Fundador da revista Rolling Stone coloca artistas negros e mulheres em "nível abaixo" de homens brancos

Jann Wenner, fundador da revista Rolling Stone, fez comentários preconceituosos ao tentar justificar falta de diversidade em seu novo livro. Saiba mais.

Fundador da Rolling Stone, Jann Wenner tem falas preconceituosas
Foto via Wikimedia Commons

Jann Wenner, cofundador da revista norte-americana Rolling Stone, fez comentários infelizes ao falar sobre o seu próximo livro, The Masters (que em tradução livre significa “Os Mestres”).

Em entrevista ao The New York Times (via CoS), Wenner tentou justificar a falta de diversidade na obra que traz um compilado de entrevistas com sete músicos — todos homens brancos. São eles Bono (U2), Bob Dylan, Jerry Garcia (The Grateful Dead), Mick Jagger (Rolling Stones), John Lennon (Beatles), Bruce Springsteen e Pete Townshend.

Através de comentários extremamente preconceituosos, o empresário argumenta que os artistas negros e mulheres “simplesmente não se articulavam no mesmo nível” dos artistas brancos do sexo masculino.

Falta de diversidade no livro do fundador da Rolling Stone

Entre as explicações que Jann Wenner forneceu durante a entrevista esteve um esclarecimento em relação à introdução do livro The Masters, em que ele observa que os performers negros não faziam parte de seu “zeitgeist” – palavra em alemão que significa “o espírito da época”. Ele apontou:

Quando eu estava me referindo ao zeitgeist, estava me referindo aos artistas negros, não às artistas mulheres, ok? Só para deixar claro.

Apesar disso, não faltou também desrespeito a artistas mulheres, com Wenner diminuindo até mesmo verdadeiras lendas do Rock como Joni Mitchell. Ele compartilhou que os artistas selecionados para o livro – sendo a maioria deles seus amigos íntimos – “não foram [parte de] uma seleção deliberada”.

De acordo com o empresário, foram escolhas “intuitivas” feitas a partir de seu “interesse pessoal e amor por eles”. De forma contraditória, no entanto, ele afirma que esses chamados “mestres” do Rock, fazendo referência ao nome do livro, também “tinham que atender a alguns critérios” e estar à altura de um conflitante “padrão histórico”:

No que diz respeito às mulheres, nenhuma delas era articulada o suficiente neste nível intelectual. Joni [Mitchell] não foi uma filósofa do Rock and Roll. Ela não passou, na minha opinião, nesse teste. Nem pelo trabalho dela, nem pelas outras entrevistas que ela deu.

As pessoas que entrevistei eram filósofos do Rock… Suponho que quando você usa uma palavra tão ampla como ‘mestres’, o erro é usar essa palavra. Talvez Marvin Gaye ou Curtis Mayfield? Digo, eles simplesmente não se articularam nesse nível.

Tentando sair do assunto abordado, Wenner concluiu sua fala dizendo que deveria ter ido atrás de algum representante negro e de uma mulher por questão de “relações públicas”:

Só por uma questão de relações públicas, talvez eu devesse ter ido e encontrado um artista negro e uma mulher para incluir aqui que não correspondesse ao mesmo padrão histórico, apenas para evitar esse tipo de crítica. O que, bom, eu entendo.

Complicado!

Rolling Stone atualizou listas após saída de Jann Wenner

Em tempo, Jann Wenner deixou a direção da Rolling Stone em 2019.

A Consequence aponta que, no ano seguinte, a revista atualizou sua lista dos 500 melhores discos de todos os tempos e passou a incluir um número bem maior de cantoras mulheres e artistas negros em seu Top 50, como Beyoncé, Nas, Jimi Hendrix, Kendrick Lamar, Aretha Franklin e muito mais.