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"Necessidade visceral": Djavan fala ao TMDQA! sobre longevidade da carreira na música e nova turnê do ótimo disco "D"

Lenda da música brasileira, Djavan conversa com o TMDQA! sobre inspirações para continuar criando e revela detalhes de sua atual turnê "D". Leia!

TMDQA! Entrevista: Djavan aponta motivo para continuar na estrada e revela detalhes da turnê "D"
Divulgação

Se tem algo que motiva Djavan a continuar rodando não só o Brasil, mas o mundo, com sua música é o público.

Segundo o próprio mestre da música brasileira, que completou 74 anos em Janeiro, esse público é cada vez mais diverso de todas as maneiras possíveis, seja em relação à raça, à religião, à classe social ou à faixa etária.

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Em conversa com o TMDQA! depois de ter retornado da perna norte-americana de sua nova turnê D, o músico apontou que a diversidade das pessoas que acompanham seus shows é causada justamente pela diversidade de sua música, e isso é algo que ele percebe desde o início da carreira.

Além disso, Djavan — que esgotou ingressos para seus shows dos dias 19 e 20 de Maio em São Paulo e dos dias 26 a 28 no Rio de Janeiro — explicou que os fãs são o principal motivo para que ele continue se apresentando:

A gente sabe que vai ter sempre alguém esperando. Não há motivação maior do que essa e eu fico feliz de saber que os shows esgotam rapidamente, que onde a gente vai as pessoas estão esperando.

No papo, o cantor, compositor e produtor também falou sobre sua rotina para encarar a maratona de shows e revelou o maior desafio da preparação da turnê que recebeu o título do seu disco mais recente, que já foi assunto de uma entrevista de Djavan com o TMDQA! no ano passado.

O lendário músico ainda comentou sobre a importância da cultura para a formação da sociedade e deixou uma mensagem especial para a icônica e saudosa Rita Lee, que faleceu no dia 8 de Maio e com quem ele não teve a oportunidade de encontrar pessoalmente.

Confira abaixo a entrevista na íntegra e clique aqui para ver a agenda completa da turnê D!

TMDQA! Entrevista Djavan

TMDQA!: Você acabou de voltar da parte norte-americana de sua turnê “D”, em que as casas estavam lotadas e que provocou relatos emocionantes nas redes sociais sobre as performances. Como foi essa temporada pelos Estados Unidos? E, para você, qual é a principal diferença entre as apresentações de lá e as que são realizadas no Brasil?

Djavan: Olha, o que eu poderia acentuar quanto a isso é que já não há muita diferença de públicos no mundo a partir da internet, né? A internet aproximou todos os públicos de todos os artistas, não tem muito isso agora. Agora, por exemplo, os brasileiros que vivem fora do Brasil estão ávidos, com saudade, querendo ouvir aquelas canções com as quais eles criaram histórias muito importantes em suas vidas.

Isso faz com que a expectativa aumente e os shows sejam, assim, muito cobertos por uma atmosfera de muita tensão e muita alegria. Mas é aquela coisa: você tem público, o público é diverso em todos os lugares. Você chega nos Estados Unidos, por exemplo, e vê que na platéia você tem latinos, americanos, europeus, brasileiros, japoneses, chineses, tem todo mundo ali. Porque, como eu disse antes, a internet aproximou o Brasil do mundo e vice-versa.

TMDQA!: Falando sobre os shows no Brasil, eu não posso deixar de te perguntar sobre a estreia da turnê que aconteceu com uma apresentação super especial em Maceió, em que você reuniu cerca de 30 mil pessoas. O que a cidade representa para você e como aquele dia mais te marcou?

Djavan: Então, a ideia de abrir a turnê ali em Maceió era exatamente dar um presente e receber um presente da minha cidade. Maceió é importantíssima na minha formação. Foi ali que eu comecei a formatar a base da minha carreira, a base da minha música, né? Ali foi onde eu aprendi quase tudo que depois eu desenvolvi aqui no Rio de Janeiro, mas eu aprendi quase tudo ali.

E eu queria fazer esse espetáculo ali, levando para Maceió uma estrutura que não é muito usual dos shows apresentados ali para adquirir aquele axé, digamos assim, positivo para iniciar essa turnê que até agora tem se mostrado um grande êxito onde a gente vai.

TMDQA!: Com quase 50 anos de carreira, você continua criando novas músicas, trabalhando em novos arranjos para seus shows. De onde surgem novas inspirações?

Djavan: Bom, ainda não tenho cinquenta, vai chegar daqui a pouco! Mas a inspiração, ela advém da necessidade de fazer, não é? Eu costumo dizer que a inspiração é parte de um processo que demanda esforço, esforço físico, imaginativo, etc. Mas eu não creio que tenha data para isso, tenha prazo de validade. Eu acho que o que manda na inspiração é a vontade de fazer.

E eu tenho uma coisa comigo que eu sei que me ajuda muito: periodicamente, eu tenho uma necessidade visceral de mostrar novas palavras, novas melodias, novas harmonias. Eu tenho que fazer, senão eu morro! Eu tenho que tirar aquilo de dentro. Então, eu não tenho muito problema. A prova disso é que a minha produção é constante. Desde que eu comecei, até hoje, eu faço sempre.

Eu não tenho esse medo porque tem muita gente que fala, “Ah, com o tempo você vai perdendo, você não quer mais saber”. Pode ser que isso venha acontecer comigo, mas até agora não. Até agora a minha vontade é a mesma e na minha intuição eu acho que eu vou fazer sempre.

TMDQA!: Com certeza. E sempre inovando também como a gente consegue ver nos seus materiais, nas suas músicas. É incrível.

Djavan: Obrigado.

TMDQA!: Qual você considera que foi o maior desafio durante a preparação da turnê “D”?

Djavan: Olha, o maior desafio é sempre o mesmo, é a feitura do roteiro. É a feitura do repertório do show. Porque uma carreira longa tem muitos hits, né? Como é o meu caso, como você sabe. E você acomodá-los… não pode ser todos, porque aí seria um show só de hits e ainda sobrariam hits. Por que não pode ser? Porque você tem que mostrar músicas novas, tem que mostrar algumas músicas que não são tão conhecidas, embora sejam conhecidas, os famosos lado B.

E isso é muito difícil, porque quando você faz um repertório o seu foco é que o show, que pra mim representa a interação entre palco e plateia, é preciso que o público esteja ligado no que está acontecendo no palco desde o momento que começa até a hora que termina. E pra isso é preciso que o roteiro facilite essa apreensão do olhar do público, e aí você tem que observar. É por isso que um roteiro só fica pronto depois do quarto, quinto show. Você vai mudando no início até a coisa ficar realmente tranquila do começo ao fim.

TMDQA!: Sim, entendendo como foi a relação e a resposta do público naquele momento, né?

Djavan: Exato.

TMDQA!: Djavan, você vai fazer mais de 56 shows ao longo dessa turnê. Qual é a sua rotina para encarar essa maratona?

Djavan: Bom, é uma rotina difícil. Porque você não pode adoecer, pra começar. Você tem que ter uma saúde, você tem que ter uma vigilância total com relação à sua saúde. Porque você cantar durante duas horas e dançar, como é o meu caso, não é fácil. E se você tiver algum problema de saúde você não consegue.

Então, eu tenho que fazer exercícios, eu tenho que cuidar da alimentação, eu tenho que cuidar do sono, porque dormir bem é fundamental. Eu tenho a facilidade de não tomar droga e não beber álcool. É muito raro eu tomar uma taça de vinho, por exemplo. Isso facilita um pouco nessa busca por uma saúde compatível com a agenda tão cheia como a minha. Mas, como o show é a prioridade, o trabalho é a prioridade, você acaba conseguindo.

TMDQA!: Nesta última semana você realizou dois shows em São Paulo e no próximo final de semana você tem três shows marcados no Rio de Janeiro, e todos eles estão esgotados! Depois de tantos anos na estrada, qual é a sensação que ainda desperta em você ao ver tantas pessoas acompanhando suas performances?

Djavan: Eu acho que esse é o motivo principal da gente fazer sempre: porque a gente sabe que vai ter sempre alguém esperando. Não há motivação maior do que essa e eu fico feliz de saber que os shows esgotam rapidamente, que onde a gente vai as pessoas estão esperando. Essa é a paga mais importante para uma carreira.

TMDQA!: Muitas pessoas jovens acompanham seu trabalho também, seja porque conheceram suas músicas através da influência dos pais, da sua presença em festivais ou até por conta da repercussão de suas obras nas redes sociais. Como é para você ver um público mais jovem assistindo aos seus shows? E ao que você atribui essa diversidade na plateia de suas apresentações?

Djavan: Então, eu estava falando disso antes, a diversidade do público vem da diversidade da música. Porque como a minha música sempre foi tão diversa, e isso vem desde o início, desde o início eu observo que há uma diversidade de raça, de religião, classe social, de faixa etária. Desde o início a gente vê jovens, muito jovenzinho, doze anos, treze, quinze e pessoas de sessenta, oitenta, cinquenta, quarenta. Isso é uma alegria, porque você sabe que é um público inteiro que está ligado no que você faz, né?!

TMDQA!: Com o Ministério da Cultura restabelecido, como você vê a importância do apoio do governo à cultura e o papel da ministra Margareth Menezes, que é um ícone do AfroPop e do Axé, nesse processo?

Djavan: Olha, eu torço por ela porque a gente sabe que é uma gerência muito difícil você administrar um ministério da cultura num país continental como o Brasil, né? A cultura é um segmento importantíssimo para a formação de uma sociedade. Você precisa levar cultura, que é educação — cultura é saber, cultura é evolução, cultura é crescimento. Quem não sabe disso está ferrado, está por fora.

A cultura sempre foi e sempre vai ser para qualquer povo do mundo, para qualquer país, um dos lados mais importantes da administração. Eu acho que o trabalho da Margareth é um trabalho que não é fácil, mas eu torço pra que ela consiga desempenhá-lo bem e torço pela cultura do Brasil.

TMDQA!: Pra gente encerrar, há uma semana a música se despediu da lendária Rita Lee e você até compartilhou uma homenagem em suas redes sociais. Qual é a lembrança da Rita que mais te marcou em algum encontro de vocês e de que forma ela mais te influenciou ao longo desses anos?

Djavan: Olha, eu vou te dizer, eu nunca vi a Rita pessoalmente! A gente nunca esteve pessoalmente. Nunca, nunca, nunca. É óbvio, eu conheço a Rita pela história dela, sempre foi uma mulher marcante na vida brasileira, na cultura, na vida social. Ela sempre contribuiu muito, abriu muitas portas, tanto através da atuação política que ela teve quanto na cultura mesmo, na música, né? Foi uma perda irreparável, não é?

A gente sofreu muito com isso, acompanhou todo o calvário, digamos assim, o sofrimento dela nessa busca pela cura da doença e tudo e realmente foi uma coisa muito sofrida. E eu quero daqui mandar todos os votos de felicidades e, onde ela estiver, que ela seja sempre uma mulher tão importante, tão feliz como ela foi aqui.

TMDQA!: Djavan, muito obrigada pelo tempo, que a turnê continue fazendo muito sucesso.

Djavan: Obrigada querida, até a próxima.

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