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TMDQA! Entrevista: Jessie Ware conta tudo sobre colaborar com Róisín Murphy no remix icônico de Freak Me Now

Jessie Ware

Duas potências da disco e dance music estão juntas em “Freak Me Now”, remix que une Jessie Ware a Róisín Murphy. A faixa integra originalmente o elogiado novo disco de Jessie, That! Feels Good!, e agora é reimaginada ao lado de uma das rainhas das pistas das últimas décadas.

Merecidamente, Jessie Ware segue colhendo frutos de seu quinto disco de estúdio, um trabalho celebratório dos prazeres da vida – mas, como sempre, entregando uma vulnerabilidade lírica que permeia toda a discografia da cantora inglesa. Lançado em agosto de 2012, Devotion foi seu álbum de estreia, uma mescla de elementos do R&B contemporâneo, soul e música eletrônica. Destacam-se faixas como “Wildest Moments”, “Running” e “110%”, canções que garantiram uma boa recepção inicial.

Dois anos depois, viria Tough Love. Neste trabalho, ela aprofunda sua sonoridade, com influências do R&B dos anos 80 e batidas eletrônicas sutis. Em seguida, Glasshouse (2017) levou a artista a temas mais pessoais e introspectivos. O álbum apresenta uma abordagem mais soul e R&B clássico, enquanto ainda incorpora elementos eletrônicos.

Um ponto de virada chegaria com What’s Your Pleasure?. Lançado no auge da pandemia, em 2020, o álbum se inspira na música disco dos anos 70 e 80, com batidas dançantes e uma abordagem mais ousada. Músicas como “Spotlight”, “Save a Kiss” e a faixa-título refletem essa nova direção musical.

Em 2023, Jessie retornou de forma triunfal com That! Feels Good!, um trabalho superlativo já indicado pelas duas exclamações do título.

Jessie Ware

Ao longo dos anos, Jessie Ware foi ganhando notoriedade no nicho do Sophisti-pop, um subgênero que ela ajuda a popularizar para além da ideia elitista a que é associado. Na verdade, Jessie pode até ter uma sonoridade sofisticada, mas o faz sem parecer inacessível. É pelo seu carisma que ela é mais conhecida, seja nos palcos, seja no seu podcast – o ótimo Table Manners, apresentado ao lado de sua mãe, Lennie Ware – ou mesmo nos livros que já publicou.

Aos 38 anos e com mais de uma década de carreira, Jessie finalmente se sente confortável em descrever-se como artista. E dá a volta completa, se reunindo com mais uma das suas maiores referências, a icônica Róisín Murphy, para uma versão revigorada de “Freak Me Now”.

Jessie Ware conversou sobre esse momento com o Tenho Mais Discos Que Amigos! direto de sua casa, em Londres. Confira o papo abaixo!

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Jessie Ware: Oie! Como você está?

TMDQA!: Estou bem, Jessie! E você?

Jessie: Estou ótima!

TMDQA!: Ah, que bom. Onde você está no mundo hoje?

Jessie: Estou na região sul de Londres. Está bem ensolarado. A casa está cheia de crianças. Depois disso eu vou arrumar meu quarto.

TMDQA!: Então de volta aos afazeres de sempre, né?

Jessie: De volta à domesticidade e à vida real! De parar de falar sobre mim mesma e ir lavar uma roupa.

TMDQA!: Eu tenho uma criança só, mas sei exatamente como é isso.

Jessie: Sua filha tem quantos anos?

TMDQA!: Tem 3, então já viu…

Jessie: Os meus de 2 nos deixam de cabelo em pé, é louco.

TMDQA!: São todos assim.

Jessie: Mas são todas crianças loucamente lindas, não é?

TMDQA!: Com certeza. Mas bem, quero falar sobre esse novo remix, de Freak Me Now com a Róisín Murphy. Porque colocar vocês duas na mesma frase é algo que faz muito sentido e algo que queriam fazer há algum tempo. Então, de todas as músicas de That! Feels good!, por que essa foi a escolhida?

Jessie: Acho que é uma música enérgica, pra cima. Róisín tem tanta personalidade e identidade que pareceu apenas… Bem, eu não sabia se ela ia gostar ou não, sabe? É bem diferente das coisas novas que ela tem lançado. E eu pensei que ela poderia só falar “não, podemos fazer uma música original juntas”. Ela topou logo, ela é demais. O disco dela sai em breve e ainda assim topou fazer o single comigo. Nos divertimos muito fazendo o clipe, ela gravou a parte dela remotamente, uma sugestão que fiz e ela aceitou. O resto é história. Fizemos o clipe, é uma maluquice, vai fazer você sorrir. Se você ama a Róisín ou se gosta de mim, vai te deixar feliz. Estamos nos divertindo tanto. Foi um momento de me beliscar, porque ela é um ídolo meu. É tão importante no mundo da música eletrônica, e sendo uma mulher fazendo música… Bom, ela vai me matar por dizer isso, mas como uma mulher mais velha nesse mercado, alguém que faz isso há duas décadas, se mantendo importante… Pra mim, isso é inspirador. E tenho um respeito enorme por ela. Foi assim que aconteceu e ela simplesmente é a melhor. 

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TMDQA!: Ah, aposto que sim! Agora, depois de What’s Your Pleasure?, um título como That! Feels good! me faz pensar que você está mirando em uma trilogia sobre prazer e pontuação – o que, pra alguém que escreve, é basicamente a mesma coisa! Estou com um faro bom ou não?

Jessie: Sabe de uma coisa? Eu acho que o próximo disco completará a trilogia dessa era. Então acho que você está sim com uma boa percepção.

TMDQA!: Ah, então já temos alguma coisa! Agora, não é segredo que suas músicas são festivas, são provavelmente a trilha de muitas festas por aí. Tenho a teoria que se alguém dá play em algo seu, um garçom se materializa com taças de champagne! Mas se você para pra ouvir as letras, elas falam de coisas profundas, como amor, perda, lutas internas. Então queria saber como você equilibra isso, de garantir que as letras sejam cruas e intensas, mas que as músicas continuem sendo uma celebração.

Jessie: Acho que esse é o poder da música dance e da disco. Você pode ter uma música tipo – nem digo que eu tenho uma música assim, mas tipo “Young Hearts Run Free”, de Candi Staton. Faz todo mundo dançar, tá todo mundo lá, turu ru ru ru [cantarolando]… E enquanto isso, a Candi estava passando por algo chocante enquanto cantava isso [o divórcio do músico Clarence Carter]. Mas parece sincero e honesto.

Penso que o que funciona pra mim é fazer algo menos autobiográfico e mais voltado para as histórias das outras pessoas, mas ainda ter aquela sensação de que é algo universal, aquela emoção, seja uma nota que você alcança, ou uma pergunta, como “podemos começar de novo?” (can we begin again?). É para todas as pessoas e pra mim também. Mas sinto que esse é o poder da música dance e da música em geral. Pode significar muitas coisas diferentes para as pessoas. Mas se parece verdadeiro quando parte do autor ou do vocalista, então se transfere para as experiências de todo mundo. Sabe o que quero dizer?

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TMDQA!: Com certeza. É muito impactante. Eu estava vendo algumas entrevistas suas e quando você fala sobre ser artista, sinto que você demorou para aceitar isso em si mesma. Então queria saber se é algo que você ainda não está convencida, ou então o que mudou quando você finalmente entendeu que é, sim, uma artista.

Jessie: Eu me senti por uma fraude pelos primeiros discos. Eu não conseguia dizer que era artista, eu falava que era cantora. Eu me sentia uma idiota dizendo “artista”. Mas com os últimos dois discos, porque houve um conceito maior em torno deles, houve uma identidade maior, eu sinto que sou a artista que pretendia ser, mas não sabia como chegar lá. Eu parava, eu me segurava por ter medo, por estar em negação, pela autodepreciação. Eu era minha pior inimiga com isso. Era o medo de dizer que eu era artista e que as pessoas usassem isso contra mim. Sinto que passei pela tempestade – de entender quem eu sou – e acho também é por conta de amadurecer, sabe? Não sei, há quanto tempo você é jornalista?

TMDQA!: Há 14 anos.

Jessie: E você no começo não sentia que você estava fingindo até conseguir de fato? 

TMDQA!: Acho que até hoje eu sinto que faço isso! 

Jessie: Todos nós fazemos. E você não acha que é algo relacionado ao gênero também? Por ser mulher, e isso me faz ficar muito brava comigo mesma. Mas sinto que estou fazendo minhas melhores músicas, e eu já estou no quinto álbum. Muita gente não consegue fazer nenhum disco, e eu cometi erros, aprendi e ainda estou aprendendo. Tive o espaço de conseguir fazer os álbuns, graças à minha gravadora, mas também graças aos fãs, que ficaram ali. Sinto que todos estavam esperando que eu estourasse. As pessoas ainda estão me descobrindo, o que é muito empolgante. Me tornei a artista que me sinto confortável de ser. E isso é a uma sensação muito maravilhosa e reconfortante. 

TMDQA!: Aposto que sim! Sorte a nossa. 

Jessie: Ah, obrigada!

TMDQA!: Eu vi você citar o show de São Paulo como um dos mais loucos dos últimos tempos, mas você já tem um disco novo, o que significa que a campanha come to Brazil já está a todo vapor a essa altura. Sei que temos que encerrar, mas queria saber se temos alguma novidade nesse sentido.

Jessie: Sabe, eu vou ligar pra minha agente logo que encerrarmos aqui. Eu ainda não enchi o saco dela sobre a conversa do Brasil. A América Latina pra mim, nem era uma opção nos primeiros discos. E assim que o What’s Your Pleasure? aconteceu, foi assim, América Latina, uau. E eu amo isso, é um lugar que eu amo e quero estar aí. A América do Sul foi uma experiência maravilhosa, São Paulo foi um momento de definir uma carreira naquele palco. Quero retornar, de novo, de novo e de novo. Se eu puder, irei. Vocês são prioridade!

TMDQA!: Então vamos fazer acontecer. Obrigada, Jessie, por seu tempo.

Jessie: Muito amor para vocês. Obrigada! [em português]