Textos por Tony Aiex, Felipe Ernani e Nathália Pandeló Corrêa
O tempo passa e chegamos ao final de 2022, mesmo que tenhamos a impressão de que se passaram uns 15 anos desde o fatídico ano de 2020.
O que parecia distante e impossível aconteceu, e atravessamos uma das piores fases das nossas vidas após longos meses de paciência, isolamento e a esperança de que dias melhores chegariam.
Arriscamos dizer que esses dias ainda não chegaram, mas estamos quase ao final do processo e a arte em 2022 é uma bela amostra disso.
Na música, ficamos com a impressão de que os artistas estão se reorganizando e se entendendo novamente como “performers”, como pessoas que finalmente reencontraram seus públicos fora de um ambiente virtual.
Muitos deles ficaram receosos em lançar álbuns cheios esse ano, enquanto outros disponibilizaram os melhores trabalhos de suas vidas, e uma certeza que temos é que 2023 deve ficar marcado como “o ano da volta”, com aqueles que plantaram as bases em 2022 colhendo os frutos nos próximos meses.
Hoje, com o prazer de sempre em compartilhar o que há de melhor na música nacional, trazemos os principais destaques desse ano tão diferente para todos nós, do Indie ao Pop, passando pelo Rap, pelo Punk, pela MPB e muito mais.
Com vocês, os 50 Melhores Discos Nacionais de 2022 segundo o Tenho Mais Discos Que Amigos!
50 – ROHMA – @rroboboy
Atendendo até outro dia pelo nome artístico de Rohmanelli, o artista agora conhecido como ROHMA está baseado em Santa Catarina mas foi até o Rio de Janeiro para gravar seu material mais forte.
@rroboboy é uma mistura de diversos elementos sonoros e estéticos, indo do Rock Alternativo à Música Experimental com direito a vídeos surreais e parcerias com Letrux, Thiago Nassif, Jonas Sa e Pedro Sá.
49 – Bala Desejo – SIM SIM SIM
Nostálgica e repleta de referências a gigantes da música brasileira dos Anos 60 e 70, a banda Bala Desejo conquistou rapidamente uma legião de ouvintes interessados na Tropicália e numa verdadeira viagem sonora por tempos que não vivenciamos na pele.
Ainda que não represente exatamente o novo, SIM SIM SIM é uma ótima trilha sonora para festas em um país tropical como o Brasil.
48 – Fistt – A Arte de Perder
Verdadeira instituição do hardcore melódico nacional há décadas, a banda paulista Fistt lançou um disco que conecta pontos do passado e do presente no gênero no país.
Com participações especiais de Érika Martins e dos velhos parceiros de HC, a banda Cueio Limão, o grupo entregou mais um álbum onde a diversão é garantida e a trilha sonora para uma sessão de skate também.
Como cereja do bolo, o grupo ainda regravou o clássico underground “29 Months”, da banda carioca The Invisibles.
47 – Urias – FÚRIA
Uma das Artistas do Mês no TMDQA! em 2022, Urias teve um ano pra lá de movimentado.
No primeiro semestre, lançou FÚRIA, disco que mostra uma abordagem bem diferente para o que é a música Pop, já dando sinais das experimentações que faria e emplacando sucessos como “Foi Mal” e “Tanto Faz”.
O álbum foi uma espécie de preparação quente para sua nova fase, completamente experimental, na série de EPs HER MIND.
46 – Wry – Aurora
Após décadas gravando em inglês, a influente banda de rock alternativo Wry resolveu se aventurar pela nossa língua e mandou muito bem.
Aurora mostra tudo aquilo que o grupo de Sorocaba já apresentou em sua carreira, com uma mistura de Pós Punk, Britpop e Indie de muito bom gosto. A diferença é que agora estamos todos cantando junto como se fosse nos Anos 80 e 90.
E isso é bom demais.
45 – Nobat – Mestiço
Nobat é um músico mineiro pra lá de talentoso que vem dando novas caras à mistura de sonoridades da MPB, promovendo o encontro entre o clássico e o contemporâneo.
Cantor de primeira e um compositor afiado, ele preparou uma estética belíssima para nos brindar com Mestiço, disco que tem uma das últimas gravações da saudosa Elza Soares na forma de “Me Deixa Sambar”, em um encontro riquíssimo que ainda tem o incrível BNegão.
44 – Camarones Orquestra Guitarrística e Manoel Cordeiro – Oh Sorte
Camarones Orquestra Guitarrística e Manoel Cordeiro deram um verdadeiro presente à música instrumental brasileira quando uniram forças em Oh Sorte.
O encontro da banda potiguar com o icônico artista paraense não apenas representou o choque das regiões Norte e Nordeste do país como também tomou inspirações de gêneros que usam e abusam das guitarras nas suas formas mais diversas.
Rock And Roll, Cúmbia, Carimbó e, claro, a típica “Guitarrada” de Manoel Cordeiro dão o tom do que é uma viagem deliciosa pelas ondas sonoras de Belém, Natal e do Caribe.
43 – Felipe Vaz – Terra de Mulher Bonita
O Rio de Janeiro ganha outros tons e sons em Terra de Mulher Bonita, segundo trabalho de estúdio do cantor e compositor Felipe Vaz. Ele exalta sua cidade natal, Duque de Caxias (situada na região metropolitana carioca), em um álbum que poderia ser um longa-metragem e uma carta de amor à sua Baixada Fluminense.
Embora as faixas não contem um arco único com início, meio e fim, elas têm uma coesão sonora e lírica que as transforma em crônicas urbanas de amores e desamores. As canções são embaladas por uma nova interpretação de gêneros como o rap, o pop, o trap sob um novo viés.
Os cenários são pintados a cada rua, igreja, marco histórico de uma cidade que surge na mídia apenas como sinônimo das suas violências e dissabores. Felipe Vaz mostra que existe beleza para além das praias da Zona Sul, que cabem outras tantas histórias quando se vai mais longe.
42 – Karen Jonz – Papel de Carta
Karen Jonz fez diversas estreias nos últimos anos.
Skatista pioneira no país, ela foi convidada em 2021 para comentar a primeira vez do seu esporte nas Olimpíadas e brilhou no SporTV, com muita informação e comentários divertidos sobre o esporte.
Em 2022, na música, entregou a idade e se conectou de forma nostálgica já no ótimo título de seu primeiro álbum, Papel de Carta, algo que fez parte da infância de muita gente que já passou dos seus 30 anos.
Pois Karen usou diversos dos seus papeis de carta para escrever canções extremamente confessionais, ambientadas com guitarras, sintetizadores e um encontro de diversos gêneros, do Lo-Fi ao Indie.
Não foi difícil se conectar com a artista e a ligação instantânea fez com que o álbum soasse como um daqueles amigos com os quais a gente troca experiências, alegrias e decepções.
41 – Lazúli – De Lua
Lazúli é o trabalho solo de Juliana Strassacapa, conhecida como uma das vozes do caldeirão sonoro da francisco, el hombre. Agora, a cantora paulistana estreia em disco solidificando a identidade plural artística que vem construindo até aqui, seja com sua banda principal, seja colaborando com diferentes nomes da cena indie brasileira.
Alguns deles surgem como convidados especiais no álbum – MC Tha, Luê e outras -, mas o disco ganha o protagonismo de uma cantora madura e uma compositora potente, tudo unido por um som etéreo e pungente. Lazúli canta em Português e Espanhol; abraça elementos eletrônicos, guitarras, tambores; e mergulha fundo em temas como a descoberta da própria identidade, o sagrado feminino e os rituais da espiritualidade.
De Lua traz em seu título a imprevisibilidade de uma artista que não só abarca as diferentes facetas dos ciclos lunares, como também aceita seus múltiplos caminhos. É uma verdadeira viagem embarcar nessa jornada.
40 – Salma e Mac – Voo Livre
Uma das boas surpresas de 2022 foi o disco do casal Salma e Mac, conhecidos como vocalista e guitarrista da banda goiana Carne Doce, respectivamente.
Em Voo Livre, a dupla navega por novos ares, usando e abusando da MPB para falar sobre relacionamentos, prazeres, Internet e mais, em novas canções e versões como a de “Cetapensâno”, que virou uma deliciosa balada praiana mesmo com a letra áspera que conhecemos no disco Princesa, lá em 2016.
Marca registrada recente do casal, a sensualidade aparece em canções como “Marquinha” e todas as artes visuais que a divulgaram, e Voo Livre é uma viagem pelo universo íntimo de dois artistas sem qualquer pudor.
39 – gorduratrans – zera
Um dos nomes mais criativos do rock alternativo nacional, a banda gorduratrans lançou seu terceiro disco apostando na alternância de caos e calmaria, mostrando guitarras contundentes e elementos eletrônicos, na porrada e na suavidade.
Consolidando uma sonoridade própria que bebe nas fontes do Indie, do Punk e do Post-Hardcore lá de fora, o grupo apresentou uma série de novas canções que deixam qualquer fã de bandas gringas como Title Fight, Hundredth, Basement, Superheaven, Nothing e mais bastante satisfeitos.
38 – Zudizilla – Zulu: de César a Cristo (Vol. 2)
De Pelotas para o Brasil, Zudizilla é um artista que vem quebrando barreiras desde que começou a nos apresentar sua arte. Agora, com o volume 2 da história Zulu, se mostra mais maduro do que nunca e ao mesmo tempo tão visceral quanto antes.
Em um disco recheado de feats que vão de Emicida a Coruja BC1, o rapper se estabelece novamente como uma das revelações do gênero nos últimos anos e reforça sua posição como um artista plural, no sentido de oferecer ao ouvinte letras fortes e pesadas, belas melodias e uma série de reflexões através de uma história contada com maestria.
Faixas como “AFORTUNADO” e “HORA DOURADA” estão entre as melhores de Rap do ano, e você precisa conhecer esse disco se ainda não o ouviu.
37 – Gabriel Ventura – Tarde
Guitarrista e vocalista da extinta banda Ventre, o músico Gabriel Ventura embarcou em carreira solo e resolveu carregar diversos dos elementos que o colocaram nos holofotes com o trio.
As guitarras fora do padrão, os vocais quase sussurrados, as letras confessionais e os momentos de peso estão todos aqui, dessa vez acompanhados de uma boa dose de experimentação.
Desde toques de celular até novos timbres, dá pra perceber que Tarde foi um novo playground para um músico que gosta de se manter abaixo do radar mesmo que tenha talento para voos muito mais altos.
36 – Brisa Flow – Janequeo
Artista absolutamente fundamental no cenário nacional, Brisa Flow se reinventou mais uma vez em Janequeo.
O terceiro disco de estúdio da rapper ousa e muito, explorando direções novas não apenas em sua carreira mas na música de forma geral, já que Brisa não tem nenhum medo de experimentar e misturar sonoridades que, muitas vezes, parecem totalmente não misturáveis.
O resultado é um disco denso, talvez mais do que seus antecessores, mas com uma forte pegada sentimental (como fica claro no maior sucesso do álbum até o momento, “Making Luv”) e cheio de coragem.
35 – Bruno Berle – No Reino dos Afetos
Sensível, inspirado, delicioso: No Reino dos Afetos, do cantor e compositor alagoano Bruno Berle, é um daqueles discos repletos de sensações ou moods, como diria o publicitário ao lado.
Construindo uma verdadeira ponte entre o Indie e a música Pop, o artista construiu canções e montou um álbum entre tantos que vieram como consequência do isolamento da pandemia.
Sozinho ou em parcerias com o produtor batata boy, Bruno sabe muito bem como aliar vocais inspirados, efeitos especiais e batidas marcantes em canções como “Quero Dizer” e “Beat 1”, conectadas no álbum através de uma espécie de interlúdio com “Guardo em Tuas Mãos” em uma passagem interligada que resume muito bem o que é a obra.
34 – Odradek – Liminal
Existe um desafio enorme para artistas virtuosos que gostam de registrar suas habilidades em estúdio e, ainda assim, apresentar canções que não se tornem exercícios enfadonhos de seus instrumentos.
Pois a banda brasileira Odradek sabe muito bem como criar um balanço entre técnica, canção, experimentação e até uma forma própria e peculiar de apelo popular, mesmo fazendo música instrumental.
Urgente, o disco navega por canções que contam histórias através de guitarras e nos transportam diretamente para o universo particular dos artistas, uma tarefa das mais árduas e, aqui, tão bem executada.
33 – Walfredo em Busca da Simbiose – Self
E por falar em mundo particular, o produtor, cantor e multi-instrumentista Lou Alves convidou todo mundo para adentrar o seu quando lançou o segundo disco do projeto Walfredo em Busca da Simbiose.
Self é um mergulho por tons nostálgicos, melodias psicodélicas, refrães Pop e muitas camadas.
Disco daqueles para se ouvir diversas vezes, pode acabar passando batido na primeira audição, mas a cada vez que você se deixa envolver pelas notas e palavras cantadas pelo artista, descobre novos traços e cores.
Uma verdadeira experiência!
32 – Sessa – Estrela Acesa
Reverenciado por músicos de bandas como Belle & Sebastian e dono de timbres muito próprios, Sessa é daqueles artistas que conecta pontos entre a música brasileira mais clássica e os elementos que estão colocando a chamada “Nova MPB” em evidência.
Lançado pelo selo norte-americano Mexican Summer, Estrela Acesa é mais um mergulho nostálgico de 2022, mas aqui a gente ouve muito mais elementos próprios do artista do que as referências a Caetano, Gil e Gal, ainda que elas estejam lá.
31 – Crime Caqui – Atenta
Traduzir a influência do movimento riot grrrl em uma sonoridade que se aproxima muito mais de gêneros como Dream Pop e até da música brasileira parece uma missão quase impossível. Mas foi exatamente isso que o Crime Caqui fez.
Com seu primeiro disco de estúdio, Atenta, a banda sorocabana navega por sonoridades que esbanjam uma riqueza de influências pouco comum na música nacional atualmente e prova que é possível ter muita atitude mesmo sem trazer uma grande dose de peso em suas músicas.
Com destaque para a faixa “Feito pra Durar”, o trabalho apresenta uma enorme preocupação com cada detalhe, o que também fica bastante perceptível em canções como “Mais Quente Que o Sol” e “Gostosinha”.
30 – Anelis Assumpção – Sal
Se você abrir a tracklist de Sal, mais recente disco lançado pela incrível Anelis Assumpção, vai achar que está vendo o line-up de um baita festival brasileiro.
Larissa Luz, Luedji Luna, Céu, Jadsa, Mahmundi, Thalma de Freitas, Dona Anicide, Josyara, Iara Rennó, Maíra Freitas e Curumin são as atrações que embelezam cada uma das 11 faixas do álbum e os feats são apenas um dos grandes aspectos desse disco.
Um resultado direto de tantas colaborações é a pluralidade do trabalho, e esse talvez seja o disco mais expansivo de Anelis, que pinta as cores de retratos urbanos, viaja por montanhas isoladas e dá um giro pelo seu universo pessoal com elementos do Pop, Reggae, Indie, MPB e mais.
Tudo isso vem acompanhado de instrumentais incríveis no pano de fundo, dando espaço para a voz de Anelis brilhar como sempre em um álbum envolvente.
29 – Luneta Mágica – No Paiz das Amazonas
Direto de Manaus, a banda Luneta Mágica apresentou um encontro interessantíssimo da música regional com o rock alternativo em No Paiz das Amazonas.
Aqui, há elementos de todos os cantos que nos brindam com uma identidade própria de um grupo que vem evoluindo com o tempo e se encontrando em uma gama enorme de influências a ponto de abordar, com propriedade, temas complexos e instrumentais fora do óbvio.
Falando sobre a relação da capital manauara com a floresta do seu entorno, a Luneta Mágica transpirou canções que nos levam diretamente para uma região do Brasil culturalmente rica e, ao mesmo tempo, distante dos holofotes.
Com participações de nomes como sistilho, Tatá Aeroplano, Victor Xamã e mais, as 11 faixas do álbum dão uma amostra da ótima nova psicodelia brasileira.
28 – Bullet Bane – BLLT
Nome já bastante estabelecido na cena HC nacional, o Bullet Bane se reinventou completamente com a chegada do vocalista Arthur Mutanen. O resultado disso começou a ser construído com o antecessor Ponto mas agora, no ótimo BLLT, temos um trabalho que soa completo e, ao mesmo tempo, como se ainda fosse apenas o começo de uma banda que tem muito mais a entregar.
Esse espírito de renovação é tão irônico quanto espetacular, visto que o Bullet já tem um carreira consolidada, e é um dos fatores que torna esse álbum tão especial. Em faixas como “Sentir” e “Pra Não Ter Que Enxergar Onde Errei”, é possível perceber claramente qual foi o resultado dessa receita que misturou a sonoridade tão característica do Bullet Bane com o seu novo vocalista.
Por outro lado, canções como “Cancela o Replay” e “Lembro Quando Começou”, parceria com Lucas Silveira (Fresno), são as que abrem novas e ótimas portas a serem exploradas por essa nova formação que cada vez mais parece ter sido um match perfeito.
27 – Deize Tigrona – Foi Eu Que Fiz
Fazia muito tempo que Deize Tigrona, moradora da Cidade de Deus, não lançava um disco de estúdio.
Mais precisamente, passaram-se 14 anos desde Garota Chapa Quente até que a carioca voltasse com um novo álbum e a espera valeu a pena.
Assim como no seu primeiro lançamento em parceria com o icônico DJ Marlboro, aqui a funkeira não mede palavras para falar sobre os mais diversos assuntos, sempre de forma bastante explícita.
Explícita, também, é a vontade de mostrar que foi ela quem imaginou o trabalho, o que fica bem claro no título, e o resultado traz uma mistura dos seus traços mais característicos com parcerias que vão da música experimental do Teto Preto até DJ Chernobyl e BADSISTA.
Com direção artística de Mauricio Sacramento, Foi Eu Que Fiz mostra que nós perdemos com tantos anos de ausência, e traz a esperança de que não tenhamos mais um período tão longo sem novos álbuns de Deize Tigrona.
26 – Xênia França – Em Nome Da Estrela
Cinco anos após a sua estreia poderosa, Xênia França voltou com mais um disco potente onde fala sobre as realidades da mulher negra no Brasil.
Ao mesmo tempo em que celebra a ancestralidade, Xênia também olha, aborda e debate temas atuais em um álbum que flui como as águas de um rio, trazendo participações de Arthur Verocai e Rico Dalasam no meio do caminho.
25 – Black Pantera – Ascensão
Aqui no TMDQA! a gente já fala há algum tempo sobre a banda mineira Black Pantera.
Mais que isso, já escalamos os caras para um evento incrível em São Paulo antes da pandemia e pudemos ver, de perto, a energia da mistura de Punk, Hardcore e Metal que o grupo construiu de forma interessantíssima.
Os anos se passaram e o Black Pantera só amadureceu: com Ascensão, o trio solidificou seu posicionamento antirracista e tocou ou vai tocar em todos os principais festivais do calendário musical brasileiro.
Rock In Rio, Knotfest, Primavera Sound, Lollapalooza, Afropunk e tantas praças pelo país puderam ouvir hinos como “Fogo Nos Racistas” e a base disso tudo é um álbum sólido, recheado de riffs poderosos.
24 – Macaco Bong – Live Garage
Uma das mais sólidas bandas de rock instrumental do país há muito tempo, a Macaco Bong sempre aparece nas nossas listas de final de ano.
Com Live Garage não é diferente, e o trabalho lançado de surpresa veio com 5 faixas que navegam por verdadeiras pedradas, construções fora do óbvio e toda marca registrada de um grupo que nunca irá se cansar de fazer arte, tocando, gravando e lançando o que acredita.
Esqueça qualquer tipo de modelo, protótipo ou fórmula: o Macaco Bong é uma das bandas mais verdadeiras desse país e o disco mostra isso.
23 – Rashid – Movimento Rápido Dos Olhos
Com uma belíssima história no Rap nacional, Rashid lançou um trabalho primoroso em 2022 com seu novo disco de estúdio.
A impressão é que Movimento Rápido Dos Olhos concentra as mais diversas influências e experiências vividas pelo músico nos últimos anos no mesmo lugar, de forma que parece refletir da forma mais fiel o que ele entende ser sua música.
Para tanto, contou com participações como as de Curumin, Liniker, Marissol Mwaba e, é claro, deitou e rolou em cima das suas influências asiáticas.
Tanto que transformou o álbum em um pacote ainda mais completo ao trazer audiodramas dublados por nomes como Guilherme Briggs, Adriana Couto e Rodrigo Carneiro, com direção de Fábio Hataka.
22 – BK – Icarus
Abebe Bikila, o BK, é um dos rappers mais consistentes do Brasil já há alguns anos. Todo lançamento de estúdio do cara chega em alto nível e com Ícarus não foi diferente.
Repetindo a parceria que apresentou com o produtor e beatmaker JVNX$ em seu último disco, o músico decidiu fazer diferente de O Líder Em Movimento, onde não contou com participações especiais e construiu seu mundo sonoro por conta própria.
Aqui, recebeu L7NNON, Major RD, Julia Mestre, Luccas Carlos, Marina Sena e mais, expandindo a sonoridade do Hip Hop para outros gêneros que vão do Indie ao Pop.
21 – brvnks – Meet The Terrible
Quando lançou o disco de estreia Morri de Raiva em 2019, brvnks já vinha se estabelecendo como um nome do Indie Pop nacional que parecia pronta para bater de frente com qualquer grande artista internacional.
Acontece que a chegada de meet the terrible faz com que a artista realmente encontre um lugar para chamar de seu, explorando uma sonoridade que continua digna de qualquer playlist gringa mas, dessa vez, trazendo em muitos casos os vocais em português que soam tão únicos em meio a esse tipo de instrumental.
É o caso de canções como “sei lá” e “cici”, mas também vale destacar a ótima “as coisas mudam”, talvez o ponto alto do álbum ao exibir um tom bastante confessional que toca lá no fundo da alma.
20 – Tim Bernardes – Mil Coisas Invisíveis
Grande referência da nova MPB, Tim Bernardes viveu anos de produção constante, seja em carreira solo ou com O Terno. Quando finalmente teve um tempo para respirar, se viu mergulhado em reflexões que resultaram em um trabalho sensacional.
Mil Coisas Invisíveis tem todos os elementos que fizeram com que Tim se tornasse o fenômeno que é hoje, incluindo toques sutis de psicodelia em meio às belas harmonias e melodias que dão o tom ao álbum. Além disso, resgata uma ambientação intimista que os maiores clássicos da música nacional tem.
Aqui, Tim soa ao mesmo tempo clássico e moderno — algo que é corroborado pela mistura de equipamentos que usou para gravar, incluindo instrumentos antigos e técnicas mais atuais.
Um disco que se encaixa perfeitamente no presente enquanto se apoia no passado, Mil Coisas Invisíveis é das mais belas produções de 2022.
19 – Baco Exu do Blues – QVVJFA?
Baco Exu do Blues surgiu como um furacão através de rimas poderosas e uma persona que causava impacto desde o primeiro contato, seja com seu som ou com a estética que apresentava em seus lançamentos.
Há anos, vem trabalhando ao lado de pessoas que estouraram completamente as bolhas onde ele se localizava e o conectaram a gêneros completamente distintos, do Blues ao Pop.
Em QVVJFA?, Baco retoma a ótima fase após navegar por mares incertos e os números milionários de plays em cada uma das 12 faixas não deixam mentir: o homem sabe como fazer música popular das boas.
18 – Jovem Dionisio – Acorda, Pedrinho
A banda curitibana Jovem Dionisio sentiu na boca o gosto agridoce de explodir com um mega hit.
Algo que acontece desde que a indústria da música existe, o grupo não apenas furou bolhas como as estourou completamente, indo parar nos perfis de TikTok e Instagram do seu pai, mãe, tio e até cachorrinho com “ACORDA PEDRINHO”, o maior viral sonoro de 2022.
Se de um lado isso trouxe bastante atenção ao Indie Pop dos caras, de outro fez com que muita gente construísse uma barreira enorme para ouvir Acorda, Pedrinho, o disco, o que é um grande erro.
O álbum é uma bela incursão pela sonoridade que agrada jovens hoje em dia misturando elementos orgânicos e batidas eletrônicas.
O tal do Indie Pop é agraciado e canções como “Não Foi Por Mal”, “Risco” e “Tem Jeito De Quem Gosta” são pontos altos de uma viagem que começa em Curitiba, cheia de referências à capital paranaense, na também ótima faixa de abertura “Pastel”.
Se “ACORDA PEDRINHO”, a música, tocou demais por aí aí, vale deixar o sentimento de lado e dar o play no álbum. A gente garante!
17 – Jair Naves – Ofuscante a Beleza Que Eu Vejo
2022 chegou e, com ele, mais um disco incrível de Jair Naves.
Conhecido por suas explosões, seja nas letras, performances ao vivo ou instrumentais, o músico envelopa toda a sua raiva e descontentamento com o governo Bolsonaro e a ascensão da extrema-direita no país de formas diferentes.
Em diversos momentos, como na faixa de abertura “Meu Calabouço (Tão Precioso É O Novo Dia)”, nem é possível perceber que estamos ouvindo o que poderia facilmente se encaixar na categoria de “Disco de Protesto”, e isso é ótimo.
É arte. É arte feita em 2022 sobre o principal tema que assolou o Brasil esse ano, sem medo de dizer o que se pensa.
16 – Bratislava – Parte Do Que Vem
Você já deve ter cansado de ouvir essa frase, mas é fato: artistas da música foram os que mais sofreram com a pandemia de COVID-19 que tomou 2020 de assalto.
Acontece que os mais diversos cantores e bandas lidaram com o isolamento e a impossibilidade de tocar para seus públicos de formas distintas.
No caso da banda paulistana Bratislava, a saída foi reagrupar, repensar e redefinir sua própria sonoridade, com um resultado que acabou sendo extremamente positivo.
Assumindo um lado mais ensolarado e enxergando a luz ao final do túnel, o grupo liderado por Victor Meira ganhou nova identidade e parece que adequou de forma muitíssimo bem feita as suas influências com as suas qualidades e o seu propósito artístico com o seu público.
Parte Do Que Vem é uma experiência nostálgica que percorre traços muito pessoais de Victor, como quando ele “sampleia” um áudio de WhatsApp do seu saudoso pai em “As Pessoas Querem uma Música Empolgante”.
Talvez o auge dessa imersão nostálgica e da celebração do que nos marcou esteja no clipe de “Velhos Rituais”, que traz cenas dos músicos à frente de casas de shows icônicas de São Paulo que foram obrigadas a fechar as portas por conta da pandemia, como a Casa do Mancha.
Em seu último disco, a Bratislava olhou para dentro pra seguir em frente e saiu desse processo renovadíssima.
15 – Pelados – Foi Mal
Uma das maiores revelações do rock alternativo brasileiro em 2022, a banda Pelados lançou Foi Mal e rapidamente caiu nas graças dos fãs de Indie por aqui.
Com títulos de faixas como “foda que ela era linda”, “coquinha gelada after sex” e “yo la tengo na casa do mancha”, o grupo não faz questão nenhuma de esconder que faz parte da cena, e quase cria uma barreira para quem não tem intenção de ser tão descolado assim.
Mas fica tranquilo, é só apertar o play para deixar se levar pela sonoridade do quinteto paulistano que vai do Rock Triste ao Pop com muita facilidade, criando aquilo que chamou de “Pop Desleixado”.
14 – Scalene – LABIRINTO
Mesmo tendo entrado em hiato em 2022, o Scalene ainda conseguiu entregar aos fãs um dos trabalhos mais sólidos de sua carreira.
Com LABIRINTO, a banda brasiliense parece ter deixado fluir as emoções que vinham se aflorando durante os últimos anos, seja no microcosmo da própria banda ou em um cenário mais macro, com relação ao cenário nacional e todas as consequências dos tempos bizarros que vivemos.
Musicalmente, o Scalene resgatou alguns de seus melhores traços em canções como a fantástica “OUROBOROS”, e também seguiu por novas direções (como sempre costuma fazer) em faixas como “SINCOPADO” e “FORTUNA”, épica parceria com a banda americana O’Brother.
O resultado é um trabalho que fortalece o legado de uma banda tão importante para o Rock nacional, que fará muita falta enquanto estiver ausente e definitivamente não será esquecida.
13 – Moons – Best Kept Secret
Poucas bandas brasileiras lançam materiais com o nível de produção que os mineiros da Moons costumam apresentar.
Criando ambientes belíssimos e pra lá de elegantes, os músicos fazem ótimo uso da combinação de violões, guitarras e vocais quase terapêuticos.
Apresentando ótimas composições e trabalhos memoráveis nos últimos anos, a Moons chega mais uma vez com um dos melhores discos do ano misturando Indie, Bossa Nova, Jazz e mais.
Se cantasse em português, muito provavelmente estaria em posições altas nas escalações dos principais festivais de música alternativa do país.
12 – Russo Passapusso, Antonio Carlos & Jocafi – Alto da Maravilha
Verdadeiro encontro de gerações, Alto da Maravilha é o disco colaborativo de Russo Passapusso (BaianaSystem) com a dupla Antonio Carlos & Jocafi.
Se nos últimos anos o primeiro ficou conhecido por comandar um show enérgico considerado por muitos como o melhor do Brasil na atualidade, o duo baiano fez história nos Anos 70 com discos celebrados e canções em trilhas de novelas.
Como resultado, temos um registro histórico e uma festa regada a cantos incríveis, danças contagiantes e colaborações com Gilberto Gil, Curumin, Karina Buhr e mais.
11 – Dingo – A Vida É Uma Granada
O nome da banda mudou, mas a qualidade permaneceu intacta.
Antes conhecido como Dingo Bells, o grupo gaúcho resolveu encurtar a forma como se apresenta ao mundo, adotou o Dingo e fez bonito com mais um discão!
A Vida É Uma Granada traz a típica mistura de Rock Alternativo e MPB que o grupo sabe fazer tão bem, tudo com vocais que dão a cara desde o primeiro segundo da primeira faixa do álbum e nos levam para lugares melhores instantaneamente.
Uma delícia de disco, como é típico da Dingo-agora-sem-Bells!
10 – Criolo – Sobre Viver
Já tem muito tempo que Criolo se afastou do Rap para experimentar com diversos outros gêneros musicais.
Samba e MPB vieram com força em seus mais recentes lançamentos, e no seu novo álbum, quando parece ter se reconectado às origens, o músico resolveu apresentar um pouco de tudo.
Sendo assim, Sobre Viver é uma espécie de resumo de tudo que Criolo já fez aqui, como se em uma celebração às influências e às próprias experiências que viveu em cada passo que deu na sua carreira.
Nomes como Milton Nascimento, Tropkillaz, Liniker e Mayra Andrade complementam o trabalho que mostra um artista entendendo que sua sonoridade, talvez, seja o mundo.
09 – Alaíde Costa – O Que Meus Calos Dizem Sobre Mim
Com 87 anos de idade, ícone do Samba, da Bossa Nova e da MPB, a incrível Alaíde Costa entregou tudo de si em O Que Meus Calos Dizem Sobre Mim.
Estampando a capa com seu próprio rosto, Alaíde dá voz a composições de outros gigantes como Céu, Nando Reis, Guilherme Arantes, Ivan Lins, Erasmo Carlos, Tim Bernardes, João Bosco e mais.
Emicida também aparece no time de compositores e ainda divide o cargo de produtor com Marcus Preto (Gal Costa, Erasmo Carlos) e o icônico Pupillo.
É um verdadeiro time dos sonhos em um álbum magnífico, com 8 faixas, 34 minutos e 35 segundos de nostalgia por tempos em que a canção estava no centro de todo e qualquer trabalho musical.
8 – Tulipa Ruiz – Habilidades Extraordinárias
Conhecida como uma das principais vozes da música brasileira fora do mainstream, Tulipa Ruiz não parece ter qualquer tipo de vontade para dominar as paradas musicais.
Em Habilidades Extraordinárias, seu primeiro disco desde 2017, a artista gravou tudo em fita, priorizou os elementos orgânicos e os instrumentos que acompanham sua voz e nem se importou com os algoritmos das plataformas de streaming.
Ao invés disso, nos entregou um baita de um álbum cheio que se encerra com a bela “O Recado da Flor”, parceria poderosa com o lendário João Donato.
7 – Ratos de Porão – Necropolítica
Em um ano onde boa parte das bandas de Rock resolveu se calar sobre as eleições, o lendário Ratos de Porão foi além.
Com letras perspicazes e a fúria habitual, o grupo liderado por João Gordo não apenas detonou a extrema-direita e o governo de Jair Bolsonaro, como ainda contextualizou a política brasileira e deu verdadeiras aulas sobre sociedade, o poder nocivo da religião e as mentiras dos homens públicos.
Além disso, ainda foi bem específico ao falar sobre temas como o descaso do governo com a pandemia, os “patriotas idiotas” e a influência das fake news compartilhadas por apps como WhatsApp no celular.
Em pouco mais de meia hora, o RDP deixa suas críticas bem claras e sobra pra todo mundo já nos títulos das canções, como “Alerta Antifascista”, “Guilhotinado em Cristo”, “Neonazi Gratiluz” e mais.
6 – Gloria Groove – LADY LESTE
É sempre um prazer enorme ver grandes artistas se reinventando, em especial quando isso acaba resultando em um trabalho excepcional.
Foi exatamente isso que aconteceu com Gloria Groove, que abraçou suas origens sem perder o aspecto teatral em LADY LESTE, um dos discos mais imponentes (e importantes) do ano. Desde os primeiros segundos de “SFM”, que abre com um solo de guitarra, até o hit “VERMELHO”, tudo parece pensado e amarrado conceitualmente.
Não é à toa que Lady Leste se tornou realmente um pseudônimo de Gloria, já que se trata de um trabalho tão marcante e com tanta significância para uma carreira que já se encontrava em um ótimo local. Agora, é difícil não pensar em Gloria Groove como uma das maiores artistas do país.
LADY LESTE foi um verdadeiro chute na porta, voltando todos os olhares do cenário nacional para uma artista plural, incrivelmente talentosa e musicalmente fantástica.
5 – saudade – bem vindo, amanhecer
saudade é o nome do projeto de Saulo Von Seehausen onde o músico experimenta com a sonoridade dos Anos 80 e 90 e se aproxima de gigantes que construíram pontes entre o Pop Nacional e a MPB nesses períodos.
Em bem vindo, amanhecer, ele mostra tons ensolarados e composições inspiradas que parecem ter saído do rascunho após longas sessões de audição de clássicos de Guilherme Arantes e Ivan Lins.
Com talento de sobra, saudade reuniu um time de primeira para registrar tudo em estúdio e contou com participações como a de Lorena Chaves na belíssima “o caminho que há em mim”.
Com o período de férias e recesso chegando aí, é um daqueles discos perfeitos para relaxar e aproveitar a vibe de fim de ano.
4 – Terno Rei – Gêmeos
Em 2019, a banda indie Terno Rei lançou o disco Violeta e caiu nas graças do público de rock alternativo que passava, cada vez mais, a celebrar a banda.
A pandemia veio e as faixas que são um verdadeiro confessionário paulistano sobre a vida nos tempos atuais acabaram se conectando com muito mais gente que se identificou ali enquanto tentava superar as dificuldades de um isolamento repentino.
Não à toa, o sarrafo estava bem alto para o sucessor de Violeta e o Terno Rei superou as expectativas, principalmente porque não quis repetir a fórmula Indie-Pós-Punk-Emo do trabalho anterior.
Gêmeos é expansivo, diverso e traz influências que vão além do que o grupo estava acostumado a misturar, chegando até ao Pop Rock nacional, provavelmente fruto de novas inspirações e parcerias como aquela com Samuel Rosa (Skank) em uma sessão de estúdio.
A produção está mais afiada, as composições ainda mais encorpadas e, pra completar, “Dias da Juventude” é um verdadeiro hino indie com um refrão que gruda na cabeça e, fossem outros tempos, estaria tocando nas rádios brasileiras à exaustão.
Gêmeos é uma baita adição à discografia de um grupo que amadureceu, se encontrou com seus fãs e vem construindo uma das carreiras mais interessantes do rock nacional nos últimos anos.
3 – Maglore – V
E por falar em banda que não lança disco ruim, temos mais uma obra incrível da Maglore!
V, como o nome deixa bem claro, é o quinto álbum da banda baiana que ficou conhecida por criar a sua própria sonoridade em cima das bases do Rock Alternativo, da Música Popular Brasileira e de influências tipicamente Nordestinas.
Se no início de carreira a Maglore queria celebrar o Los Hermanos, agora temos uma banda que olha para épocas de ouro da MPB como os Anos 60 e 70 com sede e fome de honrar grandes nomes através de canções próprias sensacionais.
Famoso “disco que você nem vê passar”, o álbum começa em “A Vida é Uma Aventura” e termina com “Para Gil e Donato” (to falando que a ideia é homenagear!) agradando novos e velhos seguidores da banda.
Desde que lançou seu primeiro álbum com Veroz em 2011, a Maglore se especializou em grandes canções e a contação de histórias com um talento todo particular do vocalista Teago Oliveira, que consegue nos fazer lembrar de amores perdidos, paixões de Verão e do glorioso retorno às aglomerações em um mesmo contexto.
Obrigado por isso!
2 – Mulamba – Será Só Aos Ares
Aguardado segundo disco de estúdio da banda curitibana Mulamba, Será Só Aos Ares é mais uma mostra do que essas mulheres incríveis são capazes de fazer quando se reúnem no estúdio.
No primeiro álbum, homônimo e o Melhor Disco Nacional de 2018, a banda optou por colocar o dedo na ferida de forma bastante direta, dando nomes e praticamente escancarando as injustiças sociais, condenando o machismo e batendo em gente escrota como nas ótimas “Espia Escuta”, “Vila Vintém” e “P.U.T.A”.
Em seu segundo disco a abordagem da banda é diferente, mais poética e até melódica, por assim dizer.
Belas guitarras, vocais incríveis, poesias, palavra falada e a vontade de transformar arte em crítica aparecem no contexto geral das 12 faixas do disco que congrega para ser mais forte.
Menos direto, mas tão poderoso quanto seu antecessor, Será Só Aos Ares fala muito sobre questões pessoais, relacionamentos e até sexo, tudo sem tirar as relações em sociedade do plano de fundo.
Com participações de BNegão, Luedji Luna, Kaê Guajajara, Caramelows e mais, o disco é a obra de uma banda que aprendeu a lutar de diferentes formas, por diferentes causas, olhando muito para quem está ao lado, mas também se lembrando que para estarmos preparados para o combate, é preciso estarmos alinhados com nós mesmos.
1 – Planet Hemp – JARDINEIROS
Há aproximadamente um milhão de questões a respeito do significado e da importância do lançamento de JARDINEIROS, mais recente disco da banda Planet Hemp e o Melhor Álbum Nacional de 2022.
Afinal de contas, estamos falando do primeiro lançamento de um dos pilares do Rock Nacional em nada mais, nada menos do que 20 anos, e isso traz uma série de questionamentos que, pelo menos até o primeiro play, estavam sem resposta.
Que estilos musicais a banda priorizaria nesse retorno? Como as carreiras solo de Marcelo D2 e BNegão iriam influenciar o resultado final? Que temas o grupo estaria disposto a discutir aqui? As participações especiais teriam muito peso? E a maconha, estaria em evidência como nos outros lançamentos?
A melhor resposta para isso tudo veio na forma de um álbum que, de forma impecável, conectou pontos, costurou ideias e não deixou nenhuma dessas perguntas aí em aberto. Tá ali pra todo mundo ouvir.
Em JARDINEIROS, o Planet Hemp soube honrar o passado e celebrar o presente como poucos fazem em seus discos de retorno.
Abrir o álbum com uma fala poderosa do saudoso Marcelo Yuka foi uma jogada de mestre, assim como seguir com “DISTOPIA”, parceria cheia de guitarras ao lado de Criolo.
Em tempos onde muitos se calaram sobre a situação do país para “não perder seguidores”, o Planet não teve medo de questionar se estava todo mundo louco vendo o que acontecia na política e na sociedade.
Para isso, o fez com Rock And Roll, mas também com elementos da música eletrônica como na sensacional “TACA FOGO”, ponte entre o Rap que D2 e BNegão têm feito com o Punk que também aparece em “FIM DO FIM”, clara homenagem a bandas clássicas dos Anos 80 e 90.
A divertida “PUXA FUMO” deixa claro que a bandeira da maconha está vivíssima e abre alas para a soturna “O RITMO E A RAIVA”, um capítulo à parte em um livro tão rico.
Com participação do icônico Black Alien, que esteve com a banda nos seus outros lançamentos, a canção é a síntese do que representa o Planet Hemp e do que é formado esse caldeirão sonoro que não tem medo de misturar elementos.
Então vamos lá, começar do início
Tamo no ano de 92
Meu encontro com o Skunk
Foi foda
Daí me tornei o Marcelo D2
Com um DK estampado no peito,
Mas o papo Sun Ra e Coltrane
Fela Kuti, Sonic Youth, Bezerra da Silva e, claro, Dead Kennedys
Eram mosh nos shows do garagem
Muito amor meu irmão Fábio Gordo.
Eram noites viradas na Lapa,
Assisti filme B no estação Botafogo
A procura de uma alternativa,
Aonde a gente não se encaixava
Fomos achar na cannabis sativa
E três meses depois todo mundo gritava:
Isso é Planet Hemp
A história da banda é contada ao mesmo tempo que explica por que temos tantos elementos diferentes aqui como o trapper argentino Trueno em “MEU BARRIO”.
Afinal de contas, de Fela Kuti até Dead Kennedys há um espaço imenso de artistas incríveis para se admirar se você tem a mente aberta como os caras do Planet.
Continua após o vídeo
As incertezas são grandes e a desconfiança sempre aparece quando um grande nome resolve voltar depois de tanto tempo.
No caso do Planet Hemp, ficou bem claro que ao invés de tentar surfar em algum tipo de onda ou hype, a melhor “ONDA FORTE” a ser surfada foi a da essência da própria banda e de cada um de seus integrantes. E quando você celebra a essência e a verdade, esquece, não tem como dar errado.
Não fazemos a mínima ideia de como o Planet Hemp irá conduzir a sua carreira em estúdio nos próximos anos e se teremos novos discos cheios do grupo em um futuro próximo.
O que sabemos é que JARDINEIROS soma-se à discografia do grupo de forma praticamente idêntica aos seus grandes lançamentos. Não seria nenhuma injustiça dizer, inclusive, que é o melhor trabalho dos caras.
Por isso, e por tudo que citamos acima, é o Melhor Disco Nacional de 2022 de acordo com o Tenho Mais Discos Que Amigos!