”, que inclui até um solo e não abandona as claras influências do pop oitentista.
26 – Death Cab for Cutie – Asphalt Meadows
O Death Cab for Cutie é uma daquelas bandas cuja sonoridade é ao mesmo tempo uma bênção e uma maldição. Isso porque o som de Ben Gibbard e companhia é instantaneamente reconhecível, o que muitas vezes torna difícil o exercício de “sair da caixinha”.
Mas a banda vem constantemente acertando em suas renovações sonoras e não foi diferente com Asphalt Meadows. O novo disco vê o grupo seguindo por direções que lembram até o Emo com toques de palavra falada de bandas como La Dispute (“Foxglove Through the Clearcut”) até, por exemplo, o som da abertura “I Don’t Know How I Survive” que remete ao Modest Mouse da melhor forma possível enquanto soma uma pesadíssima guitarra à delicada melodia de voz de Ben Gibbard.
Asphalt Meadows mostra que o DCFC é uma banda sem medo de arriscar, que vai constantemente experimentar novas coisas — e a sorte é nossa, já que tudo vem dando muito certo até então.
25 – WILLOW – <COPINGMECHANISM>
Em seu novo disco, a cantora se mostra mais madura tanto no uso de referências um pouco mais ousadas — é possível encontrar até alguns toques de Metal pesado, como em “<maybe> it’s my fault” — quanto ao explorar temas delicados de maneira bastante confessional, expondo seus sentimentos em forma de música com uma facilidade de invejar muitos compositores mais antigos.
O mais legal é saber que esse é só o começo dessa trajetória!
24 – Weyes Blood – And in the Darkness, Hearts Aglow
Weyes Blood é uma artista verdadeiramente especial e prova isso mais uma vez em seu novo disco.
And in the Darkness, Hearts Aglow é uma visão gentil de uma questão quase sombria; ao mesmo tempo em que a cantora reflete sobre temas existenciais e se coloca em uma posição de desabafo, o instrumental é tão suave quanto uma canção dos Beatles, no sentido de poder ser tocada em qualquer cômodo da casa em alto volume e não incomodar ninguém, além de trazer um sentimento de familiaridade.
Do piano aos sintetizadores, as camas para a belíssima voz de Natalie Mering passam longe de ser a atração principal, mas cumprem seu papel com maestria. É graças a elas que a cantora brilha como poucas outras de sua geração, se mostrando confortável a ponto de tratar desses temas sensíveis de forma bastante direta.
23 – Harry Styles – Harry’s House
Hoje afastado completamente do estereótipo de ser ex-integrante de uma boy band, Harry Styles se mostra mais confortável do que nunca em Harry’s House. O título do disco parece condizer perfeitamente com essa pegada, já que o álbum substitui momentos mais ousados da carreira do cantor por uma sensação de conforto, que fica mais do que clara em “As It Was”, o grande hit de 2022.
Ao mesmo tempo em que se distancia um pouco da pegada mais Rock de seus primeiros discos solo, Styles encontra uma influência Post-Punk para o maior sucesso deste ano e, ao mesmo tempo, busca novas sonoridades como fica claro na genial “Music for a Sushi Restaurant”. No fim das contas, Harry’s House renova o status do cantor como um dos melhores de sua geração e um verdadeiro ícone da música moderna.
22 – Arctic Monkeys – The Car
Depois do sucesso de AM, os fãs do Arctic Monkeys ficaram chocados com uma mudança sonora e estética radical com Tranquility Base Hotel & Casino. Ali, a banda parecia intencionalmente deixar de lado sua pegada mais roqueira e o álbum dividiu opiniões.
Quatro anos depois, The Car expande essa sonoridade e mostra que ela veio para ficar. No entanto, mais importante do que isso, traz os britânicos em excepcional forma, com essa estética atual soando muito mais natural, como se eles tivessem verdadeiramente abraçado isso pela primeira vez.
Alguns exemplos estão em faixas como a excelente “Hello You”, que tem toques do AM clássico, além dos belos singles “There’d Better Be a Mirrorball” e “Body Paint” e da sombria “Sculptures of Anything Goes”.
21 – Bartees Strange – Farm to Table
A cena do Rock Indie e Alternativo tem ficado cada vez mais cheia, e é comum vermos boas revelações perdendo espaço para nomes já consagrados. Um que definitivamente não pode passar despercebido, no entanto, é Bartees Strange.
Tendo já estreado muito bem com Live Forever em 2020, o jovem faz um trabalho primoroso de unir influências de Hip Hop com elementos que remetem a nomes como Bon Iver e The National, e o resultado é uma sonoridade completamente única refletida em faixas como “Heavy Heart” e “Wretched”.
20 – Red Hot Chili Peppers – Return of the Dream Canteen
Se no primeiro trabalho do retorno de Frusciante o Red Hot Chili Peppers parecia tímido em abandonar o som que construiu nos anos anteriores, Return of the Dream Canteen é uma verdadeira reconexão com as origens de uma das bandas mais influentes de todos os tempos.
Puxando elementos de praticamente todos os seus trabalhos clássicos, o segundo álbum do RHCP em 2022 foi um baita presente para os fãs que sonharam tanto com o reencontro desses ícones.
Como single, “Tippa My Tongue” foi ótima para dar o tom da obra — muito mais cheia de groove — e também para preparar o público para o que viria em outras excelentes canções, como a brilhante “Eddie” e a sensacional “Fake as Fu@k”, isso sem falar na faixa bônus “The Shape I’m Takin’”, que fechou o ano com chave de ouro para os fãs dos Peppers.
19 – He Is Legend – ENDLESS HALLWAY
Bastam cinco segundos ouvindo o novo disco do He Is Legend para entender que a banda veio com um recado claro, rápido e furioso.
A ideia em ENDLESS HALLWAY é um som pesadíssimo e direto ao ponto, que navega do Hardcore ao Stoner com uma facilidade invejável e, acima de tudo, com uma naturalidade que é inerente a essa banda, infelizmente escondida no underground mesmo com um catálogo incrível que já impressionou até a estrela pop Demi Lovato, fã dos caras.
Aqui, o He Is Legend até flerta em alguns momentos com lados mais bregas do metal sem perder a sua essência, e os riffs são tão espetaculares que tudo se encaixa melhor do que qualquer um poderia imaginar. Para quem quer algo mais pesado, é a grande surpresa do ano.
18 – L.S. Dunes – Past Lives
Quando anunciou sua existência com o lançamento do single “Permanent Rebellion” — música mais ouvida de 2023 por este editor —, o L.S. Dunes rapidamente entrou no radar de candidatos a disco do ano em 2022.
Past Lives não chegou ao topo da lista por alguns detalhes, como a leve repetitividade das melodias vocais de Anthony Green em alguns momentos, mas o vocalista é também um dos principais destaques desse supergrupo ao mostrar (mais uma) nova faceta de sua obra artística, dessa vez ao lado dos incríveis Frank Iero (My Chemical Romance), Trevor Stever (Coheed and Cambria) e a dupla do Thursday, Tim Payne e Tucker Rule.
Para além do primeiro single, canções como “Grey Veins”, “Bombsquad” e “Grifter” evocam os melhores trabalhos de cada integrante e a tendência é que essa banda seja lembrada daqui a muitos anos como um momento lendário na história do Emo moderno. Isto é, claro, se não seguirem construindo essa caminhada através dessa química que parece ter dado certo demais.
17 – Kendrick Lamar – Mr. Morale & the Big Steppers
Um dos mais aguardados de 2022, Mr. Morale & the Big Steppers teve uma recepção mista entre fãs e críticos. Quinto disco de estúdio de Kendrick Lamar, o álbum duplo coloca o rapper em uma posição diferente: agora, ele parece quase introspectivo, tanto no sentido de sonoridade quanto de suas letras.
Não quer dizer que ele não esteja preocupado com causas sociais, é claro. Mas, se nos trabalhos anteriores o rapper usava acontecimentos históricos e mais generalizados para conversar com o grande público, aqui ele se coloca em evidência como um exemplo de quem sofre com tudo sobre o que versa, destacando pela primeira vez o seu lado mais pessoal, opinativo e, ao mesmo tempo, inseguro e cheio de problemas.
É claro que sua maestria na arte do Rap ainda é a grande atração (especialmente para quem não fala inglês), e isso está bastante evidente seja no acelerado flow de “N95”, que estende seu instrumental entre o épico e o sombrio, ou na excelente “Count Me Out”, talvez a faixa mais subestimada desse trabalho que fecha um ciclo importante na vida de Kendrick e abre espaço para mais inovações do rapper.
16 – Demi Lovato – HOLY FVCK
É fato que o Pop Punk voltou à moda, e parecia uma receita óbvia para Demi Lovato usar a oportunidade para retomar o som que primeiro lhe colocou em evidência com hits como “Remember December” e “La La Land”. E não é que ela não tenha feito isso em HOLY FVCK — basta ver exemplos como “SUBSTANCE” e “CITY OF ANGELS” —, mas Demi resolveu ir muito além.
Se reconectando com suas origens como fã de bandas de Metal, incluindo nomes como He Is Legend e até Dimmu Borgir, HOLY FVCK vê a cantora apostar em riffs pesadíssimos (“FREAK”, “SKIN OF MY TEETH”) e ousa ao trazer canções que muitos jamais imaginaram encontrar em um disco de uma diva pop, como é o caso das excelentes “BONES” e “EAT ME”, além da faixa-título.
No fim das contas, Demi ainda coroou essa fase com um dos melhores shows do ano, que veio ao Brasil e impactou muita gente — até mesmo aqueles que não são tão fãs de seu trabalho anterior, que foi rearranjado com nova cara, mais Rock, por uma banda só de mulheres. Esperamos que essa fase dure!
15 – Nas – King’s Disease III
Quem é rei realmente não perde a majestade.
Estabelecido desde os anos 90 como referência, Nas dá sequência ao projeto King’s Disease com o terceiro disco da série e mostra por que ainda tem tanta relevância, trazendo com maestria elementos da atualidade em suas letras (como quando cita Pantera Negra 2 em “Legit”) e batidas novas que, ao mesmo tempo e quase paradoxalmente, mantêm a essência do que veio a ser o seu som próprio.
Em sons como “Legit” e especialmente “Michael & Quincy”, é difícil fazer qualquer coisa que não seja aplaudir a genialidade que temos a sorte de presenciar.
14 – Stromae – Multitude
Desde que surgiu da Bélgica para o mundo, Stromae é um dos artistas mais especiais que já tivemos a sorte de prestigiar. Ainda que tenha se tornado sensação com o hit radiofônico “Alors on danse”, o cantor tem cada vez mais seguido por caminhos experimentais e, após um grande hiato para sair dos holofotes, abraça novas e inovadoras sonoridades em Multitude.
Além de ter todo um conceito visual, o álbum traz canções como “Santé” e “Fils de joie” que exemplificam a capacidade excepcional de Stromae enquanto compositor, navegando por ritmos complexos enquanto instrumentos poucos convencionais — especialmente para o Pop — dão o tom burlesco que acompanha sua obra desde o começo.
É, sem dúvidas, o disco mais intrigante de 2022.
13 – Big Thief – Dragon New Warm Mountain I Believe In You
Há poucos projetos que estejam fazendo músicas tão belas e impactantes na atualidade como o Big Thief de Adrienne Lenker.
Lançando dois discos celebradíssimos em 2019, a banda superou a pandemia e voltou ainda mais poderosa em 2022 com Dragon New Warm Mountain I Believe In You, disco onde bebe nas fontes clássicas do Folk e Americana para repaginar os estilos sem medo de tocar verdadeiras entidades sagradas da música dos EUA.
É um álbum corajoso e que consolida o trabalho de composição de uma das principais letristas da atualidade.
12 – Alexisonfire – Otherness
A volta de um hiato é sempre algo complicado, e o Alexisonfire tinha tudo para ser mais um caso de banda que não consegue recuperar a forma depois de voltar. Os singles lançados em anos anteriores eram bons mas não se comparavam ao trabalho clássico do grupo de Dallas Green, que na última década parecia mais focado em seu projeto solo, o City and Colour.
Tudo muda com a chegada de “Sweet Dreams of Otherness”, primeira prévia do que viria para ser um dos grandes discos do ano ao resgatar a sonoridade clássica do AOF, como fica evidente em “Conditional Love” e “Reverse the Curse”, mas também expande o trabalho dos canadenses com o uso de sintetizadores (“Survivor’s Guilt”) e uma clara influência bem aproveitada da carreira solo de Dallas (“Mistaken Information”).
Além de tudo isso, o disco ainda tem uma das mais belas composições do ano na forma de “Sans Soleil”.
11 – Wet Leg – Wet Leg
A história mais surpreendente do indie em 2022 é, sem dúvida, da dupla britânica Wet Leg.
Fundada em 2019, a banda rapidamente conquistou uma base fiel de fãs misturando Indie, Rock Alternativo e Pós Punk e lançou seu primeiro disco, homônimo, em 2022.
Como em um conto de fadas da música alternativa, Rhian Teasdale e Hester Chambers conquistaram rapidamente o que muitos levam décadas para atingir, sendo inclusive indicadas à categoria de Melhor Artista Revelação no Grammy, concorrendo com Anitta.
Tudo isso é pra lá de merecido: dando frescor a gêneros que podem soar extremamente batidos, as artistas trouxeram diversão e grandes canções que farão até o Indie mais exigente e carrancudo dançar sem parar.
10 – ROSALÍA – MOTOMAMI
Já tem algum tempo que ROSALÍA é uma artista cultuada. No entanto, esse status vem saindo do underground para o mainstream com força e a culpa disso é de MOTOMAMI, que se tornou mais do que um disco. Hoje, é quase um estilo de vida ao unir elementos extremamente diferentes ao Reggaeton comercial.
O melhor exemplo disso é “SAOKO”, faixa de abertura do álbum. Com uma linha melódica principal bem distorcida que poderia tranquilamente fazer parte de uma música do KoRn, a batida latina surpreende e essa mistura tão única é o que faz a cantora conseguir levar seu experimentalismo a grandes lugares, comercialmente falando.
Claro que faixas como “LA FAMA” e “DESPECHÁ”, com sonoridades mais convencionais, ajudam para isso. Mas é nessas bizarrice que ROSALÍA realmente se diferencia e entra para a história como uma artista fundamental para entendermos como o mainstream e o underground podem, sim, conversar entre si. E é esse o grande legado de MOTOMAMI.
09 – Danger Mouse & Black Thought – Cheat Codes
O melhor disco de Rap do ano passou por baixo do radar de várias pessoas, infelizmente. Trata-se de Cheat Codes, parceria entre o fantástico Black Thought (The Roots) e o icônico Danger Mouse, que ganhou fama nos anos 2000 por produzir hits como “Feel Good Inc.”, do Gorillaz, e ser parte do Gnarls Barkley, onde lançou o sucesso “Crazy”.
Na obra, que ainda com feats que vão de Raekwon a A$AP Rocky, passando por Michael Kiwanuka e até o saudoso MF DOOM, a dupla encontra uma sonoridade que remete ao Rap dos anos 90 mas se renova através do uso de samples que fogem do convencional, além de elementos ousados como a guitarra discreta, mas muito bem posicionada, de “Aquamarine”.
08 – Alvvays – Blue Rev
Na estrada desde 2011, a banda canadense Alvvays costuma apresentar intervalos grandes entre os lançamentos de seus discos, por isso chegou apenas ao terceiro em 2022.
De qualquer forma, Blue Rev já pode ser considerado um verdadeiro marco no grupo de Indie Pop que apresenta texturas, timbres e cores próprias como poucos têm feito na atualidade.
Em um mar de lançamentos onde bastam algumas batidas aliadas a guitarras levemente distorcidas para que novas canções sejam categorizadas como Dream Pop ou até Shoegaze, o Alvvays dá aula de inventividade e de por que é preciso arriscar ao inserir elementos próprios em cima de suas influências.
Considerado como o melhor álbum do ano por muita gente mundo afora, o terceiro disco da banda que acabou de tocar no Brasil no festival da Balaclava vale ouro!
07 – Nilüfer Yanya – Painless
Nos últimos anos, Nilüfer Yanya já havia sido citada muitas vezes aqui no TMDQA! como uma artista para ficar de olho por conta de seu potencial. Em Painless, ela concretiza tudo isso e, aliás, vai até além do que imaginávamos ao encontrar um nicho completamente seu de Indie Rock.
Com uma voz definitivamente especial, Yanya cria camas belíssimas para seus desabafos em forma de letra com seu uso criativo da guitarra. Da mesma forma que o instrumento tem voltado cada vez mais a fazer parte do Pop, aqui ele é usado por Nilüfer em uma linguagem que se aproxima do radiofônico, com canções como “midnight sun” mostrando como o instrumento pode estar presente mesmo em contextos improváveis.
Além disso, canções como “stabilise” e “the dealer” exploram alguns sons que chegam a trazer dificuldades de comparação, já que são tão únicos. Nilüfer Yanya é um presente para quem busca sonoridades novas, e uma prova de que ainda é possível inovar dentro de gêneros bastante conhecidos.
06 – SZA – SOS
Em 2017, SZA tomou o mundo de assalto quando lançou seu disco de estreia, Ctrl, e rapidamente tornou-se um dos nomes mais quentes do encontro entre R&B e elementos do Hip Hop e da música Soul.
Cinco anos depois, sua influência é tão grande que a cantora não se importou em lançar um álbum em Dezembro, quando a maioria das listas já estavam prontas e as pessoas não costumam prestar tanta atenção nos lançamentos, e veio com o excelente SOS.
Com uma das melhores capas de 2022, SZA homenageou um clique semelhante da Princesa Diana, e disse que ficou impressionada com a forma como a imagem representa a solidão.
No álbum, um verdadeiro caldeirão de ideias, mistura R&B com ainda mais traços do que no primeiro álbum, celebrando o Rock Alternativo, o Folk, o Rap e muito mais, tudo na presença de gigantes.
Além das parcerias com nomes como Phoebe Bridgers e Travis Scott, que aparecem em feats do álbum, o time de produção e composição é assustadoramente talentoso, com créditos para gigantes como Babyface, Benny Blanco, Shellback, Björk, Pharrell Williams e mais.
05 – Soul Glo – Diaspora Problems
As pessoas costumam perguntar por que o Rock anda tão em baixa e afastado das grandes multidões e uma das respostas mais óbvias é que há muita gente repetindo fórmulas batidas e criando canções em cima de temas sem qualquer profundidade.
Com o Soul Glo, meus caros, o papo é completamente diferente.
A banda lançou seu quarto disco de estúdio, Diaspora Problems, pela lendária gravadora Epitaph, lar para algumas das bandas de Punk Rock e Hardcore mais influentes da história.
Misturando esses gêneros ao Rap, o trio aborda questões importantíssimas da sociedade em 2022, como sistemas políticos corrompidos, as fake news propagadas na Internet e a demora da esquerda em lutar contra a direita com a mesma intensidade em que foi atacada nos últimos anos.
Além disso, ainda escancara temas bastante pessoais como a saúde mental, e tudo isso vem envelopado em uma sonoridade que resgata e mistura clássicos das guitarras frenéticas como o Bad Brains com elementos modernos que se conectam com os jovens.
O resultado é um álbum de Rock verdadeiramente adequado ao que o estilo deveria estar fazendo em 2022: questionando, impactando e incomodando.
04 – Bad Bunny – Un Verano Sin Ti
Sem dúvidas um dos discos mais importantes de 2022, Un Verano Sin Ti é também um dos mais populares. Só por isso, já bastaria para estar aqui ao elevar um artista portorriquenho a este status tão disputado, mas a verdade é que o álbum é verdadeiramente sensacional ao unir novas sonoridades ao já tradicional Reggaeton.
Reafirmando a dominação da música latina, Bad Bunny explora os elementos mais clássicos do gênero em faixas como “Tití Me Preguntó”, mas ainda assim consegue inserir uma pegada diferente — ora mais pesada, quase sombria, ora mais emotiva, como em “Ojitos Lindos”, incrível parceria com Bomba Estéreo.
No fim das contas, Un Verano Sin Ti é um passo gigantesco para a cultura latina de forma geral e não é à toa que chegou tão alto nas paradas. Mais ainda, vem sendo usado como instrumento de comunicação de pautas importantes, como vimos no clipe de “El Apagón”, uma das grandes músicas do ano.
03 – Beyoncé – RENAISSANCE
O retorno de Beyoncé estava fadado a ser um dos assuntos mais comentados do ano. Convenhamos, a cantora poderia ter repetido a receita de trabalhos passados e ainda assim ser incluída em listas e bater recordes. Mas, claro, Beyoncé nunca foi artistas de fazer isso e não seria agora que começaria.
Celebrando a cultura de festas, a liberdade depois de um período pandêmico e tantos outros sentimentos que vinham guardados nos últimos anos, RENAISSANCE mostrou que Bey é capaz de fazer o que quiser, quando quiser. Com uma vasta gama de referências de House e Dance, o álbum é capaz de te libertar através da dança, do movimento.
Além de ter produzido hits como “ALIEN SUPERSTAR” e “CUFF IT”, o álbum homenageia ícones esquecidos pelo tempo e traz de volta uma sonoridade que merece nunca sair de moda — e não irá, pois sempre haverá uma Beyoncé para revivê-la e ressignificá-la para os tempos modernos. Que bom!
02 – Steve Lacy – Gemini Rights
Já faz algum tempo que Steve Lacy passa por baixo de muitos radares enquanto faz trabalhos sensacionais, desde os tempos de The Internet. Em sua carreira solo, o cara já vinha conquistando um status cult que mudou de patamar completamente com a chegada de Gemini Rights, uma das gratas surpresas de 2022.
Sem perder sua essência, Lacy parece ter aprendido a conversar um pouco mais com o grande público, ainda que não tenha feito isso necessariamente de forma intencional. Aqui, o músico traz faixas como “Mercury” e principalmente “Bad Habit” onde consegue unir sua sonoridade com tons experimentais, onde a guitarra tem (muita) vez, com uma melodia vocal atrativa e grudenta, resultando em algo comercializável e ao mesmo tempo inovador.
Essa receita de sucesso passa também por uma forte influência de décadas anteriores em seu trabalho, tudo absorvido de um jeito único e traduzido em música que não só soa diferente, mas também especial, como se tivesse sido feita com um cuidado que não vemos mais com tanta frequência em uma indústria que tem sido cada vez mais efêmera.
Ironicamente, o resumo é esse: um dos maiores sucessos comerciais do ano surge justamente desse cuidado que saiu de moda, tendo sido substituído por uma perspectiva cada vez mais imediatista. Mas Gemini Rights mostra que ainda vale a pena deixar a música falar por si só.
01 – The Mars Volta – The Mars Volta
Depois de um hiato de dez anos, o The Mars Volta trouxe o melhor disco de 2022 ao fugir de tudo que poderíamos esperar da banda. Liderado pelos ótimos singles “Blacklight Shine” e “Graveyard Love”, o novo álbum é ao mesmo tempo o mais acessível e Pop já lançado pelos caras e também o mais pesado, como o próprio Cedric Bixler-Zavala definiu em entrevista ao TMDQA!.
De forma incompreensível, como se os veículos nem tivessem ouvido o álbum, ficou de fora das principais listas de Top 50 já publicadas em 2022, ainda que sempre apareça nos comentários dessas publicações com as pessoas sentindo falta de The Mars Volta nas listas.
A carga emocional do trabalho autointitulado é gigantesca, com letras que abordam temas sensíveis que vão desde a necessidade de abertura emocional por parte dos homens até temas mais sociais, explorados principalmente através dos belíssimos clipes que usam a plataforma para expor a situação imperialista vivida por Porto Rico com relação aos EUA.
Esse é um disco que precisa ser ouvido e digerido com calma, e nada representa mais o The Mars Volta do que isso. A percepção simplista da primeira escutada vai aos poucos sendo substituída por uma atenção a cada detalhe, que mostra o cuidado que os músicos tiveram com os arranjos que incluem elementos de Salsa, Punk e, claro, muitas guitarras e sintetizadores.
Aqui, a dupla formada por Cedric com Omar Rodríguez-López torna possível sentir tantas emoções diferentes enquanto dá uma aula de história, seja pelos clipes citados acima ou pela musicalidade que perpassa artistas marcantes da música latina, além de se posicionar de uma forma que esclarece posicionamentos e, ao mesmo tempo, levanta questionamentos e reflexões como poucas outras obras.
Da beleza de “Cerulea” até a Salsa Punk de “Que Dios Te Maldiga Mi Corazón”, o The Mars Volta explora todos os sons que se propõe a fazer com a maestria de quem parece ter estudado cada detalhe das obras de referência e, a partir disso, desenvolvido uma forma única de fazer tudo. É difícil chamar de revolução musical no sentido amplo, mas o termo definitivamente cabe dentro do universo particular dessa banda.
Merecidamente, é o disco do ano de 2022!