Música

Advogado entra com pedido para cancelar shows de Roger Waters no Brasil

Envolvido em uma polêmica por suposta incitação ao ódio, Roger Waters tem shows marcados no Brasil e advogado pediu o cancelamento das apresentações.

Roger Waters (Pink Floyd) tocando violão
Foto de Roger Waters via Shutterstock

Em meio às polêmicas com sua turnê recente, Roger Waters está sendo alvo de um pedido judicial no Brasil para que seus shows marcados para o país ainda em 2023 sejam cancelados.

A carta foi enviada pelo advogado Ary Bergher, vice-presidente da Confederação Israelita do Brasil (CONIB) e presidente do Instituto Memorial do Holocausto, diretamente ao Ministro da Justiça, Flávio Dino. Nela, Bergher pede para que Waters não tenha sua entrada no país permitida e justifica dizendo que o músico “há mais de décadas pratica condutas e faz declarações nitidamente antissemitas”.

Ainda na mensagem, segundo O Globo, Ary Bergher destaca alguns episódios que vão além da confusão recente, em que um trecho da apresentação de The Wall no qual Waters interpreta um fascista foi tirado de seu contexto crítico e entendido como um ato antissemita. Ele ressalta:

  • Um episódio em 2010 onde Roger Waters usou a Estrela de David no telão de um show em Nova York para representar uma bomba;
  • Um artigo de opinião contra Israel publicado em 2011;
  • Uma fala de 2013 em que o músico disse que “o lobby judeu é extraordinariamente poderoso”;
  • E uma “menção negativa às técnicas israelenses” em 2020.

Caso Dino entenda que não é possível impedir a entrada de Roger Waters no Brasil, o advogado ainda pede para que ele seja monitorado durante suas performances pelas polícias Federal e Civil, de modo a proibi-lo sob pena de prisão se fizer uso do figurino que causou polêmica recentemente.

Roger Waters e Israel

Como te contamos por aqui, Roger Waters se defendeu prontamente das acusações de antissemitismo quando elas surgiram.

O ex-Pink Floyd apontou que tratava-se de uma atitude de “má-fé” daqueles que discordam de suas visões políticas, muito provavelmente se referindo aos posicionamentos pró-Palestina que o músico adota.

Inclusive, no show que gerou toda a polêmica, Roger fez uma forte manifestação neste sentido durante o momento em que destaca vítimas de intolerância política, equiparando os nomes de Anne Frank e Shireen Abu Akleh, jornalista de origem palestina que foi morta por forças israelenses enquanto cobria a zona de conflito.

Desde então, ele já foi repudiado até mesmo por herdeiros de Anne Frank, além de ter provocado episódios como este que acontece aqui no Brasil. Vale ressaltar, no entanto, que o espetáculo The Wall é justamente pensado como uma crítica a regimes autoritários, incluindo o nazismo, e o tão polêmico figurino é utilizado há décadas como parte do show.

Gene Simmons (KISS) defende Roger Waters

É importante ressaltar que nem toda a comunidade judaica tem feito críticas aos posicionamentos de Roger Waters, entendendo que o músico levanta pontos importantes em suas provocações e deixando claro que é importante não eximir o governo israelense de reclamações mesmo que você seja judeu.

É o caso de Gene Simmons, baixista do KISS e judeu. À Talk TV (via Blabbermouth), ele disse discordar de Waters em alguns pontos, mas o defendeu das acusações de antissemitismo:

Há algo a ser dito no sentido de deixar as suas crenças políticas e afins fora do palco. A escolha dele é usar o palco como plataforma para dar seguimento ao seu ponto de vista. Há uma diferença entre uma afirmação política sobre Israel e antissemitismo. Por sinal, antissemitismo também envolve árabes; a definição de um semita inclui o mundo árabe.

Eu acho que ele é um cara bem-intencionado. Eu não concordo com seu ponto de vista, é claro… eu acho que ele está, no meu ponto de vista, inflamado, com raiva da situação política — como todos estamos.

O ponto de vista em questão é, muito provavelmente, o fato de Roger estar associado a entidades que defendem boicotes completos ao Estado de Israel, tanto culturais quanto econômicos e outros no meio do caminho, até que a situação da Palestina seja resolvida. Simmons, então, ofereceu também a sua maneira de enxergar a situação:

A melhor forma de ter uma discussão ou mesmo uma briga é encontrar um lugar comum. E aí entrar nas divergências entre o que se pensa. Então o que nós podemos concordar — e eu sou israelense E judeu, minha mãe esteve em um campo de concentração da Alemanha nazista e por aí vai, e eu não estou dizendo isso pra chamar atenção — é que absolutamente deveria existir um estado árabe, a Palestina. Não há dúvidas disso. Deveria existir lado a lado com Israel. Deveria haver um livre fluxo de informações e comércio e tudo mais. Ok, não existe agora. Vamos trabalhar juntos para tentar fazer isso acontecer. Então, qual o problema?

Assim como ele, diversas outras pessoas têm usado as redes sociais para reconhecer a importância dos pontos levados por Roger e discordam completamente da vontade de parte da comunidade de proibir seus shows e suas manifestações. Resta saber de que lado a justiça brasileira estará.

Turnê de Roger Waters pelo Brasil

A polêmica turnê This Is Not a Drill, ao menos a princípio, desembarca no Brasil no final de 2023 para shows em seis capitais diferentes.

O giro começa no dia 24 de Outubro em Brasília e passa por Rio de Janeiro (28/10), Porto Alegre (01/11), Curitiba (04/11), Belo Horizonte (08/11) e São Paulo (11/11 e 12/11). Ainda há ingressos disponíveis para todas as cidades por este link.