Curadoria musical é um assunto pra lá de interessante.
Em uma época onde temos tantos festivais acontecendo ao mesmo tempo, parece que volta e meia a maioria deles acaba caindo em lugares comuns e escalando as mesmas atrações, trocando apenas o CEP e realizando os eventos em diferentes regiões do país.
Mas esse não é o caso com Daniel Tamenpi, que já acumula alguns bons anos de carreira e curadoria, e tem um olhar diferenciado para montar as escalações dos eventos em que participa.
Nas pistas desde 1999, foi criado no Hip Hop e, como DJ, engloba gêneros que passeiam pelo Jazz, Soul, Funk, Reggae, Música Brasileira, Latina e Africana.
Carioca morando em São Paulo desde 2008, foi DJ residente de festas tradicionais como a Groovelicious (Lions Nightclub) e Chocolate (Clash Club) e ainda tem no currículo turnês internacionais pelos Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia. Já acompanhou no palco nomes importantes no cenário brasileiro como Marcelo D2, Black Alien, BNegão, MC Marechal e Karol Conka e dividiu line-up com estrelas mundiais como De La Soul, Busta Rhymes, Mos Def, Pusha T, Kaytranada, Bonobo, Flying Lotus, Nightmares On Wax, Questlove, DJ Shadow, DJ Jazzy Jeff, DJ Premier, entre outros.
Fora das pistas, ele é conhecido por conta de suas pesquisas musicais, e o projeto Só Pedrada Musical (@sopedradamusical) evidencia seu trabalho como curador e jornalista através de um blog criado em 2006 e que se tornou referência no país inteiro.
Recentemente, colaborou com o lendário Nelson Motta através de uma minissérie sobre shows especiais do festival Doce Maravilha, no Rio de Janeiro, que promoveu alguns dos encontros mais esperados da MPB nos últimos anos.
O TMDQA! conheceu o trabalho de Daniel Tamenpi no MECA Inhotim, em Minas Gerais, onde ele foi responsável pela seleção dos artistas que se apresentaram no Heineken Stage.
Impressionados com a seleção musical rica e diversa, conversamos com ele a respeito desses processos e como ele enxerga o trabalho de curadoria.
Vem com a gente nesse papo!
TMDQA! Entrevista Daniel Tamenpi
TMDQA!: Como foi pra você fazer a curadoria do Heineken Stage no Meca Inhotim? Qual foi o maior desafio desse projeto?
Daniel Tamenpi: Eu sou DJ há 24 anos e trabalho também nessa frente com curadoria desde 2011. Amo demais esse lado de pensar na história musical que será contada dentro da programação que estou montando. Então foi um prazer imenso ser convidado pela Agência Atenas pra fazer a curadoria da pista de DJs da Heineken no Meca, que é um dos festivais mais bacanas do país. Principalmente pela questão da valorização da cena local mineira que está muito prolífica e efervescente. Já conhecia bastante da galera de BH e consegui ir mais a fundo e descobri ainda mais artistas bacanas que estão fazendo um trabalho relevante.
TMDQA!: Quais são suas principais referências na música? Em quem você se inspira?
Daniel Tamenpi: Eu sou cria do hip-hop desde meados da década de 90, o rap entrou na minha vida na adolescência e nunca mais saiu. A partir desse envolvimento com a cultura hip-hop acabei virando DJ em 1999, e através das pesquisas indo atrás dos samples os meus ouvidos se expandiram pra outros gêneros como o jazz, soul, funk, reggae, música brasileira, latina e africana. Então essas são as referências sonoras do Tamenpi, mas a principal referencia é o rap, mas o lado alternativo do rap, o rap consciente, que se funde a outros gêneros do passado, não esse lado do rap mainstream, de ostentação que vive mais de pose do que de conteúdo. Meus ídolos nos toca-discos são DJ Jazzy Jeff, Skratch Bastid, DJ Premier, DJ Koco Shimokita, DJ Marky, DJ Nuts, DJ Hum, DJ KL Jay, Zegon, entre muitos outros.
TMDQA!: A gente viu que o objetivo durante o MECA Inhotim era “contar histórias” através dos sets. E quem tava lá conseguiu passear pela sonoridade dos artistas. Agora pra você, qual história você gosta de contar quando está tocando?
Daniel Tamenpi: Eu sou bem desses DJs que contam histórias sonoras através dos sets. Não são todos os lugares que a gente consegue fazer isso. Mas nas festas que eu produzo como Só Pedrada Musical por exemplo, é exatamente pra ter essa liberdade de começar tocando reggae, ir pro soul/funk das décadas de 60/70, muita música brasileira, muito rap, indo até os bpm mais acelerados do disco/boogie. Aí eu saio feliz e de alma e ouvidos lavados!
TMDQA!: Somos o Tenho Mais Discos Que Amigos! Então queremos te pedir uma indicação de um disco que faz parte da sua vida como um verdadeiro amigo!
Daniel Tamenpi: Uma indicação é algo praticamente impossível, então vamos com algumas, englobando os diversos gêneros que eu toco e escuto. Na música brasileira: “Coisas” do Moacir Santos e “Os Afro Sambas” do Vinicius de Moraes e Baden Powell mudaram a minha forma de enxergar a música brasileira. No jazz, o “Kind Of Blue” do Miles Davis foi a minha porta de entrada. No rap, pode colocar todos os álbuns do A Tribe Called Quest, De La Soul, The Roots, Jurassic 5, essa linha mais alternativa, consciente e que se conecta bastante com o jazz e soul. E falando em soul e neo-soul, Nina Simone, Erykah Badu e Sade são as minhas rainhas. Amo tudo delas. Além da nata soul de Marvin Gaye, Stevie Wonder, Bill Withers, Al Green e Curtis Mayfield. Todos impecáveis! Sem falar no rei do pop, Michael Jackson. Foi mal, mas falar comigo somente de 1 disco ou 1 artista é algo impossível. Rs
TMDQA!: Temos mais projetos pela frente com Heineken? Qual é o próximo e o que a gente pode esperar?
Daniel Tamenpi: Sim, temos mais coisas pela frente pra rolar com Heineken, mas por enquanto é sigilo. Além do MECA Inhotim, esse ano eu fiz a curadoria do palco da Heineken no MITA Festival no Rio e São Paulo. E acredito que os próximos MECA no Rio e São Paulo também estarei nessa frente.
Aprecie com moderação.