"Maior colonizador do Rock": há 47 anos, Eric Clapton era detonado após comentários racistas em show

Influenciado pelo Blues, Eric Clapton destilou preconceito em 1976, deu força ao Rock Against Racism e foi chamado de "maior colonizador do Rock".

Eric Clapton no Rio de Janeiro, 2012
Foto de Eric Clapton no Brasil via Shutterstock

Não é de hoje que Eric Clapton manifesta opiniões no mínimo controversas, pra não dizer criminosas. O guitarrista britânico, que virou notícia na pandemia por ser anti-vacina e anti-lockdown, protagonizou um episódio racista nos anos 70.

O ano de 1976, especificamente, marcou a ascensão de políticos de extrema direita no Reino Unido, país que enfrentava uma forte recessão gerando pobreza extrema, violência nas ruas e uma crise imigratória.

Até o lendário David Bowie teria embarcado nessa onda nacionalista e, após lançar o personagem Thin White Duke (algo como “duque branco e magro”) no disco Station to Station, teria dito que seu país “poderia se beneficiar de um líder fascista”.

Mas Eric Clapton ultrapassou todos os limites durante um show em Birmingham naquele mesmo ano, há quase exatos 47 anos, e suas falas ao microfone sobre “imigrantes de pele escura” incentivaram a criação do movimento “Rock Contra o Racismo”.

Falas racistas de Eric Clapton em 1976

De acordo com a revista britânica Far Out, Eric Clapton estava visivelmente bêbado quando interrompeu as músicas e iniciou um discurso ignorante e agressivo contra o seu próprio público:

Não deixem o Reino Unido se tornar uma colônia negra. Mandem os estrangeiros embora e mantenham o Reino Unido branco. Tem algum estrangeiro na plateia esta noite? Se há, por favor, levante as mãos.

Bom, onde quer que vocês estejam, eu acho que vocês deveriam sair. Não apenas sair deste show, sair do nosso país. Eu não quero vocês aqui. Ouçam o que estou dizendo! Nós deveríamos mandar todos eles de volta.

Esse discurso chocante foi o estopim para a criação do Rock Against Racism, definido como um “movimento de base contra o veneno racista no Rock” e que teve o The Clash como um de seus principais líderes, como você pode ver no vídeo ao final da matéria.

Além de organizar eventos para combater a intolerância, o “Rock Contra o Racismo” publicou cartas direcionadas a Clapton na revista musical Sounds, detonando o guitarrista e chamando-o de “maior colonizador do Rock”:

Clapton fala sobre ‘estrangeiros’ no nosso país. Ora, quem é o estrangeiro de verdade? A comunidade asiática que paga seus impostos como todos nós? Ou estrelas do Rock como Clapton e Bowie, que moram nos Estados Unidos para não precisarem pagar taxas sobre os valores exorbitantes de discos e ingressos que arrancam de seus fãs?

Não custa lembrar que Eric Clapton se considera um artista de Blues, gênero criado por negros e por “estrangeiros” – os americanos do Delta do Mississippi – e se beneficiou de músicos com essa origem durante toda a sua carreira.

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Músico pediu “desculpas” e Rock Against Racism segue na ativa

Anos depois, o músico demonstrou arrependimento por suas falas e atitudes nos anos 70 e chegou até a doar dinheiro para o movimento Rock Against Racism.

Seu discurso ao pedir desculpas, no entanto, continuou repetindo diversos “clichês” usados por quem carrega o racismo estrutural dentro de si:

Tenho vergonha de quem eu era, uma espécie de ‘semi-racista’. Aquilo não fazia sentido. Metade dos meus amigos eram negros na época. Eu já namorei uma mulher negra e sempre defendi a música negra.

Então tá, né? Em tempo, o Rock Against Racism segue na ativa até hoje, e você pode conhecer o movimento através do site oficial. O projeto também foi tema de um documentário chamado White Riot, o qual você pode conhecer melhor por aqui; aproveite e veja o trailer da obra logo abaixo.