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Entrevista: Take That, fenômeno dos anos 90, segue firme com novo disco

Ícone de uma geração e conhecida por conta de Robbie Williams, a banda britânica Take That segue firme, forte e lançando seu novo disco.

Take That
Take That

O Take That ficou conhecido como “o grupo que revelou Robbie Williams”, o que não é totalmente justo. Primeiro porque tanto Robbie quanto o Take That passaram muito mais tempo distantes do que juntos. E segundo porque desmerece o trabalho feito desde que o Reino Unido descobriu seu bad boy favorito daquela geração. 

A discografia do Take That é marcada por uma evolução sonora, transitando entre o pop cativante e baladas emocionantes. O álbum de estreia, Take That & Party (1992), estabeleceu o grupo como um fenômeno juvenil, enquanto Everything Changes (1993) já parecia um prenúncio de tudo que iria mudar em seguida. O afastamento de Robbie Williams coincidiu com a exploração de uma sonoridade mais madura e experimental, evidenciada em álbuns como Progress (2010), que incorporou elementos de música eletrônica. Ao longo de sua carreira, o Take That demonstrou uma notável adaptabilidade, mantendo uma base de fãs leal e influenciando gerações subsequentes de artistas pop.

A ascensão meteórica do quinteto de Manchester os levou a vender 50 milhões de álbuns em cinco anos, graças a hits como “Pray” “Back For Good”. Com a saída de Williams em 1995, Gary Barlow, Mark Owen, Jason Orange e Howard Donald anunciaram o fim do Take That um ano depois. Em 2010, chegaram a se reunir com Robbie. E, desde 2014, estão em formato de trio, com a decisão de Jason Orange em não se comprometer com novos álbuns e shows.

Gary, Mark e Howard, por outro lado, não pensam em fazer outra coisa da vida. O que eles desejam, mesmo, é seguir cantando e lançando músicas, realizando turnês e talvez até vir ao Brasil – Barlow já conhece o carinho do público brasileiro, onde esteve promovendo sua carreira solo após o fim da primeira fase do Take That.

Já faz quase 10 anos que a formação de trio se consolidou, originando álbuns como III – explicitando os membros remanescentes – e Wonderland, além de Odyssey, uma compilação que viria a se tornar o oitavo disco número 1 da banda. Em 2018, este foi o álbum que vendeu mais rápido no Reino Unido, chegando a 100 mil cópias na primeira semana e posteriormente à platina. 

Agora, o Take That quer olhar para o futuro, mas sem perder de vista os aprendizados da vida, e lançam nesta semana o álbum This Life. Todos os seus membros já ultrapassaram a marca dos 50 anos de idade, o que faz de suas novas canções oportunidades de reflexão sobre uma vida bem vivida. Conversamos com Gary, Howard e Mark sobre este novo momento em uma entrevista exclusiva, que você lê logo abaixo.

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TMDQA! Entrevista: Take That

TMDQA!: Oi pessoal, como estão?

Todos: Ótimos!

Gary Barlow: Deixa eu só te falar – o nome desse site é brilhante!

TMDQA!: Ah, muito obrigada! É a verdade, preciso dizer (risos).

Gary: Daria uma ótima música.

TMDQA!: É mesmo. Quem sabe vocês não podem fazer algo sobre isso?

Gary: Acho que alguém melhor que nós talvez consiga.

TMDQA!: Olha, não sei não, viu? 

Gary: É uma ótima ideia. 

TMDQA!: Poxa, muito obrigada. Pessoal, primeiro queria reconhecer uma coisa: só estou aqui porque me apaixonei por música aos 9 anos, ouvindo boy bands e bandas como Take That, que me ajudaram a descobrir quem eu era em momentos diferentes da vida. Então, muito obrigada.

Gary: Que sensacional.

TMDQA!: Vamos lá: queria entender a linha do tempo. Desde que se reuniram como banda, vocês tentam lançar um disco a cada dois anos, mais ou menos. Mas seis anos é provavelmente o máximo de tempo que já ficaram sem música nova. Claro que teve um monte de coisa no meio, tipo trocar de gravadora e uma pandemia global. Só queria entender como funcionou esse timing pra vocês. Por que agora?

Gary: Sabe, você está certa. Você listou duas grandes coisas aí. Mas antes de entrar na linha do tempo, preciso dizer que o disco de grandes sucessos era algo que sempre voltava à discussão. Isso voltou há uns dois álbuns atrás: a gravadora quer um Greatest Hits. A gente ficou empurrando com a barriga a cada novo disco, mas sabíamos que eventualmente teríamos de fazer. Então pensamos num conceito diferente, de unir algumas faixas, reorquestrá-las, regravá-las. Sentimos que fomos além do estigma das compilações, que é de só empacotar música velha no mesmo saco. Lançamos isso [o álbum Odyssey] em 2018 e fizemos turnê em 2019. Quando terminamos a turnê, dissemos, “não vamos fazer o de sempre, de lançar um álbum a cada dois anos e fazer shows. Vamos dar um tempo maior dessa vez”. Entretanto, a pandemia aconteceu. Então acho que isso adicionou pelo menos dois anos aos planos de todo mundo. Nosso plano inicial estava no tempo certo, mas perdemos esses dois anos para a Covid. Para nós, quando finalmente nos reencontramos no estúdio, pareceu no tempo certo e estávamos prontos para fazer novas músicas e fazer turnê de novo. Estou feliz que não foi nesse ano que começamos a turnê, penso que ano que vem será ainda melhor. Tudo certo, no fim das contas.

TMDQA!: Falando em tempo, eu não recebi o disco antes da entrevista, mas sinto que vocês estão tomando uma distância para ver o panorama completo das coisas. Notei que todos estão agora com mais de 50 anos, então queria entender o quanto desse disco é uma reflexão dessa maturidade e de envelhecer. 

Gary: É, muito da nossa música é uma reflexão, a essa altura da vida. A reflexão é algo glorioso a se fazer, estamos nos voltamos a um grande período, e o passado pode parecer diferente na medida que os anos vão acontecendo. O passado pode ser diferente quando se olha para ele 10 anos depois. Então é um álbum reflexivo, e até o título This Life, para o disco e uma das músicas, é uma forma de dizer “uau, andamos umas boas milhas”. E como banda, também caminhamos. Nossa própria versão do grupo, essa formação da banda [como trio], que já faz 10 anos, há muito a ser escrito. Há muito conteúdo a ser cavado, conversado, para compor músicas e ter mensagens para as pessoas que caminharam esse caminho conosco. Porque temos um público lindo que está conosco há anos e sabe da nossa história. Eles fazem parte da nossa história. Então é muita reflexão.

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TMDQA!: Agora, vocês parecem ter se adaptado bem a como o negócio da música evoluiu ao longo dos anos. E é um cenário completamente diferente de quando lançaram seu primeiro disco, em 1992. Como vocês comparariam essa experiência, do que significava ser bem sucedido naquela época e agora?

Mark Owen: Acho que há níveis diferentes de sucesso, não é? Me lembro de quando nos juntamos, pensei, “se conseguirmos fazer esse álbum e fazer uma turnê, isso já será um sucesso”. O principal é que queríamos continuar fazendo coisas que faziam sucesso. Naquela época, quando começamos a entrar nas paradas, isso nos levou a aparecer nos programas de TV. Crescemos com essas paradas, com Top 40 e coisas do tipo. Então começar a colocar músicas nesses charts e ter a primeira música no rádio, havia esses marcos diferentes em uma carreira. Eles não mudaram tanto, só que há sempre outros marcos. Existe sempre uma nova bandeira que você pode fincar. Às vezes há um de nós que sai correndo com a bandeira e os outros dois só tentam não deixá-la cair (risos). Só queremos colocar mais bandeiras.

TMDQA!: E agora vocês deram a volta completa, né? Porque fizeram recentemente o programa do Jools Holland.

Mark: É, essa bandeira estava meio atrasada, uns 30 anos! (risos)

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TMDQA!: Eu também queria comentar sobre o fato de terem ido para os Estados Unidos gravar esse álbum. O que isso fez com a atmosfera do processo de gravação? Podem compartilhar alguma memória especial de se conectarem enquanto estavam lá?

Howard Donald: Claro. Basicamente, para a música “Windows”, nos enviaram vários produtores pela gravadora, David Cobb veio e foi a escolha perfeita para o caminho que queríamos seguir com esse disco. E uma parte foi gravada em Nashville, mas a maioria foi a Savannah, Georgia, na casa dele, o que é incrível. É uma área muito bonita e inspiradora. Só sabíamos que o som da música, o jeito que ele produzia era o nosso próximo passo, com o que queríamos fazer o com o disco. Nos divertimos muito enquanto estávamos lá. Praticamos pesca magnética, porque ele tem um lago na área da casa. Então jogávamos um ímã na água para pescar metais – e na verdade não pegávamos nada (risos). Nos divertimos tanto lá, comemos a comida sulista. Na casa dele, tem cômodos diferentes para sonoridades diferentes em cada música que fizemos. Foi uma experiência ótima e foi uma boa ideia ir a algum lugar novo.

Gary: E é muito raro irmos a qualquer lugar só nós três, sem ninguém por perto. Tivemos duas semanas em Savannah, então estávamos literalmente acordando pra tomar o café da manhã  juntos, voltando de carro do estúdio de carro. Foi uma viagem ótima, no total. Uma das minhas favoritas. O lance de gravar música é que já gravamos em tudo quanto é lugar de Londres. Aí qualquer lugar onde entramos podemos dizer algo do tipo “lembram de quando gravamos ‘Beautiful World’ aqui?”. Você não quer isso, quer que a sua música sempre passe a sensação de algo novo, de estar em um lugar de incertezas. Sempre quer estar na beira do seu assento ao fazer música, nunca se quer estar confortável demais. Quando nosso público espera música nova, temos que começar por aí. 

Howard: [derrubando um copo] Ops, desculpa!

Gary: Vai vendo como é [risos].

TMDQA!: [risos] Mas quando vocês fazem isso, transparece na música, né? E vocês estão juntos há décadas, fazem parte de uma geração de grupos que tiveram um impacto enorme, mas muitos não viveram pra contar a história. O que é compreensível, já que muito tempo se passou. O que fez o Take That ter tanta durabilidade – como amigos e como colegas de trabalho?

Gary: Começa por aí, né?

Howard: É, essa é a grande parte desse motivo, como a nossa amizade um com o outro, nossa compreensão e nossa vontade conjunta de continuar fazendo música. Passar no teste do tempo é que são elas, de certa forma acabamos o grupo no auge, nos anos 90. Tivemos um grande hiato, de quase 10 anos. Nossa música sobreviveu nas rádios ao longo daqueles 10 anos, então obviamente que quando voltamos, não nos sentíamos como um grupo de cara. Mas por conta da música, as pessoas continuavam lembrando de nós, entramos no estúdio, fizemos um ótimo disco. Foi o começo da nossa segunda fase, acho. Somos muito sortudos. 

TMDQA!: Sorte a nossa também. Eu diria que também o fato de vocês sempre estarem em turnê e estarem próximos dos fãs ajuda, o que me leva à minha próxima pergunta: alguma data futura para a América do Sul ou Brasil? Gary, você deve se lembrar de como os fãs brasileiros são apaixonados!

Gary: É verdade. Sinceramente, é por isso que estamos aqui hoje, falando com pessoas como você. Queremos muito colocá-los na nossa agenda de shows do ano que vem, queremos mesmo. Vamos fazer turnê boa parte do ano, e queremos abrir um espaço ali para a América do Sul. Irmos aí e ver todo mundo. Te prometo uma coisa: toda vez que a gente faz turnê aqui [na Europa], tem alguém com um cartaz falando “vão para o Brasil”. 

TMDQA!: Isso não me surpreende. Gente, é assim que a gente realiza as coisas nesse país! É assim que a gente realiza sonhos!

Gary: [risos] Agora nós iremos!

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TMDQA!: Agora, pra encerrar, pessoal: vocês têm muitos pontos altos na carreira. Vocês tocaram numa coroação, é algo que só aparece uma vez na vida. Então poderiam citar uma coisa da sua listinha de sonhos que ainda não realizaram?

Gary: Eu vou falar logo: fazer turnê na América do Sul. Quero ver vocês agora! Vamos lá, Howard.

TMDQA!: Aposto que você fala isso para todas!

Gary: O que, que quero tocar na América do Sul? [risos] Vamos lá, Howard, algo bem grande.

Mark: Vamos lá, você consegue.

Howard: Não é algo tão grande assim, mas eu diria… a paz mundial.

[Mark e Gary se levantam pra rir]

Howard: É difícil. A América do Sul é uma boa mesmo, esse cara roubou de mim, eu já falei isso antes [todos riem].

Gary: Mas sério, nós não temos isso, “queremos tocar em um lugar específico”. Eu diria que o único desejo que temos é de continuar fazendo o que fazemos. Amamos isso, fazer isso e termos um público esperando por nós, para que lancemos música nova e façamos mais shows. Fazer mais disso é tudo que queremos.

TMDQA!: Acho que vocês têm futuro.

Mark: E eu quero ser seu amigo, pra você ter mais amigos que discos!

TMDQA!: [risos] Ah, obrigada, eu vou aceitar mesmo!

Gary: Ah, quem precisa de amigos [quando se tem música]? (risos)

TMDQA!: Verdade! Olha pessoal, eu queria agradecer pelo seu tempo, desejar toda a sorte do mundo com esse novo disco. E torcer pra que nos vejamos aqui no Brasil em breve.

Gary: Também torcemos! Muito obrigado!