10 bandas que mostram por que o Hardcore sempre foi político

Entre bandas nacionais e internacionais como Ratos de Porão e Rise Against, confira ótimos nomes do Hardcore com letras afiadas!

Bad Brains ao vivo em 2012
Foto do Bad Brains via Shutterstock

Dizer que música e política não se misturam é um grandíssimo absurdo. Para além de todo o papel contestador da cultura por si só, a música sempre assumiu um papel único no que diz respeito ao posicionamento político. E, se há um estilo que se destacou por essa conexão entre os dois mundos, é o Hardcore.

Derivado da cena Punk, que também sempre teve sua forte ligação com a política, o estilo musical não economiza na agressividade tanto nas partes instrumentais, sempre aceleradas e diretas, quanto em suas letras afiadas e que buscam falar de forma explícita, sem rodeios, sobre temas que fazem parte do cotidiano de tantos de nós.

Para provar isso, o TMDQA! separou uma lista com 10 bandas que exemplificam essa força política do Hardcore. Confira abaixo, em ordem alfabética!

Anti-Flag

Anti-Flag
Foto: Divulgação

Basta conhecer um pouco do patriotismo estadunidense para entender a potência do Anti-Flag, a começar pelo seu próprio nome. A banda se posiciona logo de cara como inimiga de um símbolo do que há de pior, na sua visão, em seu país de origem; com isso, segue firme até hoje encontrando formas de expressar sua insatisfação com os movimentos conservadores que existem por lá.

O ideal progressista é fundamental para o Anti-Flag. Tanto que, lá nos anos 90, a banda já falava de temas como aborto, racismo, fascismo e brutalidade policial — tão midiáticos atualmente — em suas canções. Além disso, em alguns de seus álbuns é possível encontrar comentários políticos nos livretos, assinados por professores geralmente ligados ao pensamento socialista.

https://www.youtube.com/watch?v=0DP3sqbwh-s

Bad Brains

Bad Brains no CBGB em 1982
Reprodução/YouTube

Verdadeiramente revolucionário, o Bad Brains influenciou não apenas uma geração como, muito possivelmente, a maioria das bandas dessa lista independente da época em que surgiram. A ligação com a política veio desde muito cedo; afinal de contas, ocupar os espaços que o Bad Brains ocupou sendo um grupo formado por pessoas negras já era uma afronta dado o contexto em que eles surgiram, no meio de um país totalmente racista.

Além disso, levar estilos como o Reggae para dentro do Hardcore também foi algo político por si só e abriu caminho para outras fusões de gêneros, como o Rap e Punk que marcou a carreira dos Beastie Boys. Em questão de letras, é difícil interpretar de outra forma o significado de faixas como “Big Take Over”:

  • Understand me when I say / There’s no hope for the USA / This world is doomed for its own segregation / Just another Nazi test (“Me entenda quando eu digo / Não há esperança para os EUA / Esse mundo está fadado à sua própria segregação / Apenas outro teste nazista”)

Black Pantera

Atração do Lollapalooza, Black Pantera libera o clipe de “Não Fode o Meu Rolê” — confira
Foto: sete777sete

A gente sempre ouve falar que a mera existência é política, e não há como desvencilhar as duas coisas quando se fala do Black Pantera.

Pouco a pouco conquistando cada vez mais palcos do Brasil, a banda vem se impondo enquanto uma das mais importantes com sua sonoridade única (que nem deve ser reduzida a apenas Hardcore, que fique registrado) e letras afiadas, muitas vezes sem qualquer tipo de filtro como em “Fogo Nos Racistas” e “Padrão É o Caralho”. A primeira, por exemplo, ilustra exatamente o que dissemos no parágrafo acima:

  • “Eu sei, a nossa simples existência já é uma afronta / Os demônios em você / Não aguentam ver um outro preto que desponta”
  • “Fogo nos racistas / Eu disse fogo nos racistas / Expõe pra queimar / Deixa queimar”
  • “A ascensão do império preto / O império contra ataca / O lado negro da força aqui / Só fode com reaça”

Não à toa, o grupo tem se tornado um favorito do público em festivais e feito muita gente chegar cedo para acompanhar os shows que contam com mensagens politizadas e alguns momentos super legais que buscam, acima de tudo, incluir todos os que estiverem dispostos a se aliar aos ideais da banda na experiência.

Death by Stereo

Death by Stereo faz cover de Dead Kennedys

Em vários dos casos dessa lista, temos bandas que preferem usar mensagens indiretas para fazer suas críticas. O Death by Stereo talvez seja a mais literal por aqui, a começar pelos títulos de álbuns como Black Sheep of the American Dream e We’re All Dying Just in Time, que se traduzem respectivamente para Ovelha Negra do Sonho Americano e Estamos Todos Morrendo Bem a Tempo.

Como se não bastasse, temos faixas que também vão completamente direto ao ponto. É o caso de “WTF Is Going on Around Here?”:

  • This system that holds us down / Choke the right, force them down / Let’s fight! (“Esse sistema que nos deixa presos / Sufoque a direita, force-os para baixo / Vamos lutar!”)
  • This country that’s fallen apart / Left to the fucking oligarchs / Stab the heart, let’s start! (“Esse país que caiu aos pedaços / Deixado para os malditos oligarcas / Esfaqueie o coração, vamos começar!”)

Fugazi

Fugazi

Precursor do chamado Post-Hardcore, o Fugazi é uma banda que não poderia faltar nessa lista. Com o seu olhar especial para as questões que permeiam a sociedade, o vocalista Ian MacKaye sempre encontrou formas de fazer críticas inteligentes, mas a verdade é que as políticas que permeiam a banda vão bem além das músicas.

Com diversas ressalvas em relação ao capitalismo, o grupo sempre viveu dentro do estilo que se propôs e seus shows eram reflexos disso. Em sua última turnê, por exemplo, além de vender os ingressos por preços bastante acessíveis (geralmente menos de 10 dólares), o Fugazi trazia discursos impactantes entre músicas de suas apresentações.

Algo que, sabemos bem, se repete com alguns artistas até hoje e gera muitas reclamações por parte do público que ainda acha que o artista tem que ficar calado e só cantar suas músicas…

Minor Threat

Minor Threat, by Jim Saah
Foto por Jim Saah

Se colocamos Ian MacKaye e o Fugazi aqui, é claro que o Minor Threat também não poderia faltar. Além de ter sido pioneiro na pegada DIY que foi tão importante também para a próxima banda de Ian, o Minor Threat era bem mais intenso em sua sonoridade e, inclusive, um dos motivos que levou o grupo a acabar foi a necessidade de MacKaye de se afastar um pouco do Hardcore.

Ainda assim, a influência da banda é tão grande e basta olhar para o título da música “Straight Edge” para entender isso. Com suas letras afiadas, o Minor Threat criou toda uma subcultura de resistência política e acreditava que, por se libertar dessas armadilhas, era capaz de pensar sobre os problemas que assolam nosso cotidiano, influenciando toda uma geração a fazer o mesmo.

Point of No Return

Point of No Return

Ativa entre 1996 e 2006, a banda paulista Point of No Return foi um marco do Hardcore por aqui e ganhou até lançamentos internacionais por sua importância. Unir o português e o inglês foi uma sacada genial e deu origem a ótimas letras em ambas as línguas. “Resposta a Sangue e Fogo”, por exemplo, é um tiro certo na nossa língua-mãe:

  • “Vidas levadas ao inferno / Peças que sobram na engrenagem / A elite se isola da miséria / Por ela mesma criada”
  • “Direito à dignidade / Confrontar o opressor / Conquistar o que nos pertence / Que os punhos se fechem! / Que o ódio ferva em nosso sangue / E queime esse cenário! / Preparando o solo para a revolução”

Da mesma forma, “Casa de Caboclo”, apesar do título em português, traz reflexões sensacionais em inglês:

  • Violence is always a tool in so called democracy / Agents of the State allowed to spread terror / Seeking to eliminate sparks of political resistance (“Violência é sempre uma ferramenta na chamada democracia / Agentes do Estado podem espalhar o terror / Procurando eliminar faíscas de resistência política”)

É só pedrada!

Ratos de Porão

Ratos de Porão
Foto por Marcos Hermes

O Ratos de Porão dispensa apresentações, e já no seu primeiro álbum veio com um título potente que representaria tudo que a banda acredita: Crucificados Pelo Sistema. Depois, claro, vieram outros sucessos da carreira como Brasil e Anarkophobia que também estão recheados de críticas sociais, em alguns momentos aliviados pelo humor característico do Ratos.

Em 2022, a banda de João Gordo mostrou que ainda estava totalmente afiada ao lançar o aclamado disco Necropolítica, fundamental na existência contemporânea e para reafirmar a trajetória de um dos grupos mais importantes do Hardcore nacional. E que continue sempre assim!

Refused

Dennis Lyxzén (refused)
Foto: Wikimedia Commons

Diretamente da Suécia, o Refused poderia ser apenas mais uma (ótima) banda vinda de um país que não costuma ter tantas bandas que trazem manifestações políticas em suas letras. No entanto, o grupo faz questão de ressaltar seu posicionamento em boa parte de suas músicas, e talvez até principalmente, em seus shows que costumam ter discursos carregados entre as canções.

A banda começou intimamente ligada à cena Hardcore do seu país e rapidamente passou a criar uma sonoridade própria, tanto que o lendário álbum The Shape Of Punk To Come (1998) influenciou bandas que vão do Punk ao Heavy Metal no mundo todo.

Bastante ligada à esquerda, a banda traz ideias do socialismo e até do anarquismo em suas letras, como em “Protest Song ‘68”:

  • Fixed dogmas can’t substitute / Creative thoughts and action (“Dogmas fixos não podem substituir / O pensamento criativo e a ação”)
  • We could be dangerous / Art as a real threat (“Nós Podemos ser perigosos / Arte como uma ameaça real”)

Rise Against

Rise Against em 2023
Foto por Nedda Afsari

Uma das bandas mais populares do Hardcore nos últimos anos, o Rise Against é definido pelo próprio vocalista Tim McIlrath como o resultado de uma criação nos subúrbios de Chicago que se viu indo por água abaixo depois que ele conheceu a realidade que sua vida pacata escondia. Não à toa, a banda aborda diversos temas politizados em várias de suas músicas.

Desde questões bem intrínsecas à cultura de guerra dos EUA em faixas como “Hero of War” até o bullying em outras como “Make It Stop (September’s Children)”, o Rise Against parece estar sempre disposto a falar sobre o que incomoda e, claro, também de cumprir o seu papel de incomodar aqueles que não querem abrir mão dos privilégios.