Falar sobre Rogério Skylab sempre é mergulhar de cabeça num universo plural e extremamente questionador, pois assim é a obra de um dos artistas mais inventivos da música brasileira nas últimas décadas, como cantor, compositor, escritor e poeta.
Através da série de discos intituladas Skylab, que foi numerada do um ao dez, ou em outros projetos dentro da sua carreira, Rogério se destacou sempre pela sua independência no falar, pensar, tocar, ser ouvido e visto através dos shows sempre catárticos, títulos ou letras de música.
Figura conhecida além de seu público desde as frequentes visitas ao eterno Jô Soares, onde lançava seus discos e marcava época com entrevistas que estão entre as mais clássicas do programa, Skylab está sempre levando aquilo que sempre mais chamou atenção para o seu trabalho: seu texto único, polêmico e sua forma irreverente de falar sobre qualquer assunto.
Em sua numerosa discografia não faltam clássicos como “Matador de Passarinho”, “Você Vai Continuar Fazendo Música?” e “Parafuso Na Cabeça”, e com certeza Skylab irá continuar produzindo música, discos e conversas interessantes como a que tivemos com ele e que você confere logo após o vídeo!
TMDQA! Entrevista: Rogério Skylab
TMDQA – Você acaba de completar 30 anos do lançamento do seu primeiro disco “Fora da Grei” que vem lá de 1992. Poderia contar pra gente como começou sua carreira na música?
Skylab: O lançamento foi em 1992, mas antes eu já vinha fazendo shows. De alguma forma eu me sinto congenitamente ligado aos anos 80. Só que eu era uma espécie de ovelha negra. Eu me lembro de festivais de rock nos início dos anos 80 em que eu estava presente ao lado de Lobão, Capital Inicial, Cazuza… Nessa época, você não estar ligado à indústria era uma temeridade e, diga-se de passagem, não era o que eu queria. Mas eu não podia imaginar que, com isso, era eu obrigado a encontrar um som fora da indústria. Meus primeiros discos são sofríveis tecnicamente falando. Mas, paradoxalmente, foi isso que deu a eles uma sobrevida se os compararmos com a produção da indústria na época. Você consegue hoje em dia ouvir um disco do Paralamas, dos Titãs, do Legião?
TMDQA: Em várias entrevistas, você sempre reconheceu a importância do eterno Jô Soares na sua história, onde lançou todos os seus discos e entrou na casa de milhares de brasileiros através da maior rede de TV do país. Como era a repercussão após as suas idas à rede globo?
Skylab: A repercussão era muito forte nas redes sociais. Como foram muitos anos de participação no Programa do Jô, reparei que com o passar dos anos, a repercussão foi diminuindo. E isso por uma razão muito simples: a televisão perdia a relevância. Hoje em dia, comparado com os anos 90, a televisão encolheu e tende a encolher cada vez mais. As programações vão continuar existindo, assim como as telenovelas, os programas de entrevistas, mas sem a mesma relevância.
TMDQA: A sua escrita única e absoluta fez dos títulos de suas músicas e suas letras uma das suas maiores características. Em algum momento você teve receio de partir para títulos tão polêmicos ou letras que tocavam em temas que causavam reações diversas no público?
Skylab: Essa tua pergunta, mencionando as reações diversas em relação a minha música, me faz pensar nas diversas redes sociais. Estou entrando agora no tik-tok e estou admirado com a reação negativa, o que me faz pensar do quanto essa rede em especial está infiltrada por bolsonaristas. Isso não me faz retroceder de forma alguma. Eu tenho um ditado que vai na contramão do que se divulgava inclusive na esquerda: se eu estou num bar e estou cercado de fascistas, só vou embora quando o último fascista cair fora. Fazer o que eu faço requer estômago. Não vão ser ofensas ordinárias que vão parar o meu trabalho. Na verdade, esses grupos reacionários são ingênuos.
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TMDQA: Você completou três décadas de carreira e ao longo dos anos foi alcançando diversas esferas de público. Se antigamente você estava em canais como a Rede Globo, hoje é normal vermos você dando entrevistas em veículos gigantes no YouTube. Essa adaptação pro mundo da internet foi algo natural pra você?
Skylab: É o que eu sempre digo: não sou um artista de massa, mas a minha vocação é falar com o grande público. Daí a minha escolha na época pelo Programa do Jô e hoje em dia por alguns podcasts que tenham abrangência. Não gosto de nicho. Respeito aqueles que optam pelo nicho, mas não é a minha. Alguns locais de shows podem ter uma excelente curadoria, podem ter um público cabeça, com uma capacidade de 60 a 100 pessoas, mas às vezes isso me cheira a elitismo.
TMDQA: Além da clássica sequência dos discos Skylabs, tivemos a chance de ver outras facetas em suas discografia como o Skygirls, os discos sobre o carnaval, o Cosmo e o Caos e tantos outros. Como esses projetos foram aparecendo ao longo da sequência dos Skylabs?
Skylab: É, o meu grande legado são os discos que eu deixo. Ainda hoje eu os ouço e não me envergonho. Experimentei de tudo. Minha última trilogia, que ainda não foi lançada, dei o nome de “Trilogia do Fim” – provavelmente seja o meu último trabalho. Acho que depois eu posso morrer. Pois nessa trilogia eu flerto com o eletrônico e vou contar com um cara que eu curto muito: Cadu Tenório.
TMDQA: Você já esteve na TV, com o excepcional Matador de Passarinho, entrevistando pessoas inusitadas. Como se deu essa experiência e há alguma chance de termos algo do tipo em alguma mídia?
Skylab: Muitas pessoas me perguntam quando o programa “Matador de Passarinho” vai voltar, mesmo que fosse numa outra mídia. Isso é um sintoma do quanto esse programa marcou. Fico muito feliz. Podia ter durado mais se não estivesse o Canal Brasil tão ligado à Globo. Mas o fato é que o Canal Brasil é a Globo. Entrevistas como as que rolaram com o Júpiter Maçã, a própria Elza Soares, Jards Macalé, Luiz Tatit, guardam um acervo espetacular. O meu desejo é que fosse liberado o copião das entrevistas, que tinham mais de uma hora de duração.
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TMDQA: Agora uma curiosidade mais pessoal. Você consome música em qual formato? Anda ligado em novos nomes da música? E quais são suas grandes influências na música?
Skylab: Tenho toca-disco, vitrola, discos de vinil pra caralho, assim como CDs, mas hoje em dia eu escuto mesmo é num computador com um bom fone. Influências? Tantas. Da MPB até o free jazz. John Zorn, Zappa, Varese, Edu Lobo, Torquato… Em breve vou estar lançando meu novo livro “Melodia Trágica” e ali você vai estar diante de uma nova história da música popular brasileira.
TMDQA: A pergunta que sempre gostamos de fazer por aqui. Você tem mais discos que amigos?
Skylab: Essa resposta é fácil pra quem não tem muitos amigos.
Skylab na Internet
Você pode acompanhar as publicações de Rogério Skylab em seu perfil oficial no Instagram.