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Knotfest estreia no Brasil mostrando que o Metal também pode ser Pop

O Knotfest Brasil fez sua aguardada estreia em 2022 e mostrou a força do Metal no Brasil, unindo novas e antigas bandas em uma celebração inesquecível.

Knotfest Brasil 2022
Fotos por Stephanie Hahne/TMDQA!

Organizar um festival não é uma tarefa fácil. Lá em 2012, quando o Slipknot estava entre os lançamentos dos discos All Hope Is Gone (2008) e .5: The Gray Chapter (2014), os caras tiveram a ideia de fazer uma “carnaval sombrio” intitulado simplesmente Knotfest, em referência ao nome da banda.

Para isso, convidaram alguns amigos — bandas como Deftones e Lamb of God compuseram a escalação do evento que aconteceu em 17 e 18 de Agosto de 2012 em Council Bluffs, no estado natal da banda, Iowa, nos EUA.

10 anos depois, a ideia maluca de uma das bandas mais ousadas de todos os tempos desembarcou no outro hemisfério e chegou a São Paulo. Em 18 de Dezembro de 2022, o Knotfest Brasil teve sua primeira e dificilmente última edição, já que chegou no país trazendo uma experiência diferente e de alta qualidade.

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A estreia do Knotfest Brasil

Para algumas pessoas, a espera pela estreia do Knotfest foi de anos. Isso porque o evento foi anunciado inicialmente para 2020, mas a pandemia de COVID-19 causou adiamentos até que finalmente tivemos essa grande celebração do Heavy Metal em 2022.

Como sempre, a edição de estreia de qualquer coisa desse tamanho envolve alguns aprendizados. As filas no Sambódromo do Anhembi eram confusas, com algumas pessoas ficando mais de 2 horas aguardando para entrar e outras conseguindo acessos mais rápidos sem necessariamente furar fila por conta de uma sinalização que não era perfeita.

Dentro, no entanto, a experiência foi muito bem montada. Talvez o clima ensolarado coroado pela transmissão da final da Copa do Mundo não tenha colaborado para criar tanto um clima de “carnaval sombrio”, mas era notável a alegria de uma enorme parte do público com detalhes como as placas com logos do Slipknot.

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Isso sem falar no Museu do Knotfest, que permitia aos fãs mergulhar na história da banda e até mesmo tocar em instrumentos signature dos músicos, o que gerou filas enormes durante todo o festival mas também pareceu agradar àqueles que usavam a oportunidade para sentar e descansar enquanto aguardavam.

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Knotfest Brasil veio para mostrar que o Metal pode ser Pop

Festivais de Rock no Brasil não são exatamente novidade, mas a proposta de um evento dedicado quase que exclusivamente às vertentes mais pesadas do Metal parecia ousada. Ainda assim, o resultado da primeira edição do Knotfest foi excelente: os ingressos foram declarados esgotados e quem foi ao evento viu uma multidão digna de eventos ligados ao Pop.

Apesar disso, os palcos foram pensados de uma forma que a locomoção, apesar de longa, não era tão cansativa, em especial durante as tréguas do Sol.

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Da mesma forma, a programação que apostava em bandas tocando em palcos alternados também colaborou para que boa parte do público pudesse ter a experiência completa, ajudando até mesmo a proporcionar momentos de descanso ou passeio pelo festival quando a banda que estivesse tocando não fosse totalmente do interesse de uma pessoa.

É impossível comparar a estrutura do Knotfest com a de um Lollapalooza ou Rock in Rio neste momento — e dificilmente veremos o festival se expandir tanto assim, pra ser sincero. Ainda assim, é notável que uma celebração ao Metal tenha atraído tanta gente e tido uma organização quase impecável, com shows extremamente pontuais e poucas reclamações em comparação com outros eventos no mesmo Anhembi.

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De Black Pantera a Slipknot, shows cativaram o público

Mas é claro que o assunto principal do dia, e por consequência dessa resenha, é a enorme quantidade de shows sensacionais com os quais o público foi presenteado. A começar pela baita apresentação do Black Pantera, escalado de última hora quando o Motionless in White cancelou sua vinda e “salvando” o festival em grande estilo, com direito até a uma roda punk só de mulheres.

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Com a parceria entre OitãoJimmy & Rats dando sequência e o Project 46 fechando essa primeira parte do line-up nacional, o Anhembi já era tomado por uma força que não aparecia há muito tempo em festivais brasileiros — talvez desde shows lendários dos anos 90, como os do Sepultura no Pacaembu em 1991 ou no Olympia com o Ratos de Porão em 1994, em uma comparação feita pelo motorista de aplicativo que me levou até o local.

O Sepultura, aliás, subiu ao palco pouco depois da final da Copa do Mundo para um show especialíssimo. Última banda brasileira a se apresentar nessa edição do Knotfest, os caras trouxeram Scott Ian (Mr. Bungle/Anthrax), Phil Anselmo (Pantera) e Matt Heafy (Trivium) para participações em um show que passeou por clássicos e novas músicas com maestria.

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Antes deles, no entanto, as primeiras atrações internacionais a tocar foram TriviumVended, ambas atrações dos sideshows da METAL WEEK apresenta pela 30e na semana que precedeu o Knotfest. Enquanto a banda de filhos dos integrantes do Slipknot acabou sendo prejudicada pela excelente partida de futebol que rolava, Matt Heafy e companhia tiveram um dos públicos mais animados do festival por conta do horário em que tocaram.

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Depois do Sepultura, foi a vez do incrível Mr. Bungle tomar conta do Knotstage — apesar de não haver uma diferenciação nesse sentido ou mesmo em questão de estrutura, ficou claro que este palco, onde o Slipknot tocou ao final da noite, era visto como principal e esteve mais lotado durante todo o dia.

Com sua tradicional irreverência e seu estilão único, Mike Patton foi um show à parte e ajudou muita gente a suportar o calor que teve seu pico por volta desta apresentação, antes de se acalmar logo na hora que o Pantera subia no Carnival Stage para a penúltima apresentação do palco.

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Falar em Pantera é, inevitavelmente, falar em todas as polêmicas que envolvem Phil Anselmo e até mesmo a recente “reunião” do grupo, que conta com Zakk Wylde (Ozzy Osbourne/Black Label Society) substituindo Dimebag DarrellCharlie Benante  (Anthrax) no lugar de Vinnie Paul. Ainda assim, nem mesmo a ausência do baixista Rex Brown, que pegou COVID-19, impediu uma enorme parcela da plateia de curtir o show regado a hits como “Walk”, “Fucking Hostile” e, claro, “Cowboys From Hell”.

Na outra ponta do Sambódromo e também do espectro de causas sociais, o Bring Me the Horizon repetiu a receita de sucesso de sua apresentação solo dias antes (mas sem Pabllo Vittar dessa vez) e conquistou o público, parecendo vencer até mesmo a resistência de alguns dos fãs mais tradicionais de Slipknot que não eram tão familiarizados com o som de Oli Sykes e companhia.

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Unindo peso e melodias como poucos, o grupo britânico é um dos que mais arrastou o público jovem para o Knotfest e ajudou a criar essa cara Pop para um evento tão ligado ao Metal. Tudo isso, claro, sem perder a essência do peso que convenceu os integrantes do Slipknot e organizadores do festival a convidá-los para fazer parte dessa jornada.

Do outro lado da moeda, o Carnival Stage teve um encerramento fantástico com o Judas Priest, provavelmente a banda que mais levou o público “das antigas” para o festival, ainda que outros nomes como Pantera e Sepultura também tenham ajudado bastante nesse aspecto. Fato é que Rob Halford parece melhor do que nunca e os lendários roqueiros seguem afiadíssimos, fazendo um show digno de megafestivais.

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Pra fechar a noite, não poderia ser diferente. Com uma chuva de hits do começo ao fim e pirotecnias sensacionais que coroavam um palco espetacular, o Slipknot fez um de seus melhores shows no Brasil e era notável a empolgação do grupo em estar levando o seu próprio festival para um país que, como já disseram várias vezes antes, está entre seus preferidos.

O setlist já conta logo com a pancada “Disasterpiece” na abertura, e as constantes pausas para discursos de Corey Taylor parecem ser uma receita para que a banda (e o público) consiga respirar em meio a tantas porradas que são oferecidas em sequência.

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Para se ter uma ideia, os caras tocam “Psychosocial”, “Duality”, “Custer” e “Spit It Out” uma após a outra antes de sair para o bis, que conta com “People = Shit” e “Surfacing” antes de “liberar” o público ao som de “‘Til We Die”, um hino que faz jus ao sentimento de família que foi construído durante todo esse festival.

E, assim como em boa parte das famílias do Brasil e do mundo, fica a expectativa daquele reencontro anual. Volte ano que vem, Knotfest!