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TMDQA! Entrevista: MC Taya se inspira em Slipknot, MC Carol e Beyoncé em seu EP de estreia "Betty"

Em conversa com o TMDQA!, MC Taya revela detalhes de seu EP de estreia "Betty", que apresenta uma mistura única de Rock e Funk. Leia!

TMDQA! Entrevista: MC Taya vai do rock ao funk em seu EP de estreia "Betty"
Foto por Guilherme Sena

Equilibrando conhecimento e diversão, a MC Taya disponibilizou nesta segunda-feira (13) seu EP de estreia, Betty, compartilhando com o público um pouco da sua história.

Antecipado pelo single “Betty Boop”, o nome do projeto faz referência à personagem que foi inspirada em Esther Jones, uma cantora negra que passou por um processo de embranquecimento para se tornar famosa nos quadrinhos.

Ao TMDQA!, Taya falou sobre a identificação que sente com a personagem, que ela tem tatuada no braço, e como ela decidiu abordar essa relação no EP. A artista apontou que, no trabalho, faz “um paralelo a muita coisa que a personagem me remete”:

Eu denuncio essa questão da invisibilidade, do embranquecimento da mulher negra. Eu não quero ser mais uma Esther Jones, eu não quero ser mais uma mulher negra pioneira, talentosa, que coloca aí vários conceitos e mesmo assim ninguém conhece.

Na conversa, a cantora também revelou que suas músicas, que apresentam elementos tanto do Rock como do Funk e do Rap, foram inspiradas por trabalhos de artistas internacionais como Princess Nokia, Beyoncé, Slipknot, System of a Down e também por nomes nacionais, como MC Carol, Deize Tigrona, Planet Hemp e uma série de DJs que estão “movimentando a cena eletrônica da música brasileira”.

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Além disso, MC Taya compartilhou detalhes sobre o início da sua relação com a música que veio no rock, principalmente o Nu Metal, e reforçou a importância de usar sua música como voz para destacar questões pelas quais passou por ser uma mulher preta.

Confira o papo na íntegra logo abaixo e em seguida ouça o EP Betty de MC Taya!

TMDQA! entrevista MC Taya

TMDQA!: Taya, na adolescência você chegou a ser integrante de uma banda de Rock, mas você conta que depois de um certo tempo estar naquele meio fez com que você desistisse da música. Queria saber como começou sua relação com o Rock e quais foram os obstáculos que você encontrou que te fizeram desistir da música naquele momento?

Taya: O meu primeiro contato com o Rock foi muito cedo. Meu pai curtiu muito rock, sabe? Ele é um negão rockeiro, muito fã de Pink Floyd, a-ha, Duran Duran, essas bandas assim que fizeram bastante sucesso nos anos oitenta. E a minha irmã é muito fã de Guns N’ Roses, muito, muito fã. Então assim, a primeira grande identificação que eu tive no rock foi o Slash; eu achava aquele cabelão magnífico. E aí, quando eu comecei a curtir as minhas próprias referências, era anos 2000, eu era criança, tinha uns nove anos, e na época o que bombava era Linkin Park, Evanescence e eu peguei tudo isso, né? As minhas bandas preferidas eram Slipknot, KoRn, Pitty… eu sou muito fã da Pitty, desde o Inkoma, a banda que ela tinha antes de ser Pitty, pra você ver como eu sou fã.

E aí eu cresci gostando muito de Rock e Nu Metal. O Nu Metal era o meu gênero preferido e as bandas que eu preferia tinham o baixo muito presente. Eu fiquei apaixonada por esse instrumento e, quando eu tinha doze anos, eu pedi pro meu pai um baixo de presente de Natal, porque eu queria ser baixista de uma banda de Rock. Meu pai, muito doido, foi lá e me deu o baixo! A minha mãe ficou iradíssima e a partir dali eu comecei a fazer cursos e comecei a entrar em várias bandas. Eu tive quatro bandas. Nas primeiras eu toquei baixo e na última banda eu cantava.

Eu passei por várias fases dentro do Rock. Do Nu Metal eu fui para o Hardcore, curti screamo, Bring Me the Horizon, então eu vinha pra São Paulo direto pra ver shows. Eu fui uma adolescente bem complicada com o Rock. Eu não saía do Planet Music, em Cascadura, que era onde tinha hardcore no Rio de Janeiro; eu rodava o Rock e, com 17, 18 anos, depois de crescer naquele meio e nunca ter um reconhecimento, nunca sair do meu meio, aquilo começou a me frustrar muito. E ali, batendo nos 18 anos, tem aquela pergunta que a gente se faz: “O que que a gente vai ser? Com o que a gente vai trabalhar? Como é que eu vou viver?” Não vai ser de Rock, sabe? Não vai ser de banda. “Eu preciso arrumar uma profissão”. E aí essa escolha foi muito difícil. Qual profissão eu teria? E com certeza eu teria que abandonar a música. Eu resolvi abandonar a música, abandonar o Rock e seguir com uma outra profissão, focar em outras coisas. Foi quando eu parei com a música.

E essa questão do não reconhecimento, do racismo, era muito forte. Eu sabia que eu nunca ia ser reconhecida como uma Pitty, sabe? Até hoje a gente não tem uma Pitty negra, sabe? Até hoje a gente não tem uma cantora de Rock negra, então eu sabia que isso ia demorar muito pra acontecer e a dificuldade que seria. Eu achei que estava perdendo meu tempo. As pessoas falam para eu cantar Funk, porque eu sou negra, porque eu tenho corpo de um jeito, que eu tô perdendo meu tempo. Então, foi aí que eu realmente me frustrei, desisti da música e fui estudar figurino, fui trabalhar com moda que era minha segunda grande paixão. Mas a música depois me pegou de volta, não tem jeito.

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TMDQA!: Depois que você passou a trabalhar em outras áreas, eu queria saber quando foi que você decidiu retornar para a música e como foi a escolha de fazer essa transição para outros gêneros musicais.

Taya: Eu sempre digo que o Funk sempre caminhou muito comigo. Por mais que eu fosse roqueira eu não conseguia fugir de onde eu vivia, de onde eu cresci. Eu morava em uma favela no Rio de Janeiro, então tocava Funk o dia inteiro. Eu ganhava CD de funk de presente de aniversário. Então, assim, o Funk era muito presente e eu sempre gostei muito. Sempre achei uma música incrível, muito legal. Eu escutei tudo do Furacão 2000, Twister, Armagedom, Tsunami, todos. Eu sou fã, sempre gostei. Então, por mais que eu fosse roqueira, eu costumo dizer que, nas periferias, os roqueiros sempre gostam de músicas periféricas também. Nas periferias de Salvador eu encontro roqueiro, nas periferias do Rio se encontram muitos roqueiros e todos eles gostam muito de Funk. Também tem essa consciência da música periférica do Rap, do Funk, isso sempre foi muito lado a lado.

Uma das minhas grandes referências e influências era o Planet Hemp. Eu sempre escutei eles desde novinha, e eu gostava muito da Pitty e deles. E o Planet Hemp tem o Rap ali muito presente, então eu sempre escutei muito Rap também. Quando eu comecei a desistir do Rock um pouquinho, foi no Rap que eu me escorei, sabe? Eu comecei a escutar muito Nicki Minaj, Lil Wayne, esse lado assim e comecei a ouvir muito Rap. E aí, enquanto eu estava estudando moda, eu estava ali ouvindo Rap, frequentando batalha de Rap, frequentando Funk, frequentando Rock. E eu senti que, na minha geração, todo mundo migrou um pouco para o Rap. Foi uma coisa geracional.

O Emo estava ficando por baixo, estava caindo. Eu falo sempre que o Skrillex tem muito a ver com isso: ele saiu ali do From First to Last, saiu do screamo, e do nada apareceu na música eletrônica com o Dubstep e levou os roqueiros todos junto com ele. Eu lembro que todo mundo estava começando a ouvir Dubstep, Trap, tudo que vinha englobado nesse ritmo, e quando eu fui ver estava todo mundo nessa.

Enquanto eu estava ali como figurinista, influenciadora, quando eu trabalhei com conteúdo, tudo começou a me levar muito pra música. Eu sou do candomblé e espiritualmente eu comecei a ser guiada a voltar pra música. Eles falaram: “Não, menina, esse é seu destino, o seu caminho, você tá fugindo mas seu lugar é esse”.

E aí eu tive um empurrãozinho também da Preta Gil quando eu estava fazendo um conteúdo de um clipe dela. A gente estava trocando umas ideias e ela chegou e lembrou que meu arroba no Instagram é “mctaya”, e aí ela perguntou se eu não tinha música lançada e eu disse que não. Aí ela: “Mas por quê?”. Aí eu falei: “Ah, Preta, nada, MC é de Mestre de Cerimônia Digitais”, tentei lançar um migué pra ela. Mas ela disse: “Querida, não. Você é MC, MC mesmo, você é artista, não vai ficar vivendo atrás daquele computador todo dia no escritório, então vamos viver, vamos fazer porque você é artista”. E ali ela me deu esse empurrão.

Imagina ouvir isso da Preta Gil, sabe? Eu fiquei parada que nem uma Barbie na caixa e fiquei pensando nisso o caminho todo de casa. Aí comecei a pensar o que eu estava fazendo e a partir disso já estava certo. Comecei a voltar a escrever, a procurar produtores de música e já comecei a me encaminhar pra música, porque eu falei: “É cara, é isso. Não tem mais pra onde fugir”.

TMDQA!: O seu primeiro single de trabalho foi “Preta Patrícia” e a partir dele muitas pessoas passaram a te relacionar com o movimento AfroPaty. Como é pra você ser vista como representante desse movimento que reforça a valorização da estética negra?

Taya: É super legal. Eu acho que, por ter estado ali quando tudo era mato, eu vi isso acontecer e participar disso foi muito interessante. Eu acho que a internet teve muito a ver com isso. O meu relacionamento com a internet, o relacionamento das pessoas com a internet, o que a internet está trazendo. Eu acho que tudo isso tinha muito a ver e quando eu escrevi “Preta Patrícia”, na verdade quase não se falava de AfroPaty e preta Patrícia já era uma gíriazinha que as meninas lá no Rio de Janeiro usavam pra pretas mais chiques, mais elegantes.

E aí, quando eu escrevi o som, foi muito porque eu estava começando a me sentir uma preta Patrícia, sabe? Do nada eu saí de Nova Iguaçu, da Baixada Fluminense, e estava tipo assim, morando no Butantã, em São Paulo, trabalhando na Faria Lima, andando de Uber pra lá e pra cá. Minha vida estava dando aquele glow up e aí falei: “Cara, eu estou muito preta Patrícia”. E aí eu escrevi a letra, que é mais uma biografia minha, uma era autobiográfica, fala de mim o tempo todo.

Ela fala do meu ascendente, ela fala das minhas inspirações, ela fala da minha faculdade. E aí acabou gerando a identificação e muitas meninas começaram a curtir. E eu acho que, em paralelo a isso, estavam os meus vídeos também. Eu sempre faço vídeo falando sobre as questões estéticas da mulher negra; desde o blog, depois canal do YouTube, depois IGTV, TikTok. Enfim, eu passei por todas essas fases falando exatamente a mesma coisa sobre a estética da mulher negra em vários tipos de estilo e aí uma coisa foi ligando muito com a outra, sabe? Muitas meninas começaram a fazer o baby hair por causa de mim! Vieram muitas meninas que cortaram a franja com afro na época por causa de mim.

E tudo começou a se encaixar. A música se encaixava comigo, com essa minha vivência, e as meninas negras estavam começando a curtir isso. E acabou virando um movimento, né? Uma coisa maior.

TMDQA!: Agora você lançou seu EP de estreia, em que você assume o alter ego Betty e decide compartilhar com o público a verdadeira história da Betty Boop e da Esther Jones, cantora que inspirou essa personagem. Quais foram os principais motivos que te fizeram escolher a Betty como referência para esse trabalho?

Taya: Eu sou apaixonada pela Betty desde criança por conta da minha mãe. Ela sempre gostou muito de cartum, e eu tinha tudo da Betty Boop quando era meio que adolescente. E eu era uma roqueira muito patricinha, então eu cresci com essa estética Betty Boop. Sempre gostei muito e, quando eu fiz uns 25 anos, eu tatuei a imagem dela depois que eu tive conhecimento da história dela, da Esther Jones, e sobre a questão do embranquecimento. Aquilo bateu muito forte comigo.

Eu falei: “Caramba, cara, essa personagem não é só uma mulher do desenho em si. A história dela é interessante, me toca, eu me identifico”. E aí eu quis trazer muito isso para o EP, essas identificações que eu tenho com a personagem. Eu faço um paralelo a muita coisa que a personagem me remete. Eu denuncio essa questão da invisibilidade, do embranquecimento da mulher negra. Quanto artista e quanto talento, sabe? Eu não quero ser mais uma Esther Jones, eu não quero ser mais uma mulher negra pioneira, talentosa, que coloca aí vários conceitos e mesmo assim ninguém conhece.

Por exemplo, muita gente fala a frase “quem vê close, não vê corre”, mas muita gente não sabe que fui eu que fiz a frase. Eu não quero cair nesse não-reconhecimento. E aí eu comecei a pensar muito nisso. Aí veio essa questão de trazer a história dela como denúncia para mim e para várias outras negras que estão invisibilizadas, silenciadas o tempo todo.

E também as outras similaridades que eu fui encontrando, por ela ser uma cantora de cabaré. Eu hoje sou uma cantora de cabaré; é um cabaré moderno quando eu vou cantar num baile, é isso que representa. Então foi essa questão, e também da liberdade. Não falo da liberdade sexual, porque o cartum em si não incita sexualidade, mas eu falo do atrevimento. A Betty Boop é atrevida e eu vejo isso muito forte em mulheres negras de periferia.

Pra mim a Betty Boop simboliza aquela coroa, de meia idade, que tá lá no pagode fumando cigarro, bebendo cachaça, nem aí pra nada mesmo com os vizinhos todos falando dela. Ou aquelas meninas que o pessoal está chamando de tudo quanto é nome mas elas estão no baile sim, curtindo a vida. Eu acho que isso pra mim não é feminismo, é um feminismo intrínseco, é uma postura de imposição, de: “Eu vou me divertir sim, eu mereço sim, eu não estou aí pra ninguém e pra nada”. É um atrevimento, e eu acho que a Betty Boop é muito isso. Então eu quis trazer todo esse contexto que, pra mim, faz muito sentido, mas é uma vivência minha e eu espero que as pessoas gostem.

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TMDQA!: Falando um pouco do processo de produção do projeto, quais foram as outras referências musicais utilizadas por você e como você descreveria essa sonoridade?

Taya: Eu posso listar aqui muitas mulheres. Eu escuto muito Rico Nasty, Princess Nokia, Doechii, são rappers americanas que trazem muito o Rock também — a agressividade, a atitude, a surpresa, o inesperado nas músicas delas. Sou muito fã do rolê delas e era uma coisa que eu queria muito trazer para o Brasil, essa sonoridade de Rap com Rock, que é uma coisa que lá fora já está se fazendo há um tempinho e aqui a gente está engatinhando.

Essas três mulheres foram meus pilares e fui escutando também muitas outras. O álbum Renaissance da Beyoncé me inspirou demais; foi um álbum que me deixou apaixonada e ali, o baixo, os arranjos, os sintetizadores, aquela atmosfera, eu curti muito. E a MC Carol também, o novo disco da Deize Tigrona tem uma faixa com a BADSISTA que também foi alguém que me inspirou demais e tem também essa música que eu ouvi muito.

Tem o Planet Hemp, eu estava escutando muito JARDINEIROS, também me inspiraram muito pra trazer essa sonoridade do Rap pro Rock novamente, que é uma coisa que, pra mim, eles foram pioneiros no Brasil e eu sou fã demais. Eu também tenho um carinho enorme pelo Black Alien; dei uma escutada, busquei um Black Alien ali do passado, revisitei algumas coisas que eu achava interessante. E a Betty Boop, as próprias músicas dela também, foram as pesquisas que eu gostei de fazer.

Não posso esquecer também das pesquisas de Funk que eu fiz com os DJs. DJ Mozão, DJ RaMeMes que contribuiu com a Pabllo [Vittar], a própria DJ Dayeh que tá presente no EP, essa galera que está movimentando a cena eletrônica de música brasileira, que tá trazendo muita coisa nova. E muito do Nu Metal também, Slipknot, KoRn, System of a Down, a gente tem um sample deles em uma das músicas, eu acho que eu fui escutando um pouquinho de tudo dessas minhas referências e a gente conseguiu fazer algo bem legal.

TMDQA!: Em uma série de tweets que você publicou falando sobre alguns temas abordados nas músicas do EP, você cita que sofreu diversos ataques por falar nos conteúdos que você cria para a internet sobre assuntos relacionados às mulheres pretas. O quão importante é usar a música para dar voz a essas questões pelas quais você e tantas outras mulheres já passaram?

Taya: Cara, a música pra mim é o ar, é meu oxigênio. Então, eu acho que ela tem que estar presente em vários âmbitos, em várias áreas, sabe? Lógico que tem que ter música pra relaxar, música pra raiva, música pra conhecimento, pra entretenimento, música pra diversão. Eu acho que música é música, não importa como.

Só que eu sou uma pessoa muito didática, e eu senti que a minha música daria mais certo, faria mais sentido, se a minha música tivesse a mesma postura, o mesmo comportamento que eu tinha nas redes sociais. Como eu já tive blog, canal no YouTube, toda essa questão de conteúdo, meus conteúdos são muito didáticos. Eles passam mensagens e eu entendi que minha música seria bem vista dessa forma. As pessoas gostam disso em mim e é uma coisa que eu tenho que aproveitar, já que elas absorvem as informações que eu passo e eu tenho que aproveitar isso para passar essa mensagem na música também.

Eu fui salva pela música várias vezes. Meu conhecimento, tudo que eu sei na minha vida foi por causa da música. Foi através dela que eu procurei o feminismo, foi através da música que eu procurei o meu primeiro coletivo de movimento negro, foi através da música que eu fui procurando várias questões.

Eu quero passar pras meninas também o que eu passei, e eu quero que elas se identifiquem com a minha vivência e com a vivência de várias outras e que elas absorvam informações, que dali elas consigam pesquisar algo novo, sair daquela zona de conforto, entender coisas novas e assim se conhecerem. Eu afirmo que conhecimento nunca é demais, eu cresci escutando isso. E eu afirmo também que o conhecimento é uma das virtudes pra gente poder dialogar contra a ignorância, né?

A ignorância é um dos maiores pilares do preconceito. Quando a gente sabe o calo que está apertando, a gente entende a empatia porque a gente está sabendo com o que a gente está lidando. Então, eu acho que o conhecimento é super importante e, ao mesmo tempo, eu quero que as meninas se divirtam também. Eu acho que a gente precisa de diversão. Eu vejo minha música de uma maneira didática mas leve também, sabe? Não é aquela coisa forte, que você sai chorando. Não, acho que é leve, acho que eu te dou uma munição e dali você pode pesquisar ou não, sabe?

Tanto que no EP também tem uma faixa que é Funk só pra gastação, só pra dançar. Eu acho muito importante a gente ter esse break também. Uma mão na consciência e outra no joelho, né? É importante esse momento de estar ali, pensando, e depois a gente está ali extravasando um pouco.

TMDQA!: Das faixas que integram o EP Betty, qual tem um significado um pouco mais especial para você?

Taya: Eita, realmente difícil, cada uma fala muito. A gente escolheu “Fartura e Riqueza” como destaque porque ela explica sobre o EP. Ela sintetiza um pouco sobre o EP, sobre o que a gente quer falar com ele. Ela traz a Betty Boop, ela traz o Rock, ela traz o Trap, ela tem um sinal bem marcante onde ela dá toda a mensagem de denúncia do EP. Então escolhemos ela para as pessoas entenderem o que é o EP.

Mas eu acho que a “Intelectual”, que é a primeira música, tem muito a ver comigo. Foi uma música que eu escutei e me arrepiei inteira quando estava pronta. Pensei: “Caramba, meu deus, imagina Tayane de doze anos escutando isso”. É uma música que tem muito a ver comigo, tem muito a ver com a minha história. A sonoridade dela, a letra traz um deboche ali que as pessoas adoram na MC Taya, e ao mesmo tempo carrega muito conhecimento, ela joga muita coisa na cara. Eu acho que é uma música que informa bastante. Se a pessoa escutar e lembrar e souber de camadas ali, vai me conhecer por inteira, sabe?

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TMDQA!: Taya, você foi uma das primeiras apostas da HERvolution, selo musical da KondZilla dedicado para artistas mulheres. Queria que você me falasse sobre a importância de propostas como essas para dar visibilidade para as mulheres no mundo da música e como é fazer parte dessa equipe.

Taya: Eu acho muito importante. É uma coisa que é necessária. É necessário a gente ter mulheres na indústria da música em todos os lugares. Não só a artista, mas na produção, na engenharia de sons, nos estúdios, nos escritórios. Pra mim foi uma escolha certa, praticamente. Eu já queria muito entrar na HERvolution assim que eu soube que eles estavam começando com o selo, e aí o universo me escutou, eles me chamaram e a gente fechou essa parceria que está sendo incrível.

Eu queria muito um lugar de mulher, porque só uma mulher vai entender a outra, só uma mulher vai entender seus traumas, suas vivências. E pra mim foi um lugar onde eu estava procurando segurança, conforto mesmo. A gente conhece várias histórias do mundo da música em que mulheres são abusadas, violentadas, enganadas, iludidas, enfim, são várias… e eu não queria passar por isso, eu falei, “Cara, eu realmente confio mais em um selo de mulheres do que me entregar nas mãos de uns caras que nem sei o que estão pensando sobre mim”.

Então, eu acho fundamental que tenham vários outros selos assim, que nasçam vários outros selos de mulheres. Acho que está faltando realmente no mercado, é uma necessidade urgente, praticamente. Eu vejo todo mês um cara abrindo um selo novo e as minas realmente estão devendo isso. Precisamos estar nesses locais também.

TMDQA!: Para encerrar, queria saber quais são os próximos planos para a divulgação do EP e para o restante do ano?

Taya: Após o lançamento do EP, a gente tá montando um show muito bacana, um show muito legal mesmo. É um show onde eu vou dançar, vou tocar baixo, que a gente está montando pra ter interação de mulheres. Eu quero mulheres dançando, pulando, eu quero fazer a primeira Roda Punk de mulheres em festivais, sabe?

Eu quero ver mulheres realmente se entregando no meu show, interagindo. Então, vai ser um show pra isso, performático, vai ser bacana, com atitude 100% Rock and Roll. E vão vir clipes, vão vir outros projetos também. A gente vai sentir como vai ser o EP, mas a gente já tá com outros projetos engatilhados aqui. E tem música, tem single pra sair também com feat incrível, que já está certinho pra sair; só esperar um pouco do EP, mas já está pra sair com uma rapper super legal do meio.

Vai vir muita coisa boa. Até o final do ano talvez a gente lance uma mixtape que já tem também umas músicas prontas, que vai ser numa outra vertente mais anos 2000. Mas vai ser bem legal também. A gente tem várias ideias e projetos pra lançar.