Oscar: 10 vezes em que a Academia esnobou grandes obras e artistas

Confira algumas injustiças cometidas pelo Oscar, desde esnobadas a diretores consagrados até polêmicas que mudaram as regras da premiação!

Alfred Hitchcock
Alfred Hitchcock (Foto: Reprodução)

A temporada de premiações do cinema mundial é um prato cheio para discussões. São inúmeros os debates sobre qual candidato merece mais do que o outro, quem tem mais chance, por que um ou outro recebeu tantas indicações, e por aí vai. Depois das cerimônias, ficam os louros para os vencedores e, para os derrotados, a fama de pé frio.

O Oscar 2024 é a 96ª edição da maior premiação do cinema e, ao longo desse caminho, muita gente já perdeu a disputa mesmo fazendo ótimos trabalhos. Alguns encontram forte concorrência, outros sequer chegam a ser indicados, mas a certeza é que obras e artistas derrotados também viram notícia no dia seguinte.

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Sim: aqueles filmes, atores, atrizes e diretores que perdem com frequência ou sequer entram na disputa são fonte de muito barulho entre cinéfilos de todo o mundo. Por isso, o TMDQA! fez uma lista especial para relembrar quais foram as maiores ausências na história do Oscar.

Carinhosamente – ou não – chamado de snub club, esse grupo de esnobados pela Academia conta com nomes lendários da sétima arte, como Alfred Hitchcock, Judy Garland e Martin Scorsese. Confira alguns dos principais “perdedores” da história do cinema:

Alfred Hitchcock e Stanley Kubrick

Stanley Kubrick (Foto: Reprodução)

Sim, é isso mesmo que você está lendo. Alfred Hitchcock nunca ganhou um Oscar! Apesar de ter sido indicado na categoria Melhor Direção por Rebecca, a Mulher Inesquecível (1940), Um Barco e Nove Destinos (1944), Quando Fala o Coração (1945), Janela Indiscreta (1954) e Psicose (1960), o prêmio mesmo nunca veio.

A estatueta que o Mestre do Suspense levou para casa foi um prêmio especial, em respeito à sua obra como um todo, em 1969. A energia de “prêmio de consolação” foi tanta que o próprio Hitchcock apenas subiu no palco, falou “Obrigado, muito obrigado” e se retirou.

Outro diretor com uma carreira pesadíssima e que não foi devidamente reconhecido pela Academia foi Stanley Kubrick. Um dos maiores diretores da história e responsável por alguns dos melhores filmes de todos os tempos, ele só recebeu quatro indicações ao boneco dourado.

Destes, Kubrick ganhou apenas um prêmio, Melhores Efeitos Especiais, no ano de 2001, por 2001: Uma Odisseia no Espaço. Pouco, muito pouco.

ET, o Extraterrestre

ET, o Extraterrestre (Foto: Reprodução)

Um dos maiores fenômenos culturais dos anos 1980, ET, o Extraterrestre chegou a ser premiado, é verdade. Em 1983, o filme de Steven Spielberg faturou o Oscar de Melhor Trilha Sonora, Melhor Mixagem de Som, Melhor Edição de Som e Melhores Efeitos Visuais.

Só que perdeu justamente na categoria Melhor Filme.

Quem ganhou a principal categoria daquela noite foi o filme Ghandi. Seu diretor, Richard Attenborough, disse posteriormente que achou que ET venceria não apenas como o melhor filme do ano, mas em todas as categorias em que concorria, o que é óbvio para todo mundo – menos para a Academia.

Oito vezes Glenn Close e Peter O’Toole

Peter O’Toole e Glenn Close (Foto: Reprodução)

A atriz Glenn Close já foi indicada ao Oscar, mas diz não se incomodar com a falta de prêmios. Apesar de ter entrado na disputa oito vezes e não ter ganhado nenhuma delas, afirmou que não trabalha por prêmios e que ser reconhecida para a disputa é algo interessante e suficiente.

Peter O’Toole é outro que bateu na trave oito vezes. Em 2002, a Academia o premiou com um Oscar honorário, mas ele não curtiu muito inicialmente e disse que gostaria de “ganhar o adorável desgraçado de uma vez”. Em 2007, ele ainda conseguiu mais uma indicação, mas perdeu novamente. Infelizmente ele faleceu em 2013, sem conseguir esta conquista.

Um Sonho de Liberdade

Um Sonho de Liberdade (Foto: Reprodução)

Parece uma insanidade alguém, em 2024, descobrir que Um Sonho de Liberdade não tem nenhum Oscar. Mesmo indicado em sete categorias, o pessoal voltou para casa com as mãos abanandos na edição de 1995.

A culpa disso tudo é de Forrest Gump, que levou sozinho meia dúzia de troféus, incluindo Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Direção, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Edição e Melhores Efeitos Visuais. Rapou tudo e não deixou os concorrentes sequer sentirem o cheiro!

Cidadão Kane

Cidadão Kane (Foto: Reprodução)

Frequentemente escolhido o maior filme de todos os tempos, Cidadão Kane não ganhou nem o Oscar de Melhor Filme no ano em que foi lançado. O filme de Orson Welles perdeu para Como era Verde o Meu Vale.

Welles escreveu, dirigiu, produziu e até atuou no filme, que era a sua estreia, mas só ganhou mesmo o Oscar de Melhor Roteiro Original, que dividiu com Herman Mankiewicz.

Cantando na Chuva

Cantando na Chuva (Foto: Reprodução)

É impensável que Cantando na Chuva não tenha nenhum Oscar, e também é um absurdo um dos maiores musicais de todos os tempos ter conseguido apenas duas indicações: Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Trilha Sonora Original.

No entanto, o que muita gente não sabe é que o filme não fez muito sucesso na época do seu lançamento. Foi apenas nos anos 1980, após uma restauração e exibição na TV, que o filme conquistou o respeito que merecia.

Diretoras mulheres

Kathryn Bigelow (Foto: Reprodução)

Em mais de 90 anos de premiação, apenas 9 indicações a Melhor Direção foram para mulheres. A primeira delas que ganhou foi Kathryn Bigelow, na 82ª edição!

“Ah mas isso não tem nada a ver com o fato de elas serem mulheres. É só dirigir bons filmes que elas podem concorrer”. Será mesmo?

Filmes como Filhos do Silêncio e Pequena Miss Sunshine, de Randa Haines; Adoráveis Mulheres, de Greta Gerwig, e O Príncipe das Marés, de Barbra Streisand, são alguns exemplos de obras que poderiam ter levado suas diretoras ao patamar mais elevado do cinema mundial, mas elas sequer foram indicadas.

Billy Crystal, apresentador do Oscar de 1992, inclusive ironizou a esnobada ao filme de Streisand ao dizer durante a premiação: “Sete indicações na prateleira… esse filme se dirigiu sozinho?”.

Depois de Bigelow, Chloe Zhao (Nomadland) venceu em 2021 e Jane Campion (Ataque dos Cães), em 2022.

Hoop Dreams e Crumb

Hoop Dreams (Foto: Reprodução)

Dois documentários foram esnobados no mesmo ano e com uma história estranhíssima. Hoop Dreams, conhecido no Brasil como Basquete Blues, contava a história de dois garotos negros que sonhavam em jogar basquete profissionalmente.

A título de comparação, pelo menos cinco dos maiores críticos de cinema dos EUA elegeram esse documentário como o melhor filme lançado em 1994. O documentário fez 11 milhões de dólares em bilheteria, mesmo tendo custado apenas 700 mil para ser feito e, dez anos depois, o jornal The New York Times o incluiu na lista dos 1000 melhores filmes de todos os tempos.

Já o documentário Crumb contou a história do célebre quadrinista Robert Crumb e da sua excêntrica família. Foram nove anos em que o cineasta Terry Zwigoff acompanhou Crumb com sua câmera, entrevistando não apenas o artista – considerado perturbado e pervertido pela ala mais conservadora dos cidadãos americanos – mas também seus irmãos – um deles acreditava ser um pintor surrealista e o outro tragicamente tirou a própria vida pouco depois do fim das gravações – e sua mãe, afundada há décadas no sofá de casa. A outra irmã, aliás, se recusou a participar porque fazia parte de um grupo radical de lésbicas que proibia o convívio com homens.

Crumb (Foto: Reprodução)

Voltando ao Oscar… naquela época, não havia um júri fixo para escolher os indicados à categoria de Melhor Documentário, então ele era formado por voluntários. Outra curiosidade era que os membros não eram obrigados a assistir aos filmes completos. Hoop Dreams, por exemplo, foi exibido por apenas 15 minutos e prontamente foi descartado.

O escândalo, que já era grande por causa da questão racial envolvendo violência policial naquele ano e um boicote a obras envolvendo pessoas negras como Basquete Blues, se tornou ainda maior quando os votos foram analisados. Em notas de 0 a 10, alguns votantes deram nota zero para todos os candidatos, menos os que eles queriam ver na premiação, que receberam a nota máxima. Isso tornou inviável qualquer disputa justa.

A mancha na história do Oscar foi tão grande que a Academia mudou os critérios de avaliação e a composição dos membros votantes já no ano seguinte.

O fatídico Oscar 1999

Oscar de 1999 (Foto: Reprodução)

Poucos tópicos causam tanta agitação nos fãs brasileiros de cinema quanto o Oscar de 1999 e o destaque desproporcional de Shakespeare Apaixonado.

Além de levar Melhor Filme no lugar do espetacular O Resgate do Soldado Ryan, de Steven Spielberg, aconteceu também o ultrajante prêmio de Melhor Atriz para Gwyneth Paltrow, em detrimento da brasileira Fernanda Montenegro e sua atuação em Central do Brasil.

Tudo isso por causa da campanha pesadíssima feita pelo produtor Harvey Weinstein, hoje arruinado pelo seu comportamento abusivo nos bastidores de Hollywood, especialmente com as mulheres com quem trabalhava.

Gigantes da atuação

John Wayne, Cary Grant e Judy Garland (Foto: Reprodução)

Alguns atores e atrizes consagrados também passaram maus bocados ao longo da carreira no quesito Oscar. John Wayne, por exemplo, fez mais de 100 filmes e foi indicado apenas três vezes. Ele só conseguiu vencer como Melhor Ator em 1970, reconhecido pelo seu papel em Bravura Indômita.

Nesse mesmo ano, Cary Grant recebeu um prêmio honorário. O negócio é que Grant foi indicado míseras duas vezes, e por filmes lançados lá nos anos 1940.

Judy Garland ganhou um Prêmio Juvenil no Oscar após sua atuação em O Mágico de Oz, mas essa foi a única vez em que ela foi vencedora, mesmo com trabalhos espetaculares, especialmente em musicais. É tão bizarro que ela só teve duas indicações, uma por Nasce Uma Estrela e outra como coadjuvante em Julgamento em Nuremberg.

E a ironia: René Zellweger ganhou um Oscar de Melhor Atriz em 2020 quando interpretou Garland no filme Judy.

Menção honrosa: Amy Adams

Uma das nossas azaradas contemporâneas, Amy Adams perdeu seis vezes o Oscar, sendo cinco como coadjuvante e uma como atriz principal. No entanto, o maior pesar é porque no papel em que apresentou o trabalho mais impressionante (A Chegada, 2016) ela sequer foi indicada. Uma pena, mas há esperança e nos próximos anos estaremos na torcida!

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