“Acham que a música é grátis": desabafo de James Blake mostra que até artistas famosos estão perdendo dinheiro

“A lavagem cerebral funcionou", reclamou James Blake ao pedir pagamentos mais justos para artistas e mencionar a crescente ameaça da IA. Leia mais!

James Blake no Jools Holland

“A lavagem cerebral funcionou e agora as pessoas acham que música é grátis”. Foi assim que James Blake se tornou o artista mais recente a se manifestar sobre a economia do streaming, em uma série de tweets.

Respondendo a um post que citava uma frase sua sobre não ganhar um centavo com virais no TikTok, o produtor eletrônico mandou a real sobre ser cada vez mais difícil para cantores e compositores viverem da sua arte. 

Ele escreveu na rede social X/Twitter:

Algo que continuo vendo é ‘se você tiver a sorte de se tornar viral, use a exposição para gerar renda de outra forma’. Os músicos devem ser capazes de gerar renda com a música.

Você quer boa música ou quer aquilo pelo que pagou? Se quisermos música de qualidade, alguém vai ter que pagar por ela. Os serviços de streaming não pagam adequadamente, as gravadoras querem uma fatia maior do que nunca e ficam apenas esperando que você se torne viral, o TikTok não paga adequadamente e turnês estão ficando proibitivamente caras para a maioria dos artistas.

Essa preocupação com os custos é algo que vem se tornando recorrente, com artistas de grande exposição midiática dizendo que não está fácil pra ninguém. No cenário pós-pandemia, com juros altíssimos e guerras encarecendo itens básicos como combustível, fazer turnê nunca foi tão caro

James Blake complementou, fazendo uma crítica direta à economia do streaming:

E, a propósito, já que é mais barato produzir música sintética rápida para colocar no streaming toda semana para capitalizar em cima dos pontos fortes do modelo, observe como o modelo está preparando você para música gerada por IA que não paga nada aos músicos.

Embora plataformas como o Spotify venham reportando repasses cada vez maiores para artistas, inclusive os independentes, o valor ainda é tema de debates na indústria.

Já que tocou no assunto polêmico da inteligência artificial, Blake foi questionado sobre isso, pois trabalhou com uma startup de música IA, a Endel. O músico e a empresa alemã lançaram em 2022 o álbum Wind Down. O trabalho combina os vocais e o piano de James Blake com ciência psicoacústica para ajudar os ouvintes a relaxar e dormir.

Em resposta, Blake escreveu:

Há uma diferença. A Endel usa IA para pegar a música que um artista já fez e remixá-la em uma forma ambiente projetada para sono/outras aplicações funcionais. Em seguida, eles dão uma parte ao artista e ela vive como uma entidade separada. Essencialmente, é uma forma de criar um fluxo de receita completamente separado da mesma obra de arte, ao mesmo tempo que a promove em uma função diferente, o que acredito ser bom para os artistas.

Claramente a questão é um tópico sensível que envolve todo o ecossistema da música, implicando cantores, compositores, músicos, produtores, o mercado de shows, as gravadoras e as grandes plataformas digitais.

Repercussão do desabafo de James Blake

O desabafo de James Blake mostra como nem mesmo os artistas mais bem sucedidos em seus nichos estão em uma situação confortável no atual momento da indústria.

Imediatamente, fãs de música, outros artistas e produtores passaram a interagir com Blake no fio que ele iniciou. O músico respondeu a muitos dos argumentos e compartilhou algumas das visões que recebeu, inclusive de pessoas de destaque.

Uma delas foi Lauren Jaregui, ex-Fifth Harmony agora em carreira solo. Ela disse:

Esta é uma observação/análise muito importante. Eu estava falando sobre isso com alguns amigos artistas ontem. Todo mundo sente que não temos o direito de ser pagos pelo nosso trabalho (é a única indústria onde isso acontece, mesmo no mundo das artes além da música, existem sistemas em vigor para garantir que todos, especialmente os criadores da arte, sejam remunerados) e porque confundem popularidade ou número de seguidores com ‘sucesso’, não conseguem conceituar o quão extrativos e abusivos esses sistemas são para nós, os criadores da arte. Obrigado por compartilhar sua perspectiva. Esta é uma conversa mais ampla que todos nós precisamos ter uns com os outros.

Confira na íntegra a visão de James Blake sobre a remuneração para os artistas no mercado da música!