Música

Colin Meloy (Decemberists) grava música composta pelo ChatGPT e despreza resultado: "medíocre"

Colin Meloy solicitou uma composição à inteligência artificial ChatGPT, gravou e compartilhou o resultado em sua newsletter, mesmo tendo achado "medíocre".

Colin Meloy (Decemberists) cria música com ChatGPT
Foto stock do ChatGPT via Shutterstock

Colin Meloy, vocalista e compositor do The Decemberists, não deve ficar sem emprego tão cedo. O músico recorreu ao ChatGPT para compor uma música ao estilo da banda, gravou a faixa e postou o áudio em sua newsletter, Colin Meloy’s Machine Shop, admitindo: o resultado ficou medíocre.

O artista começou o processo pedindo ao chat para “escrever uma canção que o Colin Meloy do The Decemberists poderia ter escrito”. Em poucos segundos, surgiu na tela uma letra de música com duas estrofes, ponte e até refrão.

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Não satisfeito, Colin Meloy pediu ao ChatGPT para criar também os acordes da música, e depois recombiná-los com a letra. Ficou impressionado, como relata:

Isso é meio louco. Não apenas essa IA consegue escrever uma letra de música com aparência bem convincente, mas também pode juntar acordes que, pelo menos à primeira vista, parecem funcionar. Quer dizer, a progressão dos versos segue um padrão clássico: o acorde qeu dá o tom, o quarto e o quinto. Tem a parte que desce e depois que sobe e agrada ao Senhor [fazendo uma referência a ‘Hallelujah’, de Leonard Cohen]. A IA sabe que o refrão precisa ter uma mudança – então só reorganiza os quatro acordes da estrofe. E sabe que a ponte deveria ter uma alteração maior – ele introduz a nota menor como o primeiro acorde.

Meloy conferiu o resultado e entendeu que o ChatGPT não tem a sacada de escrever uma boa melodia, apesar de várias pessoas estarem tentando fazer com que ele consiga.

Ainda assim, foi possível presumir a melodia com base apenas nos acordes. Colin então gravou a canção, com sua letra quase épica narrando uma jornada pelo mar, com aventuras, descobertas, faróis. O robô, inclusive, nomeou a nova música: “Sailor’s Song”.

Colin Meloy considerou música do ChatGPT “medíocre”

Após avaliar a experiência, Colin Meloy não mediu palavras para mostrar que o ChatGPT não é lá isso tudo.

Inclusive, o músico compara o uso de acordes com canções marcantes, como “Just Like Heaven”, do The Cure; “Africa”, do Toto; “Beast of Burden”, dos Rolling Stones; “Forever Young”, do Alphaville; “I’m Going Down”, de Bruce Springsteen; e “No Woman No Cry”, de Bob Marley:

Esta é uma música notavelmente medíocre. Eu não diria que é uma música terrível, embora realmente flerte com o terrível. Não, tem alguns fundamentos básicos: rima (principalmente) em todos os lugares certos (embora o último par seja realmente sem sentido), usa uma progressão de acordes (I-V-vi-IV) que é consagrada em mais sucessos do cânone do pop ocidental do que eu gostaria de contar. Mas acho que você concorda que há algo faltando, além das pequenas falhas óbvias – as rimas perdidas ou repetidas, os erros gramaticais, a banalidade geral do conteúdo.

Novamente, basta clicar aqui para ouvir “Sailor’s Song”. Não é necessário assinar a newsletter, mas fica a dica!

Fim da carreira de compositor?

O papo em torno da inteligência artificial deixa a comunidade criativa apreensiva, já que o robô se propõe a criar textos com resultados bastante promissores até aqui.

Porém, Meloy rapidamente descartou a possibilidade de outros “feats” com o ChatGPT. Ele disse ter resistido vários impulsos de “melhorar” a música gerada pela IA, e que recombinar conhecimento coletado no atacado da internet não é sinônimo de boa música:

Ao gravar, tive que lutar contra todos os impulsos para melhorar a música, para fazê-la se resolver onde isso não acontecia, para expelir as estranhezas. Eu queria ser o mais fiel possível à visão de seu criador, mas no final, há algo que falta. Quero dizer que o ChatGPT carece de intuição. Essa é uma coisa que uma IA não pode ter, intuição. Ela tem dados, informações, mas não tem intuição. Uma coisa que aprendi com este exercício: grande parte da composição de músicas, da escrita, da criação, se resume à intuição do criador, às mudanças sutis que não são escritas como uma regra em nenhum lugar – você simplesmente sabe que é certo, que é verdadeiro. Essa é uma coisa que uma IA não pode extrair da internet. Então, infelizmente, parece que vou ter que escrever minhas próprias músicas no futuro próximo…

Os fãs de The Decemberists certamente não irão reclamar, já que a banda não lança um álbum desde 2018.

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