Por si só, o Emo é um dos gêneros mais subestimados da história da música. Associado a uma estética muito específica que marcou época, o Emocore na verdade surgiu muito antes de bandas como My Chemical Romance e Simple Plan o elevarem ao mainstream e tem suas origens ligadas ao Hardcore.
Com o passar do tempo, o estilo passou a ser mais respeitado e, principalmente, estudado por aqueles que talvez não tinham olhos para entendê-lo no passado. O problema é que revisitar esse catálogo não é uma tarefa fácil, já que são inúmeras bandas ao redor do mundo, em especial nos EUA, que se aventuraram pelo caminho do Emo.
Algumas o fizeram antes de encontrar uma sonoridade que seguia por outra direção, enquanto outras simplesmente foram lapidando uma identidade própria dentro do Emo com o passar do tempo. Outras, ainda, foram absolutamente influentes mas nunca conseguiram a mesma relevância que alguns de seus influenciados.
Pensando em todos estes trabalhos esquecidos do Emo, o TMDQA! separou uma lista com os 10 discos mais subestimados do gênero para você mergulhar com tudo nesse estilo tão único. Confira a seguir!
Alexisonfire – Alexisonfire (2002)
Apesar de ser mais conhecida por seu Post-Hardcore, a banda canadense Alexisonfire flerta bastante com o Emo em seu primeiro álbum, especialmente com o Screamo, vertente mais pesada do gênero. Com forte destaque para os vocais gritados de George Pettit em meio às belas melodias de voz de Dallas Green (City and Colour), o contraste chamou atenção de muita gente.
O AOF viria a desenvolver melhor sua sonoridade em trabalhos seguintes, o que fez com que os outros álbuns sejam bem mais reconhecidos do que este. Mas o Emo sempre esteve ligado à energia visceral e nenhum dos próximos discos tinha tanto disso quanto o homônimo lançado exatamente no Halloween de 2002. Músicas como “Pulmonary Archery” e “Waterwings” são ótimos exemplos!
Fall Out Boy – Take This to Your Grave (2003)
Outro caso de banda que é mais conhecida depois de se afastar um pouco do Emo, o Fall Out Boy acertou em cheio no gênero com sua estreia Take This to Your Grave, de 2003. A história é bem similar, aliás: o álbum tem uma pegada muito mais visceral do que seus sucessores, que trouxeram uma sonoridade mais elaborada e mais voltada ao Pop Punk, colocando a banda devidamente nos holofotes.
Em faixas como “Saturday” e “Dead on Arrival”, no entanto, são perceptíveis as influências mais cruas do gênero que inspirou o FOB de tantas formas. Até pela grande mudança de direção, Take This to Your Grave acaba muitas vezes sendo esquecido ao falarmos da discografia da banda e definitivamente merece um pouco mais de atenção dos fãs de Emocore.
Fresno – Quarto dos Livros (2003)
Conhecida como uma das grandes expoentes do Emo brasileiro, a Fresno definitivamente tem inúmeros trabalhos bastante reconhecidos dentro dessa cena. Quem merecia mais atenção, no entanto, é o disco Quarto dos Livros, que completou 20 anos em 2023 e finalmente ganhou um pouco mais de tempo nos holofotes com uma programação especial pensada pelo grupo.
Com músicas como “Stonehenge”, a banda liderada por Lucas Silveira esteve mais perto do que nunca daquilo que veio a ser conhecido como Real Emo — o “Emo de verdade”, termo usado para se referir aos grupos mais ligados aos primórdios do gênero em contraste com aqueles que surgiram anos depois.
Além disso, é claro, o fator de trazer essa sonoridade ao Brasil em pleno início de Anos 2000 é algo que não pode passar batido. Merece ser reescutado com cuidado!
Jawbreaker – Dear You (1995)
Uma das bandas mais importantes para o gênero, o Jawbreaker é muitas vezes subestimado até pelos próprios fãs do estilo. O ótimo Dear You, de 1995, navega por diferentes sonoridades e acaba sendo associado por algumas pessoas a outros rótulos, como o próprio Punk Rock e até o Grunge ocasionalmente.
A banda em si também nunca teve o destaque merecido, mesmo que tenha servido como influência para inúmeros nomes dessa cena, desde Dashboard Confessional até Saves the Day. Aliás, basta ouvir faixas como “Accident Prone” e “Fireman” para entender como isso é bastante perceptível!
Jets to Brazil – Four Cornered Night
Outra banda de influência seminal para o Emo que passa despercebida por muita gente é o Jets to Brazil. O projeto também veio de Blake Schwarzenbach (Jawbreaker), mas sua sonoridade se aproximava muito mais do Indie Rock, o que deu ao grupo uma característica muito própria dentro da cena.
Depois de um relativo sucesso comercial com o disco de estreia em 1998, o Jets to Brazil acertou ainda mais em cheio com Four Cornered Night, lançado em 2000 e muito bem recebido pela crítica — porém, muitas vezes deixado de lado pelo próprio público, ainda que tenha sido importante para desenvolver esse lado mais Indie do Emo.
Jimmy Eat World – Static Prevails
Depois de um primeiro álbum bem esquecível, o Jimmy Eat World chegou com tudo em 1996 inovando sua sonoridade e trazendo um novo aspecto mais Emo para o seu som. O resultado é o disco Static Prevails, considerado um dos mais importantes do gênero por sua crueza e proximidade do Punk e Hardcore, ambos influências fundamentais para o Emocore como um todo.
Acontece que, por todo o sucesso mainstream que a banda viria a ter no futuro, Static Prevails acaba sendo preterido até mesmo em relação ao sucessor Clarity (1999), que constantemente figura em listas dos mais importantes do gênero. Mas, na verdade, a coisa começou pra valer aqui!
The Promise Ring – Very Emergency
Uma das presenças mais curiosas nessa lista, Very Emergency é tão importante justamente por se afastar do Emo. O The Promise Ring já era uma das bandas mais consagradas do gênero naquele momento, e foi com esse trabalho que eles começaram a abraçar influências mais ligadas ao Pop Rock, o que foi fundamental para a ascensão do estilo nos anos seguintes.
A influência de Very Emergency é inquestionável, ainda que seu sucesso tenha sido bem pouco até mesmo dentro da carreira da banda. Muitos anos antes de grupos como Simple Plan e afins, o The Promise Ring aproximou o Emo e o Pop Punk, antes duas cenas distintas que vinham inclusive de lados opostos dos Estados Unidos. Fundamental!
Rainer Maria – Look Now Look Again
Não é exagero nenhum: sem o Rainer Maria, não existiriam bandas como Paramore, Rilo Kiley e tantas outras. Do interior de Wisconsin, o grupo já se diferenciava da cena Emo dominada por homens por ser liderado por mulheres, mas as composições também tinham uma pegada bem diferente do que as outras bandas vinham fazendo.
Look Now Look Again tem clássicos como “Planetary” e “Rise”, com sonoridades que lembram até mesmo o Math Rock, outro “filho” da cena Emo que foi ganhando mais espaço com o tempo. Visceral e cheio de honestidade, Look Now Look Again é uma verdadeira obra-prima que não pode ficar de fora de uma lista como essa.
Sunny Day Real Estate – How It Feels to Be Something On
É difícil dizer que o Sunny Day Real Estate é uma banda subestimada, já que suas contribuições para esta cena são muitas vezes colocadas como as maiores possíveis. Ainda assim, o grupo acaba sendo reduzido ocasionalmente aos dois primeiros discos lançados, e o ótimo How It Feels to Be Something On fica em segundo plano.
A verdade é que o terceiro álbum do SDRE é tão bom quanto os primeiros, e até conseguiu emplacar um certo clássico com “Pillars”. No decorrer do trabalho, também encontramos músicas como a faixa-título e a ótima “Guitar and Video Games” que destacam uma sonoridade mais sombria, sem tanta visceralidade como os antecessores mas com algumas das mais belas e melancólicas melodias da carreira da banda.
Thursday – Full Collapse
Pra fechar a lista, temos mais um caso curioso. É fato que Full Collapse é um clássico da cena Emo, com “Understanding in a Car Crash” sendo, de certa forma, um hit — são mais de 4 milhões de reproduções só no clipe lançado no YouTube, para se ter ideia.
Ainda assim, a influência do Thursday é incrivelmente subestimada. Grupos como o próprio My Chemical Romance e outros como Senses Fail e As Cities Burn já citaram a banda como referência e basta uma rápida comparação entre as visualizações de cada para entender por que a banda de Geoff Rickly merece esse espaço aqui para ter mais reconhecimento.