TMDQA! Entrevista: Daniel Thorn, intérprete de Libras em show do The Cure no Brasil, fala sobre a sedução da inclusão

Conversamos com Daniel Thorn, intérprete de Libras que seduziu público do Primavera Sound São Paulo em show do The Cure, sobre acessibilidade em shows!

Conversamos com Daniel Thorn, intérprete de Libras que participou do show do The Cure
Fotos via Reprodução/Twitter

Depois de mais de 10 anos de espera, o incomparável Robert Smith e seus companheiros de The Cure, uma das bandas mais influentes e amadas do mundo, retornaram ao Brasil para mais uma apresentação épica e contemplativa, dessa vez fechando o último dia da segunda edição do festival Primavera Sound São Paulo.

Entretanto, o público presente não esperava ter que dividir sua atenção com o carioca Daniel Thorn, intérprete de Libras parceiro da empresa de dublagem All Dub, que fez um show à parte e trouxe notoriedade à acessibilidade na comunicação em eventos.

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Com 37 anos de idade, Thorn é formado em Tradução/Interpretação de Libras pela UFRJ e é profissional há mais de 7 anos, atuando em diversas áreas e se dedicando nos últimos anos à especialização na tradução artística. Thorn já realizou tradução de grandes festivais pelo país, também em parceria com a All Dub, cuja missão é garantir acessibilidade para todos os públicos.

Apaixonado por performances, poesia, dança e tudo mais ligado às artes, o carioca deixou isso tudo muito claro enquanto, principalmente, o The Cure apresentava no palco a clássica “Lovesong” e ele, no telão, transmitia toda a energia e sedução da música. Logo, não demorou para que Thorn se tornasse um dos assuntos mais comentados no X (antigo Twitter) durante as conversas sobre o festival.

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Buscando saber mais sobre a área de interpretação de Libras e acessibilidade em grandes eventos, o Tenho Mais Discos Que Amigos! procurou Daniel Thorn para um papo super divertido e importante sobre o tema. Leia abaixo e confira diversas curiosidades sobre como funciona a área!

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TMDQA! Entrevista Daniel Thorn, intérprete de Libras de show do The Cure

TMDQA!: O que motivou você a entrar na área?
Daniel: Muita gente não sabe, mas eu sou muito tímido! Quando eu era muito novinho, com 11 e 12 anos, morava com meus pais perto de uma igreja muito frequentada por pessoas surdas. Via que os surdos se comunicavam usando o corpo, as mãos e achei muito legal não precisar usar a voz (risos). Comecei a frequentar os cursos de Libras que eram oferecidos lá e tomei gosto. Me sentia mais confortável falando em Libras do que em Português. Depois disso, fui estudando mais sobre Libras, a cultura surda e me formei na área. Hoje sou apaixonado pela tradução artística.

TMDQA!: Pra quem quer começar na área de interpretação de Libras em eventos, o que você recomenda?
Daniel: Recomendo que procure um bom curso de tradução de Libras. Existem ótimos cursos online e presenciais hoje em dia. Para quem quer ser intérprete não basta fazer apenas um curso básico de Libras. Tem muito estudo envolvido. Então, indico uma Graduação em Tradução ou uma Pós-Graduação e uma especialização no ramo artístico em que você se sente mais confortável. E flua! Os caminhos se abrirão!

TMDQA!: Qual a parte mais legal e mais dificil do trabalho?
Daniel: Adoro fazer tradução de rock, metal em geral e pop. Para mim, é mais difícil traduzir funk. Acho que levo menos jeito. A idade não permite descer até o chão. (Risos)

TMDQA!: Se a música é cantada em mais de um idioma, isso é sinalizado? Se sim, de que forma?
Daniel: Ótima pergunta! Depende do idioma. Se a música que toca é em inglês ou espanhol é possível realizar a tradução, mas, se for em outra língua, como mandarim ou coreano, dentro da própria música, e aí? O que a gente faz além de chorar? (Risos). Nesses casos, eu performo seguindo o estilo e ideias em Libras do cantor.

TMDQA!: Como funciona a preparação para as interpretações?
Daniel: Eu geralmente estudo as principais músicas da banda que irá se apresentar no festival. Ouço várias vezes para memorizar e fazer alguns testes do que posso ou não fazer na tradução da música. Peço também orientação dos surdos sobre o que para eles será interessante destacar. Até para eles curtirem o rolê de forma prazerosa também. Creio que isso me ajuda a fluir nas músicas.

TMDQA!: Na música, algumas palavras podem ser estendidas. Como isso é interpretado para o público?
Daniel: Geralmente eu estendo o sinal (a palavra, em Libras) para que o surdo possa se envolver com o ritmo, com a melodia do que é passado e transmitido para o público. No show do The Cure eu fiz muito isso. Eram falas que às vezes sobressaiam umas às outras, então novamente performava o sentido ao invés do significado mesmo. Assim, o surdo consegue compreender a ideia que às vezes para nós é fácil entender e para eles precisa de mais “imagens”, recursos visuais para curtir o show.

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TMDQA!: Na parte instrumental de uma música, o intuito da comunicação qual é? É a expressão da ideia da música (seu ritmo/ sua velocidade) ou algo diferente disso?

Daniel: Depende. Há intérpretes que vão fazer “o sinal do instrumento”, como uma guitarra, talvez. Eu prefiro sentir a melodia do som e passar isso para Libras. Com muita expressão – ou talvez nenhuma, pois o legal é deixar a pessoa aflita, mas ao mesmo tempo a par do que está acontecendo. Talvez uma virada no olhar, um movimento mais rápido e lento, como as batidas de uma bateria ou suavidade lenta e agitada como de uma guitarra no olhar e expressão facial.

TMDQA!: Por ter coberto vários festivais, tem alguma história emblemática que pode compartilhar?

Daniel: Mas isso são fofocas de bastidores… (risos). Já aconteceu uma vez de o fundo verde, o chroma key, cair por conta da vibração, do alto volume da música. Foi tão rápido que a colega que atuava ficou em choque, mas rapidamente conseguimos colocar tudo de volta no lugar e não atrapalhou em nada.

TMDQA!: Por que existem trocas de intérpretes, às vezes, para uma mesma música?

Daniel: O revezamento é mais para o nosso descanso. Trocamos de música em música para relaxar o corpo e a cabeça para uma próxima atuação. Isso ajuda a gente a não perder o foco e equilibrar as emoções durante o show.

TMDQA!: Qual foi a interpretação que mais te marcou?

Daniel: Se eu falar que foi The Cure, será muito clichê. (Risos) Eu gosto de mesclar de som para som. De algo mais leve, para algo mais rápido. Fazer o show do The Cure foi um sonho realizado porque sou muito fã deles. Toda essa cena mexe comigo. Mas traduzir o show do Planet Hemp, por exemplo, também foi uma ótima experiência. Pude brincar com as gírias, as ideias, os ritmos, embalos, me realizo com isso.

TMDQA!: Que coisas que você sente que faltam ainda para a área? Quais são as barreiras que você acha que ainda existem?

Daniel: Acessibilidade ainda é algo muito novo na cena cultural. Faltam informações sobre o nosso trabalho, sobre Libras e a acessibilidade de/para surdos. Pois as barreiras ainda são muitas, como o preconceito sobre a Libras, de ser intérprete de Libras, de muitos lugares ainda não aceitarem acessibilidade em eventos e shows. Torço para que isso mude e possam incluir Libras em todos os eventos e shows. Vamos popularizar a Libras para todos os festivais do Brasil e, quem sabe, até do mundo!!!

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Primavera Sound São Paulo

Durante mais uma edição de sucesso e impecável no Brasil, o aclamado festival Primavera Sound, criado em Barcelona em 2001, confirmou as datas e as informações de venda de ingressos antecipados para o evento em 2024. Você pode obter mais informações sobre o terceiro ano do festival na cidade de São Paulo neste link.

Em tempo, entre atrações nacionais e internacionais de peso, como Marisa Monte e o próprio The Cure, confira aqui quais foram os melhores shows do Primavera Sound São Paulo 2023 na opinião do Tenho Mais Discos Que Amigos!.

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