Há 30 anos, quando Recife foi considerada a quarta pior cidade do mundo para se viver, o surgimento do movimento Manguebeat ajudou a recuperar a autoestima da cultura da capital pernambucana, que estava em decadência.
Para celebrar as três décadas do Manguebeat, o jornalista Emannuel Bento, de Recife, relembrou através de uma thread no Twitter a história do movimento e o papel importantíssimo do saudoso e icônico Chico Science nessa cena.
Como descreve o jornalista, Chico, que morava em um conjunto habitacional construído nos anos 60, numa rua próxima a um mangue, iniciou sua relação profissional com a música ao integrar a banda Orla Orbe, que experimentava com gêneros como o Hip Hop e o Funk dos anos 70.
Tanto o grupo de Science como outros futuros “mangueboys” ocupavam espaços em espécies de “guetos”, como boates gays e prostíbulos, para poderem divulgar seus trabalhos.
Mais tarde, o cantor conheceu outros nomes que se tornaram destaque no movimento, como H.D. Mabuse e Fred 04, que comandaram um programa de rádio que tocava Rock Alternativo.
Além disso, Chico se aproximou de Gilmar Bolla 8, que tinha uma banda chamada Lamento Negro. Ela era formada por jovens da periferia de Olinda e seu som era influenciado pela nova música baiana, estrelada por grupos como Araketu e Olodum e, aos poucos, foram se aprofundando em ritmos locais como Afoxé, Coco e Maracatu.
Ao deixa a Orla Orbe e se juntar com Lúcio Maia (guitarra) e Alexandre Dengue (baixo) para fundar a banda Loustal, Chico começou a ensaiar com o Lamento Negro e, das experimentações entre guitarra e percussões, acabou nascendo Chico Science e Nação Zumbi.
Chico Science e o Manguebeat
O mangue com o qual o músico conviva perto de sua casa, além de ser algo característico de Recife, poderia servir muito bem como uma metáfora para a diversidade de ritmos que ele e seu grupo estavam proporcionando através da música.
Em 1992, foi distribuído para a imprensa o manifesto “Caranguejos com Cérebro” com o intuito de explicar o conceito da cena. Esse texto escrito por Fred 04 e que conta com a ilustração de Hélder Aragão ficou conhecido por marcar o início do manguebeat e, por isso, os 30 anos do movimento estão sendo celebrados neste ano.
Dois anos depois, Chico e a Nação Zumbi lançaram seu primeiro disco Da Lama ao Caos, que recebeu elogios da crítica nacional e internacional e chegou a ser incluído na lista de melhores discos do ano do New York Times.
Além disso, recentemente o trabalho de Chico Science e sua banda foi considerado o melhor álbum da música brasileira nos últimos 30 anos por uma votação de especialistas no jornal O Globo.
Com toda a repercussão do disco, rapidamente o manguebeat se tornou destaque na cena musical de Recife e, com a popularização do gênero, outros grupos como Mundo Livre S/A, Banda Eddie, Jorge Cabeleira e muito mais passaram a ganhar oportunidades com gravadoras.
Você pode conferir um trecho da explicação abaixo e a thread completa clicando aqui!
Em Rio Doce, bairro de Olinda que cresceu pelo aterro de manguezais, vivia Francisco de Assis França.
Ele morava num conjunto habitacional construído nos anos 60, numa rua que dava para um mangue. Os caranguejos entravam na sua casa quando a água subia. + pic.twitter.com/tqTwpZyKRm
— Emannuel Bento (@emannuelbento) December 21, 2022
O nome definitivo da banda fazia menção ao “Afrika Bambaataa & the Zulu Nation”, pioneiro da música eletrônica e do hip hop; ao maracatu, que se dividia em nações; e ao lendário Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares. + pic.twitter.com/TU57YiayhO
— Emannuel Bento (@emannuelbento) December 21, 2022
Em 1992, o manifesto “Caranguejos com Cérebro” é distribuído para a imprensa com o conceito da cena. Esse texto é o marco inicial do mangue, por isso os 30 anos estão sendo comemorados agora.
O texto é de Fred 04 e a ilustração de Hélder Aragão, o DJ Dolores. + pic.twitter.com/WCffEjyU7S
— Emannuel Bento (@emannuelbento) December 21, 2022