Há exatos 20 anos, o The Strokes se tornava uma exceção no “livro de regras” do Rock com o cultuado disco Room on Fire.
Explico: quantas histórias nós já vimos de artistas que explodem com seu álbum de estreia e são atirados em uma agenda extenuante de shows, entrevistas, encontros com novos fãs do mundo inteiro e muita pressão midiática, normalmente em uma idade muito jovem?
Com o álbum Is This It, em 2001, a banda de Julian Casablancas, do brasileiro Fabrizio Moretti e companhia promoveu uma revolução no Indie Rock, vertente do alternativo que graças a hits como “Last Nite” e “Someday” se tornava popular pelo planeta.
Na mesma época, outras bandas internacionais já experimentavam a sonoridade como o Phoenix com uma pegada mais Pop e eletrônica na França, o The Hives com um lado mais Punk na Suécia e o Jet flertando com o Rock mais clássico na Austrália. Mas foram os Strokes que definiram as bases para o “novo Rock” do século 21.
Se todos esses fatores levaram a uma pressão gigantesca de público, crítica, gravadora e todo o ecossistema do Rock, os Strokes não pareceram sentir nada disso ao lançarem seu segundo álbum de estúdio.
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Os hits e a sonoridade de Room on Fire
Lançado em 28 de outubro de 2003, Room on Fire vendeu mais de 500 mil cópias e atingiu a certificação de Ouro naquele mesmo ano; recentemente, em 2021, dobrou o número e conquistou o selo de Platina. Nas paradas, o álbum chegou ao segundo lugar no Reino Unido e quarto nos EUA.
Mas o legado do disco vai muito além do desempenho comercial. A história conta que os Strokes sabiam exatamente o que queriam quando entraram no estúdio, logo após encerrarem a turnê do Is This It, e tocaram todas as músicas inéditas logo no primeiro dia de ensaios.
Nos três meses seguintes, o grupo apenas poliu as 11 faixas do novo álbum, sempre com as guitarras de Albert Hammond Jr. e Nick Valensi lindamente entrelaçadas, como nos sucessos “12:51”, “Meet Me in the Bathroom” e “Reptilia” – um clássico que ganhou ainda mais força após aparecer no game Guitar Hero.
Há outras canções mais contemplativas, como a bela “Under Control” e a contagiante mas emocionalmente complexa “What Ever Happened?”, em que Casablancas abre o álbum renegando a fama com os versos “Eu quero ser esquecido, não quero ser lembrado”.
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The Strokes viveram polêmicas durante gravação do disco
Existem duas boas curiosidades envolvendo a produção de Room on Fire: você sabia que os Strokes poderiam ter aproximado seu estilo do Radiohead no início de carreira?
A banda americana tentou trabalhar com o produtor Nigel Godrich, colaborador de longa data da banda de Thom Yorke, mas a parceria não funcionou. O produtor justificou dizendo que ele e Julian Casablancas eram “muito parecidos”, e por isso não conseguiu contribuir com suas ideias.
Outra teoria diz que o ambiente com Nigel era repleto de festas, o que prejudicava o vício em drogas que alguns integrantes dos Strokes enfrentavam. A banda, então, chamou de volta Gordon Raphael, produtor do primeiro disco.
Outro fato interessante é que a icônica capa de Room on Fire não é uma arte original, e sim uma homenagem ao pintor e escultor inglês Peter Phillips, hoje com 84 anos. A obra original se chama “War/Game”, e foi feita em 1961.
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O legado de Room on Fire, do Strokes
Cortando pra 2023, se analisarmos o legado do Indie Rock como um todo, talvez o gênero não tenha se sustentado tanto como o Nu Metal de Linkin Park e System of a Down, ou outras vertentes do Alternativo com Smashing Pumpkins e The White Stripes – pelo menos no quesito popularidade.
Mas os Strokes seguem na ativa com quase 26 anos de carreira, encabeçando festivais pelo planeta e, entre altos e baixos na discografia, fez um grande retorno com o disco mais recente The New Abnormal (2020).
A banda já está preparando um trabalho novo para 2024, e não se deve nunca duvidar da capacidade dos Strokes de se manter relevante dentro do Rock.