Lançamentos

C6 Fest faz primeira edição impecável e conquista público alternativo com novo formato de festival

Entre apostas e lendas, o C6 Fest acertou em cheio na sua primeira edição e fez por merecer a conquista de um espaço único no circuito brasileiro.

C6 Fest em São Paulo
Fotos por Stephanie Hahne/TMDQA!

No último final de semana, a cidade de São Paulo foi tomada por uma onda de música alternativa em um formato diferente do que costumamos ver. Estamos falando do C6 Fest, que teve sua primeira edição realizada quase que simultaneamente no Rio de Janeiro e na capital paulista recentemente.

Apostando em um nicho alternativo que muitas vezes é esquecido no circuito de shows por aqui, o C6 Fest se estabeleceu com um dos melhores festivais do ano ao trazer diversas bandas e artistas para suas primeiras apresentações no país. Não é exagero, aliás, dizer que vários dos nomes presentes estavam entre aqueles que os fãs praticamente se conformavam de nunca ver ao vivo.

Além disso, é claro, o evento trouxe grandes nomes da música brasileira e internacional e fez história, seja por meio de apresentações marcantes ou performances exclusivas, pensadas pela curadoria do festival com todo o cuidado e recheadas de convidados especiais.

Estrutura do C6 Fest

Pra começo de conversa, o C6 Fest acertou em cheio ao apostar no Parque Ibirapuera como seu local de realização. Nem o frio que toma conta de SP foi capaz de fazer essa escolha parecer errada, já que o amplo espaço facilitava o acesso a todas as áreas e tornava a experiência de cada show bastante agradável, mesmo nos mais disputados.

Vale ressaltar, também, o modelo adotado pelo evento: com quatro palcos diferentes, os ingressos foram vendidos separadamente para cada espaço.

Pegando o domingo (21) como exemplo, a Arena Externa MetLife apostou em grandes atrações ligadas à MPB, enquanto a Tenda Heineken trouxe alguns dos maiores representantes da nova geração do Rock Alternativo e o Auditório Ibirapuera ofereceu uma programação sensacional de Jazz. Por fim, quem queria dançar pôde visitar o palco Pacubra/Tokyo para curtir a noite.

Continua após a foto

Tenda Heineken no C6 Fest, em São Paulo. Foto por Stephanie Hahne/TMDQA!

Dessa forma, a diversidade de público foi bem perceptível. Na sexta-feira (19), por exemplo, era possível ver muitos idosos em direção ao Auditório Ibirapuera para acompanhar o Tributo a Zuza Homem de Mello enquanto, ao mesmo tempo, um público bastante jovem tomava conta da Tenda Heineken para shows de nomes como Arlo ParksChristine and the Queens.

Continua após o vídeo

Na Arena Externa MetLife, C6 Fest recebeu lendas da música

O line-up do C6 Fest foi claramente pensado com muito cuidado. Como falamos acima, estiveram presentes atrações estreantes no país e, ao mesmo tempo, algumas que já são consideradas lendas e não passavam por aqui há anos — caso do Kraftwerk, que teve possivelmente o show mais lotado do festival.

O quarteto alemão se apresentou no sábado (20) como parte de uma programação da Arena Externa que reuniu pioneiros da música eletrônica; além deles, Juan Atkins esteve presente com seu Model 500 e o duo Underworld foi quem fechou a noite.

Continua após o vídeo

Sem atrações na sexta-feira, o espaço voltou a ser utilizado no domingo e foi aberto com uma homenagem ao ano de 1973 comandada por Juçara Marçal Kiko Dinucci, que reuniram diversos convidados especialíssimos como Arnaldo AntunesLinn da Quebrada para cantar sucessos de Secos & MolhadosGilberto GilRita Lee e até Caetano Veloso, que foi responsável por fechar o palco depois do especialíssimo show de Tim Bernardes cantando Gal Costa.

Continua após o vídeo

Tenda Heineken trouxe grandes nomes contemporâneos e estreantes

Do outro lado dessa aposta está a Tenda Heineken, que recebeu em sua grande maioria artistas que estavam estreando no Brasil. Logo na sexta-feira, o primeiro show foi da ótima Xênia França, que abriu espaço para britânicos do Dry Cleaning e seu Rock experimental.

Depois, Arlo Parks Christine and the Queens fizeram shows maravilhosos que mereciam mais público — aliás, o festival como um todo passou esse sentimento, já que parece ter passado despercebido por uma parte do público que certamente se impressionaria com a estrutura ímpar e, mesmo que não conhecesse as atrações, sairia com ótimos novos artistas em seu repertório musical.

Continua após o vídeo

Nesse sentido, o sábado (20) trouxe uma sequência de shows absolutamente sensacional focada na música africana e suas derivações. Começando com o camaronês Blick Bassy, o C6 Fest recebeu um show especial de Russo Passapusso (BaianaSystem) acompanhado pela Nômade Orquestra e com participações de BNegão Kaê Guajajara antes de promover a estreia do músico tuaregue Mdou Moctar, que foi a grande surpresa do evento para quem não o conhecia.

Fechando esta noite, o festival ainda trouxe o incrível Jon Batiste, que entregou um dos shows mais enérgicos do ano e mostrou por que é tão aclamado por público e crítica mundialmente, além de ter deixado evidente seu respeito pela cultura brasileira com uma participação mais do que especial de Lia de Itamaracá.

Continua após o vídeo

Por fim, no domingo (21), a Tenda Heineken trouxe três grupos estreantes que representam a diversidade sonora do Rock Alternativo atual. O experimental sexteto britânico Black Country, New Road abriu os trabalhos com músicas cantadas a plenos pulmões pela plateia, enquanto Weyes Blood emocionou os presentes e o The War on Drugs fez seu aguardadíssimo show para encerrar uma experiência inesquecível.

Continua após o vídeo

No Auditório Ibirapuera, C6 Fest deu espaço para a nova geração do Jazz

Com um público bem diferente e existindo quase como uma extensão do festival em si, o Auditório Ibirapuera foi um dos espaços mais disputados do C6 Fest e uma aposta certeira da curadoria. Apesar de ter iniciado sua programação reverenciando Zuza Homem de Mello em um tributo comandado pela Orquestra Ouro Negro, o evento mostrou que o Jazz pode, sim, ser Pop.

Para se ter uma ideia, os dois artistas mais velhos a completarem a escalação do Auditório foram Tigran Hamasyan, que se apresentou com seu Trio, e Julian Lage — ambos têm apenas 35 anos de idade. Não à toa, o espaço estava repleto de pessoas mais jovens, em especial quando comparado a outros eventos de Jazz, principalmente no domingo (21).

Isso em grande parte por conta da presença de Samara Joy, que ficou conhecida no Brasil como a artista que venceu Anitta no prêmio de Revelação do Ano do Grammy 2023. Fazendo jus ao título, Samara entregou performances impecáveis tanto em São Paulo como no Rio de Janeiro e, como você pode ver abaixo, até homenageou a música brasileira.

Continua após o vídeo

Mas o mérito não é apenas de Samara. Na sexta (19), Nubya Garcia foi uma atração que atraiu os mais novos, talvez em grande parte por conta de sua popular apresentação no programa Tiny Desk; no domingo (21), DOMi & JD Beck e a banda The Comet Is Coming também mostraram que conversam com uma audiência diversa e garantem o futuro do Jazz, ressignificado para e por uma nova geração.

Continua após o vídeo

Primeira edição do C6 Fest

O saldo da primeira edição do C6 Fest é bastante positivo e deixa a esperança de um retorno com mais público em anos futuros para que seja possível a manutenção de um evento que chega para ocupar um nicho carente no circuito brasileiro.

Como já falamos acima, vários dos artistas que se apresentaram no festival estavam provavelmente entre aqueles cujos fãs trabalhavam em se conformar com a constante ausência em line-ups de outros eventos.

Não bastasse dar espaço para estes nomes, o C6 Fest ainda acertou em cheio com sua estrutura. Apesar do modelo de ingressos exclusivos para cada palco ter causado certa confusão, o que é compreensível visto que se trata de algo novo por aqui, a customização oferece um sentimento de controle sobre a própria experiência — o fã de música não é obrigado a assistir às atrações que não gosta, como em um festival maior.

Além disso, a separação dos palcos por gêneros praticamente garantia uma experiência positiva para os fãs de quem se apresentava. Dificilmente um fã de Weyes Blood não iria curtir o show do Black Country, New Road, por exemplo, e o contrário também é válido.

Fica a nossa torcida para que o C6 Fest volte em 2024 e receba mais atenção do público, porque a edição de 2023 definitivamente fez por merecer. Abaixo, você confere fotos para ver um pouco de como foram os três dias de festival em São Paulo!

C6 Fest em São Paulo – galeria de fotos