DAY LIMNS está mais livre do que nunca.
A cantora, que é um dos nomes mais interessantes da nova fase do Rock no Brasil, acaba de lançar “Vermelho Farol”, single que abre sua nova era. Resgatando referências e estilos pelos quais já passou pela carreira, ela ressurge com o seu trabalho mais coeso e ousado até então.
Em papo pra lá de animado com o TMDQA!, Day explicou seu caminho até chegar na nova fase, bem como falou sobre suas vulnerabilidades, a necessidade de se sentir sexy e o processo de composição da nova faixa.
Confira a conversa na íntegra logo abaixo!
TMDQA! Entrevista: DAY LIMNS
TMDQA!: Day, começando pelo o que a gente conversou antes… nos falamos há algum tempo, mas parece que faz muito mais por conta da pandemia.
Day: É, e eu tô com uma noção de tempo meio deturpada, então realmente não tenho a menor ideia de quando foi.
TMDQA!: Eu não cheguei a resgatar porque eu não queria perder esse brilho da gente ficar aqui tentando lembrar, mas acho que foi 2020 mesmo! Foi no ano da pandemia ou em 2021, no máximo.
Day: Deve ter sido em 2021! E a gente já tá em… 2023? [risos]
TMDQA!: Pois é. Mas uma coisa que eu lembro com certeza é que você ainda nem usava o Limns! No pôster eu lembro que era só “DAY”.
Day: É, então faz tempo.
TMDQA!: E isso representa um montão de transformações pra você. Queria começar falando justamente sobre isso, mas concentrando é claro na música nova, “Vermelho Farol”. E eu acho, não sei se pela primeira vez na sua carreira, que você consegue misturar todas as coisas que você está jogando pra lá e pra cá de um jeito que fica mais coeso. Parece que você passou por essa… você veio do lance do pop, depois passou pelo lance do rock, e depois veio o lance do pop punk, e agora você consegue colocar tudo numa música só. Queria que você falasse um pouco sobre a música, principalmente por ela ser a abertura dessa nova fase. Como que vocês escolheram e essa música é o resultado do que?
Day: Pô, Tony, eu fico muito feliz de ver que pra você é perceptível toda essa mistura. Eu acho que realmente quem me acompanha desde o começo, escuta “Vermelho Farol” e acha que faz total sentido ela soar como ela soa. E eu escolhi “Vermelho Farol” pra iniciar essa nova era justamente por causa disso. Porque acho que ela meio que resgata o público mais antigo, fala também com o público que chegou depois… e ao mesmo tempo ela traz essa coisa de ser mais agitada, mas não é feliz, sabe? Tem a sensualidade, coisas que eu geralmente não falava. Eu sentia falta dessa sensualidade um pouco mais nas minhas músicas. É uma coisa que até tem implícito nas minhas músicas e no jeito que eu canto, mas eu queria um pouco mais. Mas não vou abrir mão da minha vulnerabilidade de jeito nenhum, porque acho que a vulnerabilidade é meu poder.
Mas em “Vermelho Farol”, além da sonoridade fazer sentido com tudo que eu já lancei — e as pessoas falarem, “nossa, esse era o objetivo”, o que é muito bom -, era mesmo pra ter esse aspecto um pouco mais maduro também, sabe? E aí não só da música, como também da estética toda, como eu me apresento, as coisas que eu quero abordar, as referências que eu tenho usado pra poder trabalhar essa era. Então achamos que “Vermelho Farol” era uma música que daria pra introduzir essa história muito bem. E além de tudo, eu sou apaixonada por essa música há muito tempo, desde quando a escrevemos no ano passado, no começo do ano — eu, Carolzinha e Carol Biazin. Me apaixonei por essa música desde então, a gente escreveu num type beat. Eu já pensava em conceitos que foram se transformando de leve, conforme eu fui vivendo. E eu já havia colocado no meu clipe, de “Sete Vidas”, [escrito] “ilha do vermelho farol”, porque eu já sabia que seria um easter egg. Daí as pessoas pensam, “meu Deus, ela já tá falando disso há um tempo!”. E eu sempre gostei de trabalhar dessa forma. Por isso que, pra mim, fazia muito sentido depois de ter lançado “Sete Vidas”, “Muito Além” e “Castelo de Areia”, eu chegar agora com “Vermelho Farol”. Era a continuação de uma coisa que eu comecei a introduzir.
TMDQA!: Você falou que sempre gostou muito dessa música… o que te chamou atenção e te fez achá-la diferente do que você já fazia? Além de começar a reunir esses elementos todos, por que você se apegou desde o começo?
Day: Acho que me apeguei desde o começo porque eu me sentia muito poderosa cantando ela, sabe? Me senti confiante, não me senti tão vulnerável, igual eu sempre sinto nas minhas músicas. Então me senti numa posição de misturar um pouco isso. E eu sentia falta de me sentir assim com as minhas músicas! Então, quando cantei ela, eu falei, “mano, essa música me faz sentir vontade de achar que eu sou foda!”. Foi essa a sensação que me trouxe. Então quando a gente de fato produziu a música agora no começo do ano, colocamos a roupinha nela, aí ficou irresistível, irmão. Aí virou um negócio que eu nem sei explicar. Foi justamente essa a conversa que eu tive no estúdio. Eu falei, “cara, preciso misturar tudo que eu já fiz e fazer fazer sentido, e fazer ficar forte, e fazer ficar novo”. Porque é complicado você falar que quer misturar trap com rap com r&b com rock com não sei o que, e não virar uma meleca, sabe? Então, quero deixar cada vez mais claro quais são minhas referências e de fato criar algo o mais autêntico possível. Mas é fato que essa música me faz sentir essa vontade. Eu me sinto sexy, me sinto poderosa, me sinto de um jeito que eu tava precisando me sentir, sabe? Então meio que vem desse lugar.
TMDQA!: Que massa. E imagino que você esteja muito ansiosa pra tocar e cantar essa música também.
Day: Muito! Eu tô muito ansiosa, juro. Acho que o refrão vai ser muito massa, ele é chicletão e bem pesado, então vai ser muito legal.
TMDQA!: É legal você falar isso do refrão, porque quando eu coloquei a música pra ouvir eu até levei um susto. Pensei, “putz, cadê a era emo? Já foi pro saco? Já voltou o pop?”. Aí a música vai andando e de repente entram as guitarronas pesadas, e o refrão…
Day: E aí no segundo verso, a gente coloca mix orgânico com as bateras. No primeiro pré-refrão não tem, só as eletrônicas. E aí, na segunda, tem o Peracetta desce o braço, “pá! pá! pá!”, e aí vai rolando essa construção… nossa, muito bom! Mas me fala qual foi sua reação quando você ouviu.
TMDQA!: Exato, aí beleza, entra tudo isso que você falou e descreveu muito bem! Entram as guitarras e entra o refrão, e ele é muito Pop Punk, é muito grudento.
Day: É quase Cine!
TMDQA!: É! E para além do pop punk, até porque estamos numa fase onde já cansou de falar que tudo é pop punk e emo…
Day: Nossa, obrigada! É rock e ponto final.
TMDQA!: Pois é! A gente tá resgatando um monte de elementos melódicos que o rock sempre teve, e parece que esconderam em alguma caixinha e ficaram com vergonha de usar. Mas aí você volta e usa um refrão de fato, algo que eu acho que falta muito no rock brasileiro, refrão grudento que deixe com vontade de cantar. Vocês, artistas que vêm do pop, têm essa sensibilidade e até sentem falta de coisas que são pra cantarolar, pra gravar na cabeça e ficar cantando. Então me parece que veio muito daí, você até falou da questão de cantar ao vivo, tem essa preocupação.
Day: Tem demais. Eu gosto muito de fazer essa viagens nos versos, e tem muitas palavras nos versos. Eu penso assim, “pô, a gente já tem muita palavra aqui” — penso numa estrutura pop, sabe? Não tô me prendendo tanto em fazer coisas que são pop, não estou me cobrando, mas acaba que pra mim é meio que natural. Então eu gosto de manter essa estrutura, por mais diferente que seja, pra ter uma certa acessibilidade. Nos versos eu gosto de algo bem “letra, letra, letra letra”, e no refrão algo mais resumido pra galera conseguir cantar, de um jeito que grude. E a grande charadinha é a galera ter que cantar “tirando tua calcinha”! [risos] Todo mundo gritando isso! Eu tô achando bem engraçado.
TMDQA!: Aliás, acho maravilhoso! A primeira vez que eu ouvi aqui em casa, tava no som alto, e quando olhei tava a família toda na sala. Falei, “pessoal, tô trabalhando aqui, ouvindo música nova” [risos]. De fato a galera vai ter que cantar isso! O ponto que eu queria chegar é que, pra mim, parece mais difícil fazer essa parte mais simples do que a parte mais desenvolta e mais cheia de letra.
Day: Anos luz mais difícil! E sobre a composição de “Vermelho Farol”, ela foi 70% composta pela Carolzinha, que é uma compositora de mão cheia. Ela escreveu “Sem Filtro”, da IZA, “Espaço”, do meu primeiro EP, músicas também pra Carol Biazin e pra outros artistas que ainda nem posso falar que ela tá escrevendo. E ela é muito boa, é uma excelente ouvinte, uma excelente observadora. A gente tava trocando ideia, e ela fala que o jeito que eu falo a inspira. Ela disse, “amiga, você não vê, mas já está me dando todas as palavras, eu só tô escrevendo”. E, do nada, essa menina me diz que escreveu um “negocinho” pra ver se eu gosto. A gente tava rodando um type beat e ela vomitou a letra: “Misturando um pouco disso / Com um pouco daquilo / Se eu fiz aquilo já não me lembro / Minha lucidez entorpecente / Meio indecente / Tá frio e quente”. Ela vomitou o verso inteiro, basicamente. Pra mim foi incontestável, eu quero cantar isso! E tinha tudo a ver com o que eu tava falando. Ela escreveu em cima do que eu estava dirigindo sem saber que estava, criativamente falando. Ela é muito boa observadora. E aí a gente pensou que precisava de um pré-refrão mais “pá”, e chegamos em, “Se amanhã vou lembrar, sei lá”… E o refrão foi mais difícil. Porque, pra gente poder fazer uma coisa simples e que resuma a música sem ficar estranho e brega, geralmente é a coisa que mais demora. É foda. Quando o refrão vem primeiro, eu ajoelho e agradeço ao Pai. [risos] Mas quando não vem, eu quero sentar e chorar. É a parte mais difícil pra mim.
TMDQA!: Eu sempre gosto de falar isso, porque estamos em 2023 e ainda tem pessoas que dizem, “ah, mas um refrão desse aí até eu faço!”. E a gente sempre vê todos os compositores e artistas falando que é justamente o contrário. Você falou da parte do refrão sobre tirar calcinha, e eu queria falar sobre um story que você fez no Instagram, onde você aparece como se estivesse tirando a calcinha super rápido, e depois surge dizendo que tá envergonha. [risos]
Day: E agora fiquei envergonhada de novo! [risos]
TMDQA!: E aí depois você foi ao Twitter e falou, “gente, vocês são muito sacanas! Agora só vou postar foto pelada!”. E eu imagino que o engajamento foi lá em cima.
Day: Amigo… amigo, foram 10 mil cliques no link, eu devia ter colocado o link do Spotify!
TMDQA!: Você ainda escreveu que era um OnlyFans, né?
Day: Pois é! Menino, eu fiquei em choque, tá? Fiquei pensando que, se eu abrisse um, ia conseguir pagar todos os meus clipes e impulsionar minhas músicas. [risos] Não vou fazer isso, mas é muito curioso, né. Eu só aproveitei a letra da música.
TMDQA!: Pois é, e até vou conectar com algo que você disse no começo do papo, sobre estar muito à vontade e se sentindo muito sexy. No Instagram você fez e acabou ficando envergonhada, então queria te perguntar como é conciliar a personagem poderosa, sexy e tal, com a Day que você é no dia a dia — também sendo sexy, mas envergonhada e natural.
Day: Cara, justamente isso. Sempre falei muito da minha dualidade e que eu sou geminiana. Então essa coisa da dualidade sempre foi algo que eu gostei muito de falar, e não é diferente nessa era. Mas para além disso, é o que eu falei, tem o meu eu extremamente vulnerável, mas as pessoas também me enxergam extremamente intimidadora. Eu intimido, mas também sou extremamente emocionada. Então tem sempre essas duas coisas rolando, sabe? É sempre um oito ou oitenta rolando comigo assim.
Então, acaba que nem é tanto personagem, mas a parte de ser mais sexy, me sentir mais sexy depois de ficar com vergonha, é um ponto interessante que a gente depois pode até juntar com o clipe. Porque quando a Carolzinha colocou “tirando a tua calcinha” no refrão, eu gostei muito, só que eu fiquei assim… hum, será? Da mesma forma que quando a gente escreveu “Geminiana”, em 2019, e a gente falou “transando”. Eu fiquei receosa de falar “transando” na música. E por que isso? Depois de muito tempo que eu fui entender. Por causa das travas que a religião e minha vivência na igreja já me trouxeram… Então como a minha sexualidade e a minha vida sexual, de modo geral, independente se era com mulher ou homem, não podia beijar, não podia fazer absolutamente porra nenhuma. Então eu cresci com o entendimento de que sexo fora do casamento é pecado, de que se masturbar é errado, de que beijar na boca não pode… tudo isso foi reprimindo a minha sexualidade. Eu ficava com medo, por mais que eu seja extremamente safada na minha cabeça, [risos] às vezes, pra externalizar, eu ainda tinha aquela meio conservadora, que eu achava já ter completamente perdido. E quando eu vi que eu estava me [podando], eu falei, “mas eu quero falar!”. Por que eu tô me sentindo assim? E eu vi que eu estava me privando de uma coisa que eu queria por causa do que eu vivi, aí isso me deixou com um pouquinho mais de raiva. Eu falei, “você quer saber? Eu vou falar sim!”. Porque eu preciso destravar todos esses traumas, todas essas essas coisas que me colocaram na cabeça. É meio que eu me permitindo mesmo e falando pra mim mesma que está tudo bem, e isso significa muito pra mim.
Lançar uma música falando isso, sendo um pouco mais sexy, isso pra mim é uma conquista. Mostrar um vídeo meu quase tirando a calcinha é uma coisa que eu sempre tive vontade e não tinha coragem. E pra mim é uma conquista. De verdade, pra mim isso é uma conquista. Então vem muito desse lugar e é um dos motivos que eu quis trazer também as referências bíblicas pra esse projeto, é o que a gente vê um pouco ali no clipe. São adaptações bíblicas, mitológicas, astronômicas e astrológicas. [risos]
TMDQA!: Vamos ter que fazer um curso pra mergulhar nesse vídeo! [risos]
Day: É muita informação!
TMDQA!: E eu quero falar sobre esse vídeo justamente. Até o release do material fala primariamente sobre a relação, sobre o encontro quente entre duas pessoas, mas é no clipe que Day Limns encontra lugar pra dar mais profundidade à mensagem que ela quer passar com a música. E eu sei que sua base de fãs foi lá e consumiu, assistiu ao clipe duas, três, dez vezes. Mas a gente vive numa era em que, quando postamos um vídeo no Tenho Mais Discos, às vezes a média de duração que as pessoas assistem ao vídeo é de 10 segundos. Como é pra você se propor esse desafio? Falar, ‘cara, o clipe vai ser foda e nele vou falar várias paradas’, mesmo sabendo que a gente vive nessa era onde a atenção das pessoas é muito curta. Como que surgiu essa ideia e, pra você, como é colocar em prática? Não é um trabalho fácil, não é como se fosse um texto que você escreve, revisa e sobe. Clipe envolve equipe, área, dinheiro…
Day: Dinheiro pra caralho! [risos] Mas sim, é difícil pra mim, porque eu sempre fui uma artista que sempre priorizou muito essa parte visual e esse storytelling. Então é muito difícil pra mim abrir mão disso, mesmo que o mundo esteja assim hoje… pra mim é muito complicado. Seria pra mim meio que abrir mão da minha artisticidade. Sabe? Mas seria abrir mão de uma coisa que eu gosto muito. Então o que eu estou tentando fazer é tentar unir o útil ao agradável: colocar coisas e referências que façam as pessoas falarem sobre mesmo e queiram replicar isso de alguma forma. De certa forma, é um pouco frustrante. Igual você falou, são meses e meses se programando, pensando, criando conceito. É muito dinheiro, são pessoas que às vezes nem cobram o quanto elas deviam cobrar só pra poder fazer aquilo acontecer. Algumas pessoas nem cobram, porque querem muito estar dentro do projeto e a gente não tem como, é muito limitado, infelizmente. Por isso até falei sobre o OnlyFans. Se todo mundo tivesse clicado e assinado, eu teria pago uns quinze clipes desse. [risos]
E aí é nessa hora que você para e pensa, né? O quão longe eu vou pra ser vista? Eu não consigo abrir mão dessa parte visual, dessa parte de clipes, e eu tento pensar como que eu posso replicar isso no TikTok, por exemplo. Fazer algo menor e gerar um interesse nas outras plataforma, a gente vai estudando. E isso, pra mim, é ainda muito novo, sabe? Mas abrir mão do que eu quero falar, do jeito que eu quero falar, eu não consigo. Pra mim é imprescindível, é muito importante. Então independente de como as pessoas consomem, eu confio muito no meu nichinho ali, nos meus fãs. A gente brinca que somos sete, somos só sete Limns, mas que fazem um barulho que parece ser um pouco mais. Eu gosto muito que eles estão comigo e que eles conseguem reverberar nos lugares. Eles me fazem sentir menos louca e menos sozinha, sabe? Nesse sentido. Então ter eles ali engajando e falando e teorizando junto comigo, já me deixa satisfeita. Saber que eu não estou cem por cento sozinha. Mas claro que eu gostaria que chegasse em mais pessoas, mas… o que está fora do meu controle, está fora do meu controle.
TMDQA!: Que bom que você tem esse pensamento, porque tem gente que acaba perdendo o rumo da coisa…
Day: E eu já perdi. Eu já me frustrei muito, já falei que não vou fazer mais clipes. Só que aí a minha mente frita com o visual, sabe? Pra mim só a música, o som, não é o suficiente se não tiver acompanhado de uma substância a mais. E geralmente, pra mim isso é o visual. Eu escuto música e vejo as coisas.
TMDQA!: E como que o pessoal está captando essas mensagens todas do clipe? Você está feliz com o pessoal decifrando todos os segredos? Tem coisa que os fãs ainda não descobriram?
Day: Ah! Tem! Tem coisa que a galera não pegou. Tem gente que já pegou coisas que eu falei, “cara, achei que não iam pegar agora”. [risos] E tem outras que viajam mais do que eu, e eu acho isso muito legal. Então é bom que vira meio que um clubinho de estudo ali, sabe? Uma coisa que todo mundo conversa e até aprende junto. E eu aprendo com eles também, eles falam coisas muito legais, são pessoas criativas, mano. É muito divertido pra mim. E todas as referências que ainda não pegaram, tem coisas que eles estão com receio de falar. Tô achando interessante ver isso também. Então, eu tô aí, eu tô ansiosa pros próximos capítulos dessa dessa era e ver no que vai dar.
TMDQA!: Pra finalizar eu queria falar sobre os próximos capítulos. Você, nos últimos anos, trouxe vários elementos de várias coisas diferentes, mas não foi só isso, né, Day? Você teve experiências também. Você abriu o show de uma das artistas mais importantes em toda a sua vida. Eu lembro como você tinha me falado sobre a Avril na entrevista que a gente fez em 2021, e você tinha ressaltado a importância dela. Justamente por essa questão religiosa de você sair da igreja e ver uma mulher cantando. E aí, pouco tempo depois, veio a notícia de que você ia abrir o show dela. Lembro que eu fiquei muito feliz esse dia por lembrar claramente do papo que a gente teve. E de lá pra cá você tocou muito também, né? Você fez muito show e com banda! Você até citou o Peracetta — a tua banda é o dream team do emo, do pop rock alternativo brasileiro. Ia te perguntar sobre isso mais especificamente, mas aí fica à vontade pra falar sobre outras coisas. Mas o quanto dessa vivência de show vai impactar nessa nova fase? E o quanto a gente ouviu dessa nova fase nessa primeira música? Porque, às vezes, o artista lança a primeira música pra não assustar, lança uma primeira música que não tem muito a ver. O quanto essa música se relaciona com o resto e como esse gás todo que veio da estrada se traduz agora na nova era?
Day: Então, é isso aí, eu fico querendo deixar minhas músicas cada vez mais pesadas! [risos] É pro pessoal bater cabeça, quanto mais adrenalina, melhor. Menino, eu fui num show do Bring Me the Horizon e do Slipknot… e eu não parava de chorar no show do BMTH, até em música que eu não conhecia. Tudo por causa da galera… e olha que eu tenho pavor de roda punk, eu tenho pavor, tenho medo. [risos] Eu tenho ansiedade, até de ficar no meio da galera assim, me dá um pouco de fobia, crise de pânico. Só que aí eu estava vendo a galera fervorosa fazendo mosh pit, o Oliver cantando e aquela bateria sangrando, aquela guitarra torando… eu não parava de chorar. Até tem um vídeo no meu celular de eu sem parar de chorar, emocionada com aquela vibe, mano. Aquilo ali não existe não, mano. Aí depois sabe o que eu fiz? Eu assisti ao show do Bring Me de longe e me arrependi, eu devia ter ido pra galera. Aí depois eu fui assistir ao show do Slipknot da galera, e teve um mosh pit na minha frente.
TMDQA!: E eu acho que até mais brutal, muito mais.
Day: Só que eu fiquei impactada. Eu falei, “gente, eu cresci demonizando muito isso aqui”. Slipknot era anticristo. Na minha vida, né, e na da minha mãe. Só que aí eu me senti tão bem, e o discurso do cara era bom, era bonito, e a voz dele também. E aquele som… era muita energia, sabe? Eu me arrepiava, mano. Então ver os meus shows e esses shows de rock… isso aqui é uma parada que me faz querer deixar um pouco mais pesado. Então acho que não, as pessoas não viram. “Vermelho Farol” não dá pra absorver tudo que vai ter nessa nova era. Eu acho que “Vermelho Farol” é mais pra mostrar um ponto de que dá pra misturar tudo que eu já fiz. Essa é a Day. E a partir de agora a gente pode ir desmembrando isso. Então acho que é meio por aí.
E os shows me deixaram com muita maturidade. Inclusive, os shows que eu fiz me deixaram tranquila de certa forma até pra abrir o show da Avril, me deixaram confiante. Porque eu fiquei sabendo dois dias antes que eu ia abrir o show.
TMDQA!: [risos] Basicamente só isso!
Day: Só que eu falei assim, “mano, desde os 6 anos eu espero por esse show”. Eu nasci pra isso! E eu estava até sem voz. E é justamente a energia que eu sinto dentro do palco, o peso me faz querer deixar as coisas mais pesadas no estúdio. Então é isso, mas também não é só. Eu não consigo abrir mão do meu romantismo, da minha vulnerabilidade.
TMDQA!: E a ideia vai ser lançamento de singles, chegaremos a um disco, como é que vai ser?
Day: Quem sabe um disco, não sei… Deixa baixo. [risos] Mas eu quero trabalhar por enquanto chamando isso de era, é uma era. E aí a gente vai lançando coisas e a gente vê no que dá.
TMDQA!: Ah, muito bom, muito bom. Então, pessoal, já fica a dica aí para acompanhar a era de Day Limns! Eu acho que você resumiu muito bem.
Day: Amei nosso papo!
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