Matuê tem consolidado seu nome como um dos maiores representantes do trap brasileiro e sua presença na edição de estreia do The Town é mais uma confirmação de que ele tem feito um excelente trabalho.
Depois de ser responsável por um dos melhores shows do Rock in Rio 2022, que contou com skatistas, guitarras e até homenagem ao Charlie Brown Jr., o trapper cearense está prestes a celebrar o Nordeste durante sua apresentação no palco The One no segundo dia do The Town, que acontece em 3 de Setembro no Autódromo de Interlagos, em São Paulo.
Em conversa exclusiva com o TMDQA!, Matuê confessou que ainda está “batendo cabeça” com sua equipe para poder entregar uma homenagem potente, mas deixou claro que sua missão é enaltecer sua cidade natal, Fortaleza, o Nordeste e os músicos da “nova escola”:
Eu vejo que nós aqui, de certa forma, somos esquecidos. Somos vistos de uma maneira meio regional e, na verdade, é muito pelo contrário: a gente tem artistas nordestinos liderando e inovando em vários estilos musicais diferentes. Não só aqui no trap, no hip hop, né? E às vezes isso não é dito o suficiente, não é ressaltado o suficiente, tá ligado? Eu vou estar dando esse salve pro 085, pra minha cidade, pro Nordeste como um todo que é uma coisa que está no meu coração demais, toda hora.
Matuê também comentou sobre a presença de outros artistas de sua gravadora e produtora 30PRAUM, como WIU e Teto, que são atrações confirmadas no novo festival. O trapper destaca que o mais legal da entrada deles no line-up “é ver que os moleques estão prontos”.
Na entrevista, o músico também comentou sobre seu gosto musical e citou bandas e artistas que servem de inspiração para o seu trabalho, inclusive influenciando um lado mais punk e rock que ele tem abordado em faixas como “Flow Espacial”.
Confira a conversa na íntegra logo abaixo!
TMDQA! Entrevista Matuê
TMDQA!: Oi Matuê, tudo bem? É um prazer estar conversando contigo. Pra gente começar, no ano passado você fez um dos shows mais legais do Rock in Rio, homenageando o skate, o Charlie Brown Jr., e fazendo uma ponte entre o rock, o rap e o trap. Depois de um show tão especial, qual a expectativa pro The Town? Podemos esperar algo parecido, outras inovações…?
Matuê: Bom, boa tarde primeiramente, Lara, tamo junto! Obrigado pelo seu tempo. Falando um pouco sobre isso, eu diria que a gente tá buscando superar com certeza a apresentação do Rock in Rio, que já foi super marcante, né? A gente conseguiu trazer vários elementos que fazem parte da minha música, da minha história, e dessa vez não vai ser diferente. Eu sou nascido e criado aqui em Fortaleza e sou totalmente apaixonado pela minha cidade. Continuo aqui independente da questão da ponte aérea, que às vezes pra nós artistas é muito pesada, muito puxada, mas eu tiro muita inspiração aqui da cidade. Então, sempre que eu posso… quem me conhece e conhece as minhas músicas vê que na verdade estou sempre falando da minha cidade, sempre dou um salve pro 085, pra Fortaleza. Então, dentro desse novo show, eu quero poder dar essa moral de novo, mais uma vez, porque isso é uma coisa que é importante dentro da minha missão como artista.
Eu vejo que nós aqui, de certa forma, somos esquecidos. Somos vistos de uma maneira meio regional e, na verdade, é muito pelo contrário: a gente tem artistas nordestinos liderando e inovando em vários estilos musicais diferentes. Não só aqui no trap, no hip hop, né? E às vezes isso não é dito o suficiente, não é ressaltado o suficiente, tá ligado? Eu vou estar dando esse salve pro 085, pra minha cidade, pro Nordeste como um todo que é uma coisa que está no meu coração demais, toda hora.
TMDQA!: Eu sou de Salvador e acompanho muitas bandas e artistas que lutam pra conseguir mostrar seus trabalhos. Então, é muito bom a gente ver artistas aqui do Nordeste saindo e brilhando mesmo.
Matuê: Sendo protagonista! Eu acho que essa é a palavra, tá ligado? A parada do protagonismo do nordestino hoje incomoda muita gente, mas é bom, tem que ser normal, entendeu?
TMDQA!: Com certeza. A qualidade está ali no mesmo nível.
Matuê: Muito obrigado.
TMDQA!: Falando sobre o Nordeste… O seu show foi anunciado como “Matuê convida o Nordeste”, e eu queria saber um pouquinho mais sobre essa homenagem, né? Você pretende trazer no seu repertório alguma adaptação de música de um artista do Nordeste? A gente tem exemplos de bandas como Raimundos que pegaram a sonoridade do nordeste e adaptaram ali para o Rock. Você enxerga a possibilidade de fazer isso também ou algo parecido com o trap e o rap?
Matuê: Eu ainda não quero deixar muito na mesa pra gente não entregar muito a parada, mas com certeza. Eu acho que isso já tem, que nem você falou, né? O próprio Raimundos, que se não me engano os manos eram de Brasília, mas acho que o Rodolfo tinha família em João Pessoa, alguma coisa assim, né? É uma banda que eu curti muito e eu notava muito essa questão de trazer essa pegada nordestina dentro do som.
Mas enfim, eu não queria falar muito sobre isso ainda, sabe? É uma coisa que a gente ainda está batendo cabeça pra poder entregar da melhor forma porque realmente é que nem você falou, é um conceito que abrange muita coisa. Como que você fala do Nordeste como um todo? Como que você representa o todo de maneira que você não esqueça ninguém, vamos dizer assim?
Mas acho que o que a gente mais quer fazer, na verdade, é trazer uma nova pegada; tipo, a gente realmente é uma nova escola de artista, tá ligado? Fugindo um pouco mais da coisa tradicional que se tem conhecimento da cultura nordestina e trazendo uma nova pegada, tá ligado? Então, a gente vai fazer isso muito do nosso jeito. Espero que a galera entenda.
TMDQA!: Estou curiosa para ver o resultado. Matuê, você acredita que talvez esse seja o seu maior momento enquanto representante do rap do Nordeste?
Matuê: Bom, eu espero que não, né? Talvez o maior momento até então, mas eu espero que a gente continue seguindo nessa função de representar o Nordeste e, com a 30PRAUM em si, a gente tem muito essa coisa de querer trazer mais artistas da nossa área e transformar em grandes nomes também.
É uma parada que faz parte da nossa missão fortemente e a gente continua caçando. Estamos ali sempre nos bastidores trocando ideias com os artistas, aconselhando, tentando ajudar da melhor maneira possível para que a gente possa engrandecer isso e trazer a coisa um pouco mais pro nosso eixo também, como a gente fez o Plantão [Festival] ano passado e conseguiu trazer uma rapazeada, mostrar que realmente tem um público enorme, uma galera que consome isso, que se sente vivendo ali através das nossas músicas.
TMDQA!: A gente sabe que o Rock in Rio tem um lugar especial no circuito de festivais, mas queria que você falasse um pouco sobre essa proposta do The Town, de levar esse formato do Rock in Rio pra SP e como isso foi apresentado pra você. Foi um projeto que logo de cara te deixou empolgado?
Matuê: Com certeza. Quem nos abordou pra falar sobre esse projeto foi o Zé Ricardo, né? Inicialmente eu estava um pouco por fora, tipo, eu não sabia do que se tratava mas logo de cara foi isso que eles me passaram: “Olha, nós vai basicamente fazer o Rock in Rio 2.0 em São Paulo, um bagulho muito louco”.
Então eu já fiquei doido! E partindo do Zé… Ele que inicialmente tinha chamado a gente pra fazer o Rock in Rio. Falaram assim “Olha, vocês precisam vir com a mistura doida, entendeu?”. E ele que fica meio em cima, tipo, “E aí? Qual vai ser? Como é que vocês vão trabalhar esse conceito e tal?”. E é uma pressão boa, eu diria. Porque a gente acaba entregando um bagulho bem doido.
TMDQA!: Vai estimulando a criatividade né?
Matuê: Exatamente. Então foi mais ou menos essa abordagem, e a gente já viu que a gente tinha, vamos dizer assim, uma grande plataforma e que a gente tinha que realmente chegar da melhor maneira, entendeu? Chegar grande.
TMDQA!: No festival, a 30PRAUM também vai marcar presença pra além do seu show com o Teto e o WIU. Qual a importância disso pra você, de ver essa galera também conquistando esse espaço? Dá pra dizer que é esse o objetivo da 30?
Matuê: Lógico, é muito louco pensar isso porque eu lembro que a gente passou muitos anos tendo dificuldade em executar essa visão de ter novos artistas e realmente tornar eles grandes nomes, vamos dizer assim. Foi um bom tempo, e eu até imaginei, “Pô, será que isso vai acontecer? Será que a gente vai conseguir achar esses moleques?”. Ainda mais esses moleques da nossa área mesmo, está entendendo?
Então, ver finalmente essa visão se concretizar, a gente continua acreditando, nós batalhamos. No caso do WIU, principalmente, que foi um moleque que, pô, chegou na 30 com 15 anos de idade, né. Hoje já está com seus 19 anos, então já tem uma caminhadinha aqui com a gente. A gente viu todo o crescimento, a mudança, a maturidade que ele ganhou criativamente, musicalmente, no trabalho, em tudo, pra poder estar vivendo esse momento que ele está vivendo agora e de estar subindo num palco desses, né? É uma resposta do caramba e mais legal ainda é ver que os moleques estão prontos pra entregar, entendeu? Isso pra 30 é muito foda.
TMDQA!: Mais recentemente, “Flow Espacial” trouxe de novo essa questão das guitarras, da influência do punk e do rock na sua música. Pra você, é uma influência que vai além da sonoridade?
Matuê: Com certeza, eu acho que várias coisas que eu já consumia desde moleque, que nem você disse… quando eu comecei eu tinha uma banda de punk rock misturado com reggae, era um bagulho bem doido e a gente já tinha um pouco das vivências parecidas com a que a gente tem hoje, de andar de skate, de se vestir da mesma maneira que a gente se veste, tá ligado? De andar do mesmo jeito, consumir as mesmas coisas. O lifestyle mesmo, é uma parada da gente ter roda punk no shows e a galera pular do palco, entendeu?
Então, são várias coisas que se conservaram que eu acho que têm muito a ver com a energia mesmo. São energias parecidas. Tem uma galera que foi fortemente influenciada pela geração anterior de punk rock, de hardcore, até do próprio Charlie Brown Jr., que era uma mistura também muito doida. Tá ligado? Permanece dentro dessa nossa caminhada atual. É uma renovação, eu diria.
TMDQA!: E quais bandas ou artistas que você poderia citar que servem e serviram como inspiração para você?
Matuê: Bom, eu vou falar algumas dessa época que eu ouvia muito. Hoje em dia já não é o que eu escuto no meu dia a dia, mas naquela época eu escutava no repeat, que era NOFX. Nossa, eu escutava muito, eu tinha todos os discos deles, conhecida todas músicas. Eles tinham uma música de 17 minutos, eu sabia a música do começo até o final, eu era esse tipo de fã.
Agora, de hoje em dia, nossa… Hoje em dia eu consumo música diferente do que antigamente, entendeu? Antigamente eu tinha muito mais discos de cabeceira, como as coisas eram um pouco mais inacessíveis e não tinha tanta música sendo lançada constantemente era diferente.
Mas deixa eu pensar. Ah, eu adoro Tame Impala! É uma coisa que hoje em dia, porra, tenho todos os vinil deles, sei toda as músicas, toda a caminhada do Kevin Parker, que pra mim é um músico foda. Ele como produtor também é um cientista do som, está ligado? Eu curto esse tipo de figura.
E agora uma de trap mesmo que foi muito chave pra mim, eu acho que é o [disco] Barter 6 do Young Thug. Foi o disco que eu ouvi e falei, “É isso, é isso que eu quero fazer agora. Já era”.
TMDQA!: Depois de tudo isso ainda veio “Conexões de Máfia”, e ali dá pra dizer que você furou a bolha totalmente trazendo o feat do Rich the Kid. Quão importante foi isso pra você e pra toda essa cena BR?
Matuê: Eu acho que a importância disso talvez a gente saiba daqui a um tempo, porque está muito recente ainda pra gente entender as pontes que foram conectadas através disso. Então, tem muita coisa que está acontecendo agora, tipo no backstage, de conexão com outros artistas, de produções, coisas que a gente está fazendo que eu acho que são devido a isso, entendeu?
Mas é uma coisa que a gente vai ver daqui a algum tempo. Eu sempre tento fazer meus lançamentos com excelência, né? Tipo, aquela ideia do mafioso… Imagina, eu tinha uma outra ideia, um outro roteiro completamente diferente pra esse lançamento de “Conexões de Máfia” e de repente eu joguei aquela ideia fora e de um dia pro outro eu fiz um novo roteiro — com a ajuda da minha equipe criativa, o diretor criativo da produção que enriqueceu muito a parada ali —, mas eu tenho muita coisa de me envolver e mexer ali e tentar fazer alguma parada chocante, né? O clipe foi uma coisa bem cinematográfica.
TMDQA!: Matuê, pra gente encerrar, queria te perguntar um pouquinho dos próximos lançamentos. Tem alguma novidade que você pode contar pra gente, de um lançamento de single, se os fãs podem esperar também alguma surpresa no show do The Town?
Matuê: Então, eu estou atualmente trabalhando no meu disco, né? Eu tenho gravado bem mais ultimamente e, graças a Deus, vou ter uma pausa agora justamente pra poder focar nisso. Então, tanto lançamento de single quanto de disco é uma possibilidade iminente, eu diria. Em qualquer momento pode vir um lançamento novo.
Mas como eu não gosto de anunciar, especificamente, a rapazeada que acompanha sabe mais ou menos as prévias aí, as coisas que estão na mesa, os projetos. Mas está entre eu lançar o meu próximo disco, né? O 333 ou algum single novo, alguma coisa quente aí pra rapazeada só pra dar uma segurada na galera enquanto não sai o disco mesmo.
TMDQA!: Matuê, muito obrigada pelo tempo. Te desejo um ótimo show no The Town, e vamos estar acompanhando tudo por aqui também.
Matuê: Estamos juntos, muito obrigado, tá? Só agradeço o seu tempo aí. Lara, bom trabalho, boa tarde!