Por Cauê Paciornik
A série Daisy Jones & The Six (Prime Video) tem feito bastante sucesso contando os bastidores da banda fictícia dos anos 70 e repercutindo os episódios nas redes sociais. Na produção, o elenco conta com a cantora e compositora Nabiyah Be no papel de Simone, a melhor amiga da protagonista.
Nabiyah Be é brasileira, filha do cantor jamaicano de reggae Jimmy Cliff, e passou uma parte da sua vida em Salvador. A cantora e compositora já atuou anteriormente em Pantera Negra e tem uma relação próxima com a cantora, e atual Ministra da Cultura, Margareth Menezes.
O TMDQA! teve a oportunidade de conversar um pouco com ela em uma chamada de Zoom sobre a construção da sua personagem e suas referências brasileiras.
Confira a entrevista completa abaixo!
TMDQA! Entrevista Nabiyah Be
TMDQA!: Oi Nabiyah! Tudo bem?
Nabiyah Be: Oi, tudo bem!?
TMDQA!: Primeiro, muito obrigado por estar atendendo a gente. É muito legal assistir você em Daisy Jones & The Six, fazendo o papel da Simone. A gente sabe que você é cantora, então nossa primeira pergunta é sobre como foi a construção dessa personagem. O que tem de você nela?
Nabiyah Be: Bom, primeiro, musicalmente falando, já que estamos em um veículo de música, foi bem específico achar a sonoridade da Simone sendo uma cantora soul americana dos anos 60. Por exemplo, no episódio 2 ela canta “A Song for You”, que foi uma canção eternizada na voz da Donny Hathaway.
A gente foi pro Sound City (estúdio de gravação em Los Angeles) e gravamos o primeiro take, mas soou um take que é muito a minha cara. Nos melismas que eu escolhi dava pra ver que eu cresci nos anos 90, que eu escuto Yeba, então nós tivemos que regravar e fazer um take mais enxuto, vamos dizer assim. E, emocionalmente, talvez seja a personagem de livro para elas que tenha sido mais expandida. No livro a Simone vai de ponto A até ponto B, mas tem um mundo nesse meio que não é explorado no livro, então eu sabia que viria muito de mim, sendo uma das poucas pessoas negras naquele espaço.
Viria muito da minha experiência, contando essa história no meu corpo e do grande arsenal de pesquisa que a equipe de produção me deu, da história da Disco Music, do quanto esse gênero foi criado por imigrantes, por pessoas queer, a música latina, a música do norte da África e como não era nem um gênero no começo. Era uma mescla e um espaço seguro em que as pessoas pudessem dançar.
TMDQA!: É muito legal ver esse mix da cultura para se formar a dance music e é muito legal ver você colocar esses pontos em tela. Você falou sobre a produção e Daisy Jones & The Six tem produção da Hello Sunshine (produtora de vídeo), que é da Reese Whiterspoon, que vem em um momento muito interessante e tem essa proposta de colocar os holofotes sobre as mulheres. Queria que você falasse um pouco sobre essa produção e da importância desse movimento de mulheres para mulheres.
Nabiyah: É muito importante e nossas líderes foram mulheres. Nossas trocas foram em grande parte, também, arquetipicamente falando, matriarcais. Me senti extremamente escutada. Eu entrei muito como novata dentro de um espaço de peso. Quando eu recebi o roteiro, eu escrevi uma biografia e mandei para um dos produtores e ele convocou uma reunião com os escritores. Isso para mim, primeiro como novata, mulher negra, sem muitos créditos na TV e no cinema… ter tido essa experiência de ter troca, foi muito legal, ter o meu lugar de fala e ver que algumas coisas entraram (no texto final), realmente…
TMDQA!: Que massa! É muito importante ter essa troca. Vou ser muito sincero com você, eu não assisti ainda todos os episódios, mas os episódios que eu vi, eu gostei bastante. Vindo agora para o Brasil, queria te contar que há pouco tempo eu estava em Salvador, estive pelo Festival de Verão de Salvador. E eu preciso conversar com você sobre Bahia e Margareth Menezes. Eu tive a oportunidade de passar o dia 02 de fevereiro por lá…
Nabyia interrompe bem empolgada: Uau! Melhor que carnaval!
TMDQA!: Foi maravilhoso, eu tinha bastante vontade de passar por lá. E eu queria que você falasse sobre Margareth (Menezes). A gente sabe que vocês já gravaram juntas, vocês têm composições juntas e ela está em um momento novo né? (risos) Queria saber se você já falou recentemente com Margareth Ministra.
Nabiyah: (rindo) Olha… tá bem requisitado pra falar com Margareth Ministra. Mas assim, eu amo ela. Tenho muita fé no trabalho dela. Além de um enorme talento, ela é uma pessoa de virtudes extremamente afloradas, e pra mim, crescer em Salvador… minha âncora é Salvador, sabe? Sinto que bebi muito da cultura, não só musicalmente falando, mas sobre o meu jeito de enxergar a vida, na minha forma de me relacionar. Meu primeiro show com a Margareth foi com 7 anos de idade, que eu cantei uma canção de Lazzo Matumbi, chamada “Me Abraça e Me Beija”, que foi a mesma que eu cantei com o meu pai em turnê.
TMDQA!: É fantástico porque Salvador tem esse sincretismo, tem essa mistura e você traz isso para a sua personagem. Quando você fala da Disco (Music), dessa mistura, você traz isso e a gente fica muito feliz e orgulhoso. Parabéns!
Nabiyah: Muito obrigads mesmo!
TMDQA!: Nosso site chama Tenho Mais Discos que Amigos e uma pergunta que a gente gosta sempre de fazer é se você tem algum disco que seja seu melhor amigo. O que você tem escutado?
Nabiyah: Eu acabei de receber um presente novo que é um toca discos e eu comprei um vinil da Alice Coltrane com o Carlos Santana. Eu não compreendo totalmente o universo do jazz, mas aprecio e tem esse disco chamado Illuminations. Também sugiro um disco de um percussionista argentino que morou em Salvador por muito tempo e sinto que ele fez uma fusão belíssima de música percussiva baiana. O álbum se chama Sudaka, e hoje de manhã eu estava escutando o disco de Caetano (Veloso), Cores e Nomes.
TMDQA!: Que legal! Sugestões anotadas. Falando por aqui, pessoalmente eu estou em um momento escutando BaianaSystem e Russo Passapusso. Bem, nosso tempo acabou, muito obrigado pela atenção e pela entrevista! Estaremos acompanhando você e continue brilhando!
Nabiyah: Muito obrigada a vocês!