A Rooftime, que se define como uma banda eletrônica, encontrou através do seu formato a melhor maneira para transmitir sua música ao público.
O trio formado por Lisandro Carvalho e pelos irmãos Gabriel e Rodrigo Souza se reveza no palco entre o comando da CDJ, violão e vocal, enquanto apresentam suas faixas que conquistaram os ouvintes com a mistura de batidas eletrônicas e instrumentos acústicos.
Depois de ter ganhado força no mercado nos primeiros anos de sua carreira, que teve início em 2018, com hits e parcerias de sucesso como “I Will Find”, com Vintage Culture e “Free My Mind”, com Alok e Dubdogz, a Rooftime liberou recentemente seu novo EP I Promise You.
Em conversa com o TMDQA!, os integrantes revelaram que o EP surgiu depois de uma situação delicada e burocrática pela qual a banda passou com terceiros de outra gravadora. Eles apontaram que as cinco faixas foram escritas focando nos efeitos de suas escolhas, como Gabriel explicou:
A gente entende que a gente vai sempre ter uma bifurcação na nossa vida, independente do assunto, do segmento, carreira, família, relacionamento e essa oportunidade que a gente tem de escolher qual caminho seguir, à direita ou esquerda, é justamente aquilo que nos difere da liberdade e do aprisionamento. Mas, o que a gente quer dizer com essas cinco músicas é que às vezes é melhor escolher o aprisionamento do que a liberdade para você aprender, pra você saber o peso das suas escolhas antes de decidir e o caminho mais aceitável também pra você também seguir.
A banda ainda reforçou que, desde o começo da construção de I Promise You, o intuito era contar uma única história através das faixas. “Cada música representa, de certa forma, um estágio de todo esse processo de decisão, de liberdade, de aprisionamento”, apontou Gabriel.
Além de revelar mais alguns detalhes sobre o EP, a Rooftime também comentou sobre sua estreia no Lollapalooza Brasil, que aconteceu em Março, e falou sobre o impacto que o grupo tem causado na cena nacional do eletrônico.
Ao final da entrevista, a banda que também é dona do hit “Don’t Let It Go” ainda compartilhou como está o andamento do seu disco de estreia e até revelou um spoiler do que vem por aí.
Confira o papo na íntegra logo abaixo e ouça o novo EP ao final da matéria!
TMDQA! Entrevista Rooftime
TMDQA!: Oi pessoal, um prazer bater esse papo com vocês. Pra gente começar, eu queria que vocês me falassem um pouco sobre esse formato que vocês descrevem como banda eletrônica. E queria saber, qual vocês acreditam que seja a principal diferença em trabalhar dessa forma comparado com os DJ que são solos, ou que tocam ali em dupla, mas sempre atrás da mesa de mixagem?
Lisandro: Eu acho que quando a gente começou o projeto Rooftime a gente sempre teve esse sonho de fazer algo diferente, de se destacar dos DJs, da cena eletrônica normal que a gente já vivia e trouxesse algo novo, algo que fosse mudar o jeito de apresentação, mudar a intenção das músicas. E foi com isso que a gente teve essa ideia de trazer a música orgânica, o violão, o vocal, que sempre fizeram parte das bandas antigas, fizeram parte da música em si, né? E a gente misturou isso com a música eletrônica e a gente resolveu trazer isso para o palco também. Então a gente se apresenta meio DJ e meio banda de música mesmo, sabe?
Gabriel: Acho que uma das grandes diferenças é justamente a oportunidade que a gente tem em cima do palco pra exemplificar melhor, dar à luz os nossos sentidos. Quando a gente está em três em cima do palco, a gente tem muito mais ferramentas pra deixar às claras o que a gente quer passar com a música. Então, a gente consegue fazer uma performance ao vivo com os instrumentos, a gente consegue fazer algumas intromissões, consegue ter a participação do público também de uma maneira mais íntima, né? Porque ali, pô, tem um atrás da CDJ, tem outro no violão, tem outro cantando, a gente vai ali como se fosse num rodízio de importâncias, mas que nenhuma ultrapassa a outra, e que a gente consegue envolver o público, o palco, a iluminação, tudo em uma história só.
TMDQA!: Que massa! A gente consegue sentir isso pelos registros de vocês. E como funciona a dinâmica de vocês nas criações das músicas? Vocês se reúnem sempre para produzir juntos ou acontece de cada um ir agregando com uma parte?
Rodrigo: Então, não tem muito uma regra, acontece de todos os jeitos como você disse. A gente sempre está junto, mas às vezes quando não está também um chega com uma ideia de batida, um vocal ou um riff de violão, uns acordes… Mas a gente sempre está junto pra tentar agregar na ideia do outro. E a gente até acha que é assim que funciona melhor, sabe? Quando a gente está junto sai mais fácil, mas não tem muita regra. Vai do dia, da inspiração, do momento.
TMDQA!: Logo nos primeiros anos da carreira vocês lançaram músicas que se tornaram grandes sucessos, inclusive com parcerias grandes como Alok e Vintage Culture. Qual é o desafio de planejar, lançar outras músicas depois de já ter começado dessa forma? Existe mais pressão no momento de criação?
Lisandro: Pra gente é muito doido isso, porque cada música tem um sentimento diferente, cada música é única. Então, pra gente não tem muito essa pressão porque a gente sente que cada música é uma música única, entende? Não tem uma pressão de tipo, “Ah, qual vai ser o próximo hit, qual vai ser o próximo sucesso que a gente vai fazer?”. Não. A gente só precisa expressar o que a gente está sentindo ali naquele dia, naquele momento e deixar o público e a galera falar por si.
Gabriel: Só pra complementar, a gente sempre teve essa noção que o Lisandro citou de que “a melhor música sempre vai ser a última que a gente fizer e nunca vai ser a próxima”. A gente sempre teve isso em mente, porque a gente entende que a música não pode ser hierárquica; ela também não pode se sobrepor. Então, a gente tem várias histórias diferentes para contar, nenhuma é maior ou pior do que a outra, mas assim, entre nós, a segunda música teve um pouquinho de dificuldade.
A “I Will Find”, quando ela saiu, que foi a nossa primeira música, a gente ficou tão extasiado e até, eu posso falar, um pouco assustado com o que a gente tinha criado, que a gente pensou, “Pô, agora a gente precisa continuar isso aqui, cara. Agora a gente precisa dar continuidade a isso, a gente precisa escrever outras histórias”, sabe? Então acho que não foi nem uma questão de dificuldade, foi mais uma questão de responsabilidade que a gente tinha em mãos.
Isso, talvez pra algumas pessoas, para outros músicos, outros projetos, passe essa sensação de pressão, uma sensação de peso, mas a gente lida como se fosse uma oportunidade pra gente escrever outras histórias.
TMDQA!: E agora falando sobre o novo EP, I Promise You, primeiro eu queria dizer que curti muito as músicas, e dizer que é possível perceber uma mistura ali de elementos musicais. Queria saber quais foram as principais inspirações de vocês para esse trabalho?
Gabriel: Olha, a gente passou por um momento mais delicado na nossa carreira, e foi justamente de embate com esse EP, né? A gente teve uma situação, vamos colocar uma palavra pra resumir assim, uma situação burocrática que não pertence ao universo da música, envolvendo nós e terceiros de uma outra gravadora e a gente se indispôs de uma certa maneira com as ideias. As ideias não se trombaram e, de uma forma meio litigiosa, a gente começou a escrever essas músicas. Claro que a gente não procura criticar, nem dizer quem é certo e quem é errado e nada disso é nossa intenção. Nosso objetivo é sempre colocar o que a gente está sentindo nas nossas músicas e isso vai ser inerente, independente de qualquer outra pessoa, nosso trabalho é isso.
A gente escreveu essas músicas focando no que as nossas escolhas trazem pra gente, né? A gente entende que a gente vai sempre ter uma bifurcação na nossa vida, independente do assunto, do segmento, carreira, família, relacionamento e essa oportunidade que a gente tem de escolher qual caminho seguir, à direita ou esquerda, é justamente aquilo que nos difere da liberdade e do aprisionamento. Mas, o que a gente quer dizer com essas cinco músicas é que às vezes é melhor escolher o aprisionamento do que a liberdade para você aprender, pra você saber o peso das suas escolhas antes de decidir e o caminho mais aceitável também pra você também seguir.
TMDQA!: Eu ia até perguntar sobre as letras das músicas, e acho que essa é uma reflexão que vocês trazem nessas faixas né?
Gabriel: Sim, a gente tentou deixar de uma maneira bem, como é que eu vou dizer… Uma maneira mais fantasiosa, porque eu acho que a grande responsabilidade do músico e do artista hoje em dia é realmente propor um cenário diferente do real pra todo mundo que está consumindo o trabalho. Então, a todo momento a gente quer passar com a letra cenas figuradas, subjetivas, histórias de outras pessoas que talvez venham de encontro com o que a gente está sentindo. É difícil a gente escrever algo sobre uma literalidade assim, um acaso mundano, uma coisa mais rotineira. As letras são sempre baseadas em cenas, em histórias, em figuras que a gente consegue imaginar nas nossas cabeças só, sabe?
TMDQA!: E eu queria saber se tem alguma música do EP que tem um significado mais especial para vocês?
Lisandro: Eu acho que “I Promise You” é muito forte pra gente, porque eu acho que ela foi a primeira música que a gente teve a responsabilidade de fazer pensando: “Não, a gente precisa entregar essas cinco músicas e quais vão ser”. Aí a gente sentou e falou: “Agora a gente precisa pensar em como que a gente vai formatar esse EP pra conseguir fechar de acordo esse contrato, enfim”. E a “I Promise You” foi a primeira que chamou nossa atenção e definiu o caminho do EP como todo.
TMDQA!: E eu queria falar um pouco sobre “Skies Inferno”. Eu senti que é a música que está um pouco mais distante das outras faixas em questão de sonoridade mesmo, achei ela um pouco mais melancólica. Qual é o papel dela no EP? Ela já dá um spoiler do que o público pode esperar do álbum?
Gabriel: Desde o começo da concepção do EP a gente teve a ideia de criar, com as cinco músicas, uma história só. Então podemos dizer que cada música representa, de certa forma, um estágio de todo esse processo de decisão, de liberdade, de aprisionamento. Eu acho que eu posso dizer que a “Skies Inferno” talvez seja a parte quando você realmente fica amargurando ou repensando aquilo que você fez, é uma parte mais ressentida do EP. Então ela tem esse tom um pouco mais carregado, essa coisa mais pra dentro, uma coisa mais pensativa.
Talvez, como a gente falou antes, a gente sempre busca outras histórias pra contar, e eu acredito que o EP não tem muito uma história parecida com o álbum; o álbum já é uma coisa mais ampla, assim, sabe? Ele já foge de uma história principal. É como se cada música tivesse uma história diferente. Aqui a gente meio que está organizando uma história por capítulos talvez, não sei. Então, no EP, a gente faz uma coisa mais cronológica e no álbum eu acho que a gente vai chegar mais com propósitos diferentes e singulares. Legados diferentes.
Continua após o vídeo
TMDQA!: E agora falando sobre o Lollapalooza Brasil. Quero saber um pouco da estreia de vocês no festival, como foi essa experiência para vocês e o que motivou vocês a explorarem este novo formato de show a partir de lá?
Lisandro: Nossa, até hoje a gente vê os vídeos e não acredita. A gente ficou muito feliz, muito feliz, sempre foi o nosso sonho desde o início do Rooftime e a gente ficou muito surpreso porque a gente não esperava que aconteceria tão rápido assim, sabe? Faz quatro anos que a gente está na estrada, três anos que a gente está na estrada pra valer. E a gente já está tocando no Lolla, tipo, surreal pra gente. Surreal de verdade. Ficamos muito felizes mesmo.
Quanto ao formato novo, a gente enxerga muito como o começo ali. A gente enxerga que o Rooftime nasceu do mercado eletrônico, mas a gente enxerga um potencial que pode abranger muito mais do que o mercado eletrônico só. A gente sente que a gente pode alcançar não só o mercado eletrônico mas também o pop, sabe? Criando o nosso próprio estilo de show, nosso próprio estilo de música. Então eu acho que pra gente ali no Lolla foi só o início, o pontapé inicial de uma nova era para nós.
TMDQA!: Mesmo com pouco tempo de carreira vocês já estão consolidando o trabalho de vocês na indústria da música, e isso fica visível até pelos números de vocês nos serviços de streaming. Refletindo sobre essa trajetória, qual é o impacto que vocês observam do grupo na cena nacional do eletrônico?
Lisandro: É muito doido isso, porque assim, olhando pro lado do mercado e outros DJs, a gente sente que a galera não entende muito. Eles olham meio de longe pra gente, vêem toda a movimentação mas não conseguem entender muito, não conseguem nem entrar e participar, nem opinar muito. Então a gente se sente meio pioneiro de uma nova era.
Rodrigo: Mas acho que de certa forma a gente meio que estimula, sabe? Algum tipo de mudança nesse sentido pra galera enxergar que, pô, a música eletrônica não é só assim, a gente pode explorar, pode arriscar, pode chegar com coisa nova.
Gabriel: É, a gente sente que a música de uma maneira mais geral está meio enlatada, né? Meio que todo mundo copiando o que funciona, todo mundo procurando o que o outro fez, tenta copiar. Eu acho que isso aí é um caminho muito errado, muito errado mesmo. A gente tenta ir totalmente pro oposto disso.
Rodrigo: E acho que principalmente o eletrônico é assim. Talvez com a gente trazendo elementos do pop ou de tudo que a gente escuta, rock, enfim, isso abra o leque pra galera ver que pô, não tem fórmula, você acredita que está fazendo uma música boa, que você gosta e é isso.
Gabriel: É engraçado porque a tua pergunta, no meio dela, eu estava com uma resposta e você terminou falando sobre mercado e eu já fui para outro lado. Porque a gente está tão acostumado a pensar no resultado da música para as pessoas que estão ouvindo que na maioria das vezes a gente nem liga muito para o que o mercado pensa, vamos colocar assim.
Eu já estava aqui pensando nas histórias que as pessoas falam pra gente de recuperação sentimental, de reaproximação familiar por causa das músicas e muitas outras coisas que a gente fica lendo e meio que é isso que a gente busca através das nossas carreiras, né? Até por isso que o Lisandro estava falando aqui, que os caras nem entendem muito a gente, o pessoal nem chega muito perto da gente, sabe? Acha que a gente não é simpático e tal. Mas é porque a gente está tão focado em contar história pra quem quer escutar de verdade, com o coração, que sabe tem certas coisas que só passam.
TMDQA!: Para encerrar nosso papo: eu imagino que vocês vão trabalhar na divulgação do novo EP, mas eu queria saber como estão os planos para o resto do ano. O que o público pode esperar de novidade? Além disso, queria saber se vocês têm planos de lançar músicas em português?
Rodrigo: A gente está muito ansioso pro álbum. A gente está nas negociações finais. Vamos falar assim, em questão de gravadora, distribuidora. Tem duas participações muito importantes, eu só posso falar isso, não posso falar o nome. Mas se tudo der certo e graças a Deus vai dar, vai ser algo que vai mudar muita coisa na nossa carreira. A gente está muito, muito feliz e muito confiante que vai dar certo.
E quanto à música em português… tem coisa pra vir hein? A gente está arriscando coisas diferentes e eu não sei se pro álbum, mas com certeza a gente vai se arriscar e vai fazer algo em português. O spoilerzinho da música em português é que ela não é com um brasileiro.
TMDQA!: Certo, fiquei ainda mais curiosa agora!
Rodrigo: Vamos falar que a gente vai representar o Brasil nessa.
TMDQA!: Tranquilo. Vou esperar o lançamento. Obrigada pela conversa, meninos. Muito sucesso com o novo EP e com a carreira de vocês!
Rooftime: Muito obrigado, viu, Lara? Foi um prazer conhecer você, bater esse papo. A gente está sempre a disposição aí, viu? Obrigadão.