Badoque é o novo álbum de dossel, projeto do compositor e produtor cultural e musical carioca Roberto Barrucho. Suas composições clareiam uma forma de enxergar o mundo e senti-lo que parece partir, talvez, não de um porto, mas do alto de um farol.
Ao longo da novidade, dossel mergulha no jazz instrumental afrobrasileiro, propõe uma atualização da ginga do canto de capoeira e explora beats e programações que tecem sua roupagem musical. A homenagem (ou prece) ao orixá caçador é parte essencial do trabalho, já que seu instrumento dá nome ao disco e ilustra a arte da capa.
A saudação que abre Badoque, feita aos povos originários da floresta, soa um tanto ingênua, mas contém uma verdade incontestável: não é amanhã, é hoje que o futuro nos pede que pensemos nele através do passado, da ancestralidade. E assim está dado o fundamento que margeia não só a lírica, mas também o leque de referências rítmicas do lançamento.
O álbum chega recheado de participações especiais e, segundo o próprio dossel, a penúltima faixa, “Clarão“, é a música que mais representa a intensidade do caminho traçado na obra, que passeia por momentos de luz e sombra.
A canção que encerra o disco, “É Possível, Djalma”, é duplamente emocionante. Trata-se de uma homenagem a um dos mais importantes percussionistas da música brasileira, Djalma Correa, feita a ele ainda em vida. O músico faleceu no final de 2022, aos 80 anos, mas aqui sua história e seu toque ganham dimensão e registro histórico.
Não por acaso, ao fim do disco voltamos à fundamental chamada à ancestralidade anunciada em sua abertura, cumprindo um ciclo que fará nascer novas vidas.
Nara Pinheiro
A mineira Nara Pinheiro fez sua estreia solo com o álbum Tempo de Vendaval. O registro reúne diferentes sonoridades para expressar as sensações e paisagens internas da artista, seu amadurecimento enquanto mulher e musicista, os mistérios do tempo, das fases da vida e o elo do presente, do passado e do futuro.
Nesse trabalho, a cantora de Juiz de Fora se desnuda e expõe sua voz, seus sons e sua poesia de maneira íntima. Tempo de Vendaval é um disco autobiográfico; sua produção musical, plural e refinada, pretende comunicar sobre a essência humana de Nara e aproximar o público das experiências que lhe formam enquanto artista, como ela conta:
Desde que eu comecei a conceber esse disco muitos eventos atravessaram minha história, e a maternidade foi certamente desses momentos mais desafiadores e transformadores, que mudou minha maneira de ver a música, minha relação com meu instrumento e muitas das músicas que foram feitas junto com esse processo retratam o meu amadurecimento enquanto mulher e enquanto musicista.
Tempo de Vendaval traz 9 faixas — incluindo os singles “Despertar” e “Âmago” — e foi gravado por Nara (voz e flautas); Marcio Guelber (violão 7 cordas); Camila Rocha (contrabaixo) e Antônio Loureiro (piano e bateria). O álbum, que chega pelo selo Sensorial Centro de Cultura, foi gravado à distância, durante a pandemia, com a direção musical de Loureiro.
Ordep Lemos
Ordep Lemos está de volta depois de um hiato de oito anos! O produtor, compositor e cantor baiano se reencontra com a música em um período em que fazer arte se tornou (ainda mais) urgente.
Um dos fundadores do grupo Lampirônicos, o multi-instrumentista lançou recentemente o seu segundo disco solo, Vida Que Vai, Vida Que Vem, resgatando a ancestralidade a partir da cultura de matriz africana, da sonoridade baiana, do afoxé, do reggae, misturando sintetizadores e guitarras distorcidas.
O disco traz participações de destaque, como a do guitarrista Robertinho Barreto, fundador do BaianaSystem, na faixa “Sossego Traz“; Isaac Negrene, guitarrista da Banda Black Rio, que além de tocar também contribuiu na composição da faixa que intitula o disco; e Roy Carlini, que foi guitarrista da banda Velhas Virgens e participa da faixa “Casca“.
O novo trabalho foi produzido em parceria com Serginho Rezende e gravado na Comando S Áudio. Vida Que Vai, Vida Que Vem conta com o conceito visual criado pelo artista plástico Carlos Rezende e pelo designer e fotógrafo Dadá Jaques.