Entrevistas

“Quero criar como se minha vida dependesse disso”: Jason Mraz entrega as motivações de seu novo álbum pop em entrevista ao TMDQA!

Jason Mraz

Jason Mraz se entrega de corpo e alma na sua música – tanto que a mais famosa delas é “I’m Yours”.

Para muito além do sucesso que completa 15 anos em 2023, o músico americano mostra que sabe ser versátil. Após um disco que mergulhou e assumiu uma das suas maiores referências – o reggae -, ele volta com um álbum pop, o oitavo da carreira.

Mystical Magical Rhythmical Radical Ride chegará em junho via BMG, mas Jason já entregou muitas das motivações deste novo trabalho em uma entrevista exclusiva ao Tenho Mais Discos Que Amigos! que você confere abaixo.

Novo disco de Jason Mraz

O que começou como uma provocação de sua mãe, June, ao dizer que deveria fazer música pop “antes que fosse tarde demais”, Jason se reconectou com parceiros de longa data. O trio feminino Raining Jane segue ao seu lado; o percussionista cheio de carisma que é Toca Rivera está de volta, bem como o trio de metais The Grooveline Horns e até o produtor Martin Terefe (Coldplay, Train, Mike Posner) – com quem fez o icônico álbum We Sing. We Dance. We Steal Things – retorna ao posto.

O reencontro virou uma fagulha para pensar sobre antigos caminhos e novos desafios em uma trajetória já impressionante.

Conhecido por suas cações pop acústicas e letras que ficam entre o sentimental e o bom humor, ele lançou seu álbum de estreia, Waiting for My Rocket to Come, em 2002, que incluía o hit “The Remedy (I Won’t Worry)”. Desde então, Mraz entregou uma sequência de álbuns que culminou no mais recente, Look for the Good, de 2020 – na época do lançamento, ele também falou com o TMDQA!.

Ele ganhou dois prêmios Grammy e é conhecido por seu compromisso com causas sociais e ambientais, que replica no seu “Mranch”, um rancho onde planta suas maiores paixões – café e abacate – e colhe música, num estúdio que já viu muitas jam sessions.

Mas, diferente de Look for the Good, Mystical Magical Rhythmical Radical Ride não teve a mesma origem. O disco foi feito em Nova York, com um pouco de nostalgia, mas com olho no presente e em curtir o momento (dançando, claro – principalmente no single “I Feel Like Dancing”).

Sobre essa nova fase, Jason Mraz conversou com o Tenho Mais Discos Que Amigos! direto de seu Mranch, antecipando o que virá por aí em seu oitavo disco. Confira o papo abaixo, logo após o vídeo.

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TMDQA! Entrevista: Jason Mraz

TMDQA!: Olá Jason, muito obrigada pelo seu tempo. Quero colocar a conversa em dia, porque da última vez que conversamos, você estava “procurando o bem” [lançando o álbum “Looking For The Good”]. Então… você encontrou?

Jason Mraz: Sabe, é uma busca constante. É algo sobre o qual sempre vou escrever, que é o otimismo e tentar ver o lado bom do mundo, mesmo que a cada dia recebamos mais e mais notícias de sofrimento. Então, sim, continuo vendo o bem, continuo vendo esperança. Posso fazer isso apenas observando a natureza e o que a natureza faz. Esse é um ótimo lugar para começar, e também através da música. A arte em geral é uma forma que nós, como humanos, também podemos produzir flores e jardins com nossas palavras, com nossa música e com nossos instrumentos. Acho que a música é a nossa natureza. Então sou muito abençoado por ter essas experiências para poder escrever músicas que continuem a amplificar o bem.

TMDQA!: E temos sorte de ter você fazendo música. Isso me leva à minha próxima pergunta, eu acho, porque é empolgante que você esteja lançando novas canções. Quando apertei o play pela primeira vez no clipe de I Feel Like Dancing, fiquei muito feliz. Porque… deixe-me colocar desta forma: qualquer um que tenha visto você tocar com Toca Rivera ou com os Grooveline Horns, por exemplo, sabe a energia que vocês trocam no palco. Então, ver a velha gangue reunida parecia que você estava voltando para casa.

Jason: Ah, isso é ótimo!

TMDQA!: E eu acho que minha pergunta é: parece diferente agora do que quando vocês tocaram juntos pela primeira vez? Ou é como andar de bicicleta?

Jason: Sabe, na verdade, parece mais especial, porque já se passaram 20 anos. E houve muitas vezes ao longo dessa jornada em que nos separamos e saímos para fazer projetos diferentes. E toda vez que voltamos, é tipo, “uau, você acredita que ainda estamos fazendo isso?”. Isso nos faz sentir como se ainda fôssemos crianças, o que é incrível.

TMDQA!: E isso transparece na música, eu acho.

Jason: Sim, obrigado!

TMDQA!: E falando em reencontros, eu sei que nesse próximo disco você também se reencontra com Martin Terefe, que produziu We Sing, We Dance, We Steal Things. Você decidiu fazer um disco pop desta vez. Então, por que ele era o homem certo para o trabalho?

Jason: Este disco fluiu naturalmente. Quero dizer… eu estava trabalhando neste álbum há anos com Raining Jane, minhas colegas, e um dia, recebemos um telefonema de Martin, que estava ligando para saber como estávamos. E eu disse a ele o que estamos fazendo e como estávamos nos preparando para sair em turnê. Ele tinha acabado de abrir um estúdio na cidade de Nova York, e nossa turnê terminaria ali. Então, tivemos a ideia de que, quando a turnê terminasse, iríamos todos para o estúdio de Martin e veríamos o que acontecia. Não havia nem um acordo no início de que ele seria o produtor, mas apenas… aconteceu naturalmente, porque sua amizade e sua participação foram os ouvidos extras de que precisávamos para nos ajudar a nos impulsionar.

Ele é como um treinador. Sabe como é, nós sempre queremos acabar logo. E então o treinador diz, “não, não, não, vamos tentar de novo. Vamos fazer mais cinco vezes”, sabe? Então ele foi ótimo. A razão pela qual queremos fazer um álbum pop é que, como você sabe, meu último álbum foi de reggae. E estou empenhado em tentar fazer o que parece diferente, para mim, a cada vez. Mesmo que o conteúdo da música seja muito parecido com o que eu sempre fiz, há uma energia nela e até mesmo na equipe, trabalhar com as Raining Jane novamente e Martin. É uma nova colaboração. Então é isso que me interessa seguir em frente na minha vida, novas colaborações empolgantes e fazer música muito diferente da última coisa que fiz. Estou fazendo um álbum pop, o próximo pode ser acústico e muito diferente do que estou fazendo agora. Mas estou gostando do que estou criando nesse momento. Fui encorajado pela minha mãe a fazer um álbum pop. Ela disse que “é melhor você fazer um antes que seja tarde demais” (risos).

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TMDQA!: Sim, ela está certa! Mas falando do seu último álbum, acho que também foi uma celebração de alegria em um momento em que mais precisávamos. E este novo disco, sinto que está ainda mais colorido. É um… Passeio Mágico Rítmico Radical Místico, certo?

Jason: Sim!

TMDQA!: Onde essa jornada começou para você? E onde ela leva? Qual é o destino?

Jason: Há tantas jornadas diferentes, toda a experiência de vida, a vida na Terra, estar no universo. Quero dizer, você pode entrar na viagem a qualquer momento, para qualquer coisa em particular. Sempre que você vai começar um novo projeto, parece muito opressor. Tipo, “eu tenho que escalar aquela montanha”, ou se você está projetando um jardim e está trabalhando nele, pela primeira vez, parece muito opressor. Ou se você está escrevendo uma música, a página está em branco. É tipo, “uau, o que vou colocar nesta página?”. É muito impressionante.

TMDQA!: Mas aí você colhe abacates, né?

Jason: Sim, exatamente isso. Portanto, cada uma dessas analogias é sobre pegar essa carona, se deixar ir e ver aonde isso o leva. E assim é a jornada da vida. Há tantas versões diferentes da vida acontecendo o tempo todo, com diferentes relacionamentos que temos, relacionamentos que temos com nós mesmos e com o envelhecimento, o relacionamento com nossos dons, talentos ou interesses. Portanto, há muitos caminhos e é isso que penso neste álbum, são todas essas versões diferentes da vida e dos relacionamentos internos.

TMDQA!: Falando dessas novas músicas, nós ouvimos três até agora. Certo?

Jason: Três estão no mundo. Isso aí. 

TMDQA!: E, claro, são um convite à dança. Mas também as letras me lembraram muito do álbum Mr. A-Z. Elas são divertidas e caem no jogo de palavras, como você costuma fazer. Isso é algo que você faz intencionalmente? Ou é apenas um músculo que você exercita de vez em quando?

Jason: Sim, é o músculo que exercito de vez em quando. Quero me deliciar como cantor, quando chegar a um verso que saber que, “ooh, esse verso vai ser muito divertido de cantar” ou “eu quero tentar colocar uma mensagem realmente poderosa neste espaço aqui”. Então, sim, é como um jogo de palavras, resolvendo o quebra-cabeças. Quando comecei a tocar em cafeterias, mesmo antes do Mr. A-Z, eu assistia a todos esses cantores e compositores, era muito previsível. Eu sabia o que eles iriam fazer e dizer, então assumi o compromisso comigo mesmo de tentar nunca ser chato ou previsível. E então o que posso fazer com a letra para misturá-la ou mudar a cadência da letra ou a melodia? Para que nem sempre seja o que você esperaria. Ou está cheio de pequenas surpresinhas que você descobrirá em diferentes momentos, toda vez que ouvir.

TMDQA!: Sim, com certeza. E é tão divertido cantar junto ao vivo, né?

Jason: Sim!

TMDQA: Um desafio também, mas divertido. Agora, este é o álbum número oito para você. E como eu estava dizendo, dá vislumbres de onde você esteve antes, mas o que acha que está oferecendo aos fãs agora que é novo, que não mostrou antes?

Jason: (longa pausa) Hm hmm. É uma boa pergunta. Acho que a maior distinção é a idade. Eu acho que é a maior, se você ouvir o Mr A-Z, que foi há 20 anos, quase, é um garoto de 20 anos, e as lutas que um garoto de 20 anos tem, e a maioria delas é sobre namoro (risos). Mas aos 45, onde estou agora, sabe, é menos sobre isso. E é mais sobre a preciosidade do tempo e, e a seriedade dos nossos relacionamentos e um cuidado sério que ainda podemos dar a nós mesmos e aos nossos sonhos. Então eu acho que a única diferença é a idade. Porque tudo mais neste disco, eu tentei reviver as experiências da minha juventude no que diz respeito à minha ludicidade musical. Nisso, eu tentei permanecer muito jovem.

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TMDQA!: Sim, acho que você conseguiu. E por falar na passagem do tempo, tive a sensação de que havia muito disso neste novo álbum. E talvez seja uma maneira de olhar para trás em sua própria jornada conforme você envelhece, como você disse. Você se sente uma pessoa nostálgica? Você costuma revisitar o passado?

Jason: Bem, eu revisito porque os álbuns têm aniversários, ocasionalmente esses aniversários acontecem. E acabo voltando a uma fase. Mas na vida eu realmente não sou nostálgico. Às vezes, tenho dificuldade para lembrar o que fiz na semana passada. Porque prefiro ver o que é possível hoje e o que posso fazer amanhã. Porque não posso mudar o passado. A nostalgia pode trazer muita alegria, e então posso apenas relaxar com essa alegria e não farei nada hoje. Então é tipo, eu não quero descansar com meus sucessos. Eu quero criar, quase como se toda a minha vida dependesse disso, sabe?

TMDQA!: Falando em tentar coisas novas, e não apenas sentar sobre os louros, eu só queria saber: como está indo a patinação?

Jason: Está indo muito bem, obrigado por perguntar! Estou praticando muito. E porque você perguntou, vou te contar que vamos fazer um videoclipe de patinação semana que vem. Sim, esse momento chegou! 

TMDQA!: Uau! Isso por si só parece divertido.

Jason: É sim, estou animado.

TMDQA!: Você estava falando sobre às vezes pensar, “você acredita que ainda estamos fazendo isso 20 anos depois?”. Então você está vivendo o sonho, certo? O sonho que o pequeno Jason teve.

Jason: Isso mesmo.

TMDQA!: É tudo o que você esperava? Quero dizer, se ele pudesse te ver agora, ele ficaria orgulhoso?

Jason: Sim, foi muito além. Está além de qualquer coisa que eu jamais imaginei. Eu me mudei para o outro lado do país quando tinha 21 anos. Eu só tinha um carro cheio de coisas e não conhecia ninguém, não sabia o que ia fazer. Continuo residindo aqui agora e estou sentado em um estúdio no meu quintal. Às vezes, como eu disse, não lembro o que fiz na semana passada. Então não consigo acreditar que juntei tudo isso nas últimas duas décadas, começando com basicamente nada e é simplesmente alucinante. Então vivo em constante gratidão e humildade, para que eu possa continuar cumprindo isso e fazendo o tipo de arte que me trouxe a esse nível, continuar a fazer arte de qualidade. Sim, mas ainda não consigo acreditar. Definitivamente.

TMDQA!: Eu sei que temos que terminar, só tenho uma última pergunta. Vi que São Paulo é a cidade que mais ouve sua música no mundo.

Jason: Uau!

TMDQA!: Sim! Então, o que você acha que faz sua música ressoar tanto com os brasileiros? Sabe, é difícil acompanhar as letras. Então deve ter alguma coisa aí!

Jason: Eu não sei. Eu não sei o que é. Se eu soubesse faria mais (risos). Sim, é um fenômeno.

TMDQA!: Esse é o lance da música, certo?

Jason: Sim, transcende fronteiras. Transcende a linguagem. O que eu espero é que os ouvintes e o público brasileiro vejam que sou apenas um garoto de uma cidade pequena que teve a sorte de seguir seu coração. Isso pode estar entrelaçado na música brasileira, e pode haver alguma conexão aí.

TMDQA!: Sim, acho que faz sentido. Espero que seu coração o leve ao Rio na próxima turnê.

Jason: Sim, dedos cruzados. Eu adoraria isso.

TMDQA!: Nós também! Eu sei que tenho que deixar você ir. Muito obrigado pelo seu tempo, Jason.

Jason: Obrigado. Tchau tchau!