Falar de Beatles é falar da maior banda de todos os tempos.
Apesar de forte, a afirmação acima não chega nem a ser polêmica. O quarteto britânico construiu uma posição praticamente incontestável com seu legado histórico, que literalmente mudou a forma como percebemos a música e expandiu horizontes como ninguém nunca havia feito antes.
Sua curta trajetória de lançamentos enquanto banda, que não durou nem 10 anos, é até hoje uma das mais importantes do mundo e tem detalhes descobertos com frequência devido ao enorme cuidado com as composições, que começaram simples e diretas e aos poucos foram se tornando cada vez mais revolucionárias.
Inspirados pela notícia de que os Beatles terão uma “última música” lançada no futuro próximo graças à tecnologia de Inteligência Artificial, nós aqui do TMDQA! separamos um ranking dos álbuns de John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr, usando como base os trabalhos incluídos no box set de 2009.
Confira como ficou a seleção a seguir e comente conosco no Instagram e Twitter!
Yellow Submarine (1969)
A primeira escolha é virtualmente óbvia. Não é segredo para ninguém que os Beatles só fizeram Yellow Submarine, tanto o disco quanto o filme, por obrigações contratuais. Isso não significa que o disco tenha sido mal feito, mas definitivamente retira um pouco da magia que o quarteto conseguia fazer transparecer em todos seus outros trabalhos.
Ainda assim, rendeu dois sucessos enormes com a faixa-título e “All You Need Is Love”, e uma das músicas mais subestimadas da carreira da banda em “Hey Bulldog”. Um testamento de como essa banda era incrível até mesmo em seu pior momento!
With the Beatles (1963)
Entender o contexto para o lançamento de With the Beatles é importante. Na época, era prática comum que as bandas disponibilizassem mais de um disco por ano, e o trabalho em questão cumpriu esse papel no ano de 1963.
Mesmo com isso, a obra conseguiu trazer alguns sucessos inesquecíveis como “All My Loving” e “I Wanna Be Your Man”, além de “Don’t Bother Me”, primeira composição de George Harrison que foi gravada. A questão é que With the Beatles foi “mais do mesmo”, já que a banda mal teve espaço para desenvolver sua sonoridade no curto espaço de tempo.
Ainda foram incluídas seis covers, como no antecessor, mas aqui elas já não se destacaram tanto. O que não significa, claro, que versões para clássicos como “Please Mr. Postman” e “Roll Over Beethoven” não tenham sido eternizadas neste catálogo dos Beatles.
Beatles for Sale (1964)
Apesar de ter algumas músicas bastante queridas pelos fãs, como a sincerona “I’m a Loser”, a deliciosa “Eight Days a Week” e a maravilhosa “Words of Love”, Beatles for Sale é um disco que ainda representa os passos iniciais da carreira da banda.
Não há nada de errado nisso: dentro de sua proposta, o álbum de 1964 é muito provavelmente o mais bem trabalhado do quarteto. No entanto, ele sofre do mesmo mal que With the Beatles, que é o fato de ser um disco que soa um pouco limitado dentro de uma discografia tão completa.
Magical Mystery Tour (1967)
Para efeitos dessa lista, a versão de Magical Mystery Tour que está sendo considerada é a norte-americana, lançada em LP contendo as músicas da trilha sonora do filme de mesmo nome e alguns singles.
Só por este último fator, MMT já se destaca e muito em relação a Yellow Submarine. Faixas sensacionais como “Penny Lane” e “Strawberry Fields Forever” foram incluídas aqui, e se somaram a uma seleção de seis músicas que, apesar de experimentais e muitas vezes um pouco confusas, se tornaram bastante queridas.
Entre elas, o maior hit foi “I Am the Walrus”, mas é difícil esquecer de “The Fool on the Hill” e da própria faixa-título, que trouxe um pouco mais de peso à psicodelia dos Beatles.
Please Please Me (1963)
A estreia dos Beatles está longe de ser espetacular. Ao mesmo tempo, não é à toa que Please Please Me lançou a banda ao estrelato logo de cara, já que o quarteto de Liverpool mostrou desde o começo uma sintonia não apenas nas suas canções originais mas também nas versões que fez.
Tanto é que alguns dos maiores sucessos do álbum de estreia, como “Twist and Shout”, são justamente covers. Mas as composições próprias chamaram ainda mais atenção, com faixas como “I Saw Her Standing There”, “Love Me Do” e “P.S. I Love You” se tornando sucessos absolutos e transformando a banda na nova cara do Rock and Roll.
Vale destacar, também, que já em seu primeiro álbum os Beatles tiveram todos os seus membros como vocalistas. Além de Lennon e McCartney, que aparecem na maioria das músicas, Harrison cumpriu o papel em “Chains” e “Do You Want to Know a Secret”, enquanto Starr nos agraciou com seus divertidos vocais em “Boys”, um dos pontos altos do disco por sua pegada tão descontraída e honesta.
Let It Be (1970)
Talvez o disco que mais divide a opinião de fãs até hoje, Let It Be tem sucessos incontestáveis. Não há como discutir a importância e o legado de faixas como a homônima ou “Get Back”, que chegou até a dar nome ao documentário recente dirigido por Peter Jackson.
Apesar disso, Let It Be é o resultado de uma banda em crise, caindo aos pedaços. Por isso, apostou mais em sinceridade e crueza do que em uma pegada Pop que pudesse conquistar todas as massas ou no experimentalismo que os elevou ao status de revolucionários — e a verdade é que não há nada de errado nisso.
Depois de tantos anos com músicas pensadas nos mínimos detalhes, chega a ser refrescante ouvir faixas como “I’ve Got a Feeling” e “Dig a Pony”, e é difícil não se emocionar com “The Long and Winding Road” ou “Across the Universe”.
A Hard Day’s Night (1964)
O primeiro filme dos Beatles foi lançado no auge da Beatlemania e é claro que isso foi um fator determinante para o seu sucesso. Dito isso, A Hard Day’s Night foi o complemento perfeito para o longa de mesmo nome e foi onde a banda começou a trazer de verdade as suas experimentações.
Tudo começa na faixa-título, com o seu acorde “indecifrável” até os dias de hoje. Dali pra frente, A Hard Day’s Night repete a dose de tudo que a banda havia feito até então e incorpora novos elementos que vão dando uma cara diferente ao som do quarteto, como em “If I Fell” e “Any Time at All”.
Ainda assim, os sucessos ficaram realmente por contas das canções mais tradicionais, por assim dizer: “I Should Have Known Better”, “And I Love Her” e “Can’t Buy Me Love”.
Help! (1965)
Dando sequência à sua fase trilhas sonoras, os Beatles acertaram em cheio com Help!. Aqui, a banda novamente dava sinais bem interessantes de suas experimentações, introduzindo por exemplo um riff super marcante no hit “Ticket to Ride” e explorando elementos bem distintos do que havia feito antes em “I’ve Just Seen a Face” e “You’ve Got to Hide Your Love Away”.
Por outro lado, o quarteto resgatou suas origens com uma versão de “Dizzy Miss Lizzy” e viu Ringo Starr brilhar em “Act Naturally”, novamente uma das mais divertidas e honestas gravações da banda. A faixa-título, claro, também se destacou por remeter bastante ao som que já havia tornado os Beatles conhecidos.
Pra fechar com chave de ouro, “Yesterday” era uma prova de que o grupo estava cada vez mais à vontade e íntimo de seus ouvintes, o que resultou em um hit astronômico.
Rubber Soul (1965)
Primeiro grande passo dos Beatles em direção à sonoridade que marcou o final de sua carreira, Rubber Soul seria a obra prima de inúmeras bandas por aí. Como se trata de uma das maiores da história, o álbum de 1965 ainda soa como um protótipo do que viria a ser o auge do quarteto.
Dito isso, estamos falando de um disco absolutamente fantástico. A abertura com “Drive My Car” era o ápice do Rock and Roll naquele momento, enquanto “Norwegian Wood (This Bird Has Flown)” era uma das coisas mais diferentes que a música ocidental tinha a oferecer naquela época.
“Nowhere Man” é uma das músicas mais subestimadas de toda a carreira dos garotos de Liverpool, e Rubber Soul segue com um grande clássico atrás do outro, incluindo “Michelle”, “Girl” e o ponto alto do trabalho, a genial “In My Life”.
The Beatles/White Album (1968)
No famoso disco branco, os Beatles novamente mostravam a dimensão de sonoridades que conseguiam explorar. Mais denso do que seus antecessores, The Beatles talvez poderia ter se destacado ainda mais se não tivesse algumas faixas um pouco desnecessárias, que tornam o álbum mais cansativo do que precisaria ser (alô, “Revolution 9”!).
Ao mesmo tempo, isso permite uma vasta gama de elementos que vão desde as pesadas “Back in the U.S.S.R.” e “Helter Skelter” até as belíssimas “Dear Prudence” e “Blackbird”, passando por músicas mais leves e divertidas como “Ob-La-Di Ob-La-Da” e outras mais profundas como “While My Guitar Gently Weeps”.
Coroando esse baita disco, os Beatles também conseguiram incluir algumas de suas faixas mais experimentais. “Happiness Is a Warm Gun” é estudada até hoje por sua genialidade, enquanto “Mother Nature’s Son”, em toda sua simplicidade, consegue encantar e soar diferente de tudo que já foi feito antes ou depois dela.
Abbey Road (1969)
Abbey Road é, por assim dizer, o disco mais completo dos Beatles. Aqui, a banda conseguiu expor todas as suas facetas de forma sucinta e coesa, desde a parte inicial do álbum até a suíte que encerra o trabalho antes da delicada “Her Majesty” nos surpreender.
Como sempre, não faltaram sucessos: “Come Together” logo se tornou uma das favoritas, enquanto “Here Comes the Sun” virou um verdadeiro hino de uma geração. “Something” entra na parada como uma das músicas mais bonitas de todos os tempos, e as sensacionais “Because” e “I Want You (She’s So Heavy)” marcam a veia mais experimental e psicodélica, mais dominada do que nunca pela banda.
É claro que ainda sobrou espaço para descontrair com a divertida “Octopus’s Garden”, que tem exatamente a sonoridade que se espera da personalidade de Ringo Starr, e vale destacar a bizarra “Maxwell’s Silver Hammer”, que contrasta seu instrumental inocente com uma letra absolutamente perturbadora.
Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (1967)
Escolher o melhor disco da carreira dos Beatles é, muito possivelmente, escolher qual foi o melhor disco da história da música. Por isso, não é uma tarefa fácil e a briga é boa, ao menos dentro do Top 4.
É verdade que Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band é o disco mais coeso do quarteto, fazendo com que seja quase uma heresia ouvi-lo apenas em trechos. Além disso, o álbum também conseguiu criar hits gigantescos como “Lucy in the Sky with Diamonds” e a faixa-título, que fazem ainda mais sentido dentro do contexto do álbum cheio.
Outro ponto importante é que não há absolutamente nenhuma música ruim aqui; em todas as composições, os Beatles soam perfeitos em cada detalhe. Há, também, aquela clássica união entre o lado mais experimental (“Being for the Benefit of Mr. Kite!”, “Within You Without You”, etc.) e o lado mais inocente e divertido (“With a Little Help From My Friends”, “Getting Better”, etc.).
No fim das contas, deixar Sgt. Pepper’s em segundo é uma preferência pessoal, que parte também de uma análise temporal. Afinal, esse disco só foi possível por conta de tudo que havia sido construído com o primeiro colocado…
Revolver (1966)
Não é exagero nenhum dizer que Revolver é o melhor disco de todos os tempos e, talvez, também o mais influente. O álbum de 1966 foi um passo gigantesco para a carreira dos Beatles, marcando uma virada fundamental de uma banda que abandonou qualquer amarra para experimentar com sonoridades exóticas e que até hoje não foram replicadas.
Assim como em Sgt. Pepper’s, não há nenhuma música “pulável” por aqui. Revolver traz também o auge técnico dos Beatles, a começar por “Taxman” que tem até um forte solo de guitarra e uma linha de baixo complexa e envolvente. A complexidade também aparece de outras formas no trabalho, como nas composições de “Eleanor Rigby”, “Love You To” e “Tomorrow Never Knows”.
Além disso, faixas como “Here, There and Everywhere” e “Got to Get You Into My Life” soam como versões aperfeiçoadas da fórmula de sucesso que os Beatles desenvolveram em anos anteriores, e o álbum ainda traz canções extremamente subestimadas como a incrível “And Your Bird Can Sing”, “For No One” e “Doctor Robert”.
Como já falamos acima, a montagem deste Top 4 acaba sendo bastante pessoal. Por aqui, consideramos questões como o recorte de tempo, já que Revolver acabou sendo o ponto de partida de fato para que os Beatles eventualmente pudessem fazer tudo que vieram a fazer nos anos seguintes. Uma obra prima!