Foto por Maya Melchers (@baionetaderosca)
A banda brasileira Zander é conhecida por guitarras afiadas, letras contundentes e uma base de fãs apaixonada que celebra cada passo que o grupo dá.
Misturando influências do Post-Hardcore, do Indie e do Emo, o grupo tem lançado alguns dos melhores discos do Rock Alternativo brasileiro há algum tempo, e agora inicia uma nova fase marcada por uma ampla renovação.
Com exclusividade ao TMDQA!, o vocalista, guitarrista e principal compositor da banda, Gabriel Zander (Bil), falou sobre as motivações para seguir em frente, como se deu esse processo e ainda apresentou a nova formação do quarteto com Nico (bateria), Fox Amato (guitarra) e Fausto Oi (baixo).
Ao falar sobre a saída dos integrantes anteriores e a entrada dos novos, Gabriel afirmou:
Após dois anos de pandemia e uma volta aos shows muito frenética, isso foi se desgastando e consequentemente fomos nos desconectando, percebendo que já não compartilhávamos mais os mesmos objetivos e desejos.
Após muitas conversas e considerações, optamos por caminhos diferentes e a banda precisou ser remontada com novos integrantes para poder continuar.
Dessa vez o critério foi estar na mesma página.
Nova Formação do Zander
Se você está atento à música alternativa brasileira, com certeza já ouviu falar no nome dos artistas que agora fazem parte do Zander.
Nico entra como baterista mas é também multi-instrumentista, e tem sua carreira ligada desde a banda Suerte, popular na cena hardcore do Sul do país, até artistas como Gabeu, Sebastianismos, Manu Gavassi, Carol Biazin, Elana Dara e Number Teddie. Atualmente, ela toca com Karen Jonz.
Viciado em guitarras, pedais e todo o universo que complementa o instrumento, Fox acompanha o Zander desde os primeiros shows, toca no Horace Green e já teve uma breve passagem pelo Dance Of Days.
No Dance Of Days, inclusive, ele tocou com o novo baixista da banda, Fausto, que também teve passagem pelo Eu Serei a Hiena e já tocava com Gabriel Zander em outro de seus projetos, a banda Radical Karma. Ícone da cena independente paulistana há muito tempo, também integra as bandas Ouse Morrer, Good Intentions e In Slow Time.
Futuro e Novos Projetos
O TMDQA! conversou com Gabriel Zander para entender o que será do futuro e como ele enxerga a continuidade da banda, e ele foi bem claro:
Acho que com o tempo e principalmente com a idade, tive o amadurecimento interno de perceber que uma carreira se constrói a longo prazo, de pequeno em pequeno passo. O lance é a constância, ou seja, continuar fazendo. Hoje percebo que tudo é uma construção e que a gente precisa de fato aprender a viver e apreciar o processo, o presente, o agora. Quem cria muitas expectativas se frustra muito e as vezes não consegue enxergar as grandes e também as pequenas conquistas pelo caminho. Pra mim, poder fazer o que eu faço e ter pessoas interessadas não só no meu trabalho, mas também em trabalhar comigo, é a maior vitória de todas. A banda é uma enorme parte de quem eu sou e do que eu ainda estou me tornando. Ainda tem muita coisa pra acontecer e eu não pretendo parar. Talvez o maior objetivo seja que isso se torne mais presente na minha vida e na de todas as pessoas envolvidas e interessadas também. Dentro e fora da banda.
Além disso, ele ainda falou sobre como os novos integrantes estão alinhados dentro e fora do estúdio, e que a parceria vai muito além do lado musical:
O processo se deu de forma muito natural através de encontros. Não teve teste pra tocar e sim muita conversa sobre o que é ter e estar em uma banda. Foi uma procura de sintonia, de entender que é preciso comprometimento e vontade. Temos em comum a paixão pela música e o entendimento de que manter e administrar uma banda é um trabalho diário e coletivo, onde todos precisam estar presentes e participativos. Acho que é o entendimento de que é um trabalho e não um hobby, sabe? Que é uma pequena empresa que precisa de organização, cuidado e dedicação pra que se mantenha funcionando. A gente mesmo precisa fazer essas coisas todas, porque ninguém vai fazer por nós. A primeira vez que tocamos juntos foi emocionante, mas acho que pra mim o maior sinal de que estávamos em uma sintonia especial foi quando surgiu o primeiro problema e todos se ajudaram a resolver juntos sem sobrecarga. Uma banda é isso, um time, uma gangue, um coletivo que joga junto com um objetivo em comum, cada um faz a sua parte.
Ao falar sobre o estado atual da música mundial, onde a Internet é um espaço tão fundamental quanto os palcos, Gabriel conectou passado, presente e futuro, falando sobre como o trabalho segue firme e forte, agora com novos companheiros de guerra:
Acho que esse é justamente meu maior desafio, mas também a minha maior motivação. Contar essa história e levar ela adiante. Tento aplicar os conceitos antigos nas ferramentas novas. Acho inclusive que esse é o caminho viável de seguir trabalhando com isso hoje em dia. Eu já escrevi muita carta, mandei demos pelo correio, colei cartaz em poste, levei flyer em loja de disco, saída de escola, porta de show, levava CDs pra vender na galeria do rock, e era muito massa! Mas tudo isso além do trabalho também custava dinheiro. Hoje eu aplico esses conceitos com as ferramentas que temos, tipo lives, grupo no telegram, posts, stories, etc. Acho que o problema real é ficar ali rolando feed, ficar lendo e falando da vida dos outros. Mas quando você traz o conceito, por que e pra que você tá fazendo aquilo, como eu posso repetir aquela ideia de antes agora de um outro jeito mais eficaz, mais rápido e mais viável? O problema de quem só reclama ou só arranja desculpas ainda é o mesmo, a falta de propósito, estar produzindo algo de fato pra si e ao invés disso, de gastar energia no lugar errado. As coisas mudam e a gente precisa mudar também.
O mais legal disso tudo é que a nova parceria transparece naturalidade a partir de todas as pontas, como a baterista Nico deixa bem claro ao falar sobre o convite para estar na banda:
Foi uma surpresa maravilhosa ser convidada para tocar na Zander. Eu e Bil começamos a conversar e o plano era tocarmos juntos, mas num projeto novo. Quando aconteceu fiquei feliz e nervosa ao mesmo tempo. Disse sim na hora!
Depois que aceitei, todos os caminhos até aqui começaram a fazer sentido e entendi que estava fazendo parte efetivamente quando nos encontramos como banda e tocamos juntos pela primeira vez.
Tem sido intenso, em todos os bons sentidos. É uma grande responsabilidade se juntar com amigos para tocar em uma banda, mas mais ainda em um projeto que já tem uma longa história. E me surpreende muito que, apesar de nunca termos tocado juntes, existe uma conexão quase familiar (risos).
Fausto, novo baixista da banda, falou sobre o convite para fazer parte do projeto e ainda relembrou os integrantes que estavam ao lado de Gabriel nesses últimos anos todos:
Recebi o convite com muita empolgação, mas com certa surpresa também. Eu confesso que não via o Zander sem o Marcelo Malni e Gabriel Arbex, que estão ao lado do Bil há tantos anos. Então foi uma mistura de emoções, saber que aqueles grandes músicos e amigos que eu admiro não estarão mais lá, mas muito lisonjeado de ter sido escolhido para continuar essa história que eu tanto respeito.
Percebi que estava fazendo parte do Zander, efetivamente, quando o Bil, Fox, Nico e eu tocamos a primeira música em nosso primeiro ensaio no estúdio. Foi uma energia surreal. Ali eu vi que tudo ia dar certo!
Parte de bandas tão importantes no cenário underground brasileiro, ele ainda comentou como é a experiência de entrar para um grupo que já tem uma história consolidada, uma base de fãs interessante e diversos lançamentos no currículo:
É a segunda vez que ingresso numa banda com discos gravados, músicas que as pessoas se identificam e uma história já escrita. São sentimentos que vão de imensa alegria, por entrar numa banda que acompanho desde a sua formação e sou fã, até de parar e pensar: ‘Será que darei conta? Vão me comparar com os outros baixistas. Será que conseguirei absorver a linguagem das linhas que eles compuseram e gravaram, e, mais pra frente, que as minhas ideias e composições agradem e agreguem nas novas músicas?’ Tenho uma cobrança interna enorme, e uma certa ansiedade. Mas, apesar disso, estou indo um passo por vez.
Como são 3 pessoas novas entrando, acho que vai ser um pouco mais fácil na questão de criarmos algo novo. Mas, em relação às comparações, pode ser um pouco mais difícil. Fiquei imaginando se as pessoas irão achar estranho essa grande mudança, se vão achar ruim. Mas, pelo que tenho visto, muitas pessoas estão com bons sentimentos em relação à essa nova fase e apoiando a continuidade.
A Nico e eu dividimos o palco em dois shows lá em Porto Alegre (ela tocando com a Suerte e eu com o Eu Serei A Hiena e Radical Karma). É uma baterista que admiro demais, além de ela tocar vários outros instrumentos; O Fox é um querido amigo e já tocamos em outras bandas e projetos alguns anos atrás, além de eu ser bem fã do Horace Green (banda que ele toca guitarra). O Bil é um amigo de longa data, desde a época do Noção de Nada. Temos a mesma idade, nascemos com dias de diferença. Somos da mesma geração e temos muitas referências em comum, além de tocarmos juntos no Radical Karma.
Essa admiração, respeito e convívio que temos me dá forças para – apesar do receio de comparações do Zander que veio até aqui, e essa nova formação – a continuar esse legado. Queremos saber todas as músicas, celebrar tudo o que foi feito, mas colocar a nossa cara em tudo o que vier. É um recomeço, e estamos muito felizes em fazer parte dele!
Quem tem um sentimento parecido é o novo guitarrista da banda, Fox, que compartilhou o que pensa a respeito e se mostrou bastante emocionado por tudo que conquistou até aqui e pelo que o futuro reserva ao Zander:
Cara, é muito doido isso…
Eu me considero um cara de muita sorte, mesmo tendo consciência que eu suei muito pra chegar até aqui. Só no Horace Green, minha outra banda, já são mais de dez anos, muitos shows, alguns discos bem marcantes e o início de um trampo como produtor. Tive outras bandas que começaram do zero, como o Ímola, e a gente sabe que começar algo é sempre uma estrada longa e incerta. Mas entrar em algo já rolando é sempre assustador, de uma maneira boa, saca?
Eu tive chance de entrar no Dance of Days em 2015, e por mais que tenha sido uma passagem curta, foi bem surreal também, mas acho que foi bem mais tranquilo porque a banda tava numa fase mais pé no chão, shows menores, então era algo um pouco mais próximo da minha realidade.
Recentemente tive a chance de entrar pro Costanera, e tocar com o João do White Frogs e o Rodrigo do Dead Fish, que são dois caras que têm de punk/hardcore o que eu tenho de vida. Aprendi demais com cada experiência dessa.
Sinceramente, achei que não iria acontecer de novo, mas aqui estamos nós, com essa grande oportunidade pra desenrolar. Eu nunca imaginaria que iria tocar no Zander, e até alguns meses atrás eu era parte dessa base de fãs, apesar de hoje me considerar mais amigo do que fã por tantas vezes que a gente já se trombou no palco; a admiração nunca deixará de existir.
É muito legal ter essa chance, e acho que gostar da banda e das pessoas que estão/estiveram nela, só faz aumentar o respeito e o carinho que eu coloco em tudo que vou fazer. Pra mim, isso só prova que se a gente correr pelo certo e trabalhar duro, o universo dá uma chance pra gente alcançar coisas grandes e legais! Vai ser uma grande honra mesmo, continuar sendo fã, mas agora fazendo parte!
Show de Estreia da Nova Formação
O show de estreia da nova formação do Zander acontecerá no dia 20 de Maio, em São Paulo, em um lugar bastante especial para a banda e seus fãs.
O repertório será todo reformulado e, além de passar por toda carreira da banda, ainda terá surpresas, como promete Gabriel Zander.
O futuro reserva grandes coisas para o quarteto, e para ficar por dentro de todas as informações sobre esse show, músicas inéditas, uma turnê especial do EP Em Construção e outras novidades do Zander, é só seguir o perfil oficial da banda no Instagram.
Enquanto isso, ouça a ótima “Desalento”, do disco Em Carne Viva (2021) na playlist TMDQA! Charts logo abaixo.