O Blur, uma das maiores bandas britânicas das últimas três décadas, está prestes a lançar seu novo álbum, intitulado The Ballad of Darren.
Começando a trajetória de divulgação com shows em Wembley, uma turnê se materializou a partir dali e, até o momento, Damon Albarn, Graham Coxon, Alex James e Dave Rowntree já subiram ao palco para tocar ao vivo para mais de 2 milhões de fãs.
Atualmente, a banda está em turnê pela Europa, apresentando suas canções icônicas juntamente com as novas faixas do álbum, incluindo os singles “The Narcissist” e “St. Charles Square”, e há especulações sobre uma possível vinda ao Brasil já que o grupo estará no Primavera Sound de Buenos Aires ainda em 2023.
Celebrando esse reencontro que parecia improvável, Alex James falou com o TMDQA! direto de sua fazenda, onde ele produz queijos artesanais e até realiza um festival de música – isso quando o Blur não o leva mundo afora para fazer shows de rock.
O baixista se mostrou bem humorado com o atual momento de reunião de amigos de longa data, revelou vontade de voltar ao Brasil e contou o que diferencia o grupo dos demais de sua geração do Britpop.
Confira abaixo!
Blur
Com sua carreira marcada por seis álbuns consecutivos em primeiro lugar no Reino Unido, como Parklife, The Great Escape e Blur, e uma série de singles de sucesso, a banda revolucionou o som da música pop inglesa desde sua estreia com o álbum Leisure em 1991.
Não é à toa acumula inúmeros prêmios, incluindo dez NME Awards, seis Q Awards, cinco BRIT Awards e um Ivor Novello Award, solidificando seu lugar como uma das maiores bandas britânicas de todos os tempos.
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TMDQA!: Oi Alex! Como você está?
Alex James: Nunca estive melhor, obrigado! E você, como vai?
TMDQA!: Estou bem também. Onde você está no mundo hoje?
Alex: Estou aqui no meu monastério, tirando um descanso valioso antes de fazermos shows bem grandes no final de semana. É bem legal estar de volta à fazenda, onde moro. Meus filhos estão de férias de verão na escola, hoje estou fazendo sanduíches de bacon e me cuidando. Sábado fazemos um grande show de rock. É bom ter um pouco de realidade entre a loucura toda!
TMDQA!: Aposto que sim. Fazer uns queijos e ficar de boa, né?
Alex: Exatamente!
TMDQA!: Mas estou empolgada de falar com você, especialmente sob essas circunstâncias. Há um novo disco do Blur saindo, o que era inimaginável…
Alex: Nossa, nem me fale! Veio como uma grande surpresa, já faz muito tempo. Foi em 2015, o último disco. Até quando a gente de fato acabou com a banda, não demorou tanto para nos reencontrarmos e fazermos algo juntos. Parte do motivo é que, por causa da Covid, ninguém conseguia fazer turnê por dois ou três anos. E de repente, todo mundo quer fazer turnê. Havia uma falta de locais para shows no Reino Unido, havia uma ideia de que “ok, vamos fazer um último show em Londres”. Uma data apareceu em Wembley, que é o estádio nacional, daí pensamos “ok, nunca fizemos isso antes”. Tudo aconteceu muito rápido.
Convocaram uma reunião, no início de dezembro, em Londres. Eu esbarrei com o baterista do lado de fora, ele estava bem pálido, parecia muito assustado, falando “acho que não vai rolar, cara”. E eu tipo “Mesmo? Por que?”. Enfim, entramos, tocamos algumas músicas juntos e dez minutos depois (risos), estávamos fazendo uma turnê e gravando um disco. Virou outra coisa. Achei ótimo não termos muito tempo pra pensar sobre fazer um disco, porque é bem assustador fazer músicas novas a esse ponto da carreira. Há sempre uma chance de ser muito ruim e você não conseguir tocar bem mais (risos). Mas naquele ensaio, ouvimos uma gravação em cassete do nosso primeiro ensaio, em 1988, onde compusemos uma música que tocamos até hoje. Então a primeira vez que tocamos juntos, algo bom aconteceu. Depois passamos anos e anos tocando juntos todos os dias, por horas a fio, e é precioso o que isso te dá. Toda essa experiência de tocar juntos. Todos tocamos com outros músicos, mas há algo muito mágico de nós quatro tocarmos juntos.
E a partir do momento em que entramos no estúdio, foi tipo aquele primeiro ensaio. O mundo fica em segundo plano e foi algo sem o menor esforço, sem peso, só alegria. Foi relaxante. O jeito que os discos são feitos hoje em dia… eles são construídos, não capturados. Tudo é colocado no lugar certo, no momento certo, na afinação certa. Todos esses anos tocando juntos só… explodiram. No primeiro dia, tínhamos finalizado quatro músicas e foi tipo, “bem, isso é incrível” e não olhamos para trás. Penso só que coisa incrível aconteceu na minha vida. Estou aproveitando cada minuto.
TMDQA!: E deveria mesmo. Quando Wembley bate à porta, não dá pra recusar, né?
Alex: [acendendo um cigarro] Foi um risco, nunca se sabe. Passou-se muito tempo, não dá pra saber se as pessoas vão comprar ingressos antes de colocar o show à venda (risos). O que nos surpreendeu é que hoje em dia tem um monte de coleta de dados, então agora você sabe exatamente quem ouve sua música, onde estão no mundo, quais canções mais escutam e a idade deles. Parece que encontramos uma nova plateia, é incrível. Sabe de uma coisa? (risos) Eu desci para a cozinha outro dia para fazer um sanduíche de bacon e a minha filha de 12 anos, que não sabia que eu tinha entrado, estava lá, cantando The Narcisist, o novo single. Eu quase comecei a chorar. Foi maravilhoso, porque os jovens são os críticos mais rígidos e você não pode forçá-los a gostar de nada. Mas ela estava feliz fazendo seu sanduíche e cantando a nova música do Blur. Esse foi um momento, com certeza!
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TMDQA!: Imagino! Mas vocês têm sido muito sinceros sobre se reencontrarem com amigos antigos que amam, mas que não suportam ao mesmo tempo…
Alex: [risos] É como uma família, é ainda mais bagunçado que uma família normal. A gente se enlouquece, mas nos amamos profundamente. No momento, está tudo certo.
TMDQA!: Mas você diria que com a maturidade, vocês ficaram mais delicados ou mais compreensivos uns com os outros?
Alex: Uhm… Acho que apreciamos mais, porque o Blur foi algo que fizemos desde sempre. Estávamos na escola, basicamente, quando assinamos o contrato. Foi tudo o que fizemos por 15 anos. Sempre chega a um ponto em que se quer sair pra fazer outras coisas, com outras pessoas. Chegamos nesse ponto. E não foi necessariamente minha decisão que isso acontecesse – na verdade, era a melhor decisão, num sentido espiritual mesmo. Eu tinha 33 anos, era jovem o suficiente e com energia para fazer outras coisas, começar outros projetos.
E acho que o que é único com relação ao Blur é que todos nós conseguimos ter um “segundo ato” decente, sair e fazer coisas sozinhos. Se o sucesso vai acontecer na música, ele tende a aparecer bem no início, bem rápido e quando se é jovem. O que te cria um problema sobre o que você vai fazer pelo resto da vida [risos]. Você se torna definido por algo que fez ainda muito jovem. Então o fato de que todos nós fizemos outras coisas, que encontramos satisfação em outros lugares, significa que podemos voltar para o Blur só porque queremos, não porque precisamos. Isso nos libertou, talvez.
TMDQA!: E quero falar sobre o novo disco, claro. Porque como todo bom álbum, este tem uma combinação de faixas mais tristinhas com coisas mais pesadas.
Alex: Tristinhas! [risos] Há uma coisa agridoce ali, sabe? Mas há raiva e alegria. Você não sabe exatamente o que fez até uns cinco anos depois. Nunca se sabe quais músicas as pessoas vão gostar. O que é incrível sobre o Blur é que é o nosso nono disco. Estava dizendo que há muitas informações hoje, você consegue saber quais músicas estão ouvindo. No nosso top 10 de mais ouvidas, tem uma música de cada disco, incrivelmente. Do último álbum, The Magic Whip, é “Ghost Ship”. E eu não acho que qualquer um de nós apostaria que essa seria a faixa de destaque daquele disco. Todos pensamos que “Song 2” seria um lado B. Ninguém pensou que “Country House” seria single. Simplesmente não dá para saber o que vai funcionar e o que não vai, só fazer o seu melhor. Posso jurar que estamos bem orgulhosos desse disco. Estamos relaxados, mais evoluídos, sem tentar em excesso. Somos só quatro caras que se conhecem há muito tempo se expressando. Soa como amigos.
TMDQA!: Com certeza. E o disco começa com uma balada e termina com um estrondo, pode-se dizer! “The Heights” é tão barulhenta quanto o título sugere, é bem alto, e fica com você. Talvez eu esteja lendo coisas demais nisso, mas… será que essa reunião não será duradoura, exatamente como essa música – que permanece com você, mesmo depois que acaba?
Alex: Bem, quem sabe? Eu estou absolutamente furioso que ainda não temos data para ir ao Brasil. Isso não pode estar certo.
TMDQA!: Eu quero te perguntar sobre isso!
Alex: Pois é, o que está rolando? Pelo amor de Deus, a última vez que fomos aí foi incrível. Eu acho que o plano era fazer algo pequeno. Nos últimos 20 anos, devemos ter feito menos de 50 shows. Não tocamos tanto. Nem faço ideia de por que não estamos indo ao Brasil e estou furioso. Deveríamos. Nos convidem, vamos fazer acontecer!
TMDQA!: Com certeza, vocês sempre serão bem vindos. Todo mundo com quem você falar hoje vai te perguntar sobre isso, então quero propor algo diferente: vamos supor que vocês venham. O que vai te deixar mais empolgado? Tipo, “que bom que vamos ao Brasil, finalmente vou poder fazer tal coisa”. Ir àquela praia, provar algum sabor… Você parece gostar de gastronomia!
Alex: Da última vez, fomos ao restaurante do Alex Atala em São Paulo, Dom, e foi incrível. Eu adoraria ir para a Amazônia e cozinhar todos os dias. A comida na América do Sul toda é inacreditável, então eu só ia querer ir e comer tudo pela frente.
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TMDQA!: Agora, só para te liberar, sei que temos pouco tempo. Mas queria saber: vocês se conhecem há tanto tempo. Quando se veem de volta no estúdio ou no palco, o que faz você dizer, “ah, então é isso que traz a fagulha de volta”. Que faz vocês sentirem que é fácil como andar de bicicleta.
Alex: Eu não sei o que é. Como eu disse, naquele primeiro ensaio, a gente compôs uma música que toca até hoje. A gente se pergunta: essa fagulha ainda existe? Mas é como ter alguém que você ama e que não vê há muitos anos [risos], é até meio inesperado que ela ainda exista. Acho que é o único paralelo, mas somos quatro caras, e somos todos malucos.
TMDQA!: Falando em ainda existir, muitas das bandas que foram contemporâneas a vocês não estão em atividade mais. Não há muitos sobreviventes do Britpop, pode-se dizer. O que faz vocês durarem tanto?
Alex: É, acho que é a vontade de evoluir. O Britpop só aconteceu porque o Blur fez um segundo disco muito britânico e desafiador, batendo de frente com o grunge, que era o que prevalecia naquela época. É muito mais difícil fazer algo diferente do que continuar fazendo sempre o mesmo. Penso que o fato de que nos inspiramos musicalmente e de tocarmos juntos há tanto tempo, de não ter medo de nos expressarmos e… Porra, eu não sei como funciona, mas louvado seja Deus! [risos] Mas parece sim como andar de bicicleta.
TMDQA!: Sorte a nossa.
Alex: Sorte a minha também [risos].
TMDQA!: Obrigada pelo seu tempo, Alex. Espero que se divirtam muito nessa turnê e que nos vejamos no Brasil.
Alex: [dedos cruzados] Eu iria adorar, vamos torcer.
TMDQA!: E adoraríamos receber vocês.
Alex: Obrigado. Foi um prazer falar com você.