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Inhaler fala com TMDQA! sobre novo disco “Cuts & Bruises”, amadurecimento e vinda ao Brasil

Banda irlandesa, o Inhaler já soma à discografia após o bem-sucedido “It Won’t Always Be Like This” e amadurece sonoridade.

Inhaler
Inhaler (Crédito: Lewis Evans/UMG)

No começo da carreira, tentaram taxar o Inhaler como “a banda do filho do Bono”. Não durou.

O quarteto de Dublin aproveitou as portas abertas pela relação com o vocalista do U2 para mostrar que sabe traduzir como ninguém da sua geração a sonoridade do alternativo e do indie rock dos anos 90 e 2000.

Sem pressa, o grupo formado em 2012 estreou com um disco apenas em 2021, o ótimo It Won’t Always Be Like This – curiosamente dialogando com o momento que todo o mundo vivia em meio à pandemia.

Agora, apenas 15 meses após o lançamento do primeiro álbum, que alcançou o topo das paradas em ambos os lados do mar da Irlanda, o Inhaler busca fazer sentido de toda a estrada percorrida até aqui com o segundo trabalho: Cuts & Bruises, que chega nesta sexta (17/02) a todas as plataformas.

O trabalho foi gravado no Narcissus Studio, de Ant Genn (Pulp, Peaky Blinders), em Londres, reunindo 11 canções próprias sob a supervisão do que o Inhaler chama de “pai da banda”. O único objetivo: superar em qualidade musical o primeiro disco.

Ousado, mas não impossível. Em 2023, os músicos Elijah Hewson (vocal e guitarra), Robert Keating (baixo), Ryan McMahon (guitarra) e Josh Jenkinson (bateria) têm mais quilometragem: somam não só shows de destaque no Glastonbury e Lollapalooza americano, como fizeram turnê com Arctic Monkeys, Sam Fender e Harry Styles.

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O primeiro single do novo álbum, “These Are the Days”, se mostrou um hino glorioso e celebratório do indie rock. A enérgica “Love Will Get You There” e a balada “If You’re Gonna Break My Heart” logo somaram à expectativa para Cuts & Bruises.

O novo disco reflete a urgência da estrada, a vontade de evolução constante de Elijah, Josh, Robert e Ryan e revela uma banda mais segura de si – embora ainda surpresa com a recepção calorosa do primeiro trabalho.

Isso fica claro no papo que o Tenho Mais Discos Que Amigos! teve com todos os quatro membros – uma oportunidade raríssima em agendas de imprensa, especialmente as voltadas para a América Latina. Com bom humor, o Inhaler refletiu sobre a fase atual e, claro a possibilidade de vir ao Brasil.

Confira abaixo!

TMDQA! Entrevista Inhaler

TMDQA!: Oi pessoal, prazer estar falando com todos. Sei que já tem um tempinho que vocês fazem música, mas também parece que acabamos de conhecer a banda e sacar o som do Inhaler. Pra vocês, também há essa sensação de descoberta, de ainda estarem definindo o que é o Inhaler?

Todos: Sim!

Robert Keating: Acho que de certa forma, sempre estaremos nessa fase. Nunca fomos bons em ter regras muito rígidas para a banda. Mas banimos shorts há um tempo atrás, não podemos usar bermudas.

Josh Jenkinson: No palco!

Robert: É, no palco. Podemos usar quando vamos nadar ou praticando esportes.

Josh: É complicado usar calça jeans e nadar.

Elijah Hewson: Nada disso, tem que usar terno, calça social e bota na piscina.

Robert: Mas é basicamente isso.

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TMDQA!: Isso só seria um problema se vocês viessem tocar no Brasil, porque aqui está super quente. Mas enfim, temos um novo disco a caminho. No primeiro, acho que vocês fizeram uma declaração forte, tipo “estamos aqui”. O que acham que vão mostrar aos fãs dessa vez que é completamente inédito do que fizeram no primeiro disco?

Ryan McMahon: Bom, acho que o segundo disco é meio que… “ei, ainda estamos aqui”. Basicamente (risos). Acho que o primeiro álbum teve isso de ser uma declaração ousada, no sentido do título ser algo tão universal pela qual todo mundo estava passando na época do lançamento. Mas acho que Cuts & Bruises também pode ser universal, porque é algo que é fácil de falar, de certa forma. Ninguém chegou à idade que está agora sem ter vivido alguns “cortes e machucados” pelo caminho, e acho que as pessoas podem interpretar isso da forma que quiseram. Da mesma forma que fizeram com o primeiro.

TMDQA!: Acho que quando está no mundo, deixa de ser só de vocês, né?

Todos: Sim!

TMDQA!: Mas pegando o gancho do título, acho que com o “It Won’t Always Be Like This”, dava pra dizer que eram canções bem claras sobre amadurecimento. Mas com “Cuts & Bruises”, me passa a ideia de que estão falando do que aprenderam até aqui, de que estão mais maduros. Dá pra dizer que é um álbum que reflete a experiência de palco e de estrada que acumularam?

Elijah: Não acho que estamos dizendo ou mesmo que nos sentimos mais maduros, mas acho que temos um pouco mais de experiência. Você está certa nesse sentido, porque nesse álbum queríamos ser mais abertos com relação aos nossos sentimentos do que fizemos no primeiro. Usamos como terapia, na verdade. E acho que funcionou.

TMDQA!: Talvez tenha sido algo mais divertido que fazer terapia, espero.

Elijah: (risos) Ei, fazer terapia é divertido!

TMDQA!: Com certeza! Agora, dá pra dizer que vocês tiveram a vida toda pra fazer o primeiro disco, e o segundo foi num espaço de tempo bem menor, obviamente. Essa urgência impactou de alguma forma a gravação ou mesmo o processo criativo? Estou perguntando porque não recebi o disco pra ouvir antes, estou comentando apenas com base no que já saiu.

Josh: O quê?

Elijah: Isso é um absurdo, mas acho que significa que não tenho permissão de te contar mais nada (risos)

Robert: Vamos contar sobre a música em dubstep?

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TMDQA!: O quê?!

Josh: Não, é só brincadeira!

Ryan: Mas sentido de urgência… É uma boa pergunta.

Elijah: É, principalmente… A gente vinha dizendo que precisava melhorar nosso processo de tomada de decisões, quase. Tínhamos que confiar mais nossos instintos do que no primeiro disco, quando tínhamos mais tempo pra pensar nas coisas e até duvidar de nós mesmos. Mas nesse, havia um tempo limitado, então só tínhamos que compor, garantir que as músicas eram realmente boas, gravar… E não tinha muito a acrescentar, porque as músicas são melhores. Era só colocar os elementos básicos, salpicar um pouco de pó de fada aqui e ali e pronto. Mas no primeiro, o pó de fada veio primeiro. Mudamos a ordem, só.

TMDQA!: Mas vocês tiveram tempo de pelo menos parar pra escrever? Porque saiu o primeiro disco e vocês já estavam em todo lugar. Com esse, deu pra sentar e deixar as músicas virem ou foi tudo junto?

Ryan: Acho que em algum momento, a gente parou um pouco. Porque tinha algumas músicas que eram pra sair em algum momento do ano passado e que a gente só falou “Ok, isso não vai acontecer”. Nós não temos coisas prontas, já finalizadas. Então acabamos tendo mais tempo do que o originalmente planejado. O que foi bom, porque assim vieram músicas como “So Far So Good”, a decisão de colocar “Dublin in Ecstasy” no disco, conseguimos terminar “When I Have Her On My Mind”… Então se não tivéssemos esse tempo extra, já seriam três canções que ficariam sem terminar.

Elijah: É que não importa o que fizéssemos no segundo disco, a única coisa que dissemos pra nós mesmos, é que este fosse melhor que o primeiro. E assim que soubemos que de fato era, só fomos em frente. Mas a ideia de lançar ano passado era meio absurda, especialmente com o ano de turnê que tivemos.

TMDQA!: Faz sentido, mas é um bom começo pra esse ano. Sei que temos poucos minutos, só tenho mais duas perguntas rápidas. Acabei de ver o cover que vocês fizeram de “Flowers”, da Miley Cyrus, na BBC. Vocês têm aquele ótimo cover da Billie Eilish… Enfim, isso pode surpreender algumas pessoas que já colocaram vocês numa caixa e esperam que ouçam só um tipo de música. Tem alguma coisa nas suas playlists agora que poderia surpreender as pessoas?

Todos: Sim!

Josh: Acho que todos talvez tenhamos uma ou outra.

TMDQA!: Cadê nomes? Quero nomes!

Elijah: Estou gostando muito do último disco da SZA, isso pode talvez surpreender, não sei.

Josh: Eu ouço Ice Spice, também pode ser uma surpresa.

Robert: Eu estava ouvindo Central Cee outro dia.

Elijah: Caras, o Lil Yachty!

Josh, Robert, Ryan: O Lil Yachty é muito bom!

Josh: É bom demais.

TMDQA!: E por fim: como estamos nessa campanha de “come to Brazil”? Podemos esperar vocês aqui em breve?

Elijah: A gente também está sempre perguntando sobre isso. Não depende de… Acho que se a gente se programasse pra uns dois meses no futuro, talvez conseguíssemos. Mas não somos o Oasis ou os Rolling Stones, custa muito dinheiro para irmos pra qualquer lugar, então precisamos planejar bem antes de irmos. Quando formos, vamos com tudo.

Robert: Com certeza.

TMDQA!: Claro. Enquanto isso, tenho certeza que vocês serão lembrados nas redes sociais com bandeirinhas do Brasil e tal!

Todos: (risos)

Elijah: Nós amamos isso, continuem!

TMDQA!: Combinado. Obrigada, pessoal. Esperamos ver vocês aqui.

Todos: Obrigado!