Música

Precisa mudar: pesquisa diz que 76% das mulheres na música já sofreram assédio

Nova pesquisa da União Brasileira de Compositores revela números preocupantes de assédio e discriminação contra mulheres na indústria da música. Saiba mais.

Mulher tocando violão
Foto Stock via Shutterstock

As mulheres vivem enfrentando desafios e situações desconfortáveis constantemente no mercado de trabalho e, dentro do setor musical, isso não é diferente.

A União Brasileira de Compositores (UBC) compartilhou uma edição complementar do relatório Por Elas Que Fazem a Música de 2023, apresentando uma nova pesquisa realizada com 256 autoras, cantoras, produtoras, intérpretes e profissionais da indústria musical do Brasil que revela o número preocupante de assédio e discriminação nesta área.

O resultado do levantamento, que ficou disponibilizado nas redes sociais da UBC entre os dias 16 e 29 de Março deste ano, mostra que 76% das participantes contaram que já sofreram algum tipo de assédio na indústria da música.

Além disso, a pesquisa aponta que 85% das mulheres afirmaram ter sofrido discriminação de gênero em algum momento de sua carreira. Um exemplo disso foi compartilhado por uma das participantes na pesquisa, Fabiana Bellentani Cabral de Oliveira:

De tantas discriminações que já sofri, a que mais me marcou e quase me fez desistir desse mercado foi quando, em uma live de um renomado produtor musical, que inclusive já trabalhou com os Racionais, eu me ofereci pra uma vaga de estágio e ele respondeu prontamente que estava procurando um estagiário, e não uma namorada. É assim que somos vistas.

Pesquisa sobre mulheres na indústria da música

Por ser uma pesquisa respondida por iniciativa própria, sem que tenham sido aplicados critérios científicos de representação geográfica, etária ou étnica na seleção das participantes, a UBC informa que os resultados devem ser lidos como um retrato desse universo específico: o das respondentes.

Mas a experiência empírica revela que, em muitos aspectos, os dados podem refletir, com mais ou menos precisão, a realidade do conjunto das mulheres no mercado musical brasileiro.

A maioria das participantes têm entre 31 e 40 anos (36%), seguidas de um número também expressivo de mulheres na faixa entre 41 e 50 anos (24%). As idosas foram minoria, representando apenas 2%, e nenhuma menor de idade respondeu à pesquisa.

Na análise, observa-se que a maior parte das respondentes é solteira (51%) e a grande maioria (63%) não tem filhos, o que gera uma reflexão sobre a dicotomia entre a dedicação à carreira ou formar uma família, que é frequentemente imposta às mulheres no mercado como um todo.

Vale ressaltar que quase todas as respostas vieram de mulheres cisgênero, sendo a maioria delas heterossexuais (65%), seguidas de bissexuais (21%) e homossexuais (10%). As mulheres transgênero representaram 2% das respostas, sendo 1,5% delas bissexuais e 0,5% heterossexuais.

Por Elas Que Fazem a Música

Apesar dos números preocupantes, o levantamento mostra um avanço relacionado à aceitação da diversidade de gênero. Um dos destaques nesse sentido é que, entre os 100 associados com maior rendimento vindo do exterior no último ano, 27 são mulheres — mais do que o dobro do registrado em 2021.

Através desta pesquisa e do relatório anual Por Elas Que Fazem a Música, a União Brasileira de Compositores tem como intuito ressaltar a necessidade urgente de equiparação de direitos, condições de trabalho e rendimentos entre homens e mulheres no mercado musical. Sobre a pesquisa, a cantora, autora e presidente da UBC Paula Lima declarou:

Os dados e os relatos mostram o quanto ainda estamos como mulheres, erroneamente, sendo vistas e tratadas. O relatório é mais um importante passo a ser dado rumo a um futuro mais justo para todas as mulheres do mercado. […] A UBC tem o compromisso e segue acreditando na inclusão, diversidade e principalmente no respeito entre todos, entre profissionais e no protagonismo feminino, em busca de equilíbrio e equidade.

Você pode conferir a edição de 2023 do relatório Por Elas Que Fazem a Música aqui e a nova pesquisa na íntegra aqui.