Há alguns dias, Jack Johnson voltou ao Brasil pela primeira vez em seis anos para apresentar seu novo disco a um de seus públicos mais fieis. O músico havaiano trouxe a turnê de Meet the Moonlight, lançado em 2022, e fez uma das apresentações mais legais desse comecinho de ano.
Horas antes do show, pudemos bater um papo com Jack no camarim, que nos contou sobre sua relação próxima e duradoura com o Brasil, as curiosidades sobre o novo disco, seu processo crativo e muito mais.
Confira o papo completo abaixo!
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TMDQA! Entrevista Jack Johnson
TMDQA!: Oi, Jack! É um prazer estar aqui falando com você. Essa é sua primeira vez no Brasil em seis anos, já que a última vez que você esteve aqui foi em 2017. Você não só tem uma longa história com shows por aqui, mas também acho que sua música conversa muito com a nossa cultura. Qual é o seu processo quando você faz um setlist para um show tão longe de casa, especialmente no Brasil? Que tipo de som você acha que se encaixa bem com um show aqui?
Jack Johnson: Olha, essa é uma pergunta muito boa. Acho que, naturalmente, tento incorporar os sons que a gente usa no estúdio, como meu violão e muita percussão. Muitos dos instrumentos que estão no meu disco, acabamos comprando por aqui mesmo quando estamos viajando. Tipo hoje, fomos a algumas lojas de percussão e compramos alguns instrumentos. Muita coisa é influência do Mario Caldato Jr. (produtor musical brasileiro), ele sempre faz playlists bem diferentes de música brasileira pra eu ouvir, sabe? De qualquer forma, acho que ter crescido em uma cultura de ilha, tropical, em um lugar tão semelhantes, ajuda bastante. Por exemplo, eu nunca uso sapatos no palco, e aqui eu me sinto muito confortável fazendo isso. E essa noite ainda temos o Rogê aqui com a gente pra incrementar, então vai ser realmente muito emocionante e brasileiro. É, eu sempre tento pensar no que faz mais sentido para aquele lugar, mas acho que aqui todas as minhas músicas fazendo sentido… entende?
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TMDQA!: Entendo e concordo! Bem, como você bem falou, temos o Rogê hoje aqui. Vocês gravaram juntos e lançaram algumas músicas no ano passado. Como foi que essa parceria aconteceu e como vocês se conheceram?
Jack: O conheci nos bastidores de um show. Eu sempre esqueço se foi aqui mesmo [no Espaço Unimed, em São Paulo], ou se foi no Rio há seis anos. Minha mente me trai às vezes [risos]. Mas foi também o Mário que me apresentou o Rogê, que me trouxe seu disco de vinil para me dar de presente. Levei pra casa, ouvi e liguei para o Mário para dizer que amei a música desse cara. Então começamos a conversar sobre tentar fazer algumas músicas que seriam um crossover, onde ele cantaria português e eu inglês. E assim fizemos duas músicas, acho que outras virão em algum momento.
TMDQA!: Jack, acho que é seguro dizer que você se tornou seu próprio gênero, né? Sinto que, quando alguém ouve qualquer música sua, já sabe que é do Jack Johnson. Isso é algo que você tentou alcançar na carreira ou apenas veio naturalmente?
Jack: Olha, é difícil responder… Eu acho que não tentei muito. Quer dizer, é o tipo de coisa que eu gosto de fazer naturalmente. E eu já ouvi as pessoas chamarem de “música para churrasco”. [risos] Sim, acho que uma vez alguém escreveu isso e eles estavam tentando me diminuir. Eu acho que eles pensaram que seria uma crítica ruim. Só que eu achei bem legal [risos]. Tipo, música para churrasco é a definição perfeita. E então, quando as pessoas me perguntam, eu meio que penso no meu trabalho como música de churrasco, que você coloca em uma festa, sabe? E assim, eu também gosto de pensar que às vezes alguém coloca fones de ouvido e ouve todas as letras. Mas também gosto de pensar em uma situação onde todo mundo está conversando, e a música fica em segundo plano enquanto você está se divertindo. Mas quando você ouve a música, ela te lembra daqueles bons tempos.
TMDQA!: Você acabou de lançar o disco Meet the Moonlight, e foi sua primeira vez trabalhando com o produtor Blake Mills. Como você se prepara quando precisa fazer uma nova parceria como essa? E como foi o processo de gravação do disco junto com o Blake?
Jack: Essa é a primeira vez que trabalho com alguém que não conhecia muito bem antes. Mas depois de passar 12 horas por dia, todos os dias no estúdio, é como se nos conhecêssemos a vida toda, e ele virou um amigo próximo. Antes disso, fiz discos apenas com pessoas que conhecia muito bem. Como o Mario, por exemplo. Fizemos uma música para um filme uma vez e depois mantivemos contato. E quando fizemos nosso álbum, ele me ajudou a transformar minha garagem em um estúdio, viramos muito amigos. E o mesmo com JP Plunier, que produziu dois dos meus discos, apenas um velho amigo. O Blake estava meio nervoso por mim, porque sabia que eu gosto da música dele e dos álbuns que ele produz. Conversamos algumas vezes, mas foi meio estressante entrar no estúdio juntos pela primeira vez. Então ele teve a ideia de só fazer música por uma semana, sem compromisso, sem gravar de fato. Se desse certo, continuaríamos, se desse errado, aí era só parar.
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TMDQA!: E vocês começaram esse processo em Los Angeles para só depois ir ao Havaí, certo? É importante para você sempre levar esse processo de gravação para casa?
Jack: É sim. Quero dizer, até agora sim, exceto pelo primeiro disco que gravei em Los Angeles. Mas, além desse, todo disco eu fiz no Havaí… às vezes gravamos pequenas partes na Califórnia e coisas assim. Eu me sinto muito em casa quando estou lá. Às vezes é bom escrever em lugares diferentes, porque fico muito no meu estúdio. Acho que, às vezes, para o processo de composição, é bom ir a lugares diferentes que inspiram sentimentos e pensamentos diferentes. Mas quando estou realmente fazendo música e gravando, adoro estar em casa na minha garagem. É muito confortável e posso surfar [risos]. Daí nos intervalos, saio um pouco com meus filhos e volto. Eu gosto de não parar minha vida, entende?
TMDQA!: Entendo… Você acha que é isso que dá o toque principal na sua música? Principalmente em Meet the Moonlight, que é um disco tão forte nessa conexão do espiritual com a natureza…
Jack: Sim, eu acho. Eu sempre gosto de sair na rua, também. Às vezes, meu pai entrava no meu estúdio quando eu estava gravando, há quase 20 anos, e falava, ‘o que vocês estão fazendo aqui? Por que não saem para gravar coisas legais lá fora?’. E eu explicava que precisávamos do estúdio, do silêncio, mas ele tinha razão. Neste disco, muitas vezes puxamos os microfones para fora e gravamos com o som dos pássaros e grilos. Então, obrigado pai, você estava certo.
TMDQA!: E agora falando sobre outro grande álbum. Sleep Through the Static (2008) está completando 15 anos este ano. Além de ser um grande destaque da sua carreira, também é um álbum bem diferente do que você faz. Para você, é importante estar sempre mudando e adicionando coisas novas na sua música?
Jack: Sim, e é interessante pensar nisso, porque geralmente quando termino de escrever as músicas, eu não gosto tanto delas e não ouço tanto. Elas se tornam quase que um diário também. Então, quando começo a dar entrevistas, é quase como ver um terapeuta, porque eles te perguntam sobre o que você estava sentindo quando gravou aquilo. E aí eu começo a perceber sobre o que as músicas são… Ou, às vezes, as pessoas ficam tipo, “parece que as coisas estão boas na sua vida”, ou “parece que você precisa falar com alguém” [risos]. Nesse disco em específico, a escolha dos instrumentos foi bem importante. O JP queria bastante guitarra nos meus primeiros discos, já que eu já tinha muita coisa acústica. Acho que é isso que define esse trabalho.
TMDQA!: Falando em instrumentos, Meet the Moonlight tem até garrafas de cerveja nos créditos [risos]. Me conta um pouco sobre isso?
Jack: É verdade, tem isso. É bem divertido. É tipo quando você vai tomando cerveja, e a cada gole o tom ao soprar a garrafa muda. Então eu enchi as garrafas em diferentes níveis, quase que as afinando, e fomos tocando assim. Foi bem legal. Nasceu de um momento que eu já estava bem cansado, e o Blake ainda queria terminar uma música. A gente acabou brincando com as garrafas no chão e deu nisso. Foi a parte mais divertida.
TMDQA!: Imagino! Agora, se você tivesse que escolher uma música deste novo álbum para “vendê-lo” a pessoas que nunca te ouviram, qual você escolheria?
Jack: Provavelmente a faixa título. O meu objetivo ao fazer este álbum com o Blake era melhor no violão, porque ele é um bom produtor, mas também é um guitarrista extraordinário. Ele é um dos meus guitarristas favoritos. A maneira como ele aborda o instrumento é diferente de outros guitarristas. Então essa música é a que me permitiu ser mais flexível.
TMDQA!: Como está a vida em turnê depois de uma pandemia? E ainda no assunto “estrada”, quais experiências legais no Brasil você pode compartilhar com a gente?
Jack: Tivemos ótimos dias de folga nessa turnê. Bem, eu cresci surfando, então estou sempre com isso em mente. Se temos um dia de folga e podemos ir mais longe, então eu vou atrás das ondas. Já peguei várias ótimas no Brasil, mas minhas melhores lembranças são das pessoas que eu conheço nas praias. As conversas, os jogos de futebol com as crianças, e tudo mais… E sobre voltar pós pandemia, tem sido incrível poder fazer isso de novo. É uma sensação muito boa.
TMDQA!: Bem, então aqui vai uma última pergunta: o nome do nosso site é Tenho Mais Discos Que Amigos, como te contei. Qual disco você considera ser seu melhor amigo?
Jack: Hum. Hoje?
TMDQA!: Pode ser.
Jack: Acho que qualquer coisa do Big Thief. Acho que estou realmente preso na música deles agora. É muito bonita e as letras são tocantes, a progressão de acordes e a melodia funcionam bem demais com a voz da vocalista. Então Big Thief.