M3GAN é um filme de difícil avaliação porque fica no meio-termo em quase todos os quesitos. Tem cenas bizarras, mas não dá tanto medo; tem cenas engraçadas, mas não é definitivamente cômico; tem um bom desenvolvimento, mas a edição não dá um ritmo tão agradável.
A história em si é bem interessante: os pais de Cady (Violet McGraw) morrem em um acidente de carro e ela vai morar com Gemma, sua tia. Esta é desenvolvedora de produtos super tecnológicos em uma empresa de brinquedos e cria M3GAN, uma boneca com inteligência artificial que aprende o comportamento das crianças e auxilia os pais em funções cotidianas.
Os testes são realizados com a própria Cady e, é claro, tudo dá muito errado, a boneca acaba criando consciência e maximiza seus objetivos iniciais, virando uma pequena máquina de terror e pânico.
Dirigido por Gerard Johnstone, o filme utiliza alguns clichês do gênero e flerta com a subversão de alguns deles, mas nunca indo muito longe. As cenas de morte são criativas, por exemplo, mas fica a impressão de que faltou algo.
Confirmando as suspeitas, a roteirista Akela Cooper afirmou que a versão original do roteiro era muito mais sangrenta.
O marketing pesado e a viralização do trailer e de materiais publicitários aproximaram muito a produção de um público mais jovem, tornando inevitáveis os cortes para adequação em uma classificação indicativa menor. Nos EUA, o filme pegou PG-13, então sabemos onde foi para todo esse sangue que ficou de fora.
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Crítica social
De forma até surpreendente, M3GAN pega pesado na crítica à dependência de tecnologia. Especialmente no que diz respeito a como criar os filhos em meio a tantos gadgets e facilidades proporcionadas por eles, o filme questiona o quanto pais e mães devem apostar em atalhos para resolver questões com os filhos.
Emulando um pouco da ironia característica dos filmes de Jordan Peele, Johnstone arranca algumas risadas em contextos absurdos nos quais M3GAN se mete com o objetivo de proteger Cady. Mas é aquele riso de nervoso, por saber que estamos muito mais perto daquela realidade grotesca do que gostaríamos.
A presença de James Wan como produtor pode ter grande influência nesse aspecto.
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O dilema do desenvolvimento
A maioria dos filmes de terror falha no desenvolvimento dos personagens principais. A pressa para começar o que, de fato, os caracterizam como filmes de terror faz com que os protagonistas sejam rasos, apresentados como mera formalidade para dar início aos sustos e à matança.
Isso não acontece em M3GAN, uma vez que Gemma e Cady são pacientemente exploradas em situações domésticas, de trabalho e interagindo entre si e com terceiros.
No entanto, como os diálogos não são uma maravilha e algumas atuações são fracas – especialmente o chefe de Gemma, que é tão ruim que quase nos desconecta da história – a longa introdução se torna cansativa.
Na estrutura tradicional que divide os filmes em três atos, o primeiro é tão grande que espreme os outros dois. M3GAN tem 1h42 de duração e é um raro caso no cinema atual em que poderia ser maior, aproveitando mais o potencial depois que a boneca passa a agir por conta própria.
O ritmo também é prejudicado pela edição, que deixa o filme blocado. Há certa dificuldade na transição entre a boneca recém-criada do começo e a criatura endiabrada do final, com mudanças de comportamento muito bruscas.
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O espectador mais hardcore verá muitos pontos questionáveis ao assistir a M3GAN, mas com certeza dá para se divertir se você for um fã ocasional de filmes de terror. Não é revolucionário, mas já é um bom pontapé inicial para uma franquia que promete.
A continuação já está confirmada e a Blumhouse deve começar a produção já no início de 2023.
Confira o trailer de M3GAN abaixo!