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TMDQA! Entrevista: Marina Sena exala autoconfiança e transcende o Pop Brasileiro com "Vício Inerente"

Sensação do Pop brasileiro atual, Marina Sena lançou seu segundo álbum, "Vício Inerente", e falou sobre influências e hate na internet.

TMDQA! entrevista Marina Sena, lançando Vício Inerente
Imagem: Divulgação

Por Rafael Teixeira e Nathália Pandeló

Se o álbum De Primeira (2021) serviu para apresentar ao Brasil o talento, o carisma e a sensualidade de uma jovem cantora, o novo disco de Marina Sena veio para consolidar a confiança da artista em seu próprio trabalho.

Depois de rodar os principais festivais nacionais e mundiais nos últimos dois anos, além de programas de TV e capas de revista, Marina lançou em 27 de abril o disco Vício Inerente, que já conta com hits como “Tudo Pra Amar Você”, “Olho no Gato” e “Dano Sarrada”.

O Tenho Mais Discos Que Amigos! bateu um papo exclusivo com a cantora, que destacou a importância do produtor Iuri Rio Branco para a mistura de sonoridades do álbum, que vai do Trap ao Pagode, passando pelo R&B, Reggaeton e até o Drill.

Mas para além dos palcos, dos streamings e da mídia tradicional, Marina Sena tem se destacado pelo enfrentamento direto com os “haters” na internet. Segundo ela, esse tema deixou de ser um monstro e se transformou num “bichinho indefeso” que pode ser pisado por ela.

Leia essa conversa na íntegra abaixo! Vale registrar que a cantora está fazendo os shows de estreia da turnê Vício Inerente nesta semana, nos dias 5 e 6 de maio, em São Paulo (Áudio) e no Rio de Janeiro (Vivo Rio), respectivamente.

TMDQA! Entrevista Marina Sena

Marina Sena Vício Inerente
Imagem: Divulgação

TMDQA!: Olá! Quero muito falar sobre esse novo momento que você está da carreira, não só lançando disco, mas também figurando todo dia nos ‘trending topics’ do Twitter [risos]. Quando você lançou o De Primeira, não era necessariamente uma estreante. Muita gente te tratou como iniciante, talvez pelo nome do disco, mas quem estava ligado na cena alternativa já conhecia a Outra Banda da Lua ou o Rosa Neon. Como foi pra você repensar do zero como você queria soar agora?

Marina Sena: Eu não consigo fazer um trabalho igual ao outro. Não sei o que acontece na minha cabeça que eu não consigo. A Outra Banda da Lua é completamente diferente do Rosa Neon, que é completamente diferente do De Primeira. E agora Vício Inerente também é. Acho que é uma necessidade que eu tenho de me reinventar. É quase uma necessidade fisiológica que eu me tire da zona de conforto para criar coisas novas. Quando fiz o De Primeira, estava pegando minhas músicas que eram voz e violão, que eu tinha o maior apego. Era uma coisa bem introspectiva pra mim. E aí essas músicas ficaram extremamente expansivas com a produção musical delas, muito modernas. A coisa do beat, por exemplo, que eu tava acostumando com o Rosa Neon. Eu lembro a primeira música que recebi produzida. Eu mandei todas as músicas voz e violão pro Iuri [Rio Branco, produtor] e ele me mandava cada dia uma produzida. A primeira foi ‘Seu Olhar’. Eu pensei ‘meu Deus, será que é isso mesmo, Senhor? Ao mesmo tempo em que eu estava gostando, eu ficava assim ‘será que eu não tô endoidando muito não?’.

TMDQA!: Talvez para provar pra você mesma que conseguia fazer algo diferente?

Marina: Sim. Não… Não sei! Eu tinha uma necessidade de fazer música daquele jeito, até por isso procurei Iuri para produzir. Eu sabia que ele ia levar para um lugar que era onde eu queria ir. Quando escutei as produções dele, eu falei ‘é isso’, é essa textura que eu quero pro meu trabalho. Agora com Vício Inerente, a proposta foi ir além nessa coisa da tecnologia, dos beats, uma linguagem bem direta. A gente ficava muito aqui dentro de casa juntos, apurando o trabalho, pensando ‘que som é esse?’, ‘que timbre é esse?’.

TMDQA!: Eu não me lembro dos créditos do De Primeira, mas nesse disco notei que em todas as faixas o Iuri tá assinando com você como compositor.

Marina: No De Primeira também, mesmo eu levando músicas na voz e violão, porque é a característica da produção musical do Iuri. Ela é tão incisiva que vira parte da composição. Entendendo que os riffs, os arranjos, tudo influencia para que a música tem o tamanho que tem. A pesquisa dele dentro da música eletrônica, todas as vertentes, do mundo inteiro. Ele é um estudioso da música. Desde Afrobeat, Funk, Drum’n’bass… e também tem muita musicalidade popular brasileira, já tocou bateria em banda que cantava só Jorge Ben. Eu acho que é um momento. Essa junção que não perde a brasilidade em momento algum, mas traz referências da música mundial. É uma coisa que a gente tem em comum.

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TMDQA!: Eu vou pegar esse gancho, porque estamos falando de um disco que tem Trap, Reggaeton, Drill, R&B, Trip-hop, Soul… e a lista continua. E você? Você é uma cantora mineira? Eu também sou mineira e eu sinto que existe uma expectativa do que é a música que vem de Minas Gerais, muito baseada no Clube da Esquina, por exemplo. Como foi para você se libertar disso, e do que já vinha fazendo antes com seus trabalhos anteriores, para construir uma sonoridade abertamente Pop e mineira?

Marina: A música mineira é Marco Ribas, é Grupo Raízes, Grupo Agreste… é uma outra história. É bem antagônico, são duas Minas Gerais: a do norte e a do sul. O som muda muito. O Clube da Esquina tem uma coisa muito sul de Minas, uma experiência do sul, você sente o cheiro do sul de Minas, a sensação de estar ali, lá no mato. Uma coisa bem Lavras, sabe? E aí tem a experiência do norte de Minas, que quando você escuta Marco Ribas, Grupo Raízes e Grupo Agreste, você se relaciona com essa parte de que eu amo, sou enlouquecida. Mas eu acho que o tempo é o agora, né? O Clube da Esquina estava conectado com o tempo deles, naquela época eles eram extremamente modernos. Até hoje eles são modernos, mas eles estavam captando a modernidade daquele tempo, super antenados, o Beto Guedes, o Lô Borges, o Toninho Horta… No meu entender, essa é a função de Minas Gerais. E eu também me sinto parte disso.

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TMDQA!: Quero falar rapidinho sobre o nome do disco, porque Vício Inerente, na cabeça de muita gente, é o filme do Paul Thomas Anderson (2014). E agora vai ser um disco da Marina Sena! Mas de onde veio esse título pra você?

Marina: Eu já assisti esse filme 500 milhões de vezes mesmo. Amo esse filme, e tem o livro também que eu quero ler. Mas é isso e não é isso, entendeu? Esse nome me inspirou, obviamente. Mas quando eu escuto o disco, acho que ele não poderia ter outro nome. Eu falo muito de jogo, dessa vaidade, da paixão. Eu estou jogando com você. Pode até parecer que eu estou perdendo em alguns momentos, mas eu tenho tanto controle dos meus sentimentos e da minha emoção que isso para mim é só um jogo. E aí eu trago essa perspectiva da paixão como um vício. E também porque eu acho que é um disco viciante, uma textura que você só encontra nele. A pessoa nem percebe quando ela viu, já está completamente viciada. Foi o que aconteceu comigo.

TMDQA!: Eu sinto que sem nem ouvir o disco, só dando uma olhada na tracklist, os nomes das músicas já entregam essa ousadia, uma autoconfiança. Você acha que isso vem de agora? Você está mais segura na sua própria voz como cantora, mas também como compositora. É da maturidade de ter tempo de estrada, tempo de palco mesmo?

Marina: Com certeza sou muito mais confiante hoje. Até porque se aprende a lidar com várias coisas. A maturidade também vai crescendo. Virar adulta de verdade. Não tem mais para onde correr, entendeu? Tem a fase da negação que você fala assim ‘eu sou adulta, mas que saco meu Deus, que saco! Vou encarar mas não aguento mais’. E tem outro momento que você aceita, adapta, acostuma, e se torna mais confiante. Acho que todo mundo passa por esse processo.

TMDQA!: Mas você meio que foi forçada a amadurecer muito rápido nos últimos dois anos, porque o De Primeira foi um furacão, te fez viralizar de um jeito inédito na sua carreira. Como anda a sua relação com a internet? Você é muito ativa nas redes e de vez em quando brotam uns ‘haters’, que você rebate ativamente. Inclusive teve um tweet que a galera comentou muito em que você reconhece que fazer música para você é fácil, que o seu disco está foda mesmo, que a sua caneta é afiada e tal. Até que ponto você consegue bater de frente com essa galera, ser uma mulher botando a cara a tapa na internet?

Marina: Eu gosto de responder porque eu sou assim. Eu sou essa pessoa. Às vezes eu vou lá e dou uma respondida. Também não é toda vez, mas de vez em quando acordo um pouco mais estressada, aí penso ‘deixa comigo, eu vou brigar’. Não estou nem aí, acho que isso é ser humano, reagir às coisas. Às vezes você tem que reagir e pronto. Mas também não é uma coisa que consome meus dias, não. Depois que eu falo, já fico tranquila, passou. Já mostrei o meu ponto. E também eu aprendi a lidar com essa coisa do ‘hate’, que antes parecia algo muito maior do que é. Parecia um monstro pra mim, e agora virou um bichinho pequenininho, indefeso, que eu posso pisar nele.

TMDQA!: E a pressão vem de todos os lados, né? Existe uma pressão para você repetir o sucesso do De Primeira nesse disco? Você disse recentemente que há pessoas que esperam você ‘flopar’ ou algo assim…

Marina: Fica parecendo que, quando um artista bomba muito no primeiro disco, o disco é muito bom, que ele não vai dar conta de sustentar isso. Só que, gente, quem fez o De Primeira, é óbvio que vai fazer uma coisa relevante no segundo disco. Tipo assim, De Primeira, sabe? Porra, respeita meu público, eu tenho experiência no que estou fazendo. Eu sou uma profissional. Essa é a minha vida, é o que você vê. Fala pra eu cozinhar alguma coisa… vai ser uma bosta, porque eu não sei cozinhar! Agora fala que eu fazer uma música vai ser bom, porque eu sei fazer isso. Essa é o meu talento, esse é o meu dom, pra isso que eu vim pro mundo. Então eu não gosto dessa desconfiança, entendeu? Tipo assim… Porra, gente, que viagem é essa. Claro que vai ser bom, como é que vai ser ruim, sabe? Tipo, não tem como. Eu sou boa nisso. Eu sei, eu sei fazer.