Falta pouco para a chegada do The Black Crowes no Brasil, que vem após 27 anos de sua primeira e única passagem pelo país!
A consagrada banda de Blues Rock traz a turnê que celebra os 30 anos de Shake Your Money Maker, seu primeiro disco de estúdio lançado em 1990, e que já está na estrada desde 2019. O show rola no dia 14 de março, em São Paulo, e as informações estão no serviço ao fim da matéria.
Para fazer um esquenta dessa baita festa que está prestes a rolar, batemos um papo com o guitarrista e fundador do grupo, Rich Robinson. Na conversa, o músico falou sobre a turnê, a química entre os membros da nova formação da banda, inspirações musicais, lembranças no Brasil e muito mais.
Confira o papo completo logo abaixo!
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TMDQA! Entrevista Rich Robinson (The Black Crowes)
TMDQA!: Oi, Rich! É um prazer falar contigo, espero que esteja bem. Como você sabe, estamos todos esperando por vocês aqui no Brasil. A quantas anda a vida na estrada? E como tem sido tocar o Shake Your Money Maker na íntegra?
Rich Robinson: Tem sido ótimo! Já são quase dois anos e meio fazendo isso, sabe… A América do Sul, o Brasil serão os últimos momentos dessa festa que tem sido celebrar o Shake Your Money Maker. É um baita projeto pra nós, para dizer o mínimo. Porque passamos 30 anos de nossa carreira nunca tocando o mesmo setlist duas noites seguidas. Então, realmente focar neste álbum foi o trampolim para reunir a banda e cair no mundo. E é muito legal ver como minha perspectiva de tudo isso mudou com o tempo. Digo, voltar a ouvir este disco e tocá-lo na íntegra, sabe, tem sido realmente incrível.
Isso realmente me fez apreciar o disco novamente e de uma forma que não fazia há muito tempo, porque… você segue em frente, sabe? Gravamos outros vários discos, e esse foi o primeiro que fizemos. Mas tem sido muito incrível.
TMDQA!: Que ótimo! E, até agora, qual é a sua música favorita pra tocar ao vivo?
Rich: Muda às vezes, mas eu realmente gosto de tocar “Struttin’ Blues”, porque raramente a tocávamos antes. Acho que tocamos umas três vezes quando éramos jovens, quando o disco foi lançado. Eu sempre fico ansioso por essa música em particular porque ela é realmente especial.
TMDQA!: Esta é a primeira vez da banda no Brasil em muito tempo. Você tem alguma lembrança que possa compartilhar com a gente? A última vez que os Crowes estiveram aqui era 1996, para o Hollywood Rock.
Rich: Pois é, nós fomos junto com o [Jimmy] Page e o [Robert] Plant para este festival, em São Paulo e no Rio de Janeiro. E foi incrível porque estávamos todos no mesmo hotel, então estavam Jimmy e Robert, e o The Cure também, o Smashing Pumpkins e… qual era o nome daquela banda da Inglaterra mesmo? Tinha uma banda inglesa legal que adorávamos. Hum… bom, me deu um branco, foi há muito tempo [risos]. Mas saíamos todas as noites. Me lembro da fazer passeios turísticos e bem legais no Rio e em São Paulo, mas a festa maior era no hotel com todas as bandas… e o Supergrass! [risos] Lembrei, era essa a banda!
Foi realmente muito legal, e o público era simplesmente inacreditável. Nunca me esqueci da energia do público brasileiro, realmente deu pra ver que eles amavam rock and roll.
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Nova formação do Crowes
TMDQA!: Já que estamos falando sobre química entre músicos, me conta um pouco de como tem sido a relação com a formação atual do Black Crowes. (Além dos irmãos Robinson, também estão Sven Pipien no baixo, Joel Robinow e Erik Deutsch no teclado, Brian Griffin na bateria e Nico Bereciartua na guitarra de apoio).
Rich: Bem, quando demos início a essa reunião, a gente não queria que fosse uma coisa só, que acabasse ali. E no passado havia uma dinâmica “familiar” meio tóxica entre a gente… queríamos ficar longe da mentalidade de alguns dos membros antigos do Crowes. Então escolher as pessoas certas para fazer isso conosco foi realmente muito importante para o Chris e para mim. A gente nem ia chamar o Sven de volta, mas durante a pandemia acabamos decidindo chamá-lo, por nós o amamos. O que ele faz é incrível, então tê-lo de volta é muito especial. A nossa energia acaba se completando com a energia dos caras mais jovens, porque eles trazem um entusiasmo. O Eric, nosso tecladista, é um músico brilhante e que trouxe muita melodia, o Nico a mesma coisa — ele é um amigo de longa data, argentino e sempre foi fã da banda. E o Brian é um grande baterista, então é muito legal ter essa mistura do velho e do novo. Eu já faço isso há 33 anos, então é bom ter essa positividade.
TMDQA!: E tem alguma música ou riff que você mudou para tocar com essa nova formação? Como as músicas se adaptaram aos novos membros da banda?
Rich: Ah sim, é claro que as músicas ficam diferentes, já que são pessoas diferentes as tocando. A abordagem deles é nova e bem diferente do que fazíamos lá atrás, assim como a nossa atualmente. Então, a maneira como eu toco “Jealous Again” é provavelmente muito diferente do que quando eu a gravei aos 19 anos de idade. Estou na casa dos 50 agora. São mais de 30 anos dessas músicas passando de show em show, então elas vão mudar de alguma maneira. Mas o núcleo da música está sempre ali. Você entende o que eu quero dizer?
TMDQA!: Total!
Rich: E isso é o que importa, sabe, a melodia e os acordes e a maneira como você sabe qual era a intenção dessas músicas quando Chris e eu as escrevemos lá em 1989.
TMDQA!: Tem alguma música mais “lado B” do disco que te surpreendeu nos shows? Principalmente falando do público mais casual que tem ido às apresentações, qual era a expectativa para essas músicas menos conhecidas do álbum?
Rich: Hum… Bem, para mim, a maneira como eu escrevo e consumo discos é olhando para eles como uma obra inteira e única. Sabe o que quero dizer? Eu nunca categorizei cada música particularmente, seja como single ou ‘lado B’. É uma peça completa. É assim que eu os escrevo e os gravo até hoje, porque acho que álbuns são uma jornada que te levam a algum lugar, e as músicas guiam as emoções durante a estrada. Mas, respondendo à sua pergunta, acho que as mais legais são “Sister Luck”, “Struttin’ Blues” e “Stare It Cold”. Claro, vai depender do que você gosta, mas eu diria essas.
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Disco novo e futuro
TMDQA!: Como seu processo criativo mudou ao longo dos anos? E, falando nisso, a banda tem alguma novidade para os próximos meses?
Rich: Eu estou sempre escrevendo, sabe? Eu fiz discos com os Crowes, tenho meus discos solo também e com a minha banda The Magpie Salute, fora os vários álbuns que eu já produzi. Eu sinto que as bandas com as quais já fizemos turnês, como o AC/DC, Aerosmith, Jimmy Page e várias outras sempre ajudaram a moldar nossa experiência e pontos de vista, e nos inspiraram também. Nós nunca fizemos música exatamente para ganhar dinheiro… nós sempre achamos que nossa música é mais do que isso. E pensar dessa forma nos fez crescer muito musicalmente, você vê a diferença entre o Shake Your Money Maker e o Southern Harmony (segundo disco de estúdio, lançado em 1992), por exemplo. Assim como o Harmony para os outros que vieram em seguida. Nosso ponto de vista é muito pouco comercial, e mais criativo. É a forma como fazemos. O Southern Harmony, por exemplo, é um disco ao vivo de rock and roll feito em apenas oito dias. Já o Amorica (1994) levou um ano para ser finalizado, porque queríamos explorar ao máximo sua sonoridade. O Three Snakes and One Charm (1996) foi mais orgânico, o escrevemos no meu estúdio caseiro e o gravamos em uma casa que alugamos em Atlanta. Sabe, com o tempo você aprende tanta coisa… Truques, ângulos diferentes, o que funciona, o que não funciona, e aí ficamos mais experientes. Você ganha uma certa maestria em algo depois de passar 10 mil horas fazendo aquilo [risos].
Dito isso, nós estamos escrevendo novas músicas para possivelmente fazer um novo álbum. Então isso vai ser muito legal também. É emocionante.
TMDQA!: Bom, imagino então que os próximos passos são lançar esse disco e sair em turnê com ele, mas… há planos de fazer uma celebração como esta para seus outros discos também? Como o Southern Harmony mesmo.
Rich: Nós vamos lançar um box set do Southern Harmony em breve, ele está incrível. Quero dizer, temos tantas coisas no nosso “cofre”, até mais do que tínhamos para o Shake Your Money Maker. Quando você se torna uma banda grande e cai na estrada com tudo, você acaba tendo muito mais material. Então tem isso, mas não sei se também o tocaremos na íntegra… já estamos fazendo isso, sabe? E está sendo muito legal. Não sei no futuro, mas agora que honramos esse primeiro disco, rodamos o mundo com ele e mostramos as demos para nossos fãs, foi divertido, mas está na hora de trabalharmos em coisas novas e seguir em frente.
TMDQA!: Legal, bom saber! E o que os fãs brasileiros podem esperar desse show? Além de ouvir esse álbum tão icônico na íntegra, é claro.
Rich: Bom, o disco tem apenas 48 minutos de duração, então o que fazemos é tocá-lo inteiro para depois nos divertimos com outras das nossas músicas. Tocamos algumas do Harmony, do Amorica, alguns ‘lado B’, algumas covers também. Sempre pensamos bastante no nosso setlist, fazemos algumas mudanças de noite para noite. Tem sido realmente muito divertido!
TMDQA!: Já que estamos chegando ao fim dessa conversa, vou te fazer uma última pergunta. Como te falei, o nome do nosso site é Tenho Mais Discos Que Amigos. Por isso, queria saber… qual disco você considera ser seu melhor amigo?
Rich: Hum… que pergunta difícil. São tantos discos… Bem, mas tem alguns que significaram mais para mim. Quando eu era mais jovem, quando a gente estava começando, fizemos uma noite em Atlanta homenageando o R.E.M., era aniversário do Chronic Town (1982), primeiro EP deles. Michael Stipe estava lá, Peter Buck, Mike Mills, Bill Berry, todo mundo. E foi incrível ver todos aqueles caras sentados ali, ouvindo outras bandas tocando suas músicas. E um dos discos que mais me marcou quando eu tinha 15, 16 anos foi o Murmur, o primeiro disco de estúdio deles. Ele significa muito pra mim. E aí, bem, eu também diria Exile On Main St., dos Rolling Stones. Esse, pra mim, é o melhor disco de rock and roll de todos os tempos.
TMDQA!: Rich, nosso papo foi incrível, muito obrigada e te vejo em breve aqui no Brasil!
Rich: Eu que agradeço, não vejo a hora de tocar pra vocês também. Obrigado!
The Black Crowes no Brasil
Se você, como a gente, também é fã desse baita discão, saiba que a banda está prestes a desembarcar no país para um show único que celebra o aniversário do álbum.
O grupo toca em São Paulo, no dia 14 de março, e os ingressos ainda estão disponíveis. Não vai perder, né?
SERVIÇO
Data: Terça-feira, 14 de março de 2023
Abertura dos portões: 19h30
Horário do show: 21h30
Ingressos: A partir de R$170, no site da Tickets for Fun