Money Man, rapper de destaque na cena do hip hop de Atlanta, lançou recentemente seu novo trabalho, Red Eye. O álbum reflete a dualidade entre o real e o artificial, inspirada pela experiência de Money Man de ter perdido um olho na infância e usar uma prótese ocular – daí o título. O novo disco ainda apresenta colaborações com Babyface Ray, Peezy e Juney Knotzz.
Sem se esquivar da vulnerabilidade da sua condição de visão, Money Man estampa a capa do álbum com um olhar sangrento, antecipando as rimas afiadas que povoam o trabalho.
Mas para além das trocas de farpas comuns ao meio do hip hop, ele se destaca como um homem de negócios que conseguiu transformar a vivência no crime em uma oportunidade para crescer como rapper, utilizando criptomoedas. Tanto que, neste disco, ele segue criativo na forma de lidar com a grana.
Money Man adotou uma abordagem inovadora ao oferecer aos fãs a oportunidade de adquirir parte dos royalties de uma das faixas do álbum, “Drums”, em uma plataforma chamada Nebula, que utiliza blockchain.
Red Eye: novo passo na carreira de Money Man
O rapper iniciou sua carreira musical no início dos anos 2010, ganhando destaque principalmente como um artista independente. Logo começou a ganhar reconhecimento com o lançamento de várias mixtapes de sucesso, entre elas Black Circle (2015) e Secret Society (2016), que o ajudaram a construir uma base de fãs sólida.
No entanto, foi com o lançamento da mixtape 2.0 em 2016 que ele realmente chamou a atenção da cena musical.
Money Man é conhecido por seu estilo lírico e sua habilidade em contar histórias autênticas sobre a vida nas ruas, a riqueza e os desafios que enfrentou. Suas letras muitas vezes refletem sua experiência pessoal e são embaladas com autenticidade, transmitindo uma sensação real de sua vida e trajetória.
Um artista de visão
O que diferencia Money Man da cena musical emergente de Atlanta é sua abordagem independente. Enquanto muitos artistas de rap da região assinaram contratos com grandes gravadoras ou colaboraram com outros artistas populares, ele optou por permanecer independente e lançar sua música por conta própria.
Essa independência permite a Money Man ter um controle criativo completo sobre sua música e sua carreira. Ele pode lançar músicas quando quiser, escolher as colaborações que faz e manter uma conexão direta com seus fãs, sem a intervenção de gravadoras.
Aliás, Money Man se destacou ao se libertar de um contrato de gravadora utilizando investimentos em criptomoedas.
Ele tomou a decisão devido à sua crença no potencial das criptomoedas e no controle financeiro que elas proporcionam. Posteriormente, fez história ao receber pagamentos da Empire, sua gravadora atual, em Bitcoin. Essa transação inovadora demonstrou a disposição do artista em explorar novas tecnologias e se adaptar ao cenário em constante evolução da indústria musical. Sua abordagem pioneira e independente destacou sua posição como um artista visionário e empreendedor.
Além disso, Money Man é conhecido por sua consistência na produção de música. Ele tem uma taxa de lançamento de projetos impressionante, disponibilizando várias mixtapes e álbuns todos os anos, mantendo-se ativo e relevante na cena musical.
Sua habilidade lírica, autenticidade e independência são fatores que diferenciam Money Man dos artistas emergentes de Atlanta. Essas características ajudaram a construir uma base de fãs leais e a solidificar seu lugar na indústria da música, estabelecendo-o como um dos artistas mais interessantes e respeitados da região.
Com Red Eye, ele busca expandir sua influência para além da Georgia. Confira abaixo nosso papo exclusivo com o artista!
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TMDQA! Entrevista: Money Man
TMDQA!: Olá! Como você está?
Money Man: Oi, estou bem.
TMDQA!: Devo te chamar de Money Man?
Money Man: Apenas Money!
TMDQA!: Apenas Money! Onde você está no mundo hoje, Money?
Money Man: Estou no Texas.
TMDQA!: Legal. Acabei de ouvir novamente o novo álbum, parabéns. Notei que você é muito prolífico, está sempre lançando música. Quando você sabe que é hora de começar um novo capítulo, como um novo projeto, um novo álbum? E como você sabe quando é hora de soltar e lançar?
Money Man: Ah, o universo meio que me diz, é como um estalo, me atinge. E eu começo a ter letras na minha cabeça para começar a rimar sobre minhas experiências de vida.
TMDQA!: Você ficou famoso por se livrar de um contrato musical usando seus investimentos em criptomoedas, e depois ficou conhecido por receber pagamento em Bitcoin pela Empire, o que é muito legal. O que o fez recorrer às criptomoedas? Queria saber se você acha que os artistas precisam ser mais inteligentes quando se trata de dinheiro para se destacarem no negócio.
Money Man: O que me interessou nas criptomoedas é que os criminosos estavam usando, e naquela época eu estava envolvido nesse tipo de coisa. Porque as criptomoedas eram só para criminosos naquela época. Não era para pessoas comuns. Se você estivesse fazendo algo na dark web, você estava envolvido com criptomoedas. E eu tinha curiosidade sobre a dark web, vamos dizer assim (risos), então eu investi em criptomoedas e, de repente, se tornou algo mainstream, então eu me adaptei a isso. E Ghazi (Sami, fundador da gravadora Empire) queria me pagar em Bitcoin. Isso foi ideia do Ghazi, e boom! Então fizemos em Bitcoin, o que não me importei em receber, porque, você sabe, estou acostumado com criptomoedas. Quanto aos artistas serem espertos, quero dizer, como ser humano, se você está ganhando dinheiro, precisa estar atento ao seu dinheiro e saber sobre dinheiro. Isso é algo que todo mundo deveria saber. Você entende o que estou dizendo?
TMDQA!: Sim, isso se aplica a todos nós.
Money Man: Sim, então você entende o que estou dizendo.
TMDQA!: Claro! Mas você ainda é independente até hoje, certo?
Money Man: Sim, mas estou com a Empire. Eles são como meus distribuidores e somos parceiros, sim.
TMDQA!: Mas você é dono das suas músicas, certo?
Money Man: Sim, sim. Algumas músicas eu sou dono, algumas músicas nós somos donos, no caso eu e a Empire, porque somos parceiros em tudo.
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TMDQA!: Ah, sim. Mas por que é importante para você permanecer independente?
Money Man: Bem, as grandes gravadoras são conhecidas por terem contratos ruins. Quero dizer, são reclamações constantes dos artistas. Se você olhar as contas, há um problema. Você entende o que estou dizendo? Eu simplesmente acredito que, como negócio, você precisa ser justo. Você não deveria apenas explorar os artistas, deixe os artistas ganharem dinheiro. Não fique com 90% do que os artistas ganham. Isso é simplesmente ridículo.
TMDQA!: Você estava dizendo que algumas músicas você é dono, a Empire é dona de algumas, mas também tem músicas em que seus fãs têm um pouco de propriedade, certo? Você deu aos fãs a chance de comprar parte dos direitos autorais de “Drums”, se não me engano.
Money Man: Sim, então vendemos algumas ações de “Drums” para os fãs, para que eles possam se beneficiar da música por um longo tempo, 10, 20 anos, seja qual for a taxa de royalties para que eles possam se beneficiar. Se eu fosse um fã comum e um dos meus artistas favoritos lançasse uma música, boom, eu tenho $1.000? Então vamos investir. Vou ganhar muito mais no futuro.
TMDQA!: É meio que uma nova forma de moeda para os artistas, certo? Você acha que essa é talvez a maneira de avançar para capacitar artistas independentes, pensar em estratégias assim?
Money Man: Quero dizer, estou apenas usando o bom senso. Se eu fosse o artista e estivesse fazendo sucesso, e minha base de fãs tivesse a chance de investir nessa música… Digamos que eu possa arrecadar $50.000 de investidores, eu uso esses $50.000 para fazer a divulgação É uma situação vantajosa para todos.
TMDQA!: Sim, com certeza. Mas você é de Atlanta, não é? Quero dizer, você cresceu lá.
Money Man: Sim, eu cresci em Decatur. É como 15 minutos de Atlanta. Você tem o lado leste e o lado oeste. Eu sou do lado leste, é minha área. Tem gente como Gucci Mane, 21 Savage que são de lá. Sabe?
TMDQA!: Sim, legal! Até pessoas como eu, aqui no Brasil, têm uma ideia de como é a cena de rap em Atlanta, principalmente com base na série “Atlanta”, que temos na Netflix! Há talvez algum equívoco, ou algo que as pessoas ainda não saibam sobre a vida na cidade que você gostaria que as pessoas entendessem de uma vez por todas?
Money Man: Não, acho que as pessoas veem o que está acontecendo. Em todos os lugares do mundo, sinto que é mais ou menos a mesma coisa. Você tem os ricos e os pobres. A única diferença é a classe média. Mas, você sabe, lugares diferentes, mesma coisa.
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TMDQA!: Falando do novo álbum, eu estava assistindo ao videoclipe de “Contributions”. E pode-se dizer que está na categoria ostentação, no sentido de mostrar com orgulho todas as joias e todo o ouro que a música lhe deu, certo?
Money Man: Sim, você pode dizer isso, mas é algo normal. É assim que eu vivo, você apenas traz uma câmera e estou sentado no banheiro, na pia. E você pode ver no carro, você sabe, é assim que eu vivo. Eu não estava tentando fazer um vídeo chamativo, é apenas assim, sabe?
TMDQA!: Eu acredito! Antes de você entrar na chamada, eu estava dizendo como estava mal vestida para conversar com você!
Money Man: (risos)
TMDQA!: O que quero dizer é que não é apenas estilo, certo? É poder. É uma afirmação. Você diria que, sendo Money Man, é importante para mostrar sua posição, o quão longe você chegou nesse sentido?
Money Man: Eu sinto que você não deve apenas tentar mostrar isso. Você só precisa ter tudo. Sabe o que quero dizer? Você apenas precisa existir dessa maneira. Você não pode ficar tentando jogar isso na cara das pessoas, vou apenas fazer o meu, não preciso me gabar disso. Você só precisa mostrar. Deixe o dinheiro falar.
TMDQA!: E ele fala! Uma música do álbum que realmente se destaca para mim é “Ain’t Your Friend”. E é basicamente uma música sobre não confiar em todos, mas sinto que a indústria da música e especialmente a indústria do hip hop podem ser implacáveis. E você é esse cara que pratica boxe e tem seu campo de tiro, talvez você não seja a pessoa mais acessível, algumas pessoas poderiam dizer que é difícil se aproximar de você! Como você sabe quando é hora de baixar a guarda e deixar as pessoas entrarem?
Money Man: Sabe, não faz sentido deixar as pessoas entrarem, forme seu círculo. Você precisa fazer conexões e conhecer pessoas, claro. Mas, pra além disso, assim como para tudo na vida, você não deve confiar nas pessoas. Quer dizer, você precisa estar sintonizado consigo mesmo. Você pode ler a energia das pessoas. As pessoas tendem a mostrar suas intenções claramente. Então, você consegue perceber, se estiver sintonizado com sua própria energia, quem é bom para você, certo? Eu sou um bom juiz. Eu consigo julgar o caráter das pessoas muito bem.
TMDQA!: E você precisa confiar em sua intuição, certo?
Money Man: Exatamente. Sim.
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TMDQA!: Eu percebi que você realmente curte a cultura da maconha. E aqui no Brasil ainda é muito tradicional nesse sentido. Até conseguir medicamentos que usam canabidiol é uma questão. Como você vê esse assunto avançando quando você viaja pelo mundo e até mesmo pelos Estados Unidos?
Money Man: A maconha é legal no Brasil?
TMDQA!: Não. Se legalizar, acho que vai demorar um tempo.
Money Man: Mas eles te colocam na prisão por isso?
TMDQA!: Basicamente, sim.
Money Man: Veja, ainda fazem isso aqui em alguns lugares, mas em outros lugares é 100% legal. Se alguém quiser fumar maconha, deixe-os fumar maconha. Eu não vejo qual é o problema. Eu sinto que é apenas uma maneira para a polícia ganhar dinheiro prendendo pessoas por fumar maconha. É um negócio. A meu ver, é um negócio, a polícia diz que é ilegal, vamos dizer que é ilegal para manter as pessoas empregadas, para prender as pessoas e fazê-las pagarem advogados. Quero dizer, é assim que eles ganham dinheiro.
TMDQA!: Faz sentido. Então, muito obrigado pelo seu tempo, e esperamos vê-lo aqui no Brasil.
Money Man: Obrigado!