Parece título de trabalho escolar, mas The War on Drugs é muito melhor que isso. Trata-se de uma banda de indie rock americana formada em 2005 na Filadélfia, liderada pelo cantor, compositor e guitarrista Adam Granduciel. O grupo lançou seu primeiro álbum, Wagonwheel Blues, em 2008, seguido por Slave Ambient em 2011 e Lost in the Dream em 2014, que recebeu aclamação da crítica e colocou a banda no mapa do indie rock.
Em 2017, o The War on Drugs lançou seu quarto álbum, A Deeper Understanding, que ganhou o Grammy de Melhor Álbum de Rock em 2018. E em 2021 viria o já marcante I Don’t Live Here Anymore, uma coleção de 10 canções profundamente pessoais e intensas.
I Don’t Live Here Anymore é um álbum emotivo e introspectivo que fala sobre relacionamentos e mudanças na vida. O disco mostra o alcance da versatilidade de The War on Drugs, incluindo suas referências de rock clássico, música country e psicodelia, e é considerado um dos melhores trabalhos da banda até o momento. A faixa de abertura “Living Proof”, por exemplo, é uma das mais aclamadas do álbum e fala sobre a redenção pessoal e a capacidade de superação.
Ao longo de todos estes anos, a banda veio colecionando resenhas elogiosas e fãs a cada disco, o que gerou variadas tentativas de trazer o The War on Drugs para o Brasil. Nenhuma delas rendeu fruto – até agora. O sexteto virá ao país pela primeira vez para se apresentar no C6 Fest, evento que acontece entre 18 e 20 de maio no Rio de Janeiro; e de 19 a 21 de maio em São Paulo.
Foi a oportunidade perfeita para conversarmos com o vocalista, guitarrista e compositor Adam Granduciel sobre o atual momento da banda, o impacto do último álbum e a vontade de conhecer de perto o público brasileiro. Confira logo abaixo!
TMDQA! Entrevista: The War on Drugs
TMDQA!: Oi Adam! Onde você está hoje?
Adam Granduciel: Estou em Los Angeles, eu moro em L.A.
TMDQA!: Ah, legal! Tenho muitas perguntas e queria começar pelo último disco. Quando você olha a capa e o título – I Don’t Live Here Anymore -, me passa a ideia de uma banda em movimento, que se recusa a ficar parada. É isso mesmo ou estou enxergando coisa demais? (risos)
Adam: Não, é bem isso mesmo! A cada disco que a gente gravava, todo dia alguém levantava uma ideia [de título], tipo “que tal isso?”, e depois que a gente trabalhava um pouco, achava que tinha ficado estranho. Eu apenas fiquei movido por esse título, porque era o nome de uma das músicas do álbum que eu realmente gostava, não necessariamente o single mais óbvio. Senti que era sobre encerrar um capítulo. Era claramente dizer, em voz alta, que você não está mais onde as pessoas acham que você está.
TMDQA!: Tipo um ciclo, né?
Adam: Exatamente. Era a pandemia, então para a arte de capa, não tínhamos a oportunidade de fotografar uma capa. Aquela era uma foto que o Dave tirou no estúdio. Estávamos procurando imagens, porque não ia dar pra pedir a alguém pra vir a L.A. tirar fotos minhas na minha casa… Eu não sabia o que fazer com relação à capa, então acabamos ficando com essa imagem que não foi feita para uma arte de capa, é só uma foto que o Dave tirou. Eu cortei minha cabeça. E funcionou com o título que eu tinha em mente. Fico uma mistura meio doida, mas olhando de cima, eu acho que funcionou. Acho que era sobre estar em movimento, mas também a pessoa naquela foto tem um caminhar muito confiante. Parece que ele parece saber onde está indo. Fiquei movido por esse título. Pensei que, independente do que estava acontecendo com a pandemia ou mesmo na vida naquela época, eu senti que era o início de algo novo. Era uma coisa meio de não saber onde eu estava indo, mas também sabia que não queria ficar onde estava. Sabe? Variações desse mesmo tema.
TMDQA!: O que me leva ao meu próximo assunto. Porque estávamos falando de ciclos, e me parece, pelo menos, que a passagem do tempo inspirou algumas dessas canções. Você diria que questões como envelhecer e amadurecer estavam na sua cabeça enquanto escrevia?
Adam: Com certeza. Quando se está compondo, você tenta canalizar ali algo que você está vivendo, transformar em canção. A passagem do tempo e envelhecer, os aprendizados da vida, inevitavelmente é o tipo de coisa que influencia muito. E também ter um filho, isso coloca as coisas em perspectiva. Quando se tem um filho, você começa a entender sua vida de uma forma que você não achava que entenderia. Sabe?
TMDQA!: Sei como é, a minha tem 3 anos.
Adam: Ah, então você sabe como é! O meu tem quase 4, 3 e meio agora. Então quando você pensa em ter filho, antes de ter de fato, você talvez pense em fralda, sono, mas o que você não se prepara é a forma como isso coloca sua vida em perspectiva até aquele momento, de forma que você não imaginava. Pode ser seu relacionamento com seus pais, seus amigos, seus irmãos, o que seja. E isso foi uma parte grande de finalizar esse disco. Tínhamos feito boa parte do trabalho antes da pandemia. Todas as músicas estavam compostas, já tínhamos gravado boa parte delas, só tinha uma música que não estava totalmente concluída, que era “Harmonia’ Dream”. Foi a única que precisamos gravar bateria no meio da pandemia, a maioria das faixas estavam com alguma parte já finalizada. Mas eu precisava gravar os vocais, e eu ainda tinha de trabalhar em algumas no sentido dos arranjos. Era assim, criar um filho de seis meses, 1 ano, 1 ano e meio durante a pandemia. Isso me afetava em tempo real enquanto escrevia as letras e ia para o estúdio. Foi tudo parte de uma grande sopa.
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TMDQA!: E ainda falando sobre tempo – acho que é o tema recorrente hoje! -, eu estava olhando a discografia e notei que já faz um tempo que vocês estão nessa. Tantas bandas ficaram pelo caminho e vocês continuam. Mesmo com algumas mudanças na formação, fiquei curiosa sobre o que mantém o The War on Drugs motivado até hoje.
Adam: No fim das contas, o que motiva quando estamos em turnê é fazer o melhor show possível, estar muito preparado musicalmente. Só quero que as pessoas saibam que quando elas vierem nos assistir, que será melhor do que antes e que vamos estar entregando tudo num show. Não importa o valor do ingresso, vai valer a pena. Como tudo na vida, eu quero fazer o certo pelos nossos fãs. E musicalmente, só quero fazer músicas que gosto, estar inspirado para uma nova canção, ficar empolgado com uma composição nova. Acho que nosso público fica animado para ouvir o que fazemos quando fica pronto. Nossos fãs, nossa base, dá pra notar quando subimos no palco que é algo que mudou ao longo dos anos. É mais inclusivo, é legal demais. É uma pequena comunidade que construímos em volta desses discos e somos muito gratos por isso. E levamos tudo isso a sério – a feitura dos discos, tocar ao vivo, melhorar na nossa arte, nas gravações e seguir as bandas que já fazem isso há muito tempo. Tentamos ficar alertas, respeitar um ao outro e deixar crescer da forma que precisa crescer.
TMDQA!: Agora, sei que houve múltiplas tentativas de trazer o The War on Drugs ao Brasil anteriormente, nenhuma foi pra frente. Queria saber o que aconteceu das outras vezes e o que fez as estrelas se alinharem dessa vez – tem alguma coisa a ver com os comentários de come to Brazil que os fãs deixam no Instagram?
Adam: Com certeza tem (risos)! Podemos agradecer aos comentários do Instagram.
TMDQA!: É o jeito que a gente faz as coisas acontecerem nesse país!
Adam: Claro, uma hora você é convencido! Você pensa, “cara, precisamos ir ao Brasil!”. Mas é o tipo de coisa que estávamos tentando há anos, mas esperando a melhor oportunidade. Nem sei, só sei que recentemente, ficou mais fácil para encontrar um caminho para irmos aí. Ficamos muito gratos que as coisas se alinharam pra conseguirmos ir, tenho certeza de que não será a última vez. É tipo ir para a Austrália pela primeira vez, ou a primeira vez na Europa. Ninguém te conhece pessoalmente, você tem que ir lá e se provar. Dessa vez, teremos dois shows [no Brasil], mas tenho certeza de que quando voltarmos, vamos poder fazer bem mais. Estou empolgado, porque durante toda a nossa carreira, as pessoas falavam como os fãs do Brasil iriam adorar esse tipo de música. E conheci várias pessoas que já foram aos nossos shows, que são do Brasil ou da América do Sul, que foram para a Europa ou para a Flórida, então sei que são pessoas apaixonadas por música, e esses são os nossos tipos de fãs.
TMDQA!: Com certeza, estamos empolgados também! Obrigada pelo seu tempo, Adam. Espero que se divirta muito no Brasil.
Adam: Não vejo a hora, obrigado!