Velozes e Furiosos 10 (Fast X) chega aos cinemas com uma mistura de elementos que despertam diferentes reações no público.
Com suas muitas “camadas”, o décimo filme da franquia apresenta momentos bons, outros péssimos e alguns que levantam questionamentos para nunca os responder. No entanto, como já é costume na saga, é preciso ignorar certos aspectos e se deixar envolver pela trama para desfrutar da experiência.
A história acompanha Dominic Toretto (Vin Diesel) mais uma vez em perigo enquanto luta para proteger sua família. Desta vez, o risco é criado por Dante (Jason Momoa), o filho de um antigo rival que persegue o protagonista em busca de vingança. A diferença é que agora Dom tem um filho já grandinho, o alvo perfeito para vilões atacarem os mocinhos em filmes como esse.
O roteiro força uma conexão direta com o quinto filme da franquia, já que Dante é filho de Hernan Reyes, um dos antagonistas daquela história. No entanto, em vez de corrigir o que havia de pior lá atrás, Vin Diesel e o diretor Louis Leterrier repetem a mesma fórmula, às vezes até potencializando os defeitos mais aparentes – especialmente a associação dos elementos culturais latinos, como o reggaeton e o próprio idioma espanhol, ao Brasil.
A brasileira Ludmilla tem uma participação mínima, assim como o funk que ela ajudou a consolidar internacionalmente. É frustrante, para dizer o mínimo.
Para além da cultura dos países pelos quais os personagens viajam, outro aspecto muito ruim é a indecisão quanto ao tom escolhido para o filme. Parte do elenco lida de forma muito descontraída frente às ameaças, enquanto outra leva muito a sério as missões designadas e as consequências trágicas dos erros cometidos.
É o exemplo dos núcleos de Roman, Tej e Ramsey (Tyrese Gibson, Ludacris e Nathalie Emmanuel), completamente desconectado dos acontecimentos principais e cheio de piadinhas, e o de Letty (Michelle Rodriguez), que é extremamente sério e supostamente urgente.
O maior contraste, porém, fica entre Toretto e Dante. Enquanto Vin Diesel falha miseravelmente ao tentar imprimir seriedade e emoção nas relações com o filho e com a sua “família”, Jason Momoa brilha ao não levar absolutamente nada a sério, atuar de forma caricata e entender o quanto a franquia já abraçou a galhofa em detrimento da sobriedade.
A falta de unidade entre os setores do filme é tamanha que há núcleos que poderiam ser facilmente removidos que não fariam nenhuma diferença no final. A montagem caótica é claramente prejudicada pela necessidade de mostrar cada uma das estrelas hollywoodianas do elenco e, principalmente, pela inevitabilidade de conectar a obra com uma continuação.
O principal inimigo de Velozes e Furiosos 10, assim, é o próprio caráter de franquia. A narrativa se torna desconexa, não há sentido em vários movimentos dos personagens e tudo isso para incluir elementos que só serão aproveitados em filmes futuros. O único aspecto que parece realmente atrativo para o décimo primeiro título é o retorno de Jason Momoa, já que seu arco simplesmente não teve um desfecho.
Se forem ignoradas todas essas características ruins, um conselho que não faz o menor sentido, sobram cenas de ação que são verdadeiramente divertidas. Mantendo sempre em mente que não existem leis da física no universo de Velozes e Furiosos, as perseguições e corridas são bem legais. Um pouco mais contidas do que o padrão estabelecido pelos lançamentos anteriores, mas ainda empolgantes.
Velozes e Furiosos 10 é, dessa forma, mais um começo do fim da franquia. Uma saideira que você sabe que o garçom não vai trazer apenas mais uma dose. Tomara que seja a melhor garrafa da casa, então, e que não fique aquele gostinho de arrependimento no final.