TMDQA! Entrevista: Billy Corgan fala sobre ascensão do Smashing Pumpkins com a nova geração, influência do Metal e o novo disco "ATUM"

Em conversa exclusiva com o TMDQA!, Billy Corgan falou sobre a nova fase do Smashing Pumpkins, a conexão da banda com a nova geração e muito mais.

Smashing Pumpkins em 2022
Foto por Paul Elledge

Nos últimos tempos, o Smashing Pumpkins tem sido assunto de novo depois de um tempo afastado das principais manchetes. Isso tem acontecido por dois motivos principais, e um deles é, naturalmente, o disco ATUM: A Rock Opera in Three Acts.

Lançado em três partes, como o nome diz, o trabalho finalmente foi disponibilizado na íntegra recentemente traz os Pumpkins em sua faceta mais pesada da carreira, sem perder aquela delicadeza tradicional e a conexão espiritual que Billy Corgan foi capaz de construir com seus fãs como poucos outros frontmen na história.

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O outro motivo para o retorno midiático dos Pumpkins, entretanto, é surpreendente. Como te falamos aqui, a banda caiu no gosto da nova geração e chegou até a ter faixas virais no TikTok recentemente, se tornando uma das preferidas dos jovens alternativos e fazendo sucesso em colégios (!) dos Estados Unidos.

Tudo isso e muito mais foi assunto de um papo mais do que especial que o TMDQA! teve a oportunidade de bater com Billy Corgan, que você confere na íntegra logo abaixo!

TMDQA! Entrevista Billy Corgan (The Smashing Pumpkins)

TMDQA!: Oi, Billy! Que prazer estar conversando contigo. Sou fã há muito tempo e é um sonho realizado. Queria começar já falando de uma certa curiosidade que está relacionada ao disco ATUM, porque ele tem 33 faixas e foi dividido em três atos. Esse número parece bem presente na sua vida! Tem a faixa “Thirty-Three” no Mellon Collie, é o nome do seu podcast… tem algum significado pra você, ou passou a ter por conta disso tudo?

Billy Corgan: Olá! Olha, é só uma diversão. Quando eu fiz “Thirty-Three”, e até “1979” também no Mellon Collie, eu fiquei surpreso com quantas pessoas queriam me perguntar sobre o significado desses títulos. Me parecia um pouco curioso, sei lá, são só números. Poderiam ter sido números diferentes, sabe? Então as pessoas ficavam nessa de, “O que isso significa?” e eu sempre dizia, “Ah, sabe, Jesus morreu com 33 anos, e um disco gira em 33 e 1/3 rotações por minuto, e acho que até o George Harrison teve um disco chamado Thirty Three & 1/3…“. Então era meio que uma piada interna.

Sabe, com os Pumpkins, nas nossas músicas, sempre acontecem várias piadas internas envolvendo muitas coisas, até nós mesmos. É engraçado quando as pessoas percebem isso, mas é mais engraçado ainda quando isso vira uma coisa totalmente superdimensionada, como se virasse um feitiço ou algo assim. Eu estava só brincando com tudo isso.

TMDQA!: Eu adoro isso de vocês não se levarem tão a sério assim! Falando em questão de sonoridade, ATUM é um disco que mostra que vocês conseguem seguir em tantas direções diferentes. O que me chama atenção aqui é que ele soa muito pesado em vários momentos, mais do que o normal; me lembra o Machina, de certa forma. Músicas como “Beguiled” e “Beyond the Vale” têm essas guitarras fortíssimas, e eu fiquei pensando se você se conectou mais com o seu lado metaleiro para esse álbum ou se é algo que sempre esteve presente nas composições e só não percebemos antes.

Billy: Não, eu acho que isso é algo razoável de se dizer, sim! Eu acho que os artifícios dessas músicas me permitiram meio que olhar pra trás de um jeito que eu normalmente não faço, porque eu estava lidando com o passado do personagem. Então, ao lidar com o passado do personagem, eu tive que meio que lidar com a linguagem musical do personagem também.

Eu acho que a banda prefere tocar coisas mais pesadas, mas sinto que a cultura alternativa, em particular nos últimos 15 anos, se movimentou para uma direção muito distante desse estilo de Rock. Se você for pra Los Angeles e escutar rádios de música alternativa, eles não tocam nada assim a não ser os Pumpkins ou, sei lá, coisas antigas dos Pumpkins ou coisas antigas do Alice in Chains. Sabe o que quero dizer?

Então, é um pouco difícil às vezes de estar por trás, musicalmente falando, de algo que você ama mas sente medo de que a maioria das pessoas não vai apoiar. E olha, se você pensar nos últimos 15 anos, o Jack White tem sido uma influência muito maior do que o Grunge.

TMDQA!: Faz sentido. Dito tudo isso, surgiram muitas notícias sobre os Pumpkins estarem lançando a “continuação de Mellon Collie“. Quem pega o novo disco para ouvir por conta disso pode se surpreender bastante. Isso foi algo que você levou em conta no processo de composição? Você chegou a considerar voltar e pegar algo da sonoridade do Mellon Collie para esse disco?

Billy: Nunca passou pela minha cabeça. Não tem nenhuma forma de recriar as circunstâncias do passado. Mesmo se você tenta, simplesmente não tem jeito.

Uma coisa que eu gostaria de pontuar é que os Pumpkins conseguem tocar todo esse estilo antigo muito bem. Nós poderíamos fazer novas músicas que soam como o Siamese Dream, poderíamos fazer novas músicas ao estilo Mellon Collie. Essa não é a questão. A questão é que é difícil gerar o entusiasmo interno porque não passa a sensação de estar revelando nada.

É como se fosse alguém repetindo a mesmsa história pela 50ª vez; vai perder o significado. [assobios] Eu tenho um gatinho à solta, por isso estou assobiando. [risos]

TMDQA!: Sem problemas! [risos] Mesmo com esse novo disco, vocês deram o nome de The World Is a Vampire para a nova turnê, obviamente uma referência ao passado. No setlist, rolam clássicos e até covers, como de “Under the Milky Way”, do The Church. Me parece uma espécie de celebração, de certa forma, de todo esse movimento em que vocês surgiram. Como tem sido essa turnê? Tem rolado um sentimento de reencontro depois desses anos difíceis?

Billy: Olha, não sei… não exatamente, sabe. A sensação é de que… eu não quero dizer que é “só mais um passo”, mas é só mais um passo, sabe? [risos] Mesmo quando os tempos são difíceis, você aprende algo, ou você vê algo ou sente algo que você não sentiria se não estivesse passando por aquilo. Então, acho que o difícil aqui é… sabe, é fácil apontar e falar, “Ah, o Siamese foi esse disco brilhante, mas muita gente gosta mais do Machina“.

TMDQA!: Eu sou um desses. [risos] “The Everlasting Gaze” é sem dúvidas minha preferida de vocês.

Billy: Bom, Deus te abençoe. [risos] O que estou dizendo é que é difícil ficar preso nessa narrativa do que as pessoas acham que a banda é. A banda se reuniu com o James [Iha, guitarrista] por… acho que já são mais de cinco anos. Então, agora, as coisas estão muito boas. As pessoas estão muito interessadas no que estamos fazendo, e nas novas músicas, e estamos fazendo shows grandes. Mas os últimos cinco anos como um todo têm sido muito bons, sabe? Então, [essa turnê] parece apenas uma continuação das coisas boas.

TMDQA!: E é ótimo que seja isso, né. Billy, eu achei curioso que ontem mesmo eu vi um Tweet falando sobre como os jovens do ensino médio têm ouvido muito bandas como os Pumpkins e os Deftones, entre outras dessa época, até algumas mais pesadas tipo Slipknot. O que significa pra você conseguir se conectar com essa nova geração? Você tem visto essas pessoas nos shows?

Billy: Sim, com certeza! Nos últimos dois anos, principalmente, temos visto muito, muito mais gente jovem nos nossos shows. O que é surpreendente, sabe? Mas de um jeito muito positivo, porque isso significa que a mensagem da banda está conversando com uma nova geração. E aí, claro, você começa a pensar: “Por que agora essas pessoas jovens estão, de repente, vindo até nós?”.

E eu acho que, da mesma forma que acontecia com muitas das bandas que me atraíam, que em muitos casos já haviam acabado quando eu as descobria, você encontra algo na mensagem que você só consegue encontrar por se tratar de um artista do passado, porque eles representam um tipo diferente de liberdade ou independência que está praticamente extinto.

Então, se você olha para este tipo de liberdade que os Pumpkins representam enquanto uma banda de estúdio, uma banda ao vivo… é algo muito novo para pessoas jovens que cresceram nessa geração basicamente consumindo apenas música pós-Disney.

TMDQA!: [risos] Adorei essa definição, é muito certeira. Há algum tempo, eu tive a oportunidade de bater um papo com o incrível Butch Vig, e ele me disse algo sobre vocês que foi certeiro demais. Pra ele, e pra mim também, vocês são praticamente a única banda que consegue soar “enorme mas delicada” ao mesmo tempo, e isso é verdade inclusive neste novo disco, com músicas como “The Culling”. Essa definição faz sentido pra você? Você sabe explicar como isso acontece?

Billy: Primeiramente, eu amo, amo o que você está dizendo. Então, obrigado.

Eu acho que a gente — e sinto que estou falando em meu nome e no do Jimmy [Chamberlin, baterista] porque, sabe, nós somos os arquitetos primários das dinâmicas da banda — está procurando uma forma de expressar o que sentimos emocionalmente sobre a vida em termos espirituais. Então, quando tocamos algo pesado, sim, é claro, nós gostamos de tocar coisas pesadas. Mas o nosso objetivo em tocar algo pesado é resumir a experiência da vida de uma maneira física, que se impõe.

Quando tocamos de forma delicada, bom, aí você está entrando nos momentos sublimes da vida, sabe? Seu filho subindo no seu colo enquanto você está jantando e dizendo, “Papai, eu te amo”. Como você expressa a dimensão e profundidade da experiência da vida? A brutalidade, a crueldade, a beleza, tudo ao mesmo tempo? Como você resume isso? A gente sempre tentou fazer isso, emocionalmente.

TMDQA!: Sensacional. E, como eu disse, sinto que vocês são muito únicos em conseguir fazer isso. Bom, já falamos um pouco do Siamese Dream, mas queria destacar que ele completa 30 anos em 2023. E, em 2025, são 30 anos de Mellon Collie. A banda tem planos para esses aniversários?

Billy: Estamos pensando nesses aniversários, sim, e pensando em fazer algo. A gente só não chegou a nada concreto ainda. Mas, sim, estamos definitivamente pensando em fazer algo.

TMDQA!: Talvez uma turnê, passando pelo Brasil…

Billy: Confie em mim, a gente quer ir pro Brasil. Se você soubesse da história por trás das nossas tentativas de ir à América do Sul nos últimos anos… é um artigo de revista completo. Mas a gente quer ir, principalmente desde que o James voltou, a gente tem ficado de olho nessas oportunidades com mutia atenção. E temos ficado bem frustrados, particularmente com essa tentativa de voltar à América do Sul.

TMDQA!: Você pode falar sobre essas questões? Ou é algo que não tem como mesmo?

Billy: É muito ligado à coisa de negócios, sabe? O que eu sempre digo aos fãs é uma coisa só: é uma equação de duas partes. Uma, é claro, é a vontade da banda de ir, que está por aqui há cinco anos. A outra é as pessoas decidirem te trazer.

TMDQA!: Entendo. Tive a sorte de estar no último show por aqui, no Lollapalooza, e não vejo a hora de poder vê-los novamente! Espero que voltem logo.

Billy: Muito obrigado!

TMDQA!: Billy, muito obrigado pelo seu tempo. Olha, eu prometi pra mim mesmo que não ia falar isso, mas não vou aguentar: você sabia que ATUM, o nome do novo disco, significa ‘tuna’ (atum, em inglês) em português? [risos]

Billy: [risos] Sabe, é uma sina que eu carrego. Quando eu estava com o Zwan, a banda que tive com o Jimmy em 2003, a gente descobriu que Zwan é um tipo de spam [um enlatado que mistura presunto e carne de porco e é usado como gíria para pênis] no Japão ou na Europa, algo assim. Então, é isso. Somos spam e somos atum. [risos]

TMDQA!: [risos] Maravilhoso. Billy, muito obrigado pelo seu tempo. Foi realmente um prazer e uma honra bater esse papo com você. Até a próxima!

Billy: Obrigado! Até mais.