Cordell Jackson e a fantástica história da pioneira que já tocava Rock quando Elvis era um bebê

Cordell Jackson revolucionou o Rock com seu estilo agressivo de tocar e sua gravadora Moon Records; conheça a guitarrista contemporânea de Elvis Presley.

A história de Cordell Jackson, pioneira esquecida do Rock que só ficou famosa aos 60 anos
(Reprodução / Dan Ball via The New York Times)

A história do Rock é repleta de pioneiros que foram invisibilizados na sua época ou esquecidos com o passar dos anos. Cordell Jackson, guitarrista americana que só fez seu primeiro show profissional quando já tinha quase 60 anos, viveu as duas situações.

A artista nascida no Mississippi em 15 de julho de 1923 poderia ser reconhecida pelo seu jeito agressivo, sujo e veloz de tocar, ou por ter sido a primeira mulher a fundar uma gravadora de Rock. Mas ela ficou famosa mesmo nos anos 1990, quando protagonizou um comercial de cerveja.

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O divertido vídeo, que você pode assistir abaixo, mostra Jackson “ensinando” Brian Setzer, astro do Rockabilly com o Stray Cats, a tocar guitarra. Mas àquela altura, ela já fazia música havia mais de meio século.

Cordell Jackson nasceu na pequena cidade de Pontotoc, que antes dela era conhecida por ter sido esconderijo da gangue de Jesse James no século 19. Desde cedo ela se interessou por música e aprendeu a tocar banjo, piano, contrabaixo e gaita, até que aos 12 anos entrou na banda do pai, a Pontotoc Ridge Runners.

Mas, segundo reportagem do jornal The New York Times, Jackson precisou enfrentar barreiras dentro da própria família:

Quando eu peguei a guitarra, eu podia ler nos olhos deles: ‘garotas não tocam guitarra’. Eu olhei diretamente pra eles e falei: ‘eu toco’.

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A fundação da Moon Records para enfrentar o machismo

Em 1943, aos 20 anos, Cordell Jackson se casou e mudou-se para Memphis, que era o berço do Rock naquele momento. Ela conheceu o produtor Sam Phillips, fundador da gravadora Sun Records, que mais tarde revelaria nomes como Elvis Presley, Johnny Cash, Roy Orbison e Jerry Lee Lewis.

Mas a guitarrista logo percebeu que o produtor via o fato dela ser uma mulher como um obstáculo para o sucesso, e então Jackson decidiu fundar sua própria gravadora com a ajuda de Chet Atkins, da RCA. A empresa foi batizada ironicamente como Moon Records.

As sessões de gravação aconteciam na sala de estar de Cordell, e de lá ela produziu e lançou músicas de artistas regionais como Allen Page, Earl Patterson e Johnny Tate. Ela também gravou algumas canções próprias, como o single “Rock and Roll Christmas”, que está disponível no streaming atualmente.

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Décadas depois, Jackson cobrou reconhecimento como uma das inventoras do Rock and Roll, posto que costuma ser ocupado pelos homens que citamos antes:

Se vocês chamam o que eu faço de Rock and Roll, Rockabilly ou o que seja, então eu estava fazendo isso quando Elvis tinha um ano de idade. É apenas um fato.

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O ressurgimento de Cordell Jackson nos anos 1990

Em meio a tantas dificuldades, Cordell Jackson e os artistas da Moon Records não atingiram o sucesso naquele momento, e a artista precisou se ocupar de outras profissões como decoradora de interiores, DJ em uma rádio feminina e até administradora de uma loja de antiguidades.

Foi só no início da década de 1980, prestes a completar 60 anos, que Jackson ganhou fama entre estudiosos do Rock quando conheceu o músico, cineasta e dançarino Tav Falco – curiosamente em um evento da Sun Records. Ele a convidou para tocar com sua banda, levando ao que seriam os primeiros shows profissionais da guitarrista.

Depois disso, Cordell Jackson passou a se apresentar em casas de shows renomadas pelos Estados Unidos como CBGB, Lone Star e Maxwell’s, e também apareceu em diversos programas de TV, como você pode ver nos vídeos em destaque nesta matéria.

A artista se apresentava solo ou acompanhada de uma banda do Brooklyn chamada A-Bones. Certa vez a baterista do grupo disse que “não havia ensaios” com Cordell, e a própria artista chegou a definir seu estilo como um Rock “temperado”:

Qualquer que fosse a canção, eu botava ‘molho’ nela, por assim dizer. Eu toco rápido. Sempre dei um suíngue para elas.

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“Ritmo, velocidade, barulho e atitude”

Se você ainda não se encantou com a incrível história de Cordell Jackson, basta assistir às suas performances para entender como ela se tornou um ícone. O The New York Times disse com muita felicidade que seu jeito de tocar era “feroz e desenfreado como se ela estivesse lutando com a guitarra para conseguir o que queria”.

Forma, tempo, tom e melodia não eram tão importantes para Jackson, que priorizava ritmo, velocidade, barulho e atitude. Embora essa fórmula não seja exatamente comercial, ela nunca fez concessões ou mudou seu estilo de ser.

A guitarrista só deixou um disco cheio para o mundo, e curiosamente ele não saiu pela Moon Records. Trata-se do álbum ao vivo Cordell Jackson – Live in Chicago, que foi disponibilizado em 1997 pela Bughouse Records e tem uma capa que remete a um dos discos de Elvis Presley.

Cordell Jackson morreu de câncer no pâncreas em 14 de outubro de 2004, em Memphis, aos 81 anos. No momento em que ela nos deixou, sua gravadora era a mais antiga da cidade sem nunca ter encerrado as suas operações, revelando novos artistas por todos esses anos.

Nunca tive dúvidas sobre o que eu deveria fazer enquanto estive aqui. Se eu penso em algo, eu faço.

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