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TMDQA! Entrevista: Sonja reflete sobre a importância de "abraçar as mudanças" em seu novo single

Em conversa com o TMDQA!, a cantora e compositora Sonja se aprofunda nos assuntos abordados em seu novo single "Mudanças". Leia e assista ao clipe!

Sonja
Crédito: Júlia Assis

Sonja decidiu não ficar presa ao passado e aceitar os novos ciclos de sua vida, mesmo que seja preciso enfrentar alguns desafios.

Essa é uma reflexão que a cantora e compositora, ex-participante do The X-Factor BR, faz em seu novo single “MUDANÇAS”, faixa com influências do Blues e do Soul que marca a segunda prévia do seu próximo álbum autoral Rainha de Copas.

Em entrevista ao TMDQA!, Sonja se aprofundou nas questões que aborda na música sucessora da faixa “Calma”, que mais uma vez é autobiográfica. Sobre uma das mensagens que ela pretende passar com sua nova música, ela disse:

As mudanças vêm por algum motivo. Dolorosa ou gostosa, toda mudança é necessária e constante. Vem muito ensinamento com cada mudança que a gente passa, mas é preciso saber ouvir e observar.

A música vem pedindo para que aprendamos a levantar da mesa quando o amor não mais nos está sendo servido; sair pela porta da frente quando aquele lugar não nos ensina mais nada, quando nossas asas ficam tão enormemente grandes, que o espaço fica pequeno demais pra nós; soltar as correntes, saber olhar de longe aquilo que passou, com o devido respeito e entender nosso lugar no aqui e agora. Abraçar as mudanças. Mudança é um tipo de amor, bastante poderoso.

Acompanhando o seu novo disco Rainha de Copas, que está previsto para ser lançado em agosto, Sonja decidiu escolher uma carta de tarô para representar cada faixa do projeto. Ela conta que a ideia surgiu depois de se consultar com uma Cigana e sua tiragem ter contado sua história com dois possíveis finais.

Sonja, Tarô e “MUDANÇAS”

A artista revela que, no momento em que decidiu gravar o álbum, ela escolheu a carta “vida” para representar o final do seu jogo de Tarô e, a partir disso, pediu ajuda de uma amiga astróloga e taróloga, Giovanna Marques, para definir qual carta representaria cada música do projeto que, segundo ela, reflete como saiu “do fundo do poço até o reencontro com a fé”.

Sonja destaca que, apesar de “MUDANÇAS” ter sido uma música que “vem com medo” e marca um fim e um começo, ela não escolheu a carta da morte, “que fala sobre encerramentos e inícios de ciclo”, mas sim a do carro, que está ligada ao movimento.

Você pode conferir abaixo o papo na íntegra, em que a cantora revela mais detalhes do single e do seu próximo disco, além de contar do início de sua relação com o Blues e o Soul, que acompanham seus novos lançamentos.

Além disso, assista ao final da matéria ao clipe de “MUDANÇAS”!

TMDQA! Entrevista Sonja

TMDQA!: O seu novo single “MUDANÇAS” apresenta fortes influências do Blues e do Soul. Como foi o início da sua relação com esses gêneros e quais foram as principais referências musicais durante a construção dessa faixa?

Sonja: O Blues veio até mim através do teatro musical, quando cantei “And I Am Telling You I’m Not Going” e experimentei a força e a liberdade de cantar essa canção. Algo em mim despertou. Patricia Evans, que é minha professora de canto há mais de dez anos no EAPE (Espaço de Artes Patricia Evans) e que tem o dom de ouvir a música nas pessoas e estar sempre atenta ao que a voz pede, me apresentou Etta James e me sugeriu que eu estudasse o Blues. Ela entendeu, antes de mim, onde eu encontraria essa liberdade e toda essa potência. E aí foi amor total. E o Soul veio com Aretha Franklin. Cantar suas músicas me trazia a mesma sensação de força e liberdade. As referências dessas duas mulheres fodas, me fizeram cair de paixão por esses gêneros, que eu trouxe para dentro da minha música.

Se eu for falar da faixa “MUDANÇAS”, posso citar como minha maior influência, Ney Matogrosso. Eu estava ouvindo demais o Ney nesse momento da minha vida, totalmente atenta aos sinais, e “Noite Torta” me pegou de jeito, entrou em mim. Naquele momento da minha vida, ela me fez muito sentido. E posso dizer que numa mistura dela comigo, nasceu “MUDANÇAS” – só eu e meu piano. Levei-a crua para os meninos (Marcão e Ygor), voz e piano, e nesse processo de criação dela, acrescentamos elementos de outras grandes referências nossas que são Lenine, Rita Lee, O Rappa e Gary Clark Jr.

Sobre o Blues e o Soul na faixa “Mudanças”, eles são vertentes importantíssimas da cara rock que demos à faixa. O álbum como um todo tem essas influências muito claras quando juntamos minhas referências com as referências do produtor musical Marco Lacerda e do co-produtor musical Ygor Helbourn, onde posso citar nomes como Betty Wright, James Brown, Bettye Lavette, Willie Dixon, The Roots, Sharon Jones & The Dap-Kings e ainda John Coltrane e Tim Maia.

TMDQA!: Você afirmou que já sofreu preconceito e escutou comentários ofensivos sobre você e essas, infelizmente, são situações que ocorrem com muitas mulheres até hoje. Qual é a importância de abordar temas como poder feminino e autoestima em sua nova música?

Sonja: A música “MUDANÇAS” fala mais sobre o que eu fiz com aquilo que me fizeram. Entende? “Mudanças” fala sobre uma mudança de vida. Não só de lugar físico, mas mudança mental e espiritual. Por muito tempo, esses comentários maldosos sobre mim, me machucaram de tal forma, que eu achava que o que eu merecia mesmo era ser machucada. Então por muito tempo, foi como me tratei e como deixei que me tratassem. Me machuquei tanto que um dia eu cheguei no limite e tive o estalo de “ei, por que é que eu estou fazendo isso comigo? Por que estou deixando que me atravessem assim? Por que tenho me maltratado tanto? Não mereço isso”. E uma das coisas que mais me ajudou nesse processo, sem dúvida, foi ver mulheres trazendo à luz assuntos como autoestima e empoderamento. Mais ainda: mulheres gordas, mulheres que passaram pelas mesmas coisas que eu passei e que se tratavam bem, sabe?

Foi um processo longo. Tem sido, na verdade. Eu digo que é diário. Então mais do que poder feminino e autoestima, essa música vem com a mensagem de “aprenda a se tratar com carinho”. Ela vem dizendo: “cai fora de qualquer lugar que te machuque, que não te caiba mais, que seja pequeno demais e que não te deixe ser livre”. E não há demonstração de auto amor mais bonita do que ir embora, às vezes. Do mesmo jeito que essas mulheres me ajudaram falando sobre assuntos como a autoestima e o poder feminino, eu tenho certeza que posso ajudar alguém dizendo “vai, força, levanta daí e vai embora – aceita a mudança, vai com medo mesmo”.

TMDQA!: Além da reflexão sobre os temas citados acima, qual é a mensagem que você espera passar para o público através de “MUDANÇAS?”

Sonja: “Mudanças” é autobiográfica, né. Como todas as faixas desse álbum (e de todas as minhas músicas), ela fala de coisas que eu vivi. Fala da mudança que eu passei, de um apartamento pra outro que, muito simbolicamente, marcou a passagem de uma fase muito ruim da minha vida (que ficou pra trás junto com o antigo apê) para uma nova fase. A princípio, eu não queria essa mudança, porque eu não sabia se eu a encarava e não sabia se conseguia deixar meu passado para trás. Então foi uma mudança difícil internamente, mas que o universo não me deu muita escolha. Ele quase que fez a mudança por mim. Mas eu já estava nessa mudança internamente, então as coisas fluíram. Dolorosamente, apesar de toda clareza, mas fluíram.

Então a música vem dizendo exatamente isso, de deixar o passado onde ele pertence. Deixar pra trás tudo que nos trava, tudo que nos paralisa, nos diminui. Deixar a vida trabalhar, aceitar as mudanças, não lutar contra. As mudanças vêm por algum motivo. Dolorosa ou gostosa, toda mudança é necessária e constante. Vem muito ensinamento com cada mudança que a gente passa, mas é preciso saber ouvir e observar. A música vem pedindo para que aprendamos a levantar da mesa quando o amor não mais nos está sendo servido; Sair pela porta da frente quando aquele lugar não nos ensina mais nada, quando nossas asas ficam tão enormemente grandes, que o espaço fica pequeno demais pra nós; Soltar as correntes, saber olhar de longe aquilo que passou, com o devido respeito e entender nosso lugar no aqui e agora. Abraçar as mudanças. Mudança é um tipo de amor, bastante poderoso.

TMDQA!: Como surgiu a ideia de escolher uma carta de tarô para representar cada faixa do disco “Rainha de Copas”? Você pretende explicar cada uma delas em seu Instagram, como fez no lançamento de “Calma”?

Sonja: A ideia surgiu, quando decidi que iria contar um pouco da minha caminhada no processo de saída de relacionamentos abusivos com pessoas e substâncias, até o reencontro com a espiritualidade. Eu tinha uma música chamada Rainha de Copas, que escrevi depois de uma consulta com a Cigana, onde ela fez uma tiragem de Tarô pra mim que dizia, resumidamente, que se eu não parasse de me machucar com meus hábitos, eu iria acabar comigo de forma que não teria mais volta. Mas que se eu encontrasse de volta minha força e saísse dali, eu prosperaria – e me falou isso mostrando a carta da Rainha de Copas e dizendo: “essa daqui é você, prosperando”. Eu já tinha algumas músicas guardadas, que foram escritas em vários momentos desse processo todo, que falavam muito sobre essa caminhada, sobre o que eu sentia e passava em cada fase. Então decidi costurar as músicas e contar essa jornada em uma história, assim como aquela tiragem de tarô havia me contado minha história com dois possíveis finais.

No momento em que eu decidi gravar esse álbum, lá em 2020, eu já tinha escolhido qual dos dois finais daquele jogo de Tarô eu queria – e eu tinha escolhido a vida. Então pedi auxílio da minha amiga astróloga&taróloga Giovanna Marques, que me orientou na escolha da melhor carta de taror&baralho cigano para cada tema de cada música que entraria no álbum (cartas estas, ilustradas pela artista plástica Tai Luri), contando como eu saí do fundo do poço até o reencontro com a minha fé. E, sim, pretendo explicar cada uma delas conforme for lançando as músicas, porque quero que as pessoas façam parte disso.

TMDQA!: Quais foram as mudanças mais marcantes pelas quais você passou que influenciaram este novo disco?

Sonja: Mudança de hábitos, de crenças (sobre mim, principalmente), de lugares, de consciência, de pensamento. Mudança de pessoas, mudança nas minhas afirmações, na maneira que eu me enxergo no mundo e como eu me trato.

TMDQA!: A autoconfiança e o autoconhecimento são aspectos muito difíceis de se conquistar. Como as músicas do seu novo disco podem ajudar mulheres e pessoas que ainda não conseguiram estabelecer uma boa relação com esses aspectos?

Sonja: Eu penso que ter uma boa relação com a autoconfiança e o autoconhecimento, não é algo linear. Não é algo que se conquista e ponto, fim. Porque estamos em constante mudança, então a maneira como confiamos em nós e como nos conhecemos, também muda. Precisamos estar atentos sempre. Estamos sempre em situações diferentes das que estávamos ontem. Tudo tem seu tempo e esse álbum fala muito disso. Ele explora muito esse lugar de vulnerabilidade, de fraqueza, de medo, de falta de amor, de desespero, de exaustão, que são ainda e sempre, sentimentos e sensações humanas e universais e que tem se tornado algo que não se pode ser falado. Ouvimos muito sobre empoderamento (e eu acho maravilhoso), mas… e quando estamos nos sentindo pequenos? Quem é que está falando sobre nos sentirmos pequenos, que possa nos acolher? Temos nos proibido sentir. Ou melhor, estamos aprendendo a dizer que não sentimos tais coisas, mas isso não quer dizer que não as sentimos. Precisamos nos dar o tempo de sofrer, de mergulhar fundo na dor.

Acredito que parte importante do processo de autoconfiança e autoconhecimento, é acolher nossos sentimentos, sejam eles quais forem. ISSO é carinho, ISSO é amor. ISSO é respeito. Temos que nos dar essa permissão de sentir, de olhar de baixo às vezes, permitir se encolher. Para então sabermos o momento de transformar, de transmutar, de ressurgir, recomeçar, renascer. Saber a hora de sentir a dor, de soltar o choro, de gritar, de se recolher, para então saber a hora de sair desse lugar e usar tudo isso como combustível pra essa eterna jornada que é se conhecer, se respeitar e se fortalecer. Então eu penso que estabelecer uma boa relação com esses aspectos, é trabalho diário. Às vezes vai ser fácil, às vezes nem tanto. Às vezes vai ser leve, outras vezes pesado. Às vezes difícil, outras vezes vamos tirar de letra. Mas acho importante acharmos uma maneira de lidarmos da melhor forma possível com todos esses momentos e processos.

TMDQA!: Por que você escolheu “Calma” e “Mudanças” para apresentar ao público seu novo disco “Rainha de Copas”?

Sonja: “Calma”, além de uma resposta ao público que me perguntava quando é que ia sair o novo álbum, vem como um respiro em meio ao caos que estamos vivendo dentro e fora de nós. E como meu trabalho sempre foi muito denso, o universo (e sempre ele) deu um jeito de botar Calma na frente, penso eu que para mostrar que o que está por vir, é novo – como tudo que eu tenho vivenciado. Não fui eu que escolhi Calma como primeiro single – foi ela que escolheu vir primeiro.

“Mudanças” já vem mais pesada, anunciando de fato essa mudança. Ela vem com medo, mas vem – e por vir com medo, vem ainda mais corajosa. Ela marca um fim e um começo e embora a carta que representa ela não seja a da morte (que fala sobre encerramentos e inícios de ciclo), mas sim a do carro (que fala sobre movimento), em sua primeira aparição ela vem com o arquétipo da sereia, no fundo da escuridão do oceano, bela e destemida, dona de si e poderosa. Mergulhando fundo em toda essa água, toda essa espiritualidade e todos esses mistérios que uma mudança traz. Calma, estamos em processo de mudanças…